sexta-feira, 1 de abril de 2005

Ícone insone

o homem das letras não dorme
interneteia
passeia com sua solidão agarrado a um camundongo
qual alma penada
arrastando a madrugada
pelos ícones do vale do silêncio
cemitério de silício

quando é seis e meia, o homem das letras se dá conta que ainda não quer dormir...

talvez ele não possa
talvez ele não queira
talvez ele precise que seja assim

talvez seu travesseiro seja menos confortável que um mouse-pad

o homem das letras não cede: vence o sono mais uma vez
(ou será que foi vencido?)

o www-ponto-homem-ponto-só-ponto-br
de repente sai de seu sítio cibernético
levanta da executiva e se debruça no muro
como o sol
que levanta e debruça seus raios no morro

transporta seus olhos de vidro da janela virtual
e os descansa num mundo mais real

Chega de impressão 300 “DePrê-I” em papel vegetal!
O homem das letras sai para a rua e passa bem.

Passa o padeiro trazendo bom dia;
Passa Maria com trouxa pro rio;
Passa Raimundo puxando a carroça trazendo no lombo o mundo da roça;
Passa a vizinha e seu cheiro fica...

Por fim passa seu Zé, que velou o sono dos justos da rua...

Mas a insônia foi injusta, mais uma vez,
com o homem das letras...

Mas Deus não ajuda, quem cedo madruga?

[Esta é uma das poesias integrantes do meu livro “21 dedos de prosa (e outros tantos de poesia)”]

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