sexta-feira, 16 de junho de 2006

Sempre haverá algo de podre exalando da “Pátria de Chuteiras” (*)

Sou um perna-de-pau desde os tempos em que jogava com bola de meia nos corredores do edifício em que me criei, na cidade das mangueiras. Arrisquei os primeiros chutes, ao ar livre, na praça da República e só jogava nos times formados pela molecada porque era o dono da bola...
No Colégio John Kennedy, o professor de educação física (que revi aqui em Santarém, agora como educador do trânsito, o querido Clauriberto Levy) só me deixava jogar porque, afinal, não podia me barrar dos treinos da escola. Mas eu acabava sempre na vaga reservada aos piores jogadores: o gol.
Passei a me arriscar mais. Pulava feito macaco tentando mostrar que tinha muito valor, mas desisti no dia em que tomei um frango histórico (que nem Valdir Peres, na Copa de 1982) depois que a bola chutada do campo adversário bateu numa raiz de uma velha árvore, que insistia em crescer perto do campinho e me cobriu! Eu seria um digno jogador do Tabajara F. C...
Mas apesar disso, sempre gostei de futebol. Sofri, vendo meus times apanhando dos adversários em jogos na TV ou mesmo no estádio. Sempre que ia ver o Paysandu jogar com aquela “coisa” azul, voltava com a bandeira no saco. Achei então que o pé-frio era eu (o pior é que, quando deixei de ir pro estádio, o Papão começou a ganhar títulos...).
Mas apesar de tudo, nunca deixei de gostar de futebol.
Quando cheguei em Santarém, continuei fominha de bola: quando não estava jogando em frente ao velho Hotel Uirapuru, na praia, estava esfolando meu pé no asfalto em frente ao colégio frei Ambrósio, onde jogava com os irmãos goianos do Quitandão (o agora tenente PM Osmar, o diretor da TV Amazônia, Walter, e o delegado Nelson Silva) e os ‘greguinhos” como eu, Mac e Eco, além do hoje advogado Anderson Dezincourt e outros.
Até que um dia entrei na militância política de esquerda e percebi, que por trás daquela alegria toda, eu vivia num mundo em que os generais é que jogavam um “bolão”. Na verdade, vivi a Ditadura já nos seus acréscimos do segundo tempo. Mas fui aprendendo como o futebol era usado como “ópio do povo”, típica expressão maniqueísta de esquerda para contrapor ao grito do ‘Pra frente, Brasil!”, da Copa de 70.
Os tempos são outros e apesar dos maniqueísmos de ambas as partes, o futebol ainda hoje é o nosso fetiche cotidiano. Não há como não gostar de um jogo em que todas as energias exalam do corpo e explodem num grito uníssono: GOOOOOLLLL! Mesmo assim, não há também como negar que o futebol ainda hoje é uma arma utilizada por quem está no poder para amplificar a catarse de todas as dores do dia-a-dia servindo como ungüento que nós faz esquecer as mazelas numa final de campeonato.
E o que dizer quando isso faz parte de um espetáculo mundial como a Copa do Mundo?
Nessa hora, nós, brasileiros bons de bola (tirando eu), somos os “capitalistas” do futebol. Nosso PIB (Produto Interno da Bola) é o maior do mundo! Produzimos e exportamos craques, abocanhamos títulos e somos reverenciados do deserto do Saara ao mais remoto iglu do Alaska!
Perder a Copa, para nós, equivale a uma catástrofe como um tsunami na Indonésia. Como não temos terremotos e vulcões para arrasar nosso território, basta um Paolo Rossi (aquele italiano que acabou com o então sonho do tetra, na Espanha) ou um Maradona (que com um passe de gênio para o Caníggia acabou com a defesa medíocre montada pelo Lazaroni e nos tirou da Copa de 1990, na Itália) para o mundo vir abaixo!
E o que dizer quando um ídolo que, na hora em que mais se precisa dele, chuta um pênalti pra fora (como Zico ou Sócrates, em 1886, no México) ou tem uma convulsão que acaba em goleada (como Ronaldinho, na França, em 1998)? Equivale a depositar todas as esperanças em um Lula, nas urnas, e ver o sonho se acabar num mensalão...
Apesar de tudo, sempre que houver uma Copa, inda mais com tantos ‘Rs’ dando show, sempre estaremos prontos para calçar a chuteira e entrar em campo rumo ao Hexa, ao Epta, ao Octa, etc.
A expressão “Pátria de Chuteiras” revela o tom nacionalista que sempre toma conta de nós, em época de Copa do Mundo, revelando que neste momento, somos “o rei do mundo”, como diria Leonardo Di Caprio, um pouco antes do Titanic afundar nas telas do cinema. E haja verde e amarelo nas calçadas...
Mas como toda chuteira, haverá sempre algo de podre exalando quando tirarmos esta do pé. Se estivermos enebriados com um Hexa, talvez não sintamos a podridão que exala da política nacional e o voto nas urnas será tão verde e amarelo quanto nosso orgulho. Mas, ao contrário, poderemos acreditar que além das derrotas do dia-a-dia de nada valeu endeusar nossos craques e afundaremos na mais triste das desesperanças.
O que isso significará em votos?
Nem os “Deuses do Futebol” saberiam dizer...
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada em 13.06.2006, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

sábado, 3 de junho de 2006

Tribunal do Júri absolve motorista

Por falta de provas e acatando a tese da Defesa e da Acusação, os 7 jurados escolhidos hoje, para formar o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, da 6ª Vara Penal, basolveu o motorista Charles Pereira Lima, 37 anos, acusado de matar seu colega de trabalho em 01/04/2000, o também motorista Wenilton Marques Pinto. Na sessão, presidida pelo juiz Leonel Figueiredo Cavalcanti, a única testemunha considerada ocular, teve seu depoimento questionado tanto pelo Ministério Público quanto pela Defesa.
Em função das informações não darem a certeza de que o réu tivesse cometido o crime, o promotor Paulo Roberto Corrêa Monteiro pediu a absolvição do réu, que também foi endossada pelo Dfensor Público Cláudio Araújo Furtado e pela advogadaNoemi Coêlho Athias. Os debates foram curto e à 16h00 os jurados estavam aptos a votar, sendo aceita a tese que absolveu o réu.
O próximo júri será dia 09 de junho (sexta-feira), tendo como réu Roberto Nogueira, acusado de matar Anerlisson Wander dos Santos há 14 anos.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Flores que nascem no esterco também perfumam a escuridão(*)

A racionalidade do diálogo é o caminho para evitar qualquer conflito, mas antes de mais nada é preciso que os ânimos exaltados se desarmem e tenham a capacidade de ceder alguma coisa, para que esse diálogo comece. Parece mais uma obviedade, como filosofia barata de almanaque, mas é a única coisa que me vem à mente para dizer neste momento crucial que Santarém vive, diante de um conflito sem precedentes que pode acabar em sangue.
A “guerra verde” travada entre ambientalistas e desenvolvimentistas não é nova, mas nunca havia chegado tão perto de um conflito que nos aproximasse das estatísticas de sangue do sul do Pará, onde a briga pela terra tem produzido cadáveres aos borbotões nos últimos 30 anos, com mortes de sindicalistas, de sem-terras e de religiosos.
A revelação feita através d’A Gazeta de Santarém e do Blog do Jeso (www.jesocarneiro.blogspot.com) na quarta-feira, de que uma comunidade do Orkut (site mundial de relacionamentos), criada com o intuito de execrar a presença da ONG Greenpeace em Santarém, teve adicionado um comentário de um jovem santareno de 18 anos (e que sabe-se agora, é filho de um ex-vereador local) insuflando àqueles que apóiam “o desenvolvimento de Santarém” a jogar bombas no navio da ONG se ele voltar a atracar em Santarém e – extremo dos extremos – matar ativistas ecológicos a cacetadas, nominando inclusive dois padres que lideram os protestos (Edilberto Sena e José Boeing), é extremamente preocupante.
A denúncia precisa ser apurada com rigor pelas autoridades, antes que uma irresponsabilidade ignóbil como essa tome corpo e passe a ser senso comum, deflagrando a violência que a maioria do povo santareno não quer.
O pior é que essa comunidade virtual, criada por outro jovem cuja família veio do centro-oeste no rastro do agronegócio e da instalação da Cargill, reflete a falta de um projeto desenvolvimento econômico e social condizente com a realidade sócio-ambiental da Amazônia e a ausência do Estado através de seus órgãos de fiscalização. Essa é a raiz do processo de invasão desta região, desde os anos 1970, quando foram rasgadas as duas principais rodovias da região (Santarém-Cuiabá e Transamazônica). Naquele primeiro momento, pequenos agricultores foram jogados às margens das duas estradas e deixados à mercê da própria sorte. A maioria deles acabou se integrando à nossa cultura e conseguiu conviver pacificamente com os nativos da região. A nova leva trazida no rastro do agronegócio já demonstra, inclusive através de seus filhos, que não é sua intenção se integrar conosco e sim, ocupar o nosso espaço.
Na semana passada, ao escrever nesta coluna (repercutida em meu blog na internet) que “Santarém é a Casa da mãe Joana”, onde todo mundo chega, diz e faz o que quer, senti, a partir das reações, que minha tese tem procedência. Concluí também que não existem apenas dois lados nesta questão. Além dos “contra” e dos “a favor” há uma opinião da chamada “maioria silenciosa” que ainda precisa ser ouvida. A mídia eletrônica, que a princípio parecia ter assumido o discurso de um lado apenas, tem tentado realizar debates para que cada lado exponha suas questões, mas isso ainda é pouco.
Soube que o bispo auxiliar de Santarém, Dom Severino, tem visitado pessoalmente algumas paróquias e exortado os fiéis da igreja católica a refletirem sobre o tema, criando grupos de estudos em seus bairros. Seria de bom alvitre que outras igrejas, instituições de ensino, sindicatos e quaisquer grupos organizados, também buscassem difundir a idéia de encontros e debates sobre a questão, chamando representantes das duas teses para esclarecer seus pontos de vista, e não apenas dogmatizar o tema à partir de uma visão obtusa. Isso iniciaria aquilo que afirmei no início deste artigo: a busca do diálogo, pois um incêndio não se apaga com gasolina. Sem o conhecimento, a “maioria silenciosa” continuará à mercê daqueles que querem apenas o conflito.
No início dos anos 1980, uma música foi usada por uma nova geração de estudantes que, após o período mais duro do regime militar, buscava “virar o jogo” com a participação e o diálogo necessários. “Viração” virou até nome de chapas estudantis e dizia em sua letra que “tanta falta faz teu braço, mutilado ou feito aço, traz a força da razão”. A música era um hino de animação nos moldes de “Pra não dizer que não falei de flores”, de Vandré, mas refletia o momento de distensão do regime, pós-anistia, sem perder o mesmo mote vandreniano afirmando que “sempre alerta, a hora certa é aquela que se tem na mão”.
Mas o momento mais poético daquela canção que até hoje ecoa em minha cabeça e que também remetia ao tema floral da música de Vandré, se resume a uma frase que sempre uso (inclusive parafraseado no título deste artigo) para mostrar que no meio de muitas desgraças é possível se encontrar algo de bom para mudar o cenário: “tanta flor nasce do esterco, perfumando a escuridão”.
Não precisamos de sangue para regar a flor da discórdia. Precisamos, sim, de um mínimo de racionalidade dos que se dizem lideres dos movimentos, para encontrar o caminho do diálogo.
Ele ainda é possível.
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos, que é publicada semanalmente às sextas-feiras no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará. A edição que deveria circular hoje, não chegou à Santarém, por problema de transporte, devendo ser distribuída neste sábado, conforme informou-me a editora Albanira Coelho. O artigo pôde ser lido hoje somente na edição on-line do jornal, e agoraa qui no blog.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Mesa-redonda no Iespes

O Instituto Esperança de Ensino Superior - Iespes, promove logo mais às 19h00, uma mesa-redonda sobre o tema "Política e Cidadania". O evento será aberto a todos os acadêmicos do Iespes e terá a presença de representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), MPE (Ministério Público Estadual) e um profissional da área de mídia.
Pela OAB, foi confirmada a presença do advogado José Ricardo Geller, pelo MP o promotor público Paulo Roberto Corrêa Monteiro e representando a mídia local, o signatário deste Blog, Jota Ninos.
A idéia do Iespes, segundo a professora Irene Escher, é dar continuidade ao debate dos grandes temas da atualidade como parte das atividades de extensão do instituto, que iniciou com a temática do desenvolvimento econômico regional no início do mês passado, chegando agora à discussão sobre as eleições 2006.
O eixo do debate na mesa-redonda será a ética e a cidadania na participação do pleito eleitoral deste ano.