domingo, 29 de junho de 2008

As aventuras e desventuras de um jornal experimental na Amazônia(*)

- Pode comemorar, somos campeões!
A voz no celular, direto de Roraima, confirmava a vitória de um projeto que, a princípio, poderia ser apenas mais um trabalho acadêmico ganhando um troféu (foto acima) num congresso estudantil. Mas a conquista do prêmio de melhor trabalho na categoria “jornalismo impresso” para o jornal experimental “CidadeMídia” da 1ª turma de graduação em Comunicação Social de Santarém, é muito mais que isso. Não só para os 30 acadêmicos que participaram do processo de elaboração, mas, historicamente (um dia isso será reconhecido) é a consolidação de um sonho que o próprio nome do jornal carrega em si.
Estou falando do Intercom Norte/2008, que aconteceu em Roraima e que pela primeira vez teve um trabalho de estudantes de jornalismo de Santarém concorrendo com outras faculdades. E no final, a vitória com direito a representar a região norte no Congresso do Intercom Nacional, que acontece de 02 a 06 de setembro de 2008, em Natal (RN). Intercom é a sigla da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação que há 30 anos reúne jornalistas, pesquisadores, professores e acadêmicos de jornalismo para debater os rumos dessa nobre profissão. O crescimento da entidade incentivou a realização de congressos regionais e dá oportunidade para que os acadêmicos apresentem trabalhos realizados em seu cursos, numa mostra paralela chamada Expocom. Não há prêmio em dinheiro, mas o trabalho recebe o reconhecimento da academia e fica registrado nos anais da Sociedade.
Mas o que pode haver de especial num jornal experimental feito por acadêmicos de uma faculdade? No caso de Santarém, como o título do jornal sugere, não é somente um nome, mas um conceito que começamos a debater na faculdade: como explicar uma cidade com tanta gente que vive da comunicação há mais de século e meio e que hoje ocupa o espaço em 5 emissoras de rádio, 7 canais de TV e cerca de 10 semanários com produção local? Santarém é uma verdadeira “cidade-mídia”, conceito que começou a ser defendido pelo jornalista Manuel Dutra e que foi assimilado pelos alunos do curso que ele coordenou por dois anos.
Mas chegar ao prêmio e almejar até um reconhecimento nacional, não foi fácil. Foram várias etapas de sofrimento desde a produção até a defesa do trabalho no congresso, mesmo tendo entre os estudantes pelo menos um terço de colegas com alguma experiência na comunicação local. Como eu, tantos outros sofreram para produzir um jornal em formato tablóide com 24 páginas. Dutra dividiu-nos em seis editorias, colocando cada um dos mais experientes como editor. E o que parecia que seria fácil, revelou-se um tormento. Afinal, apesar da experiência acumulada, era preciso reciclar conceitos e cortar vícios.
Na foto acima, o "avô" e os 30 "pais" do CidadeMídia.

As equipes foram às ruas, coletaram as informações e os textos passaram por um processo inicial de revisão. Depois de prontos, novos cortes ou simplesmente a ordem para fazer tudo de novo. Depois dos textos serem aprovados, fizemos uma diagramação coletiva em sala de aula, com a imagem do computador refletida no data-show. Um mês depois, estava pronta a criança saindo do prelo de uma gráfica e lambida como cria pelos 30 "pais". Dutra, o "avô-babão", com olhar enternecido também via um sonho se realizando.
Mas nem tudo eram flores. O jornal foi feito no 3º semestre do curso e só poderia concorrer no Intercom deste ano. Em janeiro, Dutra deixa o curso e seu substituto, um jovem professor sem experiência e de idéias equivocadas, quase põe tudo a perder. Em pé de guerra com todos os alunos ele acaba tendo que sair, não sem antes tentar sabotar nosso trabalho, que sequer foi indicado à direção do Intercom!
Perdemos o prazo da inscrição por causa disso, mas fizemos um apelo por e-mail à coordenação do evento explicando a situação que vivíamos. Enquanto a direção do encontro estudava nosso caso, eis que reabrem-se os prazos para novas inscrições! Não perdemos tempo e conseguimos que a coordenadora pro-tempore da faculdade fizesse aquilo que o coordenador demissionário não fizera. Agora estávamos a um passo do prêmio, certo? Errado, no meio do caminho havia um sistema on-line que não funcionava direito. Nós, como outros acadêmicos do norte, não pudemos registrar nossos trabalhos para concorrer ao prêmio. Frustração...
Após vários protestos por e-mails a coordenação, sensibilizada, consegue a tempo recuperar o sistema e voilá: o “CidadeMídia” aparece na lista dos concorrentes!
Começa então a organização da caravana, mas os altos custos da viagem e outros problemas pessoais, reduzem nosso grupo de 30 para apenas 3! Tudo bem, bastam poucos para defender o trabalho. Às vésperas da viagem, o sistema não registra mais nosso trabalho! Contatos telefônicos e mais protestos. Para completar, mais dois desfalques na equipe de viagem e a única colega apta a viajar segue sem ainda ter certeza se o trabalho será liberado. Até que um dia antes, lá está o “CidadeMídia” novamente na lista... Ao que parece problemas tecnológicos insistiam em nos dar sustos...
Albanira Coelho, jornalista e acadêmica segue sozinha, deixando 29 corações pulsando por aqui. Mas as desventuras do “CidadeMídia” ainda não haviam acabado...
O avião que leva nossa representante à Roraima não passa de Manaus. O mau tempo cancela os vôos e Albanira perde um dia do encontro, exatamente o momento de defender o trabalho! Pelo jeito não era nosso dia. Mas ao chegar em Roraima, corre ao local do evento e descobre que foi aberta nova oportunidade aos acadêmicos que tiveram problemas com o vôo de Manaus. Só que a exposição tinha que ser naquele lugar dentro de alguns minutos! Mas as bagagens ficaram no hotel! Albanira tenta ligar através de celular para que lhe tragam o material. O celular não tem crédito. “Me empreste seu celular”, diz ela a outra colega ao lado e consegue em poucos segundos que alguém se responsabilize em trazer o material, que chega com o prazo quase esgotado.
Na “arena”, a jornalista se vê sozinha com a claque de várias faculdades. Anunciada como sendo de Santarém/Pará, recebe a solidariedade de colegas de Belém. Faz a apresentação e sai do local com a impressão de que se saiu bem. No dia seguinte, seguindo a programação, chega ao local do enceramento para saber se o trabalho foi premiado. Mas a programação foi adiantada e já estão entregando os últimos prêmios. Acanhada, sem saber se ganhamos ou não, senta-se no fundo da platéia até que alguém lhe diz que logo no início chamaram alguém de Santarém que não compareceu!! Tremendo, Albanira se aproxima do coordenador e pergunta “que tal o CidadeMídia?”. E ele apenas diz: “Parabéns! Suba aqui e receba o prêmio!” A claque aplaude e Santarém está no podium. O troféu é nosso!
Para nós não é uma vitória da nossa turma, nem da nossa faculdade, mas uma vitória do jornalismo que se pratica nessa CidadeMídia chamada Santarém, e que ainda vai gerar outros capítulos...
Natal, aí vamos nós...
----------------------------
(*)Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos publicada em 27.06.2008, no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Idéias nem sempre geniais devem ser totalmente esquecidas?(*)

O que diferencia uma boa idéia de uma loucura estapafúrdia? Acredito que depende muito do resultado que a tal idéia proporcionar. Na verdade, as grandes idéias estão sempre ligadas a momentos de loucura de determinadas pessoas. Daí, talvez, se forjem os grandes gênios da história.
Provavelmente muitas das loucuras que não tiveram bom resultados, foram esquecidas. As que deram certo transformaram-se em grandes inventos, coisas revolucionárias que transformaram as vidas das pessoas. Coisas como o avião de Santos Dumont, por exemplo. Mas sabe-se que antes dele, muitos “loucos de pedra” tentaram voar e se arrebentaram por aí.

Dia desses reassisti o filme “Chaplin”, do cineasta Richard Attenborough, que mostra a trajetória deste gênio do cinema a partir de sua autobiografia. Ver a vida de Charles Spencer Chaplin desde criança é determinante para definir de onde vem sua genialidade e porque sua “loucura” transformou-se numa obra prima. Mas o próprio Chaplin errava e para chegar ao ponto certo repetia trocentas vezes uma cena, até alcançar a perfeição.
Desde a concepção da idéia que gerou suas grandes obras até à produção de seus grandes filmes, Chaplin passou por muitos dilemas, mas nunca desprezou nenhuma das idéias (na foto acima, no filme "O Grande Ditador", de 1941). Este é o ponto a que quero chegar: não basta ser um gênio predestinado, é preciso antes de tudo ser obstinado, ter um pouco de sorte, mas principalmente nunca desistir de uma idéia, por mais louca que ela pareça...
A coisa funciona mais ou menos assim: você chega e diz para o seu chefe que se fizer algo de tal forma a empresa ganha e quem sabe o chefe seja lembrado como um grande empreendedor. O chefe aposta, mas avisa que se a idéia não der certo e ele for ridicularizado, terá que castigar o louco varrido... No fim das contas, o “gênio” está sozinho e tanto pode se dar mal quanto virar um astro!
Minha obstinação para alcançar certos objetivos, me causou muitos dissabores desde a adolescência. Lembro da vez em que cheguei em casa resoluto a comer aquele pacote de biscoitos finos que ficava guardado em cima do armário da cozinha. Todo mundo dormia em casa e essa era a chance de alcançar o objeto do desejo. Mas como combater a altura com meu meio metro de gente?
Pego um banco de madeira de pernas altas, subo e estico o braço. Ainda está longe. Desço, olho ao redor e encontro uma lata de manteiga daquelas grandes, recém aberta. A altura parece boa, mas as bordas da lata sem tampa são perigosas. O biscoito continua desafiando minha inteligência lá do alto da prateleira, até que dou de cara com uma tábua de cortar carne. Uma tampa perfeita para a lata. Subo na minha pirâmide improvisada e estico o braço e... nada! Ainda falta um pouco.
“Não é possível!”, esbravejo. Roda daqui roda de lá, o biscoito parece rir de mim, até que vejo uma outra lata de leite, média. Não penso duas vezes. Coloco em cima do meu projeto de torre Eiffel e subo os degraus da fama. Equilibrado sobre minha engenhoca estico o braço e pego a caixa de biscoitos! Que alegria, mas de repente, perco o equilíbrio e minha torre desmorona. O pé vai direto para a borda da lata de manteiga: resultado 12 pontos na palma do pé, uma noite de sermão do pai e uma semana de cama em casa. Foi uma péssima idéia? Nem tanto. “Gazetei” a aula por sete dias e ainda tive a chance de ficar em casa, sozinho, com uma nova empregada que acabou cuidando de mim muito bem...

Até as péssimas idéias, às vezes, geram bons frutos...

Mas eu cresci e continuei aprontando das minhas. No auge de minha “genialidade”, achei que tinha me tornado um verdadeiro Midas: tudo o que eu tocasse viraria ouro. Em 1986, quando fui demitido pela primeira vez de uma emissora de rádio por questões ideológicas, comecei a saborear as benesses de “ser mártir”. Havia saído da Rádio Rural, onde já tinha um programa de grande audiência. Era o mês de abril e no dia 1º de maio daquele ano a nova rádio AM da cidade, a Rádio Tropical, completava seu primeiro aniversário. Tentando se firmar como uma opção frente à líder de audiência, nada melhor do que contratar o “repórter polêmico’, como eu era conhecido. O amigo Jota Parente, que me conhecia desde a Rural e agora era gerente da Tropical, não duvidou: apostou naquele maluco.
Na primeira semana na emissora, enquanto preparávamos meu programa de estréia (que até hoje está lá, o Comando Tropical), a equipe de jornalismo me recebia como quem recebe um Messias. Qual era a fórmula para desancarmos o Jornal do Meio-Dia, da Rural, campeão de audiência? O chefe da equipe, o jornalista José Ibanês (hoje editor do Diário do Tapajós) me fez a pergunta e disse que precisávamos ousar, apresentar algo diferente, que balançasse a concorrência.
Do alto de minha genialidade não duvidei e lancei uma idéia: que tal o nosso jornal ter três apresentadores? Todos se entreolharam, mas antes que dissessem “não”, comecei a defender a idéia “brilhante” com tanta ênfase que convenci a equipe. E arrematei: “vamos fazer segredo da idéia e não contaremos nem mesmo para o Parente!”
Ibanês olha para os lados e começa a achar que eu sou realmente louco. “Mas e se...” Antes que a frase termine, eu arremato: “Xá comigo!” Afinal eu era ou não o Midas do rádio naquele momento? A equipe de Ibanês se convence e resolve embarcar na minha louca nau...
Dia seguinte, nosso jornal entra no ar. No estúdio, três locutores, Ibanês, eu e um terceiro colega (que prefiro não citar o nome para evitar problemas). Cada um com suas laudas nas mãos. Na técnica, José Mário Dutra, o “Dentinho”, um grande amigo que adorava minhas loucuras. Preparou as trilhas e estava empolgado com o projeto. As gravações dos repórteres estão no ponto.
Começa o jornal, com o anúncio de “um novo tempo no rádio.” As laudas vão saindo das mãos. O primeiro bloco de notícias locais se completa sem nenhum erro. Parece que a idéia vai dar certo. A gente está feliz, Ibanês torcendo para que Parente esteja ouvindo e eu começo a tufar, me achando “o cara”.
Vem o segundo bloco. Como sou sempre o primeiro a começar, leio a primeira frase da primeira notícia, Ibanês a segunda e o terceiro colega a terceira. Quando vou entrar na segunda notícia, um nome estrambótico de alguma autoridade russa se engasga na minha garganta. Tento repetir, mas começo a rir. Ibanês tenta se agüentar e continua a frase, mas se desmancha em gargalhadas. O terceiro colega também começa rindo e não termina a notícia. No lado de lá do “aquário” vemos o “Dentinho” estrebuchando de rir e antes de cair ao chão ainda consegue subir o BG (sigla de Back Ground, o som incidental que toca ao fundo de uma narrativa jornalística)...
No estúdio, os três apresentadores com ataque de risos olham um para o outro e ninguém toma iniciativa de recomeçar. Foi o BG mais longo do rádio! Ibanês já ri aterrorizado e torce para que Parente não esteja ouvindo a emissora. Eu já imagino minha segunda demissão em menos de uma semana, mas não consigo parar de rir. Até que o terceiro colega, mais controlado que os outros, consegue se levantar pede som no microfone e apenas decreta: “Termina aqui, o Jornal Tropical”.
A risada continua e resolvemos abandonar a brilhante idéia. Agora precisamos esperar a fúria de Jota Parente. Mas exatamente naquele dia, nem ele e nem o dono da emissora, o Dr. Ubaldo Corrêa ouviram o programa. Talvez o melhor da minha idéia foi ter sugerido que não contássemos nada da estréia.
Talvez só depois de ler essas linhas, o Jota Parente, hoje em Itaituba, acabe descobrindo porque naquela semana só faltamos engraxar os seus sapatos...

Mas um dia ainda apresento um radiojornal, com três apresentadores!
----------------------------
(*) Artigo publicado em minha coluna semanal Perípatos, no encarte regional Diário do Tapajós de 17.06.2008, que circula com o jornal Diário do Pará.

Aos mestres, com carinho (a outros, nem tanto...) (*)

O título dessa crônica remete ao famoso filme estrelado pelo ator negro Sidney Poitier (foto abaixo), “Ao mestre, com carinho” (To sir, with love – 1969), uma das primeiras películas hollywoodianas que mostra a luta de um professor idealista, Mark Thackeray, tentando mudar a dura realidade de uma escola num bairro de operários. A crítica especializada diz que depois deste filme “vários outros seguiram o mesmo esquema de professor novato e alunos rebeldes”.Sempre quis escrever sobre o tema, talvez porque me vejo em poucos anos sair da condição de aluno para a de professor. Não que tenha sido um rebelde, muito pelo contrário. Mas tive grandes mestres que de alguma forma ajudaram a formar meu caráter. Mas como a toda regra há exceções, não poderia deixar de lembrar daqueles que também funcionaram de modo contrário.
Ser professor é o mesmo que ser jornalista: é preciso ser um pouco louco. Como de médico e de louco, todos temos um pouco... Mas nesse meio, há aqueles loucos que são mais lúcidos que os que se acham normais. Assim como, há aqueles que parecem lúcidos e que gostariam de ser loucos, e não percebem que são.. loucos de pedra!Como cinéfilo que sou, meu filme favorito sobre o tema é exatamente aquele que mostra um mestre em sua plenitude: o revolucionário professor de Literatura John Keating, de “Sociedade dos Poetas Mortos” (Dead Poet Society, 1989). Ao assistir o filme num cinema de Salônica (Grécia), não conseguia sair da cadeira. Resolvi assistir de novo! E depois dessa, foram mais cinco idas ao cinema para rever o mesmo filme, que mexeu com a minha geração (há poucos quilômetros de Salônica, naquela primeira vez, o muro de Berlim caía e no Brasil, Lula perdia a primeira eleição para Collor). Sempre que “Sociedade...” passa na TV, assisto com a mesma emoção da primeira vez, e sempre que posso, alugo o DVD para reassisti-lo (com a vantagem de poder ver os extras, numa edição especial que conta os bastidores do filme).
Nunca tive um mestre no estilo de Keating (abaixo, na famosa cena em que sobe nas carteiras), que na primeira aula mandou os alunos rasgarem a apresentação do livro de Literatura que tratava a poesia como se fosse um coisa burocrática. Inesquecível também sua lição em latim: carpe diem! (aproveite o dia!). E um grupo de meninos de uma escola conservadora da Inglaterra, de repente aprendeu a aprender, através da poesia e do culto à liberdade. O filme tem um fim trágico, mas termina com uma mensagem de esperança de que é possível fazermos mudanças dentro de nós, apesar das estruturas arcaicas da sociedade.
Tive alguns professores que se aproximaram dessa brilhante loucura de Keating. É bom poder lembrar de alguns deles, e também daqueles que atrapalharam.

Quando cursei o fundamental, em Belém (no já extinto colégio anglicano, John Kennedy), convivi com a inesquecível Tia Anne que cuidava das crianças desde o jardim de infância (hoje, com nossa tendência à americanização, chamam de “Baby Class”) até à quarta série, ensinando-nos português e matemática tocando violão com música de Jorge Benjor! Na quinta série, a grande professora Maria Lúcia Fernandes Medeiros que me incentivou a ler de Monteiro Lobato à Júlio Verne despertando-me para o mundo das letras, e principalmente da poesia. No final do ano, ela era a responsável pela programação cultural e eu, o ator principal, declamando poesias de Bandeira, Quintana, Drummond, ao som de Jobim, Chico Buarque e outros. Anos mais tarde, descobri que tinha se tornado uma importante escritora paraense, mas já faleceu.
Mas uma das maiores qualidades de um mestre é nos ensinar a descer do pedestal. No primário tive a professora Neuzilour que nos colocava em círculo e nos fazia escolher uma coordenação que seria responsável pela aula e pelas notas! Ela assistia à aula e ficava orientando de longe, numa loucura total de reverter os papéis em sala de aula.
Como esquecer também, a professora Liduina? Ouvi falar dela como professora do ensino médio e de repente a encontrei na faculdade. Liduina é daqueles seres humanos que defendem com paixão seus princípios filosóficos e morais, de tal forma que nos leva a repensar alguns valores. Às vezes pode até ser que seu engajamento acabe passando a idéia de maniqueísmo, pelo menos nas cabeças mais conservadoras. Mas Liduina, com singeleza e simpatia, é uma radical chique que nos faz pelo menos pensar sobre o outro lado da história: aquela que não é contada pelos perdedores.
Mais recentemente, tive o prazer de conviver com o mestre dos mestres, Manuel Dutra, que se não chegava a sugerir o rasgar de folhas de Keating e nem a aula “democrática’ de Neuzilor, não parava de falar sobre a necessidade de se “descer do pedestal”. Para ele, só assim é possível aprender e ensinar. Dutra, às vezes ranzinza, mas impondo um controle sobre a turma que faz com que ninguém esqueça dele. Sobre ele nem devo falar tanto, pois é para mim mais que um mestre, é um amigo. A maioria dos professores indicados por Dutra seguiu a mesma linha de trabalho e cativou a última turma de que faço parte.
Os “loucos de pedra”
Tive, como muitos devem ter tido, outros professores que marcaram em sala de aula, do fundamental à universidade, sempre por conseguirem andar na contramão do chamado ensino tradicional. Os que citei, são apenas alguns dos bons exemplos. Mas tive também alguns “loucos de pedra” que pouco ou nada contribuíram para a minha formação a não ser para me fazer rir ou chorar de raiva quando recordo de sua pequenez.Em sua maioria eram tipos mesquinhos, pedantes e que talvez tenham sido alunos CDF´s, mas que não captaram a essência de Paulo Freire e por isso mesmo eram inseguros. A estes últimos, por questões éticas, prefiro não citar os nomes, até porque alguns ainda andam por aí e não seria interessante vê-los espumando de raiva pro meu lado. Chamá-los-ei de X1, X2, e assim por diante.
X1 era aquele professor que chegava à sala de aula para dar uma matéria e acabava dando umas quinze! Era o tipo irritante que tentava mostrar que sabia de tudo, mas no final não sabia nada. Foi professor de português e começava a aula assim: “hoje vou falar sobre as palavras quanto à sua sílaba tônica. Existem as oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Um exemplo de proparoxítona é a palavra ‘Lâmpada’, que foi inventada por Tomas Edison, famoso cientista americano nascido em 1847, na cidade de Milan, uma vila localizada no estado de Ohio, onde também nasceu o famoso escritor Ambrose Bierce, que escreveu o livro ‘Um Acontecimento na Ponte de Owl Creek’, que fala de um episódio em ficção que teria ocorrido durante a guerra da secessão americana, que como vocês sabem teve com um de seus grandes líderes...”, e a aula ia por aí afora, sem que a gente soubesse porque diabos, afinal, ‘Lâmpada’ era considerada uma palavra proparoxítona!.
Teve também a X2, que louca e desvairada falava aos berros na sala de aula, dizendo sempre que sabia de tudo e que nós alunos não sabíamos de nada. Precisávamos de um método, e haja nos ensinar métodos de como aprender. Aulas maçantes, soníferas. Nos sentíamos meio-cobaias de alguma pesquisa psicológica.
X3 passava a aula toda tentando parecer moderninho. Com o giz na mão escrevia freneticamente algumas palavras no quadro e conseguia até dar uma aula interessante. Mas de repente, como um lunático passava a contar piadas sem graça, paquerava as meninas ou acertava um pedaço de giz na cabeça daquele aluno que dormia no fundo da sala. Ridicularizava todos com piadas de mau gosto, faltava muito nas aulas e acabou nos passando a idéia de que era meio “pinel”. Um dia entrou na política e virou até vereador... Doidos foram os eleitores...Houve também o X4, que começava a aula rezando. Meia hora de reza. “Jesus está chegando, precisamos louvá-lo”. Era um poeta, bem intencionado, dava uma aula boa, mas uma decepção pessoal o levou a procurar o evangelho como salvação. E achava que todos nós precisávamos de salvação. Um dia, do nada, revelou ser homossexual em plena sala de aula! Nada contra, mas a forma como a questão foi colocada foi tão piegas que nunca mais a turma conseguiu encará-lo.
E como esquecer do X5, aquele professor esquecido e desorganizados que nunca sabia que aula havia dado.! “Hoje vamos falar sobre a antiga Roma e sobre os doze Césares... Júlio César foi um desses imperadores, criando dinastias que levaram Roma ao apogeu e à destruição”. E a aula ia por aí afora, até que no final ele dizia: “Na próxima aula falaremos sobre o Cristianismo no Império Romano”. Semana seguinte lá estávamos nós e ele entrava em sala e começava: “Hoje vamos falar sobre a antiga Roma e sobre os doze Césares... Júlio César foi um desses imperadores, criando dinastias que levaram Roma ao apogeu e à destruição ...”. Atônitos, tentávamos dizer que ele já tinha dado aquela aula, mas o pobre não acreditava. No final dizia: “Na próxima aula falaremos sobre o Cristianismo no Império Romano”. Na outra semana, nossa esperança era que ele se lembrasse do tema. Lá vinha ele: “Hoje vamos falar sobre a antiga Roma e sobre os doze Césares... Júlio César foi um desses imperadores, criando dinastias que levaram Roma ao apogeu e à destruição ...”. Até hoje, pouco sei sobre “o Cristianismo no Império Romano”...X6 era o louco em pessoa. Primeiro nos dizia “nunca digam isso, porque isso não deve se dizer”. No dia seguinte dizia o contrário do que havia dito. Metódico ao extremo, adorava um visual empaletozado, mas às vezes chegava em sala sujo por andar jejuando e orando. Um fundamentalista cristão que falava de suas experiências de menino, assumindo ser da “geração Xuxa”. De repente perguntava a todos: “Sabem por que a Marlene brigou com a Xuxa?” Imaginem o nível da aula...
Em todos os casos de professores que se mostraram inseguros ou despóticos, não há como não se rebelar. Ninguém pode ser rebanho na mão de loucos como estes. De Hitleres e Bonapartes o mundo já cansou. Muitas vezes tive que me expor e até ser chamado de “rebelde sem causa”, por reagir a esses tipos.Aos verdadeiros mestres, o carinho. Aos impostores, o desprezo.
------------------------
(*) Artigo publicado em minha coluna semanal Perípatos, publicada em 21.05.2008, no encarte regional Diário do Tapajós, que circula com a edição do jornal Diário do Pará. Charge de Coniglio, copiada da internet com texto adaptado por mim. As fotos são de divulgação da internet.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

NASCEU SALONIKI, A PRINCESINHA DA 4ª GERAÇÃO NINOS!


3,5 quilos de gente distribuídos em um corpinho de 49 centímetros! Eram mais de oito da noite, quando nasceu a mais nova integrante da família Ninos: SALONIKI. Já nasce com nome e jeito de princesa. Na foto acima, logo após o nascimento e ainda com as marcas vermelhas da luta inicial pela vida. Ela que é o fruto de um casal de namorados muito feliz nesse dia, Helena e Mádson.

SALONIKI é uma homenagem à princesa grega que era irmã de Alexandre, o grande. É também o nome da segunda maior cidade da Grécia, onde a família Ninos se estabeleceu depois da 2ª Guerra. Foi lá também que vivi durante três anos entre 1988/1991. O nome da cidade é Thessaloniki, em grego, mas também é chamada de Saloniki nome que resolvi sugerir para homenagear a primeira neta.
Na foto abaixo momento exato em que Saloniki dá o primeiro passeio em quatro rodas (da sala de parto à enfermaria).

Foram nove meses de espera, desde o anúncio da gestação aqui no blog. Minha primeira neta quase nasce numa sexta-feira 13, mas acabou chegando em pleno Dia dos Namorados. É o meu presente de aniversário com um mês de antecipação. O outro presente pode ser um babador... estou precisando!!!
Outros momentos da chegada de Saloniki Ninos, estarão num álbum especial que estou preparando. Estou muito cansado e preciso dormir o sono dos justos. Afinal sou um avô responsável e amanhã tenho que voltar a ver Saloniki... depois da mãe e da enfermeira, ela viu logo à frente o avô querido e sorriu, como mostra a foto abaixo.

Baba, baby!