quarta-feira, 31 de maio de 2006

Motorista acusado de matar colega vai à júri popular

O Tribunal do Júri da 6ª Vara Penal volta a se reunir nesta sexta-feira, 02/06/2006, à partir das 08h00, sob a presidência do Juiz de Direito Dr. Leonel Figueiredo Cavalcanti, para julgar o motorista Charles Pereira Lima, 37 anos, acusado de matar seu colega de trabalho em 01/04/2000, o também motorista Wenilton Marques Pinto, que tinha 36 anos à época do crime.
Os dois trabalhavam na Serraria Moaçara, de propriedade do pai de Charles, e segundo consta no processo havia uma animosidade entre eles em virtude do acusado acreditar que o colega teria retirado madeiras da serraria para negociar sem o conhecimento de seu pai.
Wenilton, no dia do crime, saiu da serraria em direção à fazenda do patrão, na rodovia Santarém-Curuá-una, e foi encontrado morto dentro do caminhão na manhã do dia seguinte, às proximidades da ponte do Urumari, com dois disparos na cabeça e no tórax.
Segundo testemunhas, o acusado teria sido visto saindo do local do crime em atitude suspeita e uma bolsa do acusado, foi encontrado no mesmo local. O réu nega o delito e durante todo o processo, respondeu ao crime em liberdade.
A acusação estará a cargo de um promotor da 1ª Promotoria Criminal de Justiça e a defesa será dos Drs. Cláudio Araújo Furtado e Edinaldo Luiz da Mota, defensores públicos. Este é o 4º júri realizado este ano pela 6ª Vara Penal, havendo a previsão de mais dois júris neste primeiro semestre, nos dias 09/06 e 30/06.

Sol para todos

Por entre o verde das folhas, o sol nasce para todos?
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O caminho das águas desemboca no coração da Amazônia
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"Verás que o filho teu não foge à luta", pois "juncaremos de flores teu trilho,
do Brasil, sentinela do Norte"
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O sol há de nascer para todos, um dia...
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Foto e texto: Jota Ninos (com trechos do Hino Nacional e Hino do Pará)

Guerra Virtual

A Guerra Verde de Santarém, vem sendo travada nas ruas e na internet, onde os debates fluem sobre o modelo econômico de desenvolvimento.
Mas um dos lados pegou pesado ao incitar a violência numa comunidade do Orkut, como revela o Blog do Jeso.
Sobre o tema, assim comentei lá no espaço:
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Idiotas travestidos de patriotas
A falta de um projeto desenvolvimento econômico e social condizente com a realidade sócio-ambiental da Amazônia e a ausência do Estado através de seus órgãos de fiscalização, estão na raiz do processo de invasão desta região, desde os anos 70, quando foram rasgadas as duas principais rodovias da região (Santarém-Cuiabá e Transamazônica).
Num primeiro momento, pequenos agricultores foram jogados às margens das duas estradas e deixados à mercê da própria sorte. A maioria deles acabou se integrando à nossa cultura e consegue conviver pacificamente com os nativos da região. A nova leva trazida no rastro do agronegócio já demonstra, inclusive através de seus filhos, que não é sua intenção se integrar conosco e sim, ocupar o nosso espaço. E para combater tudo isto, como salvadores da Pátria, ONG´s internacionais também aqui chegaram e acirrou-se a já chamada “guerra verde”
Como disse há poucos dias, essa invasão transformou Santarém na Casa da mãe Joana, onde todo mundo que chega diz o que quer, faz o que quer. Movimentos populares de um lado e empresários de outro, acabaram tomando parte no discurso de cada um. É preciso que encontremos o bom senso, pois agora a coisa começa a ficar perigosa.
Estes jovens com discursos racistas, são perfeito idiotas travestidos de patriotas e tentam intimidar a população local com estas mensagens na internet. Essa atitude em nada vai contribuir para que se encontre um consenso, ao contrário acirra os ânimos já exaltados que podem nos levar a uma guerra fratricida sem precedentes.
Apesar de não concordar com os métodos adotados por alguns movimentos, principalmente pelo padre Edilberto Sena, defendo o seu direito constitucional de se manifestar e me solidarizo com ele diante desta ignominiosa ameaça.
Não posso acreditar que os pais destes jovens concordem com essa postura irresponsável. Se assim for, é por que querem outro cadáver para justificar a fama do Pará, onde a terra tem sido encharcada de sangue.

Aquarela tapajônica

A foto acima é uma obra de arte do jornalista Celivaldo Carneiro, de A Gazeta de Santarém, que foi publicada no Blog do Jeso. Ela me inspirou o soneto, que também foi publicado lá e que republico neste espaço:

Soneto ao mural tapajônico
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Lembrete do dia: a solidão é bela!
No mural azul, a tachinha amarela
demarca a pequenez entre o estar
e a imensidão do rio-mar...
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A luz do sol nos revela
que à sombra dessa aquarela
repousa um homem errante
perdido no tempo, distante
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Leva teu sabor tapajônico,
no teu carrinho-sorvete,
e um olhar a fotografar-te
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O passeio arquitetônico,
é apenas moldura ou cavalete,
de uma natural obra de arte.

Novos comentários

O internauta anônimo que se assina Nuranda, me envia um comentário sobre o post em que o considerei meu "anjo da guarda", diante de críticas ao artigo em que analisei a "guerra verde" em Santarém:
Caro Ninos,
Não sou anjo da guarda de ninguém. Não quis somente defendê-lo, mas sim, vossos argumentos.
Este debate todo tem que fugir do SIM x NÃO, do PODE x NÃO PODE e principalmente por essa polarização ser realizada por agentes externos.
Critico e criticarei quantas vezes forem necessárias as intervenções sem embasamento técnico/científico que tentam explicar os fenômenos sócio-econômicos por vias meramente ideológicas. Religiosas então, não terão vez.
Tanto o mundo como Santarém precisam de razão! Sem a luz dos argumentos e dos fatos (não é propaganda pra Gazeta) boiaremos em fofocas, mitos, lendas e crendices como esta do Nurandaluguaburabara.
É bonita, mas não resistiu à pólvora ibérica.
Nuranda
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Obrigado, mesmo assim, Nuranda.
E o sempre prestativo Juvêncio Arruda, direto de seu informadíssimo Blog, também deixa um recado:
Jota, meu caro.
Quase não estou parando em casa, de modo que mando uma pequena contribuição ao debate encaminhando um artigo de um professor dos bonstempos de metodista.
Para sua reflexão e de seus leitores.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Mais reações à "Casa da Mãe Joana"

Esse artigo vai mesmo dar o que falar. recebi duas mensagens para o Blog sobre toda a polêmica envolvendo minha reflexão:
Agradeço ao Jeso (aliás, ambos só conheço há anos pelo nome!) por ter me aguçado a curiosidade e ter me direcionado a seu blog... Bela reflexão!!!
Nada como boas idéias, boa escrita que direcionem a bons debates e quem sabe grandes atitudes!
São os bons frutos da tecnologia!
Parabéns pelo blog.
Michela
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Caro Jota:
Não poderia deixar de passar pelo blog (coisa que faço sempre) sem deixar minha impressão sobre o artigo "Santarém a Casa da Mãe Joana". Confesso que não gostaria de fazer reflexões acadêmicas aprofundadas sobre o momento em que passamos. Na verdade é mais uma consideração de um caboclo inquieto com a realidade.
Acabei de retornar depois de 12 dias do Mato Grosso (Sorriso, Lucas do Rio Verde e Sinop). Fui com um grupo de professores de Universidades da Amazônia participar de um projeto de capacitação de agentes ambientais públicos financiados pela ADA e Executado pela UFRA. Foi uma experiência fantástica. Seria bom que todos os envolvidos nos debates sobre o tema pudessem ir ao MT pra ver a realidade de uma sociedade "dependente quimicamente" da soja que vive a angústia de dormir milionária e acordar miserável. Poderíamos nos encontrar em algum bar para conversarmos mais, como tu dizes em teus artigos, mas no momento refiro-me ao artigo "A Casa da Mãe Joana".
Na verdade o que tu escrevestes era que eu estava pensando a algum tempo. Quando liguei a televisão no hotel em Cuiabá, na volta, e vi em cadeia nacional o ocorrido no porto graneleiro da Cargill comecei a pensar naquele momento sobre nós caboclos e "verdadeiros donos do pedaço" sermos espectadores de conflitos entre os "Curupiras do mundo" e os propositores do "progresso e do desenvolvimento".
Sinto-me um pouco frustrado como nativo e como professor (tentando ser educador e não um vendedor de aulas). Como nativo por ver que pra nós é dada a opção de ser "contra" ou "a favor" de algo e como professor de ver as Universidades (será que todos os reitores e diretores entendem o verdadeiro papel das universidades?) alienadas a realidade local e regional.
Acho o momento que a cidade e a região estão passando, propício para que possamos debater o desenvolvimento. As Instituições de Pesquisa, as Universidades e a sociedade amazônica sabem como cuidar sim da região, basta simplesmente elas serem chamadas. Enquanto isso, mesmo agnóstico que sou, só me resta pedir à Mãe Conceição que o nosso torrão não vire a Casa da Mãe Joana.
Podalyro Neto
Professor Universitário
Eng. Agrônomo
Ms. Eng. Ambiental
Caboclo do Lago Grande

Grego X Romano

Um embate cultural milenar brotou, também, desta polêmica sobre "A Casa da Mãe Joana". Ao rebater a crítica do sociólogo italiano Tibério Aloggio, que ainda não conheço pessoalmente, depois de desancar o padre Edilberto, velho amigo de militâncias de esquerda, usei de um tom irônico contra o comentarista:
[...] Quanto ao ilustre Tibério Aloggio, será que o fato de você ser um sociólogo com nome de imperador romano e sobrenome italiano, não concorde com este pobre grego que não tem nem metade de seus conhecimentos para dizer que sou um “intelectual acostumado a discutir em barzinhos os problemas da humanidade”? Nem beber eu bebo, como já disse em um artigo, que está em meu blog!
Precisamos nos conhecer melhor, antes de nos digladiarmos e nos ofendermos. Você é novo por aqui e não sabe da missa a metade. Pergunte um pouco sobre mim com seus colegas do PSA, e eles lhe dirão como sou um louco polêmico que adora o debate!
Confesso que tenho gostado de suas análises sensatas aqui no blog [do Jeso], muito embora contenham às vezes o mesmo ranço da “verdade absoluta” que algumas ONG´s gostam de impor. Também já trabalhei em ONG´s e sei o que precisamos dizer para justificar os salários que nos pagam. Não sei se é o seu caso.
Quem sabe nos encontremos qualquer dia desses num dos bares da vida e consigamos resolver os “problemas da humanidade”?
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Ao qual Tibério Aloggio, assim treplicou:

Bom caro Jota,
Se se sentiu ofendido, peço-lhe humildemente desculpa, concordo que poderia ter evitado "essa do barzinho". Porém minha intenção era usar tal "expressão" justamente para chamar atenção numa discussão que transcende historias pessoais, passadas, presentes e futuras dentro e fora do movimento político santareno.
Percebe-se, ao ler sua resposta "as mágoas" que sua passagem pelo movimento local devem ter deixado na sua pessoa. Mas não é por isso que podemos "ler" tudo aquilo que acontece somente com "olhar de magoado". No fundo os indivíduos, apesar que importantes, são coisa pequena frente aos processos, que são complexos e envolvem inúmeros atores.
Achar que o movimento local não tem consistência para combater os processos, não é boa desculpa para ficar "em cima do muro", dando palmadinhas à "esquerda e direita" como os maus professores costumam fazer, pois isso não acrescenta nada no debate. Portanto, minha sugestão é que deixe de alfinetar a todos e a todas e participe de forma propositiva, inclusive "sugerindo" idéias e soluções.
É bom saber que conhece o projeto Saúde e Alegria, pois pelo menos não terei que explicar o nosso trabalho com as comunidades rurais da região, principalmente nos municípios de Santarém e de Belterra.
De todo modo, quero esclarecer que tudo aquilo que falo ou escrevo no Blog, é pessoal e não da Entidade, por isso assino com meu nome.
Meu sobrenome é Italiano, pois nasci na Itália, porém sendo morador da Amazônia há 20 anos, e tendo filhas e esposa mocorongas, me considero da terra.
Já trabalhei no Movimento Social, em ONGs, no Governo, Empresas, Institutos de Ensinos Públicos e Privados. Fui Coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Amazonas e Roraima ainda no final dos anos 80.
Mas nem salário, nem emprego, me impede de tomar partido, posicionamentos, ou seja, de ser um cidadão que busca o Estado de Direito e luta pela cidadania.
Nem eu bebo, mas gosto de barzinhos e MPB, talvez a gente se encontre por lá, mas com toda certeza não será para resolver os problemas da humanidade.
Tiberio Alloggio
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E eu assim respondi à charmosa tréplica de meu crítico:
Convite aceito, Tibério. Desculpe-me também, pelo tom meio irônico de minha nota.
Quanto a participar de movimentos sociais com proposituras coerentes, não me faço de rogado. Estou aberto a discutir com os grupos e colaborar com debates, mas infelizmente, os grupos hoje existentes são fechados demais para as minhas propostas. Já fiz algumas tentativas, e sempre vejo narizes se torcendo às minhas idéias mais "conciliadoras" ou "pragmáticas".Se você acompanhar meu histórico no blog, que mantenho a duras penas, verá que militei nos movimentos sociais dos 16 aos 22 anos, intensivamente, como integrante do Sindicato dos Comerciários (inclusive participei da fundação da CUT, em São Bernardo),fui filiado do PT (até candidato a vereador), fundador da Associação dos Radialistas (hoje, Sindicato) e seu primeiro vice-presidente, mas me identifico mesmo é com movimentos culturais, por isso atualmente sou vice-presidente de uma ONG Cultural, o Instituto Kauré, que está em fase de legalização e ainda participo como 1º secretário de outra ONG ligada a direitos humanos, o Conselho da Comunidade da Execução Penal (Concep), que atua no presídio de Cucurunã junto aos detentos.
Como pode ver, não fico em cima do muro, mas não abro mão de criticar grupos que sobrevivem apenas de ideologia, sem um trabalho consistente e critico severamente os rumos do PT, inclusive apresentando a história de sua fundação em Santarém (sob o meu ponto de vista), em capítulos, lá no meu blog.
Adoro MPB (principalmente Chico) e podemos até tomar uma água tônica pelos bares da vida, para rir à beça sobre isso tudo, pois acima de tudo, como Che, acredito que é preciso endurecer a luta, sem nunca perder a ternura.
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Meu encontro com Tibério e Edilberto já está marcado: no momento em que postava estas notas, recebi um telefonema da jornalista Joelma Viana, da Rádio Rural, me convidando para participar neste sábado, 03/06/2006, no estúdio da emissora, de um debate sobre toda essa questão da soja. Espero poder contribuir com as reflexões, inda mais estando cara-a-cara com dois grandes debatedores que questionaram meu posicionamento. Quem quiser acompanhar o debate, sintonize na Rádio Rural, à partir das 10h30, e acompanhe o programa Rural Debate.

Anjo da Guarda

Continua repercutindo o texto que escrevi na semana passada no encarte regional do jornal Diário do Pará, ao criticar a chamada "guerra verde" que se instalou por aqui.
No comentário anterior, postei links para alguns dos comentários (a favor e contra) que foram feitos por leitores do Blog do Jeso, inclusive com um link para a réplica do padre Edilberto Sena, diretor da Rádio Rural e um dos principais líderes do movimento anti-sojeiros.
Um leitor anônimo (que assina com um pseudônimo original) do Blog do Jeso e que tem feito comentários sensatos em várias notas lá postadas, resolveu encarnar o papel de meu anjo da guarda, e assim se referiu à réplica do padre Edilberto Sena, que me acusou de ter "envelhecido" mentalmente:

Antes envelhecer coerente e racional do que se manter "jovem" numa ilusão de vida terrena (e além) baseada em princípios e pressupostos vazios e inexeqüiveis.
Achei a análise do Jota Ninos coerente, lógica, objetiva, sintética e corajosa. Diferentemente das opiniões apaixonadas e tendenciosas que usam subterfúgios, argumentos e sofismas para direcionar o pensamento das ovelhas acéfalas.
Nuranda
Noutro momento, o mesmo Nuranda deu sua opinião sobre a crítica feita pelo sociólogo Tibério Aloggio, outro participante assíduo do Blog do Jeso que não gostou da minha reflexão e afirmou que minha tese indicava a existência de uma "burrice genética" e que isso "é papo furado de intelectual acostumado a discutir em barzinhos os problemas da humanidade". Assim reagiu, meu "anjo da guarda", em dois textos:
Burrice genética?
Acho que não lemos o mesmo texto.
Curioso é ver alguém que deveria ser o especialista em análise sócio-política comete tantos deslizes, inconsistências e contradições. Contrariar a idéia alheia é uma coisa, tentar desqualificar o orador é outra.
O segundo parágrafo ratifica o que foi escrito pelo Jota. A casa da mãe Joana é isso mesmo. Os donos da casa permitem que quem vem de fora faça o que bem entender enquanto estes só observam e passam a mão de vez em quando enquanto os cafetões lucram.
Onde estavam a igreja e os grupos intitulados ambientais antes da chegada da soja, que não se mobilizaram para dar alternativas de produção para os 20 mil excluídos?
Essas pessoas só passaram a existir depois de migrarem?
Enquanto o paradigma for de dar emprego ao pequeno produtor, o êxodo continuará. Não existe possibilidade de manter o homem no campo sem infra estrutura pública e sem um modelo produtivista que lhes dê renda e lucro.
Ou jogamos conforme as regras do jogo ou continuaremos miseráveis e cheios de ideologia barata que não enche barriga mas enche cadeias.
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Gostaria que o Sr. Tibério Allogio citasse a fonte desses números.Êxodos das áreas rurais para periferias de centros urbanos é um fenomeno que vem ocorrendo no Brasil ha mais de meio século (com grande intensidade).
Qual o período "desses anos" que o Sr. Citou?
Qual a taxa de crescimento populacional esperado para o mesmo período na área urbana?
A "maioria" desses 20 mil expulsos pelo agronegócio significa quanto? 10%, 30%, 70%?
Os dados foram filtrados para verificar se o êxodo ocorreu por culpa do agronegócio ou vem ocorrendo desde o início da década de 90 com o declínio da economia local e queda geral do poder aquisitivo?
Outra pergunta: agronegócio de mini-fúndio é pecado também ou só é demonizado o latifúndio?
Já pararam pra pensar que se o peqeno produtor adotar uma postura empresarial (cooperado de preferência) ele pode ter a sua propriedade sustentável e rentável e não se render à venda das terras para o latifundiário?
Qual a proposta dos anti-monocultura para isso? Está sendo implementada?
Que tal aproveitar a riqueza que a Santa Sé tirou da região e reinvestir em capacitação dos trabalhadores rurais ao invés de insuflá-los contra as bestas-feras internacionais sem resultado plausível algum?
Números soltos não dizem nada. O Sr. como sociólogo sabe muito bem (ou deveria).
Uma análise de uma conjuntura sócio econômia só pode ser feita com uso de estatísticas oriunda de dados muito bem coletados e parametrizados, caso contrário o sr. não faz ciência e seu título acadêmico torna-se desnecessário.
Até agora não vi números que comprovem nem que a economia de Santarém melhorou com a chegada da soja e muito menos números concretos sobre os impactos gerados pela atual produção.
Estamos num embate cego e ideológico de perde-perde pois a energia dedicada a uma questão que absolutamente resultará em NADA, poderia ser gasta para a construção de um modelo alternativo, não com a proibição do atual, mas com a conquista através de resultados mensuráveis.
Nuranda
Meu Comentário: Para quem não é de Santarém, o pseudônimo Nuranda é uma referência a um mitológico índio de grandes proporções, guerreiro que teria habitado esta região antes dos portugueses aqui desembarcarem. Seu nome inteiro era Nurandaluguaburabara. Meu anjo da guarda demonstra ter conhcimentos culturais da cidade, mesclados à informações sobre agricultura regional. Obrigado, grande guerreiro!

domingo, 28 de maio de 2006

Reações à "Casa da Mãe Joana"

Meu artigo publicado esta semana na coluna Perípatos que escrevo no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará, após sua publicação aqui no blog e no Blog do Jeso, provocou reações diversas.
Registro algumas observações neste espaço:
Excelente comentário sr. Jota Ninos.
Uma brilhante observação do que vem ocorrendo na cidade. Um cabo de guerra entre organizações internacionais que até agora só tem levado ao cansaço dos competidores e da exaustão da paciência dos espectadores sem soluções práticas e efetivas no horizonte.
Infelizmente esta não é a primeira e nem será a última vez que as decisões sobre Santarém serão resolvidas por pessoas descomprometidas com a cidade.
Felizmente hoje podemos contar com esta fantástica ferramenta de comunicação e interação para não somente tomar conhecimento das notícias como contribuir com opiniões e reflexões sobre os temas relativos à nossa sociedade.
Parabéns
Aldrwin Hamad

Tomara que a Cargill expulse o Greenpeace, pois assim teremos bastante caso de cancer infantil e isso será muito bom, pois gerará emprego e renda com a construção do hospital do câncer de Santarém! iupiiiiiiiiiiiiiii
Anônimo
Registro também que outro leito anônimo postou diversas notícias sobre os efeitos da monocultura da soja no Centro-oeste brasileiro. Você pode ler as notas na caixa de comentários abaixo do artigo anterior, ou ainda clicar AQUI.
Mas no Blog do Jeso, mais lido que o meu, houve mais reações e em algumas tive que apresentar minha réplica.
Para ler as reações ao meu texto, no Blog do Jeso, clique AQUI. Leia também, o artigo do Padre Edilberto Sena e a minha réplica ao seu texto.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Será que Santarém é a casa da mãe Joana?(*)

"Que tenha uma porta por onde todos entrarão".
Com essa frase que mandou escrever nos estatutos do reino, a rainha Joana de Nápoles (foto) e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon onde se encontrava refugiada. Desde então o lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal, e ao vir para o Brasil a mesma expressão virou "Casa da Mãe Joana", que significa onde vale tudo, todo mundo pode entrar, mandar etc.
O sentido histórico e literal desta expressão popular parece cada vez mais se amoldar a Santarém, onde ainda ecoam os estertores de índios colonizados, desde a chegada dos missionários jesuítas e dos vorazes portugueses.
Nossa economia feita de ciclos predadores parece não ter fim.
Depois da borracha, da juta, da madeira e do ouro, a década de 1990 indicava que estávamos prontos para adentrar no maravilhoso mundo da produção agrícola. Falou-se no redentor curauá, apostou-se na produção de arroz, milho e nossa farinha ancestral (tanto aquela, tostadinha, de Cucurunã, como a outra, de tapioca, na Boa Esperança). Aí chegou o advento da soja e no seu rastro um debate que parece não ter fim.
Já disse em artigo anterior aqui neste Perípatos, que o debate entre os que defendem o desenvolvimentismo econômico baseado na monocultura do agronegócio e os que acham que a Amazônia é para ser preservada a todo o custo investindo-se apenas na agricultura familiar, é pura balela para atender a interesses de quem realmente parece mandar em nosso quintal.
Não quero defender teses xenofóbicas que têm sido o ponto marcante no atual debate onde a palavra “FORA” virou moda, até porque também não nasci aqui mas fui adotado por esta cidade desde os 15 anos e não teria o direito de utilizar de tal expediente. Entretanto, dá vontade de perguntar: fora quem, cara-pálida?
Os que dizem Fora Cargill recebem apoio financeiro de ONG´s estrangeiras, como o Grenpeace. Os que dizem Fora Greenpeace parece que esquecem a procedência da Cargill, a maior multinacional americana de grãos!
O que se vê, na verdade, é um debate de grupos estranhos à nossa cultura, utilizando nosso quintal para uma briga na qual a grande maioria da população assiste a tudo como cego em tiroteio!
UM LADO
Os agricultores que chegaram em busca do Eldorado do Tapajós, atraídos pela Cargill, são identificados como pessoas do sul do país que adquiriram áreas no planalto santareno, alguns utilizando métodos conhecidos como grilagem, que é a posse de terras de forma ilegal por meio de documentos falsificados (o termo vem da técnica de colocar escrituras falsas dentro uma caixa com grilos, que deixam os documentos amarelados e roídos dando-lhes uma aparência antiga e com isto mais verossímel). Por conta disso, passaram a ser chamados de grileiros ou sojeiros (corruptela de sojicultor+grileiro). Nas diversas manifestações, vi e ouvi homens rudes vociferando impropérios e absurdos do tipo “somos o progresso, vocês, de Santarém, são preguiçosos”.
A eles se aliou a nata de nossa elite local e grande parte da mídia, que acreditam no progresso da nova fronteira agrícola. Alguns empresários locais até investiram em suas fazendas, de olho na prosperidade alardeada pelos municípios do centro-oeste brasileiro.
O problema é que esse tipo de produção, pelas informações até agora geradas nos mais diversos debates jornalísticos (nunca um assunto teve tão destaque na mídia local), ainda não nos convencem de que seja a redenção econômica da região. De certeza servirão para grandes empresários que podem investir em mecanização, mas sem a tal “verticalização econômica” de que tanto se falou, ou seja, produzir não tão-somente para exportar o produto bruto pelo terminal da Cargill, e sim o industrializado para atrair outras empresas, como justificar a geração de emprego e renda, discurso que virou moda na boca de políticos de Maia a Martins?
Isso sem contar nos estudos sobre o impacto ambiental que essa monocultura vai trazer, e que só será sentida pelos netos dos nossos netos...
OUTRO LADO
Pequenos e médios agricultores que padecem há décadas, compõem a outra face desse triste mosaico tapajônico. Insuflados pelos líderes dos “movimentos sociais”, movidos por alguns religiosos que insistem em manter vivo o discurso da “Teologia da Libertação” e que tiveram a chance de ancorar o velho discurso demagógico de esquerda à estrutura de uma ONG internacional, o Greenpeace, que usa da pirotecnia midiática para denunciar os “predadores do meio-ambiente” pelo mundo afora.
O grande pecado destes grupos locais é exatamente não realizar nenhum trabalho pedagógico de longo prazo e utilizar dos financiamentos, que receberam de ONG´s internacionais nas décadas passadas, para realizar um movimento popular pautado em experiência mais concretas. Predomina o discurso de evangelização ideológica, frases feitas e pouca consistência no movimento. A juventude vai na euforia, mas não entende o que está por trás de toda essa briga. Além, é claro, de algumas oportunistas bandeiras vermelhas, que tremulam sonhos esquecidos...
QUINTAL
Em suma, a grande parte dos santarenos é compelida a ser contra ou a favor, deste ou daquele movimento, sem saber, exatamente, pelo que está lutando.
É bom lembrar que Santarém já teve movimentos em que a população se uniu contra um inimigo comum, como foi a luta de pescadores, no início do século, contra portugueses que exportavam apenas o “couro” dos nossos melhores peixes e jogavam as carcaças no rio, transformando o Tapajós num cemitério pisciano (história interessante que ouvi, dia desses, e que falta ser mais pesquisada). Ou mais recentemente, quando a população foi às ruas lutar contra o abandono da região na crise da energia elétrica, que forçou o Governo do Estado a finalmente trazer o Linhão de Tucuruí.
Nestes dois momentos equidistantes, não havia uma liderança forte, apenas a motivação de lutar por um direito usurpado. Este ainda é o nosso maior problema: falta de verdadeiras lideranças, desprovidas de interesses mesquinhos ou de discursos demagógicos.
Enquanto isso, continuaremos a ser a Casa da Mãe Joana, onde todo mundo manda e cada lado busca um abrigo, antes de ser acertado por alguma garrafa voadora, neste bordel tapajônico...
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos, edição de hoje do Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

domingo, 21 de maio de 2006

Bar doce bar...(*)

Talvez eu não seja o cara mais indicado para escrever sobre bares. Principalmente quando os bares (e seus donos) lutam incansavelmente para continuar madrugando.
Apesar de ser jornalista há mais de 20 anos e viver num mundo cercado de boemia, estou mais próximo do cara metido a intelectual, careta e que quase sempre abusa do bom senso. Sei entretanto, que há momentos para se extravasar o desbunde e tentar ser “um cidadão comum como esses que se vê na rua”, como diria o “filósofo” do cotidiano Belchior em uma de suas canções. O problema é que eu reluto para “soltar a franga” (no bom sentido, é claro...)!
Mas apesar de meus “antecedentes” de caretice, vou tentar refletir sobre o tema.
Primeiramente, o fato de eu não beber com freqüência (talvez uma vez por ano, aquele mesmo champagne do reveillon, que para bom bebedor meia caixa não basta...) não significa que tenha total repulsa aos ambientes de bar. Mas, infelizmente, há de se convir que os bares dos novos tempos estão longe de serem ambientes salutares e românticos como ocorria até meados dos anos 1980, ao ponto de serem eternizados por filmes nacionais de primeira linha (“Bar Esperança – o último que fecha, de Hugo Carvana) ou em programas musicais de televisão (o inesquecível “Bar Academia”, exibido pela TV Bandeirantes e que tinha em seu comando nada mais, nada menos, do que um grande biriteiro, como Chico Buarque de Hollanda).
Mesmo assim, vez por outra freqüento algum bar, mas sem tocar em álcool! Deixo a bebedeira para os amigos (sou até útil, pois se todo mundo ficar porre, pelo menos um poderá dirigir o carro...) e tento não me sentir um peixe fora d´água (ou seria melhor, “um bebum fora do copo”?).
Na minha adolescência, conheci vários botecos daqueles em que havia uma mesinha imunda, banquinhos de madeira ou caixas de cerveja, enquanto disputava-se uma “porrinha” para ver quem pagava a rodada. O taberneiro, esforçado, se virava para nos seduzir, fritando “suculentas” carnes de conserva com ovo e farinha, para o nosso deleite. Havia também aqueles bares com mesa de sinuca ou, em tempo de copa, com a televisão e a decoração verde-amarelo (em 82, me lembro ter ficado até porre quando o Brasil parecia que seria campeão, antes do Paolo Rossi cruzar nossa área...).
Um bar ou qualquer lugar de entretenimento, na minha concepção, sempre foi bom se a gente estava com a turma certa. Dependendo do grupo, a gente resolvia os problemas do mundo, desancava os políticos, contava a mais nova do papagaio (ou do Agapito) e falava dos melhores times do mundo: Botafogo, Paysandu e São Raimundo (os outros eram palavrões)...
Não sei se mudaram os bares ou se fomos nós que ficamos mais tolerantes e deixamos que o velho bar, doce bar, se tornasse uma coisa meio estranha.
Hoje ninguém quer (e nem pode conversar). Basta que uma televisão com os decibéis acima do tolerável, mostre o último show do Calypso ou um grupo de pagodeiros desafinados berrando aos ouvidos. Acho que o excesso de barulho é a principal causa de um modelo de bar em que, mesmo com um grande grupo, nos sintamos sozinhos.
É por tudo isso que não sou favorável que os locais de entretenimento, como bares, boates e danceterias, tenham a permissão de atazanar nossos ouvidos a qualquer hora, a qualquer dia ou qualquer lugar. Que fique claro que não sou contra a “Instituição Bar”. Mas o que temos hoje pelas esquinas são antros de poluição sonora, embebidos em álcool, onde ninguém se entende. Jovens desmiolados, gangues despudoradas e garçons sem educação, fazem destes lugares verdadeiras “sucursais do inferno” (ou na visão de Tarantino, o “Drink do Inferno”), onde o que mais importa é o lucro do “empresário da noite” e não o bem estar das pessoas.
Alguém dirá: mas se é tão ruim, porque tanta gente procura estes lugares? Como tudo o que acontece hoje, é sempre uma questão de status. Estar em um lugar que todo mundo freqüenta e do qual, no dia seguinte, as fotos estarão nos fotologs da vida, é sempre o melhor chamariz.
Não ficarei triste se os vereadores não aprovarem o projeto que beneficia meia dúzia de “empresários da noite”, em detrimento do sossego de milhares de cidadãos. Quem sabe se os limites impostos nos façam buscar a velha estrutura do nosso bar, doce bar, de antigamente. Sem muita zoeira, e mais olho no olho.
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada extraordinariamente no sábado (20/05/06), no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

sexta-feira, 12 de maio de 2006

A ótima frase da semana, pescada do site Kibeloco (link ao lado neste blog):
"Greve de fome é coisa de gente Gandhi.
Não é pra Garotinho." (Frei Luiz)
Realmente é impossível comparar um gesto nobre como foi o do grande líder indiano que fazia greve de fome por uma causa justa (a independência da Índia) com o gesto demagógico do ex-governador do Rio de Janeiro.
O bom de toda essa história é saber que a palhaçada do Garotinho vai terminar com a autofagia de sua candidatura à Presidência da República. Só resta agora que as urnas vomitem o casal Garotinho de vez da visa pública.

Aprendendo e ensinando uma antiga lição(*)

Santarém pode ter vivido esta semana um momento histórico que será lembrado nas próximas décadas. A manifestação dos estudantes secundaristas pelas ruas da cidade, contra o aumento no preço das passagens de ônibus e a reação desproporcional da polícia militar contra o ato, pode ser o embrião de um novo movimento estudantil e laboratório de futuras lideranças de movimentos sociais organizados.
Até um mês atrás, muitas pessoas, como eu, que viveram os tempos áureos da organização popular, se questionavam sobre a apatia dos estudantes e seus reflexos no surgimento de nomes que hão de compor as alternativas de poder municipal no novo milênio. Não só aqui, mas em todo país, é crescente a preocupação pela renovação de lideranças dentro dos novos conceitos filosóficos mundiais pós-neoliberalismo e pós-ascensão das esquerdas ao poder, notadamente na América do Sul.
Na França e em toda a Europa, novos movimentos juvenis surgem, sem consistência, e se apresentam como estopins de violência inconseqüente que assustam autoridades, mas em alguns casos acabam conquistando direitos aviltados.
No Brasil, a juventude remanescente dos “caras-pintadas” (movimento que deflagrou a queda do presidente Collor, em 1992) envelheceu e se acomodou em cargos públicos ou perdeu o tom do discurso na era FHC. Como resultado, surgiu aquilo que eu chamo de “Geração MTV”, uma juventude mais pragmática, mais consumista e que mostra indícios de uma alienação latente provocada, principalmente, por uma programação cultural enlatada e sem conteúdo para reflexão que a grande mídia (representada por canais como a MTV) insiste em propagar.
A rebeldia juvenil nos últimos tempos parece ter se resumido a modismos cada vez mais descartáveis, como a representada pelos integrantes dos “Rebeldes”, grupo musical mexicano que faz uma novelinha no estilo “Malhação”, da Globo (produto nacional tão insípido quanto o enlatado mexicano) e que nos remete aos “Menudos”, grupo caribenho que foi a febre da juventude na década de 1980 e que também idiotizou parte da chamada “Geração 80”. A parte não contaminada foi aquela que foi às ruas e pintou a cara.
Antes que meu artigo resvale para o velho discurso de satanização da mídia, assunto recorrente em dezenas de tratados filosóficos, ou não, da esquerda recalcada ou da direita moralizadora que vêem o apocalipse ou holocausto por trás de um simples programa de rádio ou de TV, quero enfatizar que a grande mídia reflete o status quo vigente e, se encontra audiência é porque existem mentes preparadas (ou despreparadas?) pelo sistema educacional caduco que nos ensina “antigas lições”, como diria Geraldo Vandré de quem parafraseei o título acima por melhor representar o sentimento de rebeldia que explode nas ruas.

Houvesse tomado outro rumo, o ensino contribuiria para a formação de um cidadão capaz de pensar e se rebelar na medida do desrespeito a direitos fundamentais, que vão da formação de filas hediondas em um banco para alimentar a economia do próprio sistema econômico à prestação de serviços essenciais como a distribuição de água numa cidade cercada de rios.
Voltando ao tema do primeiro parágrafo, a movimentação estudantil é salutar na medida que proporciona aos jovens a oportunidade de saírem do marasmo para protestar, ao invés de aceitarem passivamente uma situação abusiva como a imposição de uma nova tarifa nos ônibus. A calhordice dos empresários de ônibus de Santarém, da qual já me referi em artigo anterior, e a cumplicidade dos órgãos públicos em se deixar chantagear por um cartel estúpido precisava de um basta! O movimento é apenas um detonador da insatisfação sussurrada por uma massa disforme que alguns estudiosos chamam de “maioria silenciosa”. Depois dos jovens, é a hora dos pais em suas associações de moradores descerem as ruas e exercerem seu direito à cidadania, reivindicando um novo paradigma na relação Povo X Poder.
Como sempre há entretantos, não poderia deixar de alertar que por trás de uma organização (ou desorganização?) de um movimento popular como o dos estudantes, há sempre o perigo da contaminação sectária de grupos facistóides (de esquerda ou de direita) que podem aproveitar a turba para levantar suas bandeiras. Recentemente vimos duas tendências antagônicas tentando se impor durante o “debate” (ainda insípido e sem consistência) sobre a questão ambiental. Ambientalistas e desenvolvimentistas manipulam informações ao seu bel-prazer e transformam tudo, naquilo que o escritor e humorista carioca da década de 1960, Sérgio Porto (conhecido como Stanislaw Ponte Preta), chamou de “Febeapá – Festival de Besteiras que Assolam o País” ou o popular “Samba do Crioulo Doido”.
Não acompanhei o movimento dos estudantes de perto, mas o que vi e ouvi pela televisão me deu quase a certeza de que houve infiltração no movimento de jovens com discurso preparado em reuniões do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, a nova “porraloquice” de esquerda que tenta “cooptar” o movimento estudantil para deflagrar um contínuo processo de manipulação de outras entidades populares que já estiveram nas mãos do antigo PT, hoje aboletado no poder. Sabe-se que há algum tempo, os partidários da senadora Heloísa Helena e do deputado paraense “Babá” (que felizmente vai se acabar no Rio de Janeiro, para onde se mudou), vem se estruturando dentro da UFPa. e tentando assumir a vanguarda das organizações estudantis. “Babá” sempre teve um reduto de “babacas” que o acompanhavam cegamente dentro do Campus da UFPa. em Belém. Agora eles já estão por aqui.
Entidades estudantis como a UMES (União Municipal de Estudantes Secundaristas) e AES (Associação dos Estudantes de Santarém), que vinham sendo controladas nos últimos anos por oportunistas sem nenhum compromisso com a consolidação de um movimento autêntico, devem viver a velha disputa ideológica que foi travada nos idos dos anos 1980 entre partidos de esquerda como PT, PCB e PC do B, e movimentos mais à direita (apesar de travestidos de esquerda) como o MR-8 (comandada pelo ex-governador Orestes Quércia) e a Libelu (comandada pelo ex-ministro Antonio Palocci) dando lugar, depois à facções ligadas ao PSDB.
Sem um contraponto, o pessoal do PSOL tende a crescer dentro dos grêmios estudantis, e o tom agressivo e inconseqüente será cada vez mais presente em manifestações. E como nossa polícia é despreparada, a provocação poderá se transformar em reação à base de cassetetes e com a televisão filmando... é tudo o que eles querem para justificar antigas lições...
Apesar de tudo, viva o movimento estudantil! Os filhos da Geração Carapintada aguardam novas lições de quem já sentiu a emoção de tomar as ruas, “caminhando e cantando e seguindo a canção”...

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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos (12/05/06), publicada no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Passeio na várzea II

Volto a publicar fotos tiradas em recente passeio à várzea de Santarém.
A casa que aparece ao fundo à direita é a do radialista Armando Carvalho, o famoso repórter-celular da 94 FM. Ele vem todos os dias pela manhã, atravessando o rio, para trabalhar na cidade. Vive no paraíso.

Aos pés do mestre

Há três semanas, nosso curso de Comunicação Social (Iespes) entrou numa fase próxima do Nirvana.
Como todo primeiro semestre de curso (e olha que já passei por vários) a tendência é que as aulas nos desestimulem, a ponto de muita gente não voltar no próximo semestre (eu mesmo já passei por essa experiência em outros cursos). Mas com o jornalista e professor Manuel Dutra isso é diferente.
A experiência do velho mestre e as teorias da disciplina Introdução ao Jornalismo repassadas de forma intensiva (Dutra assumiu todos os horários num período de um mês) faz a turma entrar em transe, como registra a foto de Eduardo Dourado.
Na próxima semana Dutra será o responsável, também, por uma oficina de rádio durante a semana da comunicação, promoção dos alunos de Comunicação e de Publicidade do Iespes.

Exemplo

O leitor Jorge Nascimento, agradece a publicação de seu comentário aqui no blog:
Caro Jota Ninos,
Obrigado pela publicação deste e-mail em seu blog, é importante que todos participem deste debate. O movimento que ocorreu nesta manhã é prova de que os estudantes continuam lutando por seus ideais e discutindo os problemas que preocupam a população.
A classe estudantil nunca deixou de reclamar seus direitos. Parabéns aos estudantes pela iniciativa e ao Município pela abertura do diálogo.
Quem não está de parabéns é a polícia que, segundo os noticiários, reprimiu com violência a essa manifentação pacífica e legítima dos estudantes. Que este movimento sirva de inspiração para que outros setores da sociedade se manifestem a respeito deste e de outros temas de interesse coletivo.
Gostaria que este (e-mail) também fosse publicado.
Um grande abraço.
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Comentário: caro Jorge, pela minha experiência dos tempos em que eu freqüentava este tipo de manifestação, me preocupa a forma como isso vem sendo feito. Como havia dito sou extremamente a favor que os estudantes voltem ás ruas, mas desde que não sejam , como dizíamos em nosso tempo de militância, "cooptados" por alguma facção sectária. É preciso que as entidades organizadas de secundaristas e universitários possam transformar as manifestações em algo pedagógico. Abraços.

Ecos d´A MASSA

Um novo leitor do blog, que se assina Luiz S. Castro, visitou um antigo post neste blog e comentou:
Esta música é muito massa. Legal ter este blog.
Gostaria, se possível, que me enviasse ela pelo e-mail ou algum site de download.
Abraços.
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COMENTÁRIO: Eu também adoro essa música, mas infelizmente não tenho ela nem em CD e nem em MP3. Ouço-a, de vez em quando, na minha velha coleção de 300 LP´s (será que alguém da nova geração ainda sabe o que é isso?), com todo aquele chiadinho romântico que se perdeu na fria tecnologia das novas mídias eletrônicas. Se um dia eu transformá-la em MP3, quem sabe até a disponibilize por aqui, mas só para ser ouvida. Não quero ser acusado de pirataria... Em todo o caso, se você quiser saber mais sobre o autor da música, Raimundo Sodré (foto), clique AQUI.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Estudantes voltam timidamente às ruas

Notícia do dia foi a manifestação de estudantes do ensino médio contrários ao aumento anunciado pela Prefeitura Municipal. Pelo que ouvi na 94 FM, teria havido inclusive cenas de repressão por parte da PM com a utilização de spray de pimenta. Pela manhã, o Blog do Jeso trazia a informação do movimento, com foto de Celivaldo Carneiro (postada acima), mas ainda sem esta informação adicional.
É interessante ver a juventude saindo às ruas novamente, mesmo que um pouco desorganizadas.
O curioso ainda é que no artigo que escrevi sexta-feira no Diário do Tapajós, falava exatamente sobre este Direito de Expressão e anunciava que este o tema seria debatido no programa Cidade Alerta, da TV Guarany (canal 15).
Lá o papo foi ainda mais amplo e bem conduzido pelos jornalistas Ronei OLiveira e Emanuel Júlio, que me entrevistaram e também ao mestre Manuel Dutra.
Em dado momento, falamos sobre a inércia do movimento estudantil diante dos atuais acontecimentos locais, regionais e nacionais, e externei minha posição de que a juventude precisava retornar às ruas e tomar em suas mãos o direito de se expressar, pois o movimento estudantil sempre foi propulsor de todos os movimentos sociais.
Por conta desta entrevista, recebi um e-mail do estudante da Uepa, Jorge Nascimento, que publico aqui no blog para socializar o debate, exatamente por expressar a mesma preocupação levantada naquele programa:
"Caro Jota Ninos,
Nesta sexta-feira, dia das comunicações, tive a oportunidade de assistir a sua participação no programa cidade alerta da Tv Guarany.
Sou universitário da UEPA e compartilho com você a preocupação com a falta de participação dos movimentos estudantis em Santarém. É verdade que hoje os estudantes não vão mais às ruas, lutar por seus ideais, mostrar a força da pressão popular, mas alguns fatos devem ser considerados:
1- Na época em que foi deposto o presidente Collor, os cara-pintadas contavam com apoio em massa das camadas populares, o que hoje não dispomos pois os governos atuais, com seus "programas sociais", que na verdade são políticas de tapar o sol com a peneira, acabam iludindo e viciando a população mais pobre que forma maior parcela da população. Isso é comprovadonas pesquisas de sucessão presidencial.
2- As facilidades de entrar nas instituições de nível superior hoje no Brasil, principalmente nas particulares, dão oportunidades a pessoas despreparadas cada vez mais alienadas de ingresso nas universidades efaculdades. Resultado: apatia estudantil.
3- As discussões nas universidades não pararam, apenas não se exteriorizaram por culpa dos próprios universitários e por culpa também da imprensa. Onde estava a imprensa quando discutíamos o Ato Médico? Quando discutimos o Sistema de Cotas nas universidades? No momento em que formávamos opinião sobre os mais diversos problemas sociais nos últimos anos? Onde estará a imprensa quando discutiremos a relação entre as ongs e os sojeiros na próxima quarta-feira,às 15:00 na UEPA?
Temos que ver que os cara-pintadas daquela época hoje estão no poder, frustrando a cada dia todos os sonhos pelos quais lutaram estudantes de todo brasil. O país está desnorteado, não sabemos em quem acreditar, mas asseguro-lhe que nunca perdemos nossos anseios de revolução e melhoras, nunca deixamos de produzir novas idéias, apenas deixamos de externá-las.
Quero resgatar esse poder e contar com os olhos da mídia para mobilizar a população a lutar pelos interesses coletivos e a formar opinião sobre as questões sociais. Para isso é preciso que a mídia se liberte dos laços com os gestores atuais, como posso citar a denúncia feita pelo jornalista Diogo Mainardi, colunista da revista Veja, sobre o também jornalista Franklin Martins, que se verdadeira deve envergonhar a classe.
Agradeço a atenção, um grande abraço".
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COMENTÁRIO: Jorge sua análise é consistente e concordo, em parte, com ela.
Com relação à mobilização dos estudantes em si, discordo quando você diz que "os cara-pintadas contavam com apoio em massa das camadas populares", na época do impeachment de Collor. Volto a reafirmar que o movimento estudantil sempre foi o motor de impulsão de todos os movimentos e nunca precisou de apoio dos outros grupos sociais, afinal a rebeldia e a livre expressão de um desejo é inerente da juventude, e isso se comprova com o movimento detonado hoje pela manhã. Você mesmo diz que "as discussões nas universidades não pararam", entretanto, acredito que não basta ficar debatendo entre as quatro paredes de auditórios acadêmicos e não envolver a população extra-muro das universidades.
Não tenho procuração de nenhum órgão de imprensa para esclarecer seus questionamentos sobre a ausência da mídia local em alguns dos eventos citados por você, mas posso garantir que pelo que conheço, nenhum colega da imprensa local tem restrições a qualquer destes movimentos (pelo menos até onde sei). E se não comparecem, pode ser um problema de melhor comunicação entre os promotores dos eventos ou então um problema de linha editorial que cabe aos proprietários das empresas decidir.
Externo seu desabafo e se algum colega (ou empresário) quiser, poderá comentar suas argumentações.
Obrigado.

Comunicação e expressão: mais que um ato, um direito(*)

Os atos de se comunicar e de se expressar são a essência do ser humano. Dito isso, vale a pena resgatar alguns conceitos que indicam que os dois atos tem uma certa distinção entre si.

Comunicar é um processo complexo que vem sendo explicado desde Aristóteles (meu inspirador eterno neste Perípatos), em sua obra sobre a Retórica. Não é simplesmente dizer alguma coisa, porque nem sempre o que se diz é captado como se quer (quando ocorre o que se chama de “ruído da comunicação”). Um bom conceito para definir o ato de comunicação seria “a capacidade de representação dos significados através de códigos, palavras, imagens, gestos, sons, mas também o modo de ser, viver e sentir das pessoas, ou seja, a cultura, que é produzida por uma civilização com a finalidade de comunicar suas informações a si e a outras gerações” (Suzana Sedrez).


O ato de se expressar pode ir ainda mais além da simples comunicação entre duas pessoas. A expressão do ser humano transita no mundo das ideias, dos sentimentos e das virtudes, como diria o próprio Aristóteles. Assim, todos nós nos comunicamos e, através desse ato podemos expressar o que trazemos em nossa alma. Ou seja, as duas funções juntas nos diferenciam dos animais irracionais.

Talvez por isso existam tantas datas em nosso calendário que lembram o ato de se comunicar e de se expressar. Até porque, a irracionalidade de quem detém algum tipo de poder, sempre há de se manifestar no sentido de impedir manifestações que se contraponham ao seu status quo.


Com exceção do mês de outubro (até onde pesquisei), durante o restante do ano todo existe um sem-número de datas que lembram as várias formas de comunicar e expressar.

Este mês que se inicia com o Dia do Trabalhador (aí envolvidos, também, os trabalhadores da comunicação) é um dos mais profícuos em datas, como as comemoradas anteontem (03/05), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e hoje, Dia Nacional da Comunicações. Este mês há ainda o dia do profissional de Marketing (08/05), o Dia Internacional da Comunicação e das Telecomunicações (17/05) e o Dia Mundial das Comunicações Sociais (31/05), instituída pela Igreja Católica a partir do Concílio Vaticano II.

A data de hoje relembra o patrono das comunicações no Brasil, o marechal Candido Rondon, que como descendente de índios além de defender a causa de sua gente, foi um dos pioneiros nas comunicações telegráficas do Brasil, tendo percorrido mais de 5.000 quilometro pelo país afora nesse trabalho.


Mais que a data de hoje, é importante lembrar a de anteontem, Dia Internacional pela Liberdade de Imprensa, que nada mais é que um dia pela liberdade de expressão (muito embora, a data para comemorar esse dia seja 28/09). Segundo relatório do Comitê Internacional para a Proteção dos Jornalistas, só em 2005 47 jornalistas foram assassinados e nos primeiros meses de 20066, outros 11 já perderam a vida defendendo este direito.

Logo mais estarei, juntamente com um dos mestres da comunicação local, o jornalista Manuel Dutra, no programa Cidade Alerta (TV Guarany, canal 15), debatendo exatamente esta necessidade de comunicar e expressar do ser humano, e principalmente de quem milita nas comunicações.

Para mim, pessoalmente, o mês de maio é marcante porque foi exatamente num dia 25 de maio, há 22 anos atrás, que eu comecei a trilhar os caminhos da comunicação profissional ao passar num teste como repórter na Rádio Rural. Três anos depois, em 13 de maio (Dia da Abolição da Escravatura), tive meu direito de expressão era pela primeira vez aviltado: fui processado por calúnia e difamação pelo prefeito da época, por denunciar em plena Nova República, um escândalo envolvendo milhares de sacas de cimento que seriam trocadas por uma área pública a ser doada a uma empresa de combustíveis.

Foi um dia ímpar em minha vida, com policial no estúdio da emissora, prefeito vociferando, depoimento na delegacia, sessão da Câmara lotada e manchete em jornal da capital. Mas foi, também minha consolidação como profissional polêmico e como referencial de uma juventude que não queria apenas se comunicar através das emissoras locais, mas que acreditava que a expressão de ideias era importante para reafirmar o processo de redemocratização do país.


Ainda hoje tenho orgulho de exercer esse direito, como todos os que fazem a comunicação local.
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(*) Artigo inserido na Coluna Perípatos (05.05.2006), que é publicada semanalmente no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.