domingo, 13 de julho de 2008

Aos 45 do primeiro tempo... a metáfora da vida

A vida é uma eterna partida de futebol, metaforicamente falando. Ora fazemos gol, ora engolimos frango. Dentro desse raciocínio, posso dizer que hoje cheguei aos 45 minutos do primeiro tempo de minha vida e já começo o segundo tempo deste jogo, que eu espero que tenha acréscimos, prorrogação e decisão em pênaltis! Nada de interromper o jogo antes do final, senhor juiz (digo isso como bom botafoguense, eternamente perseguido pela arbitragem)!

Aprendi a acreditar numa força interior que vive em moto-contínuo e nos impulsiona sempre à frente. Há quem chame isso de deus ou de destino. Eu chamo simplesmente de fé. Acreditar na força interior é para mim o mais importante para que nós, “jogadores de futebol” possamos pensar em ganhar um campeonato. E não importa se o nosso time é o Santos de Pelé ou o Tabajara do Bussunda, pois o que importa mesmo é competir! Se puder dar goleada, tudo bem. Mas é sempre bom saber que um dia é do goleador e outro é do goleiro. O melhor mesmo seria um empate aristotélico: “a virtude é buscar o meio-termo”.

Além da fé, todo jogador talvez precise ter também um pouco de sorte, muito embora haja quem não acredite nela. Me considero um jogador sortudo. Nasci num dia 13 e por muitos anos achava que isso era sinal de azar. Até porque quase sempre no meu aniversário eu ficava doente! A superstição sobre o 13 me acompanhou vida afora (inclusive nas opções partidárias), mas ao final descubro que essa preocupação zagalliana é inútil. Talvez por isso tenha até abusado da minha “sorte” colocando em risco muitos lances desta partida de futebol que venho jogando há 45 anos (ou minutos...). Quem sabe agora que o meu “primeiro tempo” acabou, não volto a campo jogando com mais cautela?

Falando em sorte, posso dizer que me espelho no meu pai (foto ao lado). Ele nunca acreditou nela, mas de certa forma ela esteve quase sempre ao seu lado, por mais que nem sempre lhe fosse totalmente benéfica. Ele sempre diz: “Quando eu era prisioneiro dos búlgaros, na 2ª guerra mundial, vi amigos definharem e morrerem, o que me levava a achar que o próximo seria eu e que não passaria dos meus 18 anos, e então pedi com todas as minhas forças que Deus me deixasse chegar pelo menos aos 40, para ter tempo de realizar algumas coisas na vida, mas como passei dos 80 já estou no lucro”. Filosofia de um velho grego, hoje aos 87 anos, mais saudável do que eu.
A minha sorte, que eu sempre achei ser azar, traduz-se na família que consegui montar ainda que de forma atabalhoada, juntando “cacos” pelo caminho. Tive dois filhos com mulheres diferentes e um dia casei e ganhei logo mais uma filha da “produção independente” de minha esposa. Completamos a família com mais um filho nascido após o casamento e que se tornou o elo de ligação entre os outros irmãos. Não é fácil manter uma família tão sui generis como essa, mas acho que conseguimos. Hoje, um dos filhos me deu a alegria de ser avô aos 45! A pequena Saloniki (na foto abaixo, disputando comigo para ver quem tem a língua maior) completou ontem um mês de vida (quem quiser ver o álbum completo de fotos da minha neta, clique AQUI. Só não digam que ela se parece comigo, pois isso seria uma judiação com a menina...).

Chego aos 45 minutos deste jogo da vida ao lado de Graça (que também faz 45 no dia 31, ou seja, ela é o meu 13 invertido), de Carla (a filha que me adotou como pai e também virou jornalista), de Helena (a bela mãe de Saloniki), de Thiago (o filho que ainda parece confuso, como quando eu tinha sua idade) e Georgios, o filho-síntese, nosso pequeno fil(h)ósofo grego.

Estou de férias e depois de alguns dias por aqui resolvendo problemas pessoais, vou me encontrar mais tarde com parte da família que se encontra em Manaus, onde vou passar uma semana. Estas férias só não serão as melhores porque, por um descuido imperdoável meu acabei não realizando uma tarefa que era de minha responsabilidade e por isso prejudiquei os sonhos dos colegas de faculdade. Como todo mundo já deve saber, nossa turma de jornalismo, a 1ª de Santarém, conquistou um prêmio regional num encontro científico, com direito a representar o norte do Brasil na versão nacional. Um golaço do qual participei como atacante, driblando vários obstáculos e chegando à meta do adversário. Só que enquanto comemorávamos o gol, me descuidei com o tempo e acabei perdendo o prazo para inscrever o trabalho na etapa nacional! Frangaço! Fiquei arrasado, como o jogador que erra o pênalti decisivo. Já me desculpei com a turma. Foram todos corteses e me perdoaram, mas eu bem que merecia um cartão vermelho...

Mas enfim, como eu disse no começo, ora fazemos gol, ora engolimos frango. Já estou preparado para entrar em campo depois do intervalo do primeiro tempo. No país do futebol, nada melhor do que suar a camisa e continuar acreditando que a vida é uma bola. E que a nós cabe buscar a meta do adversário para fazer um gol. Ou não.

Tudo na vida não passa de uma metáfora. Como diria nosso ministro Gilberto Gil, “Uma meta existe para ser um alvo/Mas quando o poeta diz: "Meta"/Pode estar querendo dizer o inatingível”...
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P.S. o desenho lá no início é uma cópia mal feita por mim sobre o trabalho do caricaturista Francisco Soza, que retratou o grande craque do Botafogo, Garrincha.