quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tapajós: o sonho interrompido


(*) DORNÉLIO SILVA

Depois de um ano do plebiscito, relembrando a campanha histórica para a criação dos Estados do Tapajós e Carajás, manifesto neste pequeno artigo uma releitura da campanha e demonstro uns dos pecados capitais cometidos pelas lideranças políticas que conduziram esse processo, levando a derrocada.

Dornélio Silva
Havia uma apatia muito grande no Pará Remanescente, mas era neste Pará que continha o maior número de eleitores que decidiam a eleição. Ninguém mobilizava ninguém! Ninguém motivava ninguém! Nem a causa motivava ou mobilizava alguém! Ninguém se motivava a sair de casa para abraçar a causa. A não ser alguns poucos militantes com certa consciência induzida pela emoção. A “espetacularização” dos programas de TV e rádio era a grande expectativa dos “donos” do processo para que esse ente inerte chamado povo-eleitor pudesse espreguiçar-se e, quem sabe, começar a ter forças para levantar-se e começar a comentar – pelo menos – em bares, no trabalho, em casa. Será que isso aconteceu? Será que a força da TV e Rádio conseguiu acordar o eleitor que dormia em “berço esplêndido” ao som dos bregas, dos carimbós, dos sertanejos e das vozes apelativas e chorosas nos palcos televisivos? Mesmo com a “espetacularização”  a apatia e o desinteresse continuaram a abraçar nosso Grande Eleitor!

Foi uma eleição histórica e atípica. Não iríamos votar em pessoas ou legendas. Historicamente e culturalmente não votamos em ideias, infelizmente! Os partidos existem para viabilizar candidaturas. As regras do sistema eleitoral determinam a forma que influencia na decisão do voto. As campanhas são personalizadas. Votamos em pessoas. Não há abstração. Existe o João, a Maria, o Antonio, o Manoel que receberá meu voto para me representar. Essa eleição plebiscitária foi atípica: ia votar numa ideia, numa abstração. O que move a consciência do eleitor para a decisão do voto? Em eleições personalizadas como é a nossa, muitos são os motivos, passando do psicológico/emocional, dos interesses de grupos sociais onde a conversação social pode formar opiniões individuais, e dos interesses utilitaristas; dos que  votam se esse ato for visto como potencialmente capaz de trazer-lhes algum benefício social ou econômico, e tem aqueles que votam por seus bolsos.

Em todo o processo de campanha política há os ingredientes intrínsecos ao eleitor de paixão e de interesse. O ato de votar implica em escolher a alternativa que produza o melhor resultado ou escolher entre as alternativas disponíveis que garanta minimamente a satisfação de seus interesses. Então, quando o custo de votar não for compensado pelos benefícios derivados de determinadas  ações por quem se propugna a ser governo ou legislativo, o eleitor não vota. Agora imagine numa eleição – o plebiscito – onde não existiam candidatos? A vacância na mente do eleitor seja ele médio ou comum era enorme.

Os defensores do SIM e do NÃO ensaiaram timidamente na região do Pará remanescente alguns momentos de campanhas. A maioria desses ensaios foi localizado através de eventos de debates. O povão, a grande maioria, aquele que decide a eleição passou ao largo. Os defensores do SIM e do NÃO apostaram tudo na TV e Rádio. O palco televisivo seria o instrumento para esclarecer, informar, mobilizar e convencer os eleitores para votar nesta ou naquela proposta.

Depois de uma semana de horário eleitoral, o que se via do lado do NÃO era uma densa dose de paixão/emoção, de sentimento de perda e de vitimização; do lado do SIM se via intensa manifestação de racionalidade propositiva.

Por outro lado, ao invés de informar, estavam desinformando a população. Os dois, tanto SIM quanto NÃO, faziam os programas como se fosse apenas UM voto (SIM ou NÃO e estaria tudo resolvido). Não apresentavam informações precisas do porque EU tenho que votar SIM no Tapajós ou Carajás; mesma situação do NÃO, não apresentavam também informações do porque que eu tenho que votar Não no Tapajós e Carajás.

Os marqueteiros, tanto do SIM quanto do NÃO, colocaram tudo dentro da mesma panela, temperaram com os mais variados ingredientes a gosto e, depois, ofereceram a sopa aos eleitores, afirmando que “a minha sopa é a mais gostosa e suculenta do que a sua”. Será que o povo estava conseguindo tomar aquela sopa? Não percebiam que dentro daquela panela existiam ingredientes completamente diferentes que tinham dificuldades de se misturar. O que se tinha em comum é que Tapajós e Carajás queriam se emancipar.

Para tornar realidade e tentar convencer o eleitor a votar nesta ou naquela proposta, cada região emancipacionista deveria falar com sua linguagem própria. Tapajós tem características culturais, econômicas, sociais, históricas completamente diferentes do Carajás; que também tem características completamente dispares do Tapajós. Por que os marqueteiros e suas lideranças políticas não mostraram isso à população? Não existia nenhum diferencial de mercado do voto sendo apresentado na TV e Rádio que mostrasse claramente porque o eleitor queria o Tapajós emancipado ou não; porque queria ou não o Carajás emancipado? Tapajós perdeu a grande oportunidade de confirmar sua luta histórica de 154 anos. E suas lideranças políticas de ficarem na história como os baluartes desta conquista. Mas, estes, por acreditarem em milagres televisivos, e em marqueteiros “deuses”, frustraram o sonho de uma população. 

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(*) Mestrando em Ciência Política – PPGCP/UFPA/ Especialista em pesquisa de opinião e diretor da Doxa Comunicação Integrada

O artigo foi escrito a pedido deste poster, sendo o primeiro de uma série que publicarei nos próximos dias, de várias pessoas que acompanharam esse movimento, como forma de analisarmos o porquê da nossa derrota e o que vem pela frente.

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