segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Dossiê PT - estórias que não gostaria de contar

Quarenta e cinco dias depois do último capítulo deste Dossiê (leia AQUI), volto falando sobre a primeira experiência eleitoral dos petistas de Lula, depois de fundado o novo partido. Ontem, passei uma informação errada, de que o capítulo de hoje seria sobre o "primeiro racha" da Corrente. Mas, seguindo a ordem cronológica dos fatos, apresento este capítulo agora e nos próximos dias entrego o que prometi ontem. Minhas desculpas...

Capítulo IV - A primeira eleição a gente nunca esquece...

A grande eleição de 1982 (só não se votou para presidente e prefeitos de capitais, estâncias hidrominerais e áreas de segurança nacional – como Santarém – que eram indicados pelo regime militar) foi aquela em que a Dita Dura usou e abusou do casuísmo, criando o voto vinculado, ou seja, quem votasse no governador de um partido teria que votar na chapa completa do mesmo partido até o cargo de vereador. Era uma forma de conter os avanços da oposição, liderada pelo antigo MDB, que agora experimentava uma sigla “repaginada”: o PMDB, lipoaspirado dos blocos esquerdistas que nele habitavam, e que agora podiam se abrigar em novas siglas como PDT, PT e PSB. Todos contra o novo representante da direita: o PDS (ex-arena).
Como já disse em capítulo anterior, o PT no Pará começou extremamente dividido. Sindicalistas marxistas foram surpreendidos pela tomada do diretório estadual por outro grupo menos ortodoxo liderado pelos então professores Durbiratan Barbosa e Hélio Dourado, este último dono de um cursinho pré-vestibular muito famoso na época, em Belém. E em Santarém, a tendência Corrente havia perdido o poder para um grupo heterogêneo de sindicalistas não tão marxistas, mas liderados por um padre pra lá de extremista (até hoje), padre Edilberto. Essa divisão acabou prejudicando o partido que não pôde mostrar seu potencial, já que viveu um processo de autofagia em plena campanha.
A divisão no PT paraense foi tão grande que o pessoal da Corrente em Santarém e de outros grupos esquerdistas de Belém (entre eles os liderados por Paulo Rocha e Edmilson Rodrigues), detonaram a candidatura aprovada em convenção estadual, ao Governo do Estado, de Hélio Dourado, acusado de ser ligado à direita e de que teria se infiltrado no PT. Optou-se pelo chamado “voto camarão”, ou seja, “arranca-se a cabeça e fica-se com o corpo”.
Meu primeiro voto na vida foi assim: decepcionante. Votei só num dos candidatos ao Senado (que era “aliado”, o professor Nazareno Noronha), e, “cabrestamente”, em Geraldo Pastana para Federal, Valdir Ganzer para estadual e Milton Peloso para vereador! Meu primeiro voto não foi PT, foi PPG (denominação dada à Corrente, anos depois pelo neo-petista Everaldo Martins, que irritava os irmãos Pastana, Peloso e Ganzer. Everaldo usou sua influência para espalhar a inteligente sigla nos meios de comunicação, mas hoje deve negar tudo isso...)! Outros nomes de companheiros foram lançados, mas a boca pequena, trabalhávamos para que todos os 'correntistas' votassem só nestes nomes.
O grupo de Edilberto também lançou vários candidatos, mas concentrou seus votos nos irmãos Feitosa (Gonçalo para vereador, Mário para deputado estadual) e apoiava os nomes de Belém, como Bira Barbosa para federal. O resultado não poderia ser mais tosco. Em Santarém, apesar de bem votados, Gonçalo e Milton não conseguiram se eleger. No âmbito estadual e federal, idem.
Não me recordo bem, mas parece que Milton e Gonçalo tiveram votação maior ou próxima dos vereadores eleitos em Santarém, na época (foram 9 do PMDB e 4 do PDS). O problema era o tal do coeficiente eleitoral, que não foi suficiente para eleger pelo menos um. A derrota dos petistas, eu diria hoje, pode estar ligado a um fato inusitado que acabou sendo o maior castigo que os dois grupos poderiam ter sofrido.
Fui saber deste incidente que ocorreu nos bastidores daquela campanha, muitos anos depois e é digno de registro já que o confirmei recentemente com o próprio envolvido. Ele jura de pés juntos que isso realmente aconteceu, mas qualquer um dos petistas dirá que não é verdade. Se realmente for, é de qualquer petistas ter vergonha de ter participado de uma jogada tão suja!
Muita gente não sabe, mas apesar dos atropelos do PT paraense, Santarém teve o primeiro vereador do partido, logo em sua fundação. O então vereador Raimundo Barbosa Pacheco, o popular “Pachequinho”, deixou o MDB pelo qual tinha um assento na Câmara Municipal e se filiou ao PT. Entrou pelas mãos de Mário Feitosa ainda em 1981, fazendo história.
Pachequinho foi vítima do duelo de titãs e, decepcionado, anos depois abandonou o PT e fundou o PT, onde também perdeu os espaços para césar Sarmento e mais recentemente para Osmando Figueiredo. (por esse motivo indiquei seu nome como minha maior lembrança sobre política em Santarém, na consulta feita por Jeso Carneiro há alguns meses. Ele é a síntese do político ingênuo e simplório, bem intencionado, mas que não sobrevive em meio aos tubarões).
Ocorre que em 1982, por já ter assento na Câmara e ter uma popularidade razoável, Pachequinho era um forte candidato a ser o primeiro vereador eleito de Santarém e do Pará. Ele havia se definido para este cargo e levou sua candidatura até às vésperas da convenção municipal do PT em fevereiro de 1982, no salão do Colégio São Raimundo, onde os candidatos seriam definidos.
Os Feitosa viviam tentando convencê-lo a disputar outro mandato, já que tinham em mente eleger Gonçalo. Do outro lado, os Correntistas sabiam do “perigo” que Pachequinho representava, pois com seus votos poderia ficar à frente de Milton e a única vaga que todos acreditavam que o PT teria, poderia acabar nas mãos de um... Pachequinho!
Não há nenhuma prova, mas é quase certo que, por baixo dos panos, os dois lados antagônicos, os Feitosa e os Correntistas, teriam fechado um pacto: afastar em definitivo o “fator Pachequinho”. O próprio Pacheco confirma a história pra quem quiser ouvir: faltando poucos dias para a convenção municipal ele recebeu um telegrama do Diretório Nacional do PT quase implorando que fosse candidato a Deputado Federal! O telegrama era assinado pelo próprio presidente nacional do partido, o companheiro Lula!!!
Imaginem a euforia do pobre e ludibriado Pachequinho. Teria havido inclusive, um aceno de suporte mínimo na campanha para que ele “ajudasse a construir o PT, naquele momento crucial de sua história”, segundo os dizeres do telegrama (que Pacheco, infelizmente, não guardou). Pachequinho se convenceu de sua “missão” e acabou oPTando por uma vaga na Câmara Federal. O pior é que ele se atrapalhou na hora de registrar a candidatura e acabou ficando fora da disputa! Seria cômico se não fosse trágico! Se Pachequinho fosse candidato, o PT teria coeficiente para eleger pelo menos um e quem sabe até dois vereadores, mas a visão tosca dos dois grupos, preferiu usar de uma artimanha para afastar a “ameaça”...
Ora, Lula nem sabia que Pacheco existia, muito embora tivesse visitado Santarém mais vezes que Belém. Eu mesmo tive o privilégio de sentar ao lado do companheiro Lula, num banco improvisado no bairro do Livramento, onde fizemos uma reunião com vários militantes. Assim, o tal telegrama que Pacheco recebeu, se não foi forjado, pelo menos saiu de uma maquinação de quem tinha maior acesso ao Diretório Nacional: a Corrente.
Logicamente que essa história será peremptoriamente negada pelos petistas. Creio que nem Mário Feitosa a endossará. Mas pelo que vemos que o PT de Dirceu foi capaz de fazer hoje, não se duvida que possa ter feito coisa parecida há 23 anos atrás. E ademais, forjar documentos é uma prática stalinista antiga. Quem não se lembra das fotos onde Stalin “apagou” seu desafeto Trótski, na antiga União Soviética?
No próximo capítulo, o que já anunciei erroneamente ontem: o primeiro “racha” da Corrente.

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