sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Devolvam meu Olympia! (*)

Às vezes até esqueço que nasci em Belém, há 42 anos, e que vivi lá até o início de minha adolescência transitando na avenida Presidente Vargas e seguindo a Serzedello Corrêa, entre as praças da República e Batista Campos. Basta surgir uma notícia sobre coisas que vi e vivi para que eu caia numa nostalgia profunda e desconheça a cidade que me serviu de berço.
A notícia mais recente foi o fechamento do meu cinema favorito, o velho Olympia da praça da República, mais um que sucumbiu à modernidade das salas multiplex e dos confortos que DVD´s e Home Theater podem proporcionar à nova geração de “cinéfilos”, adoradores de Titanic´s e Van Dammes da vida... Fala-se que pelo menos não deve ser transformado em templo evangélico ou coisa parecida. Talvez um centro cultural.
O que dizer de um lugar onde vivi a magia com filmes infanto-juvenis da década de 70 e antes, que em nada se comparam com muitas das produções descartáveis de hoje? Havia uma aura de ingenuidade própria de uma geração de classe média que mal sabia que havia uma ditadura nas ruas batendo em gente, e vivenciavamos produções culturais de qualidade. Nada “emburrecedor” como as “comédias” de hoje que mostram adolescentes debilóides enamorados por tortas de maçãs!
Me esbaldei assistindo “Se meu fusca falasse”. Viajei ao lado de “Mary Poppins” e seu guarda chuva voador. Me empanturrei em “A fabulosa fábrica de chocolates” (versão original), além de me encantar com os desenhos de “Tom e Jerry”, da Warner e “A dama e o vagabundo”, da Disney.
Como esquecer as primeiras produções nacionais dos Trapalhões, quando ainda havia graça assistir Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias?
Ou ainda, adolescente, viver a época dos filmes-catástrofe da era spielbergueana (“Tubarão”, “Maremoto”, “Destino de Posseidon”, etc.).
Foi numa destas sessões que vivi meu próprio inferno astral: fui barrado na estréia do “Inferno na Torre”! Esse era o maior “mico” que um garoto da época podia pagar. “Olha pessoal, o João foi barrado!!! Ah!Ah!Ah!”. As risadas ecoaram por muito tempo em meus ouvidos. Apesar de ter uma idade incompatível com o filme (naquela época havia censura para todas as idades), sempre fui o baixinho da turma e o porteiro cismou em me proibir de entrar! Voltei pra casa chorando, baixinho, e do alto de meu apartamento no 24º andar do Manoel Pinto da Silva (esse pelo menos, continua lá, imponente), podia olhar o porteiro de cima pra baixo.... Como vingança, sempre que posso assisto aquele filme quando passa na TV (“Ah!Ah!Ah! pra você, porteiro!”).
Além dos filmes, o Olympia era especial pela bomboniére (o Mentex era indispensável nas matinés, quando tentávamos roubar um beijo no escurinho do cinema). E ao sair, aquele cachorro-quente na rua ao lado ou a compra de gibis do Homem-Aranha ou do Hulk, na banca de revistas completavam nosso deleite.
Por tudo isso é que eu brado, mesmo sem eco: “Devolvam meu Olympia!!”
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada na edição de hoje (24.02.2006), no Diário do Tapajós, edição regional do jornal Diário do Pará.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Polêmica educacional

- Ao se falar em gestão, como fica o papel da 5ª URE que sempre foi vítima de indicações políticas desconsiderando capacidade técnica, para ser apenas trampolim de eternos candidatos derrotados, que usam da estrutura apenas para transformar professores em cabos eleitorais?
Esse é um dos questionamentos que levantei esta semana no Blog do Jeso, sobre a recente publicação do ranking do ENEM, que mostra a decadência das escolas públicas de ensino médio em Santarém. Pedagogos de renome em nossa cidade estão debatendo o assunto, no blog mais democrático destas plagas.
Acesse, leia, reflita, comente e recomende.

Um trote tatibitate travestido de melô (*)

“Cê tá de sacanagem comigo!...”
A enigmática frase encerra mais uma das porcarias que nos enfiam pelo rádio e materializa o sentimento de quem quer ouvir música de verdade. As rádios estão realmente de sacanagem com a gente, emprenhando nossos ouvidos de baboseiras que sequer podem ser consideradas músicas.
Esse o caso do novo “hit” do verão nas rádios FM, o tal do “Melô do tio” ou “Trote do tio” (na verdade o nome é "Trote da Eliana". Se quiser ouvir a bomba, clique AQUI), uma farsa eletrônica com um diálogo tatibitate entre uma suposta criança e um idiota acerca de um bebê que estaria ficando sem ar porque a outra criança teria lhe dado comida de cachorro!
O diálogo é embalado por uma música incidental sampleada e recheado de recursos eletrônicos de mixagem sonora (que os DJ´s adoram usar), descobre-se ao final que tudo não passa de um trote telefônico. Ou melhor, um trote musical a quem quer desfrutar de uma boa música.
O tal “trote” já não pára de tocar nas rádios, e, como rastilho de pólvora, a novidade passa a contaminar um sem número de jovens que acham “legal a parada”, passando a pedir que o radialista reprograme o “sucesso”. Numa rápida espiadinha no Google descobri que o tal melô já é líder em várias listas de músicas mais tocadas pelas FM´s Brasil afora.
Ou seja, o idiotismo e a mediocridade entre os programadores de música deixou de ser exceção para ser regra. Afinal, uma excrescência como essa só tem espaço dentro de uma concepção consumista e descartável que humilha a inteligência dos ouvintes.
Por outro lado, há de se convir que se tal “obra” encontra eco na audiência, o problema é ainda mais grave: grande parte da juventude que acompanha a programação radiofônica acaba se encantando com porcarias como essa que só cabem em cérebros de minhoca. É o que eu chamo de “geração MTV”.
Isso já vem acontecendo gradativamente nas últimas décadas com produções como as do dublê de apresentador e cantor Sérgio Mallandro, a “Florentina”, do palhaço-”cantor” Tiririca ou a “Egüinha Pocotó” de um tal MC Serginho que se faz acompanhar de um travesti esquelético conhecido como Lacraia. Cada qual teve seu auge nas programações radiofônicas e televisivas, enquanto foi novidade. Depois sumiu.
Nessas horas dá até pra ter saudade de quando a produção musical de segunda classe se resumia ao besteirol da Xuxa ou às babaquices do Tchans da vida. Aliás, é possível que ali estivesse apenas começando um grande complô pela banalização cultural.
Com o surgimento dos Mamonas Assassinas, esse tipo de produção escrachada travestida de música chegou a ganhar um quê de inteligência. Mas não passava de uma banalidade mais bem elaborada e que acabou virando “cult” por causa da morte prematura do grupo num acidente aéreo.
O que ainda falta acontecer? Quem sabe se dentro de algum tempo não teremos que ouvir pelo rádio “músicas” inspiradas em dejetos fecais, flatulências, vômitos, escarros e outras excrescências humanas?
Será que nossos ouvidos continuarão servindo de penico?!
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(*)Artigo inserido hoje (17.02.2006), em minha coluna semanal Perípatos, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Em busca dos textos perdidos

Um dos poucos leitores dos textos de meu blog, ao acessar minha página estes dias, soube que o jornal Diário do Pará disponibilizou um link para o encarte regional do Diário do Tapajós.
Como não inseri o texto completo de meus últimos artigo, o amigo foi tentar lê-los através do link que eu coloquei aqui, mas sofreu uma decepção: o link só levava ao último texto inserido lá na edição on-line do Diário. Ou seja, quem não entrar na semana da publicação do meu texto, só poderá ler o último texto inserido!
Diante disso, passo a publicar a íntegra dos últimos textos, para quem não os acompanhou quando estavam disponíveis no link do Diário.
E a partir de agora não cometerei mais este erro. Achei que o Diário manteria um arquivo de tudo o que foi linkado. Lêdo engano.
Vai primeiro o artigo sobre o Carnaval, publicado em 20.01.2006:

Aqui, nem tudo acaba em samba...

O assunto que dominou (e sempre domina) os noticiários neste início de ano (e somente agora) é o carnaval de Santarém. Ninguém fala mais nisso depois que o carnaval acaba.
Carnaval? Que carnaval? Há muito tempo que a quadra momesca em nossa cidade não passa de uma tragicomédia de erros.
Este ano, com a saída do competente (um dos poucos da atual administração) coordenador de Cultura, Roberto Vinholte, o tal do “carnaval santareno” ganhou ainda mais em tragédia, mas no final, sem dúvida, não passará de uma triste comédia.
Até meados da década de 1980, o carnaval de rua manteve o glamour e chegou a ostentar inclusive um discutível título de “um dos melhores do norte”. Época em que havia até “escolas de samba” e um apoio maciço de verbas da prefeitura, que pouco eram fiscalizadas.
O investimento de prefeitos que não tinham nenhum compromisso com o bem público (pois nem eleitos eram, já que Santarém foi Área de Segurança Nacional até 1985), transformou o carnaval em uma fonte de renda para “carnavalescos” e, provavelmente, em fonte de desvio de recursos para políticos.
Com a volta da democracia, a farra também começou a ruir: surgia em 1986, de um lado, a ASAC - Associação Santarenas de Agremiações Carnavalescas, que tinha como objetivo organizar os desfiles e intermediar a relação com o Poder Público e do outro, a Secretaria Municipal de Cultura.
Só que o que poderia ser sonho acabou virando pesadelo: o diálogo deixou de existir pois a maioria dos integrantes da ASAC, principalmente seu fundador, o advogado Geraldo Sirotheau, eram opositores do então prefeito eleito, Ronaldo Campos e o primeiro gestor de cultura, o historiador João Veiga dos Santos, que apesar da bagagem cultural era tão irascível e autoritário quanto seu prefeito no trato das questões culturais.
Resumo da ópera: o samba começava a entrar no descompasso e a relação do poder público e de quem faz o carnaval foi ficando conturbada a cada carnaval. O “carnaval santareno” definha até hoje como manifestação cultural, e entrou na esfera da disputa política ou, no mínimo, da busca de recursos para a sanha de meia dúzia de “carnavalescos”.
Que me perdoem os brincantes dos blocos, mas boa parte das agremiações é liderada por pessoas que não tem o verdadeiro compromisso cultural e muito menos tino organizacional. Com isso, o que se vê é um espetáculo canhestro e o eterno debate se queremos um carnaval “de enredo” ou “de empolgação”.
Quem sabe não seja hora de acabar com o que já não existe? Ou então, voltar a sofrer horas na avenida a espera do próximo bloco que pouco se difere dos “sujos”, verdadeiros foliões de Momo que nada tem a ver com toda essa polêmica.
Afinal, o povo nessa história toda (e em outras), já sambou faz tempo...
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Agora, o artigo do dia 27.01.2006:
Ervas daninhas renascem mais fortes, quando adubadas

A democracia brasileira ainda é frágil.
Se compararmos nosso estágio político com o da evolução do Homem poderíamos dizer que saímos apenas do período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (Ditadura) para o período intermediário da evolução da espécie humana, o Mesolítico (Eleição direta).
Em suma, vivemos numa era mezzo lascada, mezzo polida, como convém a uma boa pizza de político, mais longe da Idade da Pedra Polida (Neolítico) do que possa imaginar nossa vã filosofia. Afinal, eleição não é tudo.
Depois da eleição indireta do Tancredo e do (des)governo Sarney, caímos num poço profundo chamado Collor, encharcado de dólares e sangue. Lodaçal. Mas, logo nos recuperamos e ao “tirá-llo” do poder acreditou-se que o mal foi cortado pela raiz. Lêdo engano: outros escândalos ainda estavam por vir. E veio o Escândalo dos Anões do orçamento e mais cassações...
Passado esse período, mais uma vez acreditou-se que a democracia começava a ser consolidada quando chegou o “reinado” de FHC e seu PSDB. Novos escândalos só não vieram à tona (como o caso da privatização das Teles) porque o Real encobriu a real condição do Brasil. Lula não passava de um “sapo barbudo” e o PT continuava a ser uma utopia pós-muro de Berlim.
Oito anos de enganação depois e quase nenhuma cassação de político, chegamos ao Poder (assim acreditamos)! O Brasil dava exemplo no cenário mundial e Lula era o herói preparado por Duda para nos redimir... até que a lama voltou a escoar por um valerioduto.
Renúncias e cassações de políticos envolvidos com a corrupção voltam a nos dar o alento de que a depuração do processo político está a um passo, mas sempre existe um político disposto a ser o nosso “Freddy Kruger”, aquele monstro hollywoodiano que assombra adolescentes com seus pesadelos.
Além das armações nos bastidores da CPI, vem um deputado (do Pará, o indefectível Nicias Ribeiro) propor o aumento das bancadas de alguns estados. Mais deputados: a solução!? E não é só isso: agora uma emenda no Senado pode aumentar as vagas em nossas Câmaras Municipais!
Sou um democrata convicto e tenho que acreditar que sairemos desse estágio quase letárgico, para uma era em que plantar idéias e sonhos seja o caminho para colher a felicidade. Como já disse um poeta “tanta flor nasce do esterco, perfumando a escuridão”!

Mas como em toda a plantação é preciso acabar com as ervas daninhas, antes que elas acabem conosco. Adubá-las pode ser perigoso: elas renascem mais fortes e ao invés de ervas podem se tornar plantas carnívoras.
Que venha a Idade das Flores sem espinhos!
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Agora é a vez do texto do dia 03.02.2006:

Governador chega hoje à Santarém. E daí?

Como jornalista, há mais de 20 anos acompanho as passagens meteóricas de nossos governadores por esta região, geralmente em períodos que antecedem campanhas políticas. Por isso, a passagem do governador Simão Jatene, hoje, de nada servirá, a não ser para mais um show de demagogia devidamente registrado em vídeo para gerar aquelas peças publicitárias que mostram um Pará que a gente nunca vê por aqui.
Para quem vai acompanhar este périplo pela primeira vez, é bom que tenha em mãos um roteiro, para não sair do figurino.
Tudo começa no aeroporto: Jatene desce acenando, talvez de boné e uma camisa de mangas nas cores do PSDB (amarelo e/ou azul). Coisa de marqueteiro...
Não faltará a indefectível fila de bajuladores estaduais e “aspones” (alguns tentando posar de papagaios-de-pirata, por serem candidatos a candidato) na cerimônia do “beija-mão” já no saguão do aeroporto, orquestrada pelas palmas de um efusivo Surdão (“Muito Bem!).
À frente da turba, decerto estará nossa ilustre prefeita Maria “sorridente” do Carmo, se sentindo pinto no lixo! Dever de ofício?
No hall de entrada, repórteres afoitos coletarão respostas previsíveis à perguntas que sempre se repetem. Tomara que desta vez Jatene não seja grosseiro com nenhum coleguinha, como já foi em outras vezes. Como pessoa, ele até é um tipo bonachão. Diria até que como governador, Jatene é um excelente boêmio. Combina com ele muito mais uma rodada de cantoria ou uma pesca no rio do que os compromissos protocolares. Talvez por isso ele às vezes se estresse e esteja ensaiando o discurso “já me vú”...
Depois, assinatura de papéis para a liberação de verbas que hão de vir para obras que hão de ser feitas. Não perguntem sobre conclusão, pois isso é um exercício de futurologia.
Fora do aeroporto, faixas com dizeres ufanistas do tipo “Obrigado, governador!”. No tempo em que o PT era um partido de massas, haveria uma manifestação já na Fernando Guilhon, próximo ao Santarenzinho. Hoje não convém...
Visitas às obras. Não importa que o canteiro seja o mesmo visitado da última vez. Fotos aos montes. O governador é um astro pop! Gravação de entrevistas nas TV´s locais, para repetir as mesmas lorotas de sempre.
Ao final do dia, as chamadas “classes produtivas” de Santarém, recepcionarão o governador na Associação. Baterão palmas ao discurso brilhante. Alguns chegarão a se derramar em elogios. Quem sabe até com uma comenda. Convém só falar mal dele quando já não estiver aqui. A surpresa será se um deles levantar irado e esculachar o governador. Mas isso é utopia, todo empresário sabe onde o imposto dói...
Nova comitiva até o aeroporto. Adeuzinho na escada do avião... missão cumprida. O Oeste do Pará agora é outro!
Passagens de governadores por Santarém são uma festa. Os “mocorongos” (no sentido mais pejorativo que possa haver) vão ao seu encontro em busca de algum espelhinho...
Afinal ainda vivemos no período da colonização...
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Por fim, o texto da semana passada (10.02.2006): que ainda pode ser lido no link, mas que a partir de amanhã deve ser excluído:

A Síndrome da Cabanagem atropela o debate amazônico

Pulmão do Mundo”, “Última fronteira”, “Celeiro do Brasil”. As denominações são várias e a intenção é apenas uma: a Amazônia não tem o direito de se desenvolver e deve ser preservada para “servir o país e o mundo”. O amazônida fica reduzido à condição de mero espectador do progresso alheio.
O debate já ocorre há décadas, mas foi à partir da Conferência Eco-92 realizada no Rio de Janeiro (1992), que ficou mais clara a existência de dois grandes blocos nessa discussão: os ambientalistas e os desenvolvimentistas. Os primeiros, representados por ONG’s (Organizações Não-Governamentais) ambientalistas financiadas por entidades estrangeiras. Os segundos, tendo à frente empresários do setor madeireiro e agropecuário.
A verdade é que a falta de uma política governamental mais clara para a Amazônia, ajudou a acirrar o debate e até hoje não há um meio termo. O senso comum é que todos querem um futuro melhor do que presenciamos hoje, sem que isso signifique a destruição de nossos recursos naturais.
Mas para que se chegue a um denominador comum, seria necessário o bom senso de ambas as partes, desarmando-se de quaisquer objetivos partidários para analisar friamente os projetos que começam a ser implantados ou planejados para a região. Não adianta ser somente contra ou somente a favor. Tanto os ambientalistas, quanto os desenvolvimentistas, devem ter o discernimento sobre que desenvolvimento queremos e a que custo.
A criação de um pólo agrícola na região é, sem dúvida, interessante do ponto de vista do desenvolvimento e criação de divisas. Mas não se pode esquecer a agricultura familiar, o que não significa manter a cultura de subsistência ou as práticas de puro extrativismo predador. Enquanto ONG’s criticam a criação desse pólo sem apresentar propostas racionais, os projetos caminham e às vezes são implantados “na marra”.
Depois que o caldo entorna, é difícil reparar os erros. Até hoje não vi nenhuma ONG questionar a possível produção de produtos transgênicos na região. Estão mais preocupados de vociferar contra a implantação dos pólos agroindustriais, mas não atentam para um problema maior que pode advir da produção dos transgênicos (experiências devem estar sendo realizadas, mas ninguém fala sobre o assunto).
O mesmo vale para a construção de estradas, ampliação de portos ou barragens. Assim como a delimitação de áreas através da criação de Florestas Nacionais (Flona), Reservas Extrativistas (Resex) e outros tipos de áreas de conservação ou preservação ambiental.
Não podemos ser contra o desenvolvimento e nem contra propostas que visem defender nosso patrimônio natural. O que está faltando é que todos sentem e discutam a Amazônia de dentro para fora, não de fora para dentro. Devemos discutir o que queremos para a nossa região, sem a interferência de projetos megalômanos que não levam em conta as questões regionais ou a intromissão de agentes externos que investem dólares para manter-nos como um gueto de biodiversidade ou um aquário de estudos.
Vivemos ainda sob a égide do que chamo de Síndrome da Cabanagem: tivemos a oportunidade de ser um país-Amazônia, fomos sufocados por nossa própria desorganização e viramos massa de manobra de elites políticas compromissadas com esquemas putrefatos ou ainda, com grupos organizados que escondem intenções escusas atrás de boas propostas de defesa da cidadania.
Que Amazônia, afinal, queremos?
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UFA! UMA OVERDOSE DE TEXTOS, NÃO?
Amanhã insiro o mais novo, que estará sendo publicado nesta sexta-feira.
Um abraço ao amigo Jota Parente, ligado aqui no blog, lá de Itaituba...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

A Síndrome da Cabanagem atropela o debate amazônico

"Pulmão do Mundo”, “Última Fronteira”, “Celeiro do Brasil”. As denominações são várias e a intenção é apenas uma: a Amazônia não tem o direito de se desenvolver e deve ser preservada para “servir o país e o mundo”. O amazônida fica reduzido à condição de mero espectador do progresso alheio".
Trecho de meu último artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada na sexta-feira (10/02/2006) no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
Leia o artigo completo clicando AQUI.

domingo, 5 de fevereiro de 2006

Governador chega hoje a Santarém. E daí?

"Como jornalista, há mais de 20 anos acompanho as passagens meteóricas de nossos governadores por esta região, geralmente em períodos que antecedem campanhas políticas. Por isso, a passagem do governador Simão Jatene, hoje, de nada servirá, a não ser para mais um show de demagogia devidamente registrado em vídeo para gerar aquelas peças publicitárias que mostram um Pará que a gente nunca vê por aqui".
Este é o trecho inicial de meu artigo sobre a visita de Jatene à Santarém, publicado na coluna Perípatos no Diário do Tapajós, na última sexta-feira, suplemento regional do Diário do Pará. Leia o artigo completo clicando AQUI.