sexta-feira, 14 de dezembro de 2012



Versos brutos (Buriti versus Juá)
Veias minhas que te enterrei
Nas entranhas de teu corpo
Te fiz meu porto,
Náufrago sem mar
De águas ensandecidas
Que lagrimei em tua pele devastada... 
Seivas minhas que te singrei
Na vastidão de tua vergonha
Te fiz minha fronha
E te babei, embrutecida,
De meu furor enlouquecido
De te habitar eternamente
E te estuprei a alma estarrecida...

E agora, que o vento já não faz sentido?
Que o tempo já não tem fronteiras?
O que faço de teu corpo ensanguentado?
O que digo à beleza de teus caprichos em desalinho?
Já não me resta uma tímida lembrança
Da qual eu possa te fazer relíquia... 
Diz-me qual a pena que me ordenas!
Qual penitência de tuas rezas?
Será que ainda me prezas?
Será que perdoas por usurpar-te
A natureza em meu nome-fantasia?
O que será de mim, agora que somos nada? 
Deixa que eu te faça dos meus versos
A estrofe esquecida
E do acalanto,
O estribilho mal concebido
Mas que um dia eu possa realizar-te o sonho
Do pesadelo de eu nunca ter nascido
Ser natimorto, de um passado esquecido...

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