Circula ainda na internet a reportagem da jornalista Paula Aoyagui, veiculada na Revista Veja da primeira semana de março, sobre o livro “Medicina Alternativa de A a Z” que é apontada como uma grande fraude literária. Eis o texto na íntegra:
“Um dos maiores best-sellers do país no momento, o livro Medicina Alternativa de A a Z é uma fraude. Apanhado de crendices e terapias não-avalizadas pelos médicos, ele ensina a tratar doenças com "remédios" à base de ingredientes frugais. Para combater o câncer, recomenda que se coma apenas um tipo de fruta nas refeições. No caso do diabetes, indica a ingestão de suco de berinjela com argila. E por aí afora.
Com capa dura, fartamente ilustrado e preço de 62 reais, o livro já atingiu a marca dos 2 milhões de exemplares comercializados e apareceu no topo da lista de mais vendidos de VEJA por quase seis meses. Suas vendas foram impulsionadas por uma campanha de divulgação maciça na televisão. Os editores compraram milhões de reais em espaço em diversos canais para veicular anúncios com a dançarina Sheila Mello. Além dela, apresentadores como Hebe Camargo, Ratinho e Gugu Liberato faturaram para tecer elogios ao livro, assinado por um certo Carlos Nascimento Spethmann. O problema é que esse autor não existe. Pior: a obra foi escrita sem a assessoria de médicos. Seus editores, o carioca Luiz Carlos da Silva e o paulista Marcos Spethmann Quiroga, são ex-comportores - vendedores de livros de porta em porta. Graças a seu manual de curandeirismo, única obra lançada pela Editora Natureza, sediada na cidade mineira de Uberlândia, dizem ter faturado 40 milhões de reais no ano passado.
Questionados por VEJA sobre a identidade do autor de Medicina Alternativa de A a Z, os editores saíram-se com quatro respostas diferentes. Primeiro, disseram que ele seria um biólogo. Em seguida, contaram que se tratava de um pseudônimo, fazendo ar de mistério. Depois, falaram que o autor seria um pesquisador de uma localidade chamada Ituiutaba. Só então revelaram averdade: Carlos Nascimento Spethmann não é uma pessoa, e sim um composto dos nomes dos dois donos da editora e de um ex-parceiro, o jornalista Eliseu do Nascimento e Silva. "É um pool de pessoas", diz Luiz Carlos da Silva.
Coube ao jornalista Nascimento redigir o manual. "Não ouvi médico nenhum", diz ele. Hoje afastado do negócio, Nascimento não recebe nada pelas vendas. É professor de jornalismo numa faculdade paulista e mestrando em semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele simplesmente compilou e adaptou para a linguagem da auto-ajuda textos extraídos de livros de medicina alternativa lançados pela Editora Missionária A Verdade Presente, que pertence à Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento de Reforma – a mesma editora para a qual todos eles trabalhavam. Essa editora, por sinal, foi notificada judicialmente pelos forjadores do livro Medicina Alternativa de A a Z, por ter lançado uma obra de formato semelhante. Em outras palavras, a Editora Natureza teria copiado a Editora Missionária A Verdade Presente, que agora a estaria copiando de volta. Um estranho caso de plágio do plágio.
Uma picaretagem como Medicina Alternativa de A a Z representa um risco para a saúde das pessoas. Os alimentos ajudam na manutenção de uma vida saudável, mas não curam doenças graves. Para eximir-se de responsabilidades, o livro volta e meia chama atenção para a necessidade de procurar um médico. Ao mesmo tempo, entretanto, propõe tratamentos mágicos. "Um livro como esse é um desserviço à população. Não pode ser chamado de medicina", diz o geriatra Clineu Almada Filho, da Escola Paulista de Medicina. "É uma irresponsabilidade", afirma o clínico geral Milton Glezer, da Universidade de São Paulo.
Medicina Alternativa de A a Z traz, nas primeiras páginas, artigos assinados por Zenildo Batista, Adilson Lopes e Luiz Carlos Junior. Todos são egressos da mesma igreja dos editores. Nas propagandas de televisão, fazem papel duplo como promotores de vendas e "terapeutas". Mas a credencial máxima de Batista, por exemplo, é um curso de fim de semana numa clínica paranaense.
Eles defendem com unhas e dentes as terapias do livro. "Um empresário curou sua úlcera com um suco de batatas e espinheira-santa", diz Junior, exibindo o antes e o depois da endoscopia do paciente tratado com o tubérculo. Ao saber as opiniões dos médicos sobre o livro, o editor Quiroga anunciou que a obra passará por uma reformulação de conteúdo, a cargo de especialistas.
As inserções na TV respondem por 75% das vendas da obra. Os editores desembolsam 50.000 reais por cada aparição de cinco minutos no programa de Gugu. Também contrataram a produtora do apresentador para a criação de três anúncios de trinta minutos cada estrelados por Sheila Mello. A dançarina ganhou 50.000 reais pelo serviço. A cada vez que elogiou o livro em seu programa no SBT, Hebe Camargo embolsou 60.000 reais. O apresentador Ratinho gostou tanto dos curandeiros que lhes deu um desconto: em vez de cobrar dois cachês, cobra um e meio. "Ratinho é um parceiro. Pagamos 20.000 reais a ele", diz Silva. Tanto gasto vale a pena. Uma única propaganda no programa de Hebe resultou na venda de 10 800 livros.
É tempo de o pessoal da TV pensar melhor ao endossar esse produto.”
Comentário do blog: também comprei esse livro e fiquei estupefato com essa notícia. O que será que os médicos santarenos dizem disso? Quem quiser falar sobre o tema mande comentários ao blog e de minha parte vou tentar contato com alguns médicos locais.
“Um dos maiores best-sellers do país no momento, o livro Medicina Alternativa de A a Z é uma fraude. Apanhado de crendices e terapias não-avalizadas pelos médicos, ele ensina a tratar doenças com "remédios" à base de ingredientes frugais. Para combater o câncer, recomenda que se coma apenas um tipo de fruta nas refeições. No caso do diabetes, indica a ingestão de suco de berinjela com argila. E por aí afora.
Com capa dura, fartamente ilustrado e preço de 62 reais, o livro já atingiu a marca dos 2 milhões de exemplares comercializados e apareceu no topo da lista de mais vendidos de VEJA por quase seis meses. Suas vendas foram impulsionadas por uma campanha de divulgação maciça na televisão. Os editores compraram milhões de reais em espaço em diversos canais para veicular anúncios com a dançarina Sheila Mello. Além dela, apresentadores como Hebe Camargo, Ratinho e Gugu Liberato faturaram para tecer elogios ao livro, assinado por um certo Carlos Nascimento Spethmann. O problema é que esse autor não existe. Pior: a obra foi escrita sem a assessoria de médicos. Seus editores, o carioca Luiz Carlos da Silva e o paulista Marcos Spethmann Quiroga, são ex-comportores - vendedores de livros de porta em porta. Graças a seu manual de curandeirismo, única obra lançada pela Editora Natureza, sediada na cidade mineira de Uberlândia, dizem ter faturado 40 milhões de reais no ano passado.
Questionados por VEJA sobre a identidade do autor de Medicina Alternativa de A a Z, os editores saíram-se com quatro respostas diferentes. Primeiro, disseram que ele seria um biólogo. Em seguida, contaram que se tratava de um pseudônimo, fazendo ar de mistério. Depois, falaram que o autor seria um pesquisador de uma localidade chamada Ituiutaba. Só então revelaram averdade: Carlos Nascimento Spethmann não é uma pessoa, e sim um composto dos nomes dos dois donos da editora e de um ex-parceiro, o jornalista Eliseu do Nascimento e Silva. "É um pool de pessoas", diz Luiz Carlos da Silva.
Coube ao jornalista Nascimento redigir o manual. "Não ouvi médico nenhum", diz ele. Hoje afastado do negócio, Nascimento não recebe nada pelas vendas. É professor de jornalismo numa faculdade paulista e mestrando em semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele simplesmente compilou e adaptou para a linguagem da auto-ajuda textos extraídos de livros de medicina alternativa lançados pela Editora Missionária A Verdade Presente, que pertence à Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento de Reforma – a mesma editora para a qual todos eles trabalhavam. Essa editora, por sinal, foi notificada judicialmente pelos forjadores do livro Medicina Alternativa de A a Z, por ter lançado uma obra de formato semelhante. Em outras palavras, a Editora Natureza teria copiado a Editora Missionária A Verdade Presente, que agora a estaria copiando de volta. Um estranho caso de plágio do plágio.
Uma picaretagem como Medicina Alternativa de A a Z representa um risco para a saúde das pessoas. Os alimentos ajudam na manutenção de uma vida saudável, mas não curam doenças graves. Para eximir-se de responsabilidades, o livro volta e meia chama atenção para a necessidade de procurar um médico. Ao mesmo tempo, entretanto, propõe tratamentos mágicos. "Um livro como esse é um desserviço à população. Não pode ser chamado de medicina", diz o geriatra Clineu Almada Filho, da Escola Paulista de Medicina. "É uma irresponsabilidade", afirma o clínico geral Milton Glezer, da Universidade de São Paulo.
Medicina Alternativa de A a Z traz, nas primeiras páginas, artigos assinados por Zenildo Batista, Adilson Lopes e Luiz Carlos Junior. Todos são egressos da mesma igreja dos editores. Nas propagandas de televisão, fazem papel duplo como promotores de vendas e "terapeutas". Mas a credencial máxima de Batista, por exemplo, é um curso de fim de semana numa clínica paranaense.
Eles defendem com unhas e dentes as terapias do livro. "Um empresário curou sua úlcera com um suco de batatas e espinheira-santa", diz Junior, exibindo o antes e o depois da endoscopia do paciente tratado com o tubérculo. Ao saber as opiniões dos médicos sobre o livro, o editor Quiroga anunciou que a obra passará por uma reformulação de conteúdo, a cargo de especialistas.
As inserções na TV respondem por 75% das vendas da obra. Os editores desembolsam 50.000 reais por cada aparição de cinco minutos no programa de Gugu. Também contrataram a produtora do apresentador para a criação de três anúncios de trinta minutos cada estrelados por Sheila Mello. A dançarina ganhou 50.000 reais pelo serviço. A cada vez que elogiou o livro em seu programa no SBT, Hebe Camargo embolsou 60.000 reais. O apresentador Ratinho gostou tanto dos curandeiros que lhes deu um desconto: em vez de cobrar dois cachês, cobra um e meio. "Ratinho é um parceiro. Pagamos 20.000 reais a ele", diz Silva. Tanto gasto vale a pena. Uma única propaganda no programa de Hebe resultou na venda de 10 800 livros.
É tempo de o pessoal da TV pensar melhor ao endossar esse produto.”
Comentário do blog: também comprei esse livro e fiquei estupefato com essa notícia. O que será que os médicos santarenos dizem disso? Quem quiser falar sobre o tema mande comentários ao blog e de minha parte vou tentar contato com alguns médicos locais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário