quarta-feira, 16 de novembro de 2005

O que falta para invadir a Cosanpa? (*)

Longe de mim incitar a população a atos extremos. Como funcionário do Judiciário não pegaria bem esse tipo de conduta. Mas o que a Cosanpa tem feito com a população santarena nos últimos 30 anos, desde que ganhou a concessão do serviço de águas e esgotos (quando ainda se chamava SAE) é repulsivo e de um desrespeito total com os seres humanos que habitam nesta cidade. Daí minha pergunta neste artigo de hoje.
O desespero que toma conta dos moradores de periferia é ultrajante e ninguém toma uma atitude. Creio que se houvesse um líder de associação de bairros que levantasse a questão, outras lideranças refletiriam a respeito. Se o desespero aumentar, pode surgir um dia um visionário carismático para incendiar o ódio que queima no peito desta gente e logo, logo milhares de pessoas desceriam em romaria com latas de água na cabeça para ocupar o prédio da Cosanpa no centro da cidade.
Seria a imagem do caos. O centro da cidade se congestionaria já que toda a frota de ônibus da cidade passa por aquela via. A notícia repercutiria não só nos órgãos de comunicação de Santarém, como em Belém e quiçá no Brasil e no mundo!
Volto a afirmar que sou contra medidas extremas. Mas num caso desses, seria obrigado a me solidarizar com quem iniciasse tal movimento. Afinal, quando os líderes abandonam seu povo, a população acaba dando uma resposta avassaladora e até desordenada a quem desrespeita seus direitos. E não precisa ser morador do 3º mundo: a França nos dá um bom exemplo do que pode acontecer quando a turba entra em parafuso.
Voltando à minha pergunta apresento uma justificativa: o santareno é pacífico por natureza, beirando a passividade burra. Em qualquer outra cidade que vivesse o caos que vivemos, alguém já teria liderado um protesto barulhento. Mesmo nossas “lideranças populares” nunca ultrapassaram os limites de um extremismo infantil ou arroubos oportunistas em véspera de campanha eleitoral.
Para completar, nos últimos tempos o movimento popular passa por um refluxo que beira uma crise de identidade e o máximo que se vê é um líder de periferia denunciar o “descaso das autoridades” à imprensa. Até malucos de plantão, que já lideraram invasões em áreas abandonadas ou protestaram rasgando o título de eleitor em frente aos mesários, embarcaram na onda zen das poções mágicas da floresta!
Será que se o povo invadisse o prédio da Cosanpa, o Governador do Estado tomaria vergonha na cara pelo menos para cumprir o que prometeu recentemente na Câmara Municipal, através de seus assessores, de que faria um investimento de 5 milhões para minimizar o problema do abastecimento?
Longe de mim sugerir tal levante, mas se acontecesse seria compreensível.
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(*) artigo publicado ontem (15.11.05) em minha coluna Perípatos, que circula às terças e sextas no suplemento regional do Diário do Pará (Diário do Tapajós)

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