quinta-feira, 27 de julho de 2006

Do Blog do Noblat ainda há pouco...
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Lula desiste de participar de debates na TV
Da Folha de S.Paulo, hoje:


"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já informou a seus assessores, agora de maneira definitiva, que não participará de debates na TV durante a campanha presidencial. Se a eleição tiver segundo turno, a decisão poderá ser revista. O petista repete a mesma estratégia usada por Fernando Henrique Cardoso, que disputou duas eleições presidenciais (1994 e 1998) e não participou de debates.

Em 2002, Lula foi à TV, mas o PT conseguiu reduzir o número de debates. Lula diz acreditar que se o debate for realizado sem a sua presença -e com uma cadeira vazia no estúdio, como tem anunciado a TV Globo-, o dano eventual será menor do que ficar exposto ao ataque ao vivo de todos os adversários juntos.


Pelo formato pré-negociado entre os presidenciáveis e a TV Globo, uma das emissoras que faria o debate, apenas quatro candidatos participariam: Lula, Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT). Se o debate acabar acontecendo só com os três concorrentes mais diretos de Lula, a possibilidade, na avaliação da cúpula lulista, é que a situação será delicada para Alckmin e Heloísa Helena. Em tese, haveria um pacto de não-agressão entre o tucano e a candidata do PSOL."
MEU COMENTÁRIO: realmente, o PT continua se nivelando aos demais partidos... Só uma reforma política para acabar com es te sistema brutal que cria aglomerações partidárias em busca de interesses não-coletivos...

Tropeçando em candidatos

Por falar em candidatos, encontrei aqui em Belém onde me encontro de férias, com dois deles daí da região: Alexandre Von (deputado estadual, PSDB) e Hilário Coimbra (deputado federal, PTB), animados com a primeira pesquisa divulgada pela empresa Perspectiva, do companheiro Dornélio Silva e publicada esta semana pelo jornal O Estado do Tapajós.
Os dois me disseram que estão confiantes em conseguir um bom resultado, diante do quadro que se apresenta no momento. Enquanto um tratava de questões jurídicas, o outro tratava de produção de materiais.
Detalhe: Von e Hilário vão trabalhar sintonizados com o candidato ao Governo do Estado Almir Gabriel, o mesmo que os pôs em lados opostos nas campanhas de 1996 e 2000, para a prefeitura de Santarém.

Na casa do inimigo

Venho recebendo e-mails de alguns candidatos que comunicam sua ações. Um dos boletins, do professor Aldo Queiróz, candidato a deputado estadual pelo PSDB, me chamou a atenção por um detalhe: ele informa que o lançamento oficial de sua candidatura será na sede do Standart´s, no bairro de Santana, em agosto.
Nada anormal se a sede não pertencesse à família do professor Elinei Santos, atual coordenador do Campus da UFPa, que derrotou a candidata de Queiróz, Terezinha Pacheco, há quatro anos.
São inimigos viscerais e comandam grupos distintos dentro da UFPa., e que devem voltar a se enfrentar na campanha pela eleição da nova cooordenação do Campus, que se avizinha.
A utilização da sede não significa nenhuma vinculação do candidato com a família de seu inimigo, até porque ela é um referencial do bairro e sempre foi usada por políticos que querem os votos da população da Prainha. Em 1992, eu mesmo participei no mesmo local, como candidato a vereador do PT (!), de um encontro político com os moradores do bairro junto com o então candidato Ruy Corrêa.

Lula veta Lei Amarildo

O jornalista Val-André Mutran, informa em seu blog que o presidente Lula encerrou a questão de mais um projeto polêmico defendido pela Fenaj: a Lei Amarildo foi vetada.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Comentando Lei Amarildo (III)

O jornalista Val-André Mutran, replica o comentário do dirigente da Fenaj, sobre a Lei Amarildo:
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Bonitas palavras do dirigente da Fenaj, só não disse o que fará com os desempregados que farão fila na porta de sua entidade quando forem demitidos.
Há profissionais com mais de 10, 15 e até 20 anos de carreira que nunca obtiveram o registro defiitivo e que são, inclusive, considerados referência no meio profissional. São inúmeros no Pará, que se encontram nesta condição.
O Ministério da Justiça encaminhou ontem parecer ao presidente. Recomendação: veto à todo o Projeto sob a justificativa de "cerceamento ao direito da comunicação".
Val-André Mutran

Curuá vai à "cassa"

A Câmara Municipal de Curuá, no oeste do pará, pode cassar o mandato de três vereadores. É o que diz a notícia na edição on-line do jornal O Impacto, de Santarém.

Comentando Lei Amarildo (II)

Por respeito ao debate democrático, publico o texto abaixo que extrai da caixa de comentários ao post Lei Amarildo, no Blog do publicitário Juvêncio Arruda, que linkou meu artigo para debates:
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O bang-bang, de novo
Celso Schröder
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Mais uma vez os arautos do mundo do bang bang, sem ordem e sem lei, se jogam em bando contra a organização profissional dos jornalistas. Como as milícias do velho oeste, com a grande imprensa como chefe, brandem os editorais em refrão e querem linchar qualquer um que tente regulamentar ou, mesmo, disciplinar a atividade jornalística.
Desta vez o assalto é contra o projeto PLC 079/04 assinado pelo deputado federal Pastor Amarildo em 2003 e que tem sua origem no projeto apresentado pela Deputada Cristina Tavares em 1989 que foi, por sua vez, atualizado e referendado no Congresso dos Jornalistas de Curitiba, de 1994, quando os jornalistas delegados chegaram à conclusão que era necessário mudar a lei que regulamenta a profissão.
Esta decisão congressual foi formatada numa reunião específica do Conselho de Representantes dos sindicatos dos jornalistas do Brasil e, sob a forma de projeto de lei foi apresentado à Câmara em 1995, pelo deputado Marcelo Barbieri. Assim como no caso do Conselho Federal dos Jornalistas, a discussão sobre a ampliação das funções dos jornalistas foi longa, cansativa e democrática. Só não se inteirou dela aqueles que são estranhos à atividade profissional ou não se disponham a acompanhá-la.
A idéia sempre foi a de agregar à regulamentação existente as funções que surgiram depois de 69 e que não constavam da lei. Por isso as atividades de assessoria de imprensa, assim como as de diagramador e repórter cinematográfico e fotográfico, entre outras, foram listadas neste projeto que amplia as funções jornalísticas. Nada mais do que isso. Nem mesmo estamos rediscutindo, como querem os espertos, a obrigatoriedade do diploma, já garantido por lei federal e assegurado por decisão judicial.
Então qual é a razão de mais uma vez se reunirem o bando de salteadores da profissão de jornalista? Para ser justo a horda não é homogênea, além dos liberais que vêem nas leis eternos empecilhos de maximização de seus lucros, temos seus porta-vozes autorizados, existe também uma esquerda populista que confunde ocupação de terras com usurpação de profissão e alguns mal-informados que não se dão o trabalho de ler o projeto e nem mesmo de confiar nos seus companheiros que tiveram o saco de participar de maçantes assembléias e reuniões quando se discutia a melhoria da atividade profissional.
Temos ainda os neo-jornalistas ou meta-comunicadores, oportunistas que não se dispuseram a estudar jornalismo e com o beneplácito dos patrões ocuparam ilegalmente cargos em redações. Deste saco de gatos, o grunhido que sai é generosamente amplificado pela grande mídia, secundada por parte da mídia “alternativa” que escolheu o papel de coadjuvante domesticado neste bang-bang classe B que vai ao ar mais uma vez.
A tática de ataque é a mesma quando do massacre do Conselho Federal dos Jornalistas, o cerco ao carroção da FENAJ por todos os lados e tiroteio sem cessar. O intuito é impedir que a cavalaria do executivo e do legislativo, assustada, saia do forte. Aliás, não é preciso muita gritaria para correr com esta cavalaria, até porque boa parte de seus soldados são, na verdade, parte da turma do assalto. A argumentação, como é da característica dos fortões, é o que menos interessa.
Misturam-se mentiras com meias verdades, jogam-se opiniões com supostas informações, tudo temperado com um absoluto desrespeito com as organizações sindicais e tem-se a receita que irá alimentar por semanas a desinformação e a mistificação. Sem a menor oportunidade dos jornalistas de fato, aqueles que garimpam a informação, aqueles que com seus salários miseráveis sustentam os jornais impressos, os noticiários de TV e rádio, poderem explicar porque acham que a diagramação de um jornal ou de uma revista não é a mesma coisa do que fazer uma embalagem. Ou realizar uma reportagem fotográfica não se confunde com retratar uma lata de salsichas. Tampouco tiveram chance os cursos de Jornalismo deste país de relatarem suas experiências pedagógicas no ensino destas cadeiras ao longo destas década.
Sou um chargista e diagramador, vindo do curso de arquitetura e que desenhava antes de aprender a escrever, mas que ao fazer Jornalismo supostamente não emburreceu nem perdeu sua inspiração, apenas descobriu uma profissão maravilhosa, essencialmente coletiva e complexa que não pode ser pautada pelos xerifes da mídia, seus cúmplices de cavalgadas ou ingênuos oportunistas.
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Secretário Geral da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e
Coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

terça-feira, 25 de julho de 2006

Comentando Lei Amarildo

Comentário interessante do jornalista paraense Val-André Mutran, de Brasília, sobre meu artigo que fala da Lei Amarildo:
Caro Jota Ninos,
Chega em boa hora a ampliação do debate sobre mais essa tentativa da Fenaj de regulamentar à sua maneira, sem debates, sem consulta, enfim, sem diálogo com a classe, a justa regulamentação da profissão.
Mas o projeto é muito ruim. Pelo que apurei aqui em Brasília, Lula tem até o dia 28 para se manifestar.
Alegou ontem na imprensa através de seu porta-voz, André Singer, que o projeto na estava na pauta para análise do governo. Não interessa se está na pauta ou não, o prazo vence na próxima sexta-feira.
O ministro da Justiça, Thomaz Bastos já aconselhou que Lula deve vetar alguns artigos, os mesmos citados por você em sua didática análise.
Caso profissionais que já estejam se sentido prejudicados com as ações patrocinadas pela Fenaj e sua associada o Sinjor-Pa, em relação à cassação de Registro Precário, basta entrar judicialmente.
Outra. Os colegas podem ainda filiarem-se na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que é contra o projeto.
Abraços.
Val-André Mutran
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P. S. Sobre os mesmo assunto passe AQUI.

Líder Anselmo

Meu nobre amigo, professor Anselmo Colares, manda seu primeiro e-mail depois que partiu para uma nova iniciativa profissional em Rondônia, para onde se mudou recentemente, após passar, junto com sua esposa Lília, em concurso da UNIR (Universidade Federal de Rondônia), campus de Guajará-Mirim.
Publico alguns trechos do extenso e-mail:
Prezado amigo, Jota Ninos.
Tudo bem? Eu, Lilia e Lucas estamos bem, e agora vou ter uma ocupação a mais: resolvi integrar um grupo que disputou as eleições para os cargos de diretor e vice-diretor no Campus da universidade local.
Aqui cada um dos cargos é votado em separado, embora os candidatos façam campanha de forma conjugada. Na UNIR, se não houver pelo menos 03 candidatos, com título de doutor, a eleição é aberta para doutores de qualquer outras universidade, e, caso não haja candidatos inscritos então abre para mestres (...) Em campanha, duas duplas, Expedito Ferraz e Anselmo Colares de um lado, e Dorosnil Alves Moreira e Maria Cristina de França, de outro. Foi uma campanha interessante (...)
Dos cerca de quinhentos votantes, apenas dois anularam o voto para o cargo de diretor, um anulou o voto para o cargo de vice-diretor. Foram registrados também quatro votos em branco para diretor e dois votos em branco para vice-diretor.
Entre os alunos tive uma votação expressiva. Perdi entre os funcionários, porque um anulou, marcou meu nome e outro nome. Mas o que fez a diferença final ficar menor entre eu a outra candidata a vice foram os votos dos professores, pois tive apenas 2 a mais, enquanto que o candidato a diretor teve 5 a mais que o seu concorrente. Agora estamos aguradando a posse, que deve acontecer provavelmente em setembro, para um mandato de 04 anos (...)
[Guajará-mirim]É uma cidade bem menor que Santarém, mas tem algumas emissoras de rádio, repetidoras de TV e um jornal impresso. Ainda não sei quantos trabalhadores, mas acredito que em torno de 60. Quem sabe nas suas férias pode vir aqui conosco? (...)
Abraços.
Anselmo Colares.
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COMENTÁRIO: Anselmo é uma destas pesoas que se não tivesse nascido, alguém teria inventado. Nos conhecemos no início da década de 1980, quando formamos um verdadeiro exército de Brancaleone, na tentativa de vencer quixotescamente o stalinismo implantado no PT em Santarém (esse é o próximo capítulo da saga petista que iniciei em meu blog desde o ano passado, e que pretendo postar antes de terminarem minhas férias).
Idealista, Anselmo foi sempre incompreendido, mas um batalhador que manteve sempre seus princípios, mesmo estando ao lado de pessoas que atraíam a execração das comunidades que lideravam, principalmente no mundo acadêmico.
Foi dessa amizade, que eu e Dornélio Silva (outro soldado brancaleônico) o levamos para a Rádio Rural, onde deslanchou como repórter e redator, fazendo uma carreira paralela à sua vocação pelo magistério.
A nota acima mostra que a liderança de Anselmo é incontestável, mesmo em uma comunidade acadêmica onde ingressou há pouco. É a mesma liderança de quem já comandou o Sindicato dos Professores de Santarém e de quem deu uma força na criação do Sindicato dos Radialistas, além de ter sido membro atuante do PT, do PDT (do qual foi até presidente municipal) e do PSDB.
Como eu, também testou seu nome nas urnas para um mandato de vereador, sem sucesso. Mas isso pode ser considerado uma benção dos céus.
Espero que Anselmo encontre um caminho de realizações em sua nova cidade e quem sabe um dia possa voltar para ser um líder neste futuro Estado do Tapajós!

Entrelinhas eleitoreiras

Duas notas com entrelinhas eleitoreiras que "pesquei" hoje no link do Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará, que circula em Santarém:
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Cefet reconhece cursos ministrados em Santarém
(...) a portaria de número 376/2006 do Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará (CEFET) que reconhece o Curso Normal Superior, de Licenciatura, de Magistério da Educação Infantil e Magistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, realizado no município de Santarém. (...) professores que concluíram o curso serão convocados para requererem o diploma em conformidade com os requisitos dispostos no site do CEFET.
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Ato público sobre Estado do Tapajós
No dia 18 de agosto, às 17 horas, na Praça da Matriz, acontecerá um grande ato público a favor de um plebiscito para criação do estado do Tapajós. (...)
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COMENTÁRIO: Os professores que fizeram o curso do Cefet vinham penando há um bom tempo, esperando por esse diplomas. Agora foram liberados, num toque de caixa. Período pré-eleitoral é um bálsamo!
Com relação ao Ato Público, pode contar que não vai caber gente no palanque... São uns 15 candidatos só à Assembléia Legislativa, que não vão querer perder a chance de fazer um pouco de proselitismo. E uma bandeira histórica e genuína, vira pano de chão...

Skype dessa...

O popular programa de voz sobre IP Skype, pode ter em breve uma versão alternativa, quebrando o monopólio do atual proprietário do programa utilizado por 100 milhões de usuários. é o que diz o site especializado em notícias sobre o mundo da informática GEEK.
Para quem não sabe, o Skype surgiu como alternativa para a comunicação telefônica barata, através da internet, que foi alvo de comentários neste blog, no ano passado, com a colaboração do empresário Olavo Neves, ligado em avanços tecnológicos.
Acesse este debate nestes links: Olavo1, Olavo2, Olavo3.

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Mais um dia “J” para Lula em sua batalha contra o poder da Mídia (se é que ele existe...)(*)

Belém - Nesta sexta-feira, 28/07, o presidente Lula enfrenta novo dilema político de sua gestão (em plena campanha pela reeleição), envolvendo mais uma vez uma legislação que divide opiniões entre profissionais de comunicação e empresários da mídia nacional. O debate desta vez envolve jornalistas, radialistas e empresários de comunicação, que travam um duelo de cartas abertas em seus sites, contra ou a favor do veto presidencial a uma lei aprovada no Senado, conhecida também como “Lei Amarildo”.
A exemplo do que ocorreu há dois anos quando do debate sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), que de tanto criticado pela mídia acabou nem sendo votado na Câmara Federal, Lula vai viver mais um dia “J” (de Jornalismo), na sua já desgastante relação com os meios de comunicação de massa, quando deverá decidir se veta ou não a Lei 079/2004, aprovada recentemente pelo Senado e que ampliou de 11 para 23 as funções contidas no Decreto-Lei 972/1969, que regulamenta a profissão de jornalista. É quase certo que ele vete a Lei para não comprar briga com os empresários de comunicação e com os radialistas, que também discordam da proposta. Mas se ousar sancioná-la demonstrará, no mínimo, um pouco de atitude que tanto lhe faltou na hora de defenestrar os mensaleiros de seu governo, assim que as denúncias surgiram. Lula também pode optar por uma saída mais diplomática para agradar a gregos e troianos: vetar parcialmente a lei.
Para quem não é do meio jornalístico (e até mesmo para quem é), talvez seja difícil entender o imbróglio que essa lei vai provocar. Aproveitando minhas férias aqui em Belém vasculhei a internet para entender o que está por trás deste debate, e tentar explicá-lo aqui neste Perípatos.
Como ocorreu há dois anos, no caso do CFJ, a proposta tem sua origem nos debates travados há 20 anos pela FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas e foi transformada em projeto de Lei nos anos de 1989 e 1995 (com pequenas mudanças), sendo arquivado por duas vezes ainda na Câmara dos Deputados. Em 2003, após várias conversas entre a FENAJ e o obscuro deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) e sua assessoria, o mesmo projeto passou a tramitar no Congresso, passou despercebido pela grande imprensa e saiu da Câmara praticamente sem emendas e discussões e acabou aprovado no Senado!
A Lei 079/2004 prevê que todas as 23 funções serão privativas de profissionais graduados em Comunicação Social ou que já tenham Registro Profissional definitivo, ou seja, que tenham direito adquirido. É o caso dos repórteres fotográficos, cinematográficos (câmeras), ilustradores, diagramadores e comentaristas. Neste último caso, a Lei prevê a figura do colaborador/especialista que poderá comentar sobre qualquer tema desde que a empresa permita, mas não poderá exercer a atividade jornalística sem ser profissional graduado. Essa é a maior briga das grandes empresas acostumadas em contratar jogadores para comentar futebol ou economistas para comentar economia.
A mais importante mudança que a lei traz é a inclusão da categoria Assessor de Imprensa no quadro de funções, o que segundo a FENAJ é apenas o reconhecimento de uma situação de fato: quase todo o mercado é ocupado por jornalistas, que profissionalizaram e moralizaram este segmento.
O profissional que trabalha na coordenação de arquivos jornalísticos (de Rádio, TV e Jornais) também foi incluído no quadro, mas na verdade já era função exclusiva de jornalista profissional (artigo 11, inciso VI, do Decreto-Lei 972/1969), assim como no caso de professores de Jornalismo de disciplinas relacionadas ao ensino de técnicas e teorias jornalísticas (artigo 2º, inciso VI), que também deve ser função privativa de jornalista profissional. A Lei, segundo a FENAJ, vem apenas sacramentar o que já estava dito.
Mas o nó górdio está exatamente nas funções que antes eram consideradas do quadro constante na Lei 6.615/1978 e o Decreto 84.134/1979 que regulamentam a profissão dos radialistas. Além dos câmeras, os editores de imagens, os repórteres de rádio e TV e apresentadores de jornais e telejornais, passam a fazer parte do quadro de funções do Jornalismo, o que irritou entidades que defendem essa categoria. Uma delas, a FITERT – Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Rádio e Televisão (filiada à CUT), antiga aliada da FENAJ em debates sobre a democratização dos meios de comunicação e no combate à Abert – Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão, não aceita perder funções de seu quadro e se aliaram aos empresários nesta luta. Dia destes o presidente da FITERT, órgão que nunca teve espaço na TV Globo, saiu no Jornal Nacional defendendo o veto da Lei!
A Abert, através de seu site (http://www.abert.org.br/), conclama seus afiliados a pressionar o governo pelo veto evocando o “princípio constitucional de liberdade de expressão” ao afirmar que a Lei “promove profundas e preocupantes alterações na regulamentação atual da profissão, ampliando de forma desmedida a área de atuação profissional para outras mídias e meios de comunicação, ao mesmo tempo que reserva e restringe ao jornalista o exercício de funções hoje exercidas por outros profissionais como radialistas, atores, escritores, profissionais liberais em geral (...) ao estabelecer como atividade privativa do jornalista o exercício por meio de processos gráficos, radiofônicos, fotográficos, cinematográficos, eletrônicos, informatizados ou quaisquer outros, por quaisquer veículos, da comunicação de caráter jornalístico em uma serie de atividades (...)”, diz a nota assinada por Guliver Leão, diretor da entidade.
A FITERT também usa do mesmo expediente em seu site (http://www.fitert.org.br/), afirmando que a Lei “abrirá um processo irreversível de divisão entre os trabalhadores de comunicação, fruto do corporativismo e da clara intenção de manter reserva de mercado, apossando-se de funções pertencentes aos radialistas reconhecida através da Lei 6.615/78 a mais de 30 (trinta) anos” e que “esse projeto de lei foi uma iniciativa unilateral da FENAJ, que sequer abriu discussão com os trabalhadores de Radio, Televisão, Sindicatos e/ou Federação, o que nos causou indignação e nos leva a questionar o comportamento da FENAJ enquanto uma federação solidária e comprometida com o fortalecimento da classe trabalhadora em comunicação”, assina o coordenador, o paraense Antônio Carlos de Jesus Santos.
Na batalha das notas, a FENAJ se defende em seu site (http://www.fenaj.org.br/) e diz que “quem se manifesta contra o PLC 079/04 na verdade é contra a regulamentação profissional e contra o diploma. Também é contra o que significa, para os jornalistas e para a sociedade, fazer do Jornalismo uma profissão”, assinada por Sergio Murilo de Andrade, presidente da FENAJ.
Já há notícias de que o governo estuda o que fazer. O ministro Tarso Genro disse que estão “analisando todos os lados”. Já os senadores, que aprovaram o projeto, mostram um arrependimento: “Em tese todo ato que regule uma profissão é bom, mas temos que pensar nas pessoas que estão nessas atividades atualmente. Talvez essas novas exigências poderão ficar para o futuro”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Em Santarém, existem um pouco mais de 100 profissionais de rádio, dos quais pelo menos a metade trabalha nas funções que serão abrangidas pela nova Lei.
Eu até concordo com a tese da FENAJ, de exigir diplomação para atuar na área. Nisso, a Fitert também concorda, já que a própria Lei do Radialista prevê isso. A questão é que a proposta neste momento enfraqueceria os radialistas e não sei até que ponto seria benéfico para os jornalistas. Creio que a medida seja realmente interessante para um futuro próximo, e Santarém, que já vai começar a formar jornalistas, poderá se beneficiar desta lei nos próximos anos.
Para as empresas de comunicação, a preocupação principal talvez seja o fato de ter que adequar seu quadro com profissionais graduados, além de ter que desembolsar salários definidos pelos Sindicatos de Jornalistas (que são mais expressivos do que os definidos pelos Sindicatos de Radialistas).
A questão é: caso a lei seja sancionada, qual a segurança de que não haverá uma caça às bruxas, com o Sindicato dos Jornalistas de Belém tentando enquadrar todos os que trabalham nas funções citadas em Santarém e outros municípios? Seria interessante que os colegas radialistas e jornalistas, inclusive o presidente do Sindicato dos Radialistas de Santarém, Daleuson Meneses, procurassem debater o assunto. Este artigo já está em meu blog, para debate.
Sexta-feira, 28/07, dia “J” para Lula e para todos os que trabalham na comunicação...
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(*) Artigo que será inserido amanhã, em minha coluna semanal Perípatos, publicada todas as terças-feiras no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

E-mails

Recebi dois e-mails de colegas jornalistas que publico aqui.
O primeiro é de Val-André Mutran, que oferece o link de seu bem informado Blog, para ter acesso à lista da Máfia dos Sanguessugas:
O segundo é do assessor de imprensa da Câmara Municipal de Santarém, Rui Néri, que também tem um blog:
Amigo Jota Ninos,
Sobre seu pedido da lei relacionada ao horário de funcionamento dos bares, informo o seguinte: o que eu disponho é o projeto apresentado pelo vereador Valdir Matias Jr. Porém, ele sofreu algumas alterações durante a discussão em plenário.
Como estamos em recesso, a assessoria do vereador não está comparecendo à Casa, mas estou mantendo contato direto com eles e assim que eu tiver o material passarei (com toda satisfação) para você.
Por outro lado, parece que a lei que foi para a prefeita sancionar ainda não retornou à Câmara.
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COMENTÁRIO: A Lei a que Rui se refere é a que solicitei em relação à Fila dos Bancos, que equivocadamente ele deve ter citado como a Lei do funcionamento dos bares. Isso é para sanar as dúvidas no post Filas em Altamira, surgido após a publicação de meu artigo sobre Filas de espera

Dicas para perder o Medo de Avião

Depois que publiquei o artigo sobre meu medo de avião, gente experiente no assunto apresentou algumas dicas e comentou o artigo:
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Juvêncio Arruda, publicitário
Quem vos fala é um velho medroso de avião. Aliás, ex-medroso.
Comecei a perdê-lo no dia em que uma prima, que me acompanhava numa rápida ( 32 min) até Macapá, disse-me para tentar sentar nas três primeiras poltronas do bicho...
Desdaí, Ninossauro, santo remédio. Na frente, o avião joga muito menos, e é exatamente o que me deixava com medo.
Bem, alguém, muito medroso, pode argumentar que em caso de acidente, a probabilidade de óbito dos que estão sentados na frente é maior. É verdade, mas aí... o que importa? O certo é que perdi o medo de avião.
Pena que a Maria [do Carmo, prefeita de Santarém] não possa me dar as milhas que tem... para conhecer a Grécia, por exemplo... eheh.
Abs. Juvêncio
.Jota Parente, jornalista
Bicho, você é o cara. Esse texto está um porrete de bom!
Quanto a medo de viajar de avião, não deve haver muita gente mais medrosa do que eu. Estou no teu time, camarada. Viajar de avião para mim é um mal necessário.
A partir de agora vou seguir o conselho do Juvêncio, sentando nas poltronas da frente. Não sei se vai adiantar muito. Apesar de ser comprovadamente o meio de transporte mais seguro, estou com o Poetinha que justificava seu medo dizendo: como não ter medo de um meio de transporte, que se tiver algum problema técnico a oficina é lá embaixo?
Jota Parente
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Leiria Rodrigues, jornalista
Hahahahahaha...rir ou chorar!???
Querido... nas nuvens a gente chora... Ri mesmo foi ao ler suas neuras....
E comecei a viajar, literalmente, nas nuvens...que tal entrarmos numa comunidade do Orkut: "me cago de medo de voar"...rs. Bem, ainda não chegamos a tanto...né?
Mas compartilho dessa neura também! Suo as mãos a cada decolagem. Até que um dia, ao voar do Rio à Brasília, numa turbulência doida, quem está ao meu lado??? - o mecânico do próprio avião. Continuava suando frio do mesmo jeito, mas sabia que se algo desse errado a culpa era dele...rsss
E quando o comandante vai falar algo pelo fone e a voz lenta, pesada, parece filme de terror... suspense total. Desespero! Nossa, ele vai dizer alguma coisa terrível... Ufa! Só é a previsão de tempo. Mas será que ele avisaria algo de ruim, tipo...- O avião vai cair????
E lembro ainda nessas vindas de Belém/Santarém, minha bagagem já estava na aeronave, quando dei conta que iria voltar num outro vôo, numa aeronave bem pequena... fiz um escândalo e tiveram que retirar a mala e despachei em outro vôo. Disse até que eu sofria do coração... que a empresa poderia ter sérios problemas comigo... Uma carga nada segura! rs
Bem, posso dizer que mantenho mais a calma, depois de ter atravessado “os sete mares”, na ida à Índia... Agora é relaxar e gozar!!!! Se der tempo... como diz a piada!!!!
Bjs Leiria
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Stella Tsaoussoglou, minha prima
Bolo,
Espero que eu não seja a causa do seu medo, mas pensando bem... acho que sou sim, na ida eu ainda não existia e a atenção era toda voltada para você, mas quando eu cheguei "linda e maravilhosa" não teve mais pra ninguem (risos)
Que tal fazermos juntos uma viagem pra espantar esse medo todo? Prometo que seguro a tua mão!Te adoro!
Bjs Stella
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MEU COMENTÁRIO: A dica do Juvêncio eu já tentei, mas confesso que não deu certo. O avião pode não sacolejar muito, mas o entra e sai da cabine do comandante e a proximidade para ver ou ouvir alguma coisa que aumente o meu medo, é terrível. Uma vez, olhei pra cabine e não tinha ninguém no comando!!! Será que dá pra ter menos medo do piloto automático?
Fico mais com o Vinícius, citado por Parente. Quanto às viagens internacionais, dito pela Leíria, também passei pela experiência e posso dizer que atravessar o atlântico em seis horas num Airbus é menos aterrorizante do que fazer o trecho Belém/Altamira/Santarém, com aqueles vácuos em que o estômago vem à boca.
Já quanto à Stella, não acredito que você seja o motivo desse medo,prima, mas é verdade que nunca viajamos juntos. Não sei se isso seria a solução, pois sempre haverá um passageiro indesejável viajando comigo: meu medo.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Mais de quarenta anos de vôo e um medo que não sei de onde vem(*)

Belém – Comecei a escrever este artigo à bordo de mais uma viagem na minha eterna ponte aérea entre Santarém e Belém, realizada no domingo para curtir o final de minhas férias do Judiciário aqui na capital. Pelo título, fica claro ao leitor que as divagações foram montadas enquanto eu tremia de medo atravessando nuvens, sem que a visão da janelinha (o exuberante verde amazônico, serpenteado pelo rio-mar) em que sempre me agarro, pudesse diminuir tal tensão.
Fui vasculhando minha mente e lembrei que tenho fotos com três anos de idade, no parque Ibirapuera em São Paulo, e me lembrei que já haviam me dito que minha primeira viagem de avião foi em 1965. Lembrei também que meu pai e minha tia disseram que eu era o maior “capetinha” daquele vôo e nem me dava conta de que estava num avião, e que só queria correr entre as (belas) pernas da aeromoça, no corredor daquele vôo virginal.
Então, porque agora eu apenas me agarro aos braços da cadeira e descubro até um deus e uma reza, para me apegar, enquanto o comandante anuncia que alcançamos mais de 10 mil metros acima do mar?
A pergunta surge com o intuito de tentar entender esse medo, que Belchior tão bem expressou em uma de suas belas canções. O problema é que quase sempre tenho apenas um marmanjo ao meu lado e não ficaria bem pegar em sua mão, como sugerem os versos belchiorianos...
No alto de minhas conjecturas, creio que talvez o problema tenha surgido no segundo vôo, o da volta de São Paulo à Belém, em 1967, quando a família voltava com uma passageirinha a mais, minha prima-irmã Stella, greguinha nascida em Sampa. Mas como ninguém se lembra de nada de anormal sobre aquele retorno, a dúvida prossegue.
O terceiro vôo, quando eu realmente me dei conta que tinha medo de avião, só aconteceu 20 anos depois, ao tirar minhas primeiras férias da Rádio Rural, em 1985. De lá para cá se passaram mais de 20 anos voando entre Santarém-Belém e Santarém-Manaus, quase sempre em férias ou a serviço, além de outros vôos à Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Goiânia. Isso sem contar os vôos internacionais Recife-Lisboa-Atenas, que fiz em 1988, e Frankfurt-Recife, em 1991, na minha aventura no Velho Mundo.
Não tem jeito: cada vôo é um tormento.
O passageiro ao lado percebe e me pergunta com um sorriso-amarelo: “Você tem medo de avião?”. Balanço a cabeça apressadamente esperando que ele diga: “Seus problemas acabaram!”, mas ao invés de uma solução Tabajariana, ele apenas afirma serenamente: “Que tolice, a viagem de avião é a mais segura no mundo!”. A vontade é puxar a alavanca de emergência e arremessar o cara no espaço...
Trinco os dentes, suo frio e chamo a aeromoça (nem me animo de conferir suas pernas) pela undécima vez, para acalmar meu medo. Irritada ela já chega perguntando: “Mais um refrigerante, senhor?”. Balanço só a sobrancelha, mostrando que já não tenho forças no pescoço para afirmar que só essa bebida me acalma. Como não bebo nada alcoólico, não me arrisco. Sabe lá se fico porre e resolvo dar uma voltinha lá fora?
Lendo o que dizem psiquiatras num site especializado, descubro que “na maioria das vezes a fobia de avião costuma aparecer sem motivo aparente, ou seja, a pessoa não passou por acidentes nem turbulências, ela simplesmente deixa de pegar aviões”. Ainda não cheguei a esse extremo. Como preciso viajar uma vez ou outra para fora de Santarém e o avião é a solução mais rápida que o barco, acabo enfrentando meu velho tormento. E haja refrigerante! Diz ainda o mesmo site: “nem sempre existe o medo de que o avião caia, ou a presença de sintomas físicos do medo. Assim como a Síndrome do Pânico de uma maneira geral, a Fobia de Avião é facilmente tratada (...)”. Fácil falar...
“Seu refrigerante, senhor”, me espanta a aeromoça com cara de poucos amigos. Nesse momento, sinto centenas de olhares por sobre meus ombros. Dedos em riste e risadas sardônicas ecoam em meus ouvidos. O passageiro ao lado tenta me confortar: “a viagem de avião é a mais segura no mundo! DO MUNDO! DO MUNDO!!!!”. As palavras ecoam enquanto sorvo a bebida.
Fecho os olhos e lembro da reportagem do jornal carioca Diário Popular (31.01.2006), que li na internet e armazenei em meus arquivos, e que dizia que “entre os 50 milhões de brasileiros que viajam de avião anualmente, em média, cerca de 45% têm medo de voar”. Confortante saber que não estou sozinho em minha fobia. “Medo é normal, faz parte das defesas”, dizia o psicólogo entrevistado, que entre outras coisas ensina que é preciso “relaxar, focar a atenção nos aspectos positivos da viagem, pensar no que se vai fazer quando chegar ao destino, conversar com outras pessoas, ler um livro engraçado, ouvir música suave e desanuviar o pensamento”.
De repente, o comandante decreta: “Atenção tripulação, para aterrissagem no aeroporto de Belém”. Último sufoco. Depois da decolagem, dizem as estatísticas, a aterrissagem é o momento mais propício para um acidente aéreo.
O avião pousa suavemente. Estou salvo. Não seria o caso de beijar o chão como sempre o Papa João Paulo II fazia? Será que ele, o representante de Deus na Terra, também tinha medo de avião?
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(*) Artigo que estará inserido amanhã em minha coluna Perípatos, que é publicada semanalmente no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Assoprando velas

Hoje estou soprando a minha 43ª vela de existência.
Obrigado aos que me parabenizaram, pelas ondas do rádio, pelo celular, pelo e-mail e principalmente pelo Orkut, a comunidade virtual de relacionamento da qual também dou umas voltinhas...
Falando em velas, não poderia deixar de destacar um dos poemas que mais amo, do poeta grego contemporâneo, Constantino Kavafis (1863-1933), uma espécie de Carlos Drummond de Andrade da Grécia. Inseri inclusive sua foto neste post.
Recentemente encontrei um site que tem todos os seus poemas em arquivos bilingüe, mas ainda está em construção. Como o poema que eu gosto ainda não está lá, fiz uma tradução livre, quase que uma versão em português, para apresentá-la aqui (depois confirmo se me aproximei da tradução que o site vai dispor em breve).
O poema VELAS, ressalta exatamente o estado em que me encontro agora, e sempre que apago uma vela de aniversário:

Os dias do amanhã
à nossa frente urgem
feito fileira de acesas velas
douradas, quentes e vivas,
todas elas
.
Os dias de ontem
para trás rugem
com a tristeza de uma linha escura
de apagadas velas – as mais próximas
ainda fumegam – frias, derretidas e tortas,
todas elas
.
Esquivo-me de contemplá-las,
suas formas me entristecem
assim como a lembrança
de seus lampejos primeiros
.
Remeto, novamente,
meu olhar à frente
em busca de minhas acesas velas
.Recuso-me a olhar para trás,
tremo de medo ao ver
a rapidez com que a escura linha cresce,
a rapidez com que aumenta
a fileira de apagadas velas...



Filas em Altamira

O artigo postado aí embaixo, foi comentado pelo leitor Mário Barbosa, de Altamira, que me remeteu a seguinte mensagem por e-mail:

Olá Ninos,
li seu artigo no Jornal Diário do Tapajós cuja manchete era "FILA DE ESPERA: UM MONUMENTO NACIONAL À MEDIOCRIDADE DO ATENDIMENTO".
Gostei muito e curiosamente aqui, em Altamira, onde eu moro, tentou-se aprovar uma lei para diminuir o tempo de espera nas filas. A Câmara Municipal de Altamira aprovou a lei, mas a Prefeitura vetou. Como argumento, a prefeita municipal Odileida Sampaio alegou que não havia qualquer lei federal sobre o assunto e que, portanto, não poderia aprovar a tal lei.
Por isso, gostaria de pedir a você que me passe esta lei que foi aprovada em Santarém, pois preciso mostrar para alguns vereadores da nossa cidade.
Se puder fazer isto, de antemão eu agradeço.

Atenciosamente, Mário Barbosa.
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COMENTÁRIO: Já respondi por e-mail ao Mário que tentaria conseguir uma cópia do projeto. Mantive contato com o amigo Rui Néri, assessor da Câmara Municipal de Santarém, na esperança de conseguir tal lei, mas talvez o período de recesso dificulte essa informação. Assim que tiver a cópia publicarei neste espaço.

Fila de espera: um monumento nacional à mediocridade do atendimento(*)

Esse artigo nasceu, logicamente, enquanto eu aguardava pacientemente ser atendido numa fila. Uma não, várias! Bati o recorde de espera em filas num prazo de uma semana, já que há anos evitava enfrentá-las (principalmente nos bancos).
Como estou de férias, enfrentei algumas filas em bancos e outros estabelecimentos para resolver alguns problemas e ver se a nova Lei Municipal aprovada pela Câmara e sancionada pela prefeita já estava em funcionamento.
Para a minha surpresa, encontrei o banco com o qual trabalho (que nunca foi um primor de atendimento), já adequado para atender à clientela no novo sistema. Isso já foi um sinal positivo. Um estagiário me recebeu, fez a triagem inicial perguntando educadamente que serviço eu pretendia ali no banco. Informei que era apenas para desbloquear o meu cartão. Apertou o botão 01 de uma maquininha parecida com uma pequena registradora, de onde saiu um papelzinho com um número. Ao meu lado uma senhora gestante também pediu senha para ser atendida e ele apertou no botão 02 (atendimento preferencial).
Em seguida, fomos encaminhados a uma série de cadeiras acolchoadas e justapostas horizontalmente com um corredor no meio e em frente aos cinco caixas, todos com funcionários em ação e uma TV exibindo um dos insossos jogos da Copa do Mundo. Olhei na tela que anuncia a chamada das senhas e vi que havia 11 pessoas à minha frente. Logo pensei: “Tô ferrado!”.
À medida que as pessoas eram atendidas, a tela anunciava a nova senha. Dezessete minutos depois, lá estava eu à frente do caixa e pronto para ser atendido. Fiquei satisfeito e pensei como meus cartões: “A lei funcionou!”.
Refletindo sobre isso fiquei pensando: por que será que empresas como os bancos, que tantos lucros acumulam nos últimos governos (FHC e Lula), só se espertam para atender seus clientes depois que é aprovada uma lei que as obriga a isso? E a velha máxima que aprendi nos tempos em que já trabalhava com meu pai no balcão da lanchonete, de que “o freguês tem sempre a razão”, não vale para os clientes de bancos?
Enquanto caminhava em direção a uma empresa de telefonia celular para verificar um problema com meu aparelho, fui rememorando cenas do cotidiano que sempre acompanhei pela TV e pelos jornais, constatando que a fila faz parte da nossa história.
Lembrei das velhas filas do antigo INPS (hoje INSS), madrugada adentro em busca de uma ficha para atendimento. O quadro não mudou tanto, inclusive quando recentemente houve aquele escândalo dos idosos obrigados a sofrer em uma fila para recadastramento. Nos hospitais e no Ipasep, até hoje a prática existe. Mudaram as siglas, e não as filas.
Continuo caminhando e encontro um colega saindo de outro banco e pergunto como foi na fila, esperando um sorriso. Qual o quê? Ele detona seu banco e diz que passou quase uma hora esperando para ser atendido. Afirma categoricamente que a tal lei não funciona. Discordo, dizendo que no “meu banco” foi diferente. Ele não acredita. Despedimo-nos. Eu, orgulhoso, ele cabisbaixo.
Chego à operadora de celular e encontro o mesmo sistema de senhas e poltronas acolchoadas. Alegre com o que vi, até pensei em entrar em outras filas, só para sentir como era o atendimento. Lembrei que tinha outros problemas a resolver, e que sempre deixei a tarefa para outras pessoas da família, já que pelo horário de meu trabalho torna-se impossível enfrentar esta via crúcis. E até imaginei que poderia tirar as férias descobrindo um novo roteiro turístico: “Tour peripatético em filas de espera”. Quem sabe poderia até oferecer esse pacote para alguma agência de turismo?
Minhas divagações começaram a se tornar um pesadelo, quando vi que o atendimento na empresa de celulares estava a desejar. Pelo meu número de senha eu tinha 10 pessoas à minha frente. O número de atendentes era o dobro que o do banco, logo conclui que deveria ser atendido no mínimo no mesmo prazo, levando-se em conta que a habilitação de um celular demora mais que o pagamento de uma conta. Qual o quê? O relógio me desmentiu: já estava há uma hora na fila e nem a metade das pessoas à minha frente haviam sido atendidas!!! E olha que eu queria pagar contas de um antigo celular.
Uma hora e meia depois de entrar naquela fila, finalmente fui atendido. O olhar dos atendentes não era o mesmo de quando as empresas se implantaram por aqui e havia toda uma cordialidade para “fisgar” novos clientes. Ao que parece, como o celular virou praticamente um bem de consumo de “primeira necessidade”, eles já não se importam em nos fazer esperar nas filas. Mas existe a concorrência, pessoal...
Irritado, com fome, resolvi ir para a casa, mas não desisti da idéia de testar novas filas, afinal, tinha tido um resultado bom e outro péssimo. Faltava uma terceira tentativa para contrabalançar as opiniões.
No dia seguinte lá estava eu noutra fila de banco, só que era dia de pagamento do funcionalismo e a quantidade de pessoas havia triplicado! Aí o sistema de espera entrou em pane. Quadruplicado o número de pessoas de um dia para o outro, o atendimento das filas ficou deficiente. Com 30 pessoas à minha frente, resolvi pegar a senha e voltar dentro de uma hora acreditando que seria o suficiente para ser atendido. Quando cheguei ainda havia 20 pessoas à minha frente e passei mais meia hora aguardando! Nem mesmo o atendimento nos caixas eletrônicos funcionava a contento, por mais que o banco tenha duplicado o número de equipamentos.
Cheguei à conclusão que a lei das filas nunca poderá ser cumprida se os bancos e outras empresas não aumentarem ainda mais o número de postos de atendimento. É lógico que a situação fica dramática quando há um aumento no número de pessoas a serem atendidas. Aí seria prudente que estas empresas estivessem preparadas para terem funcionários aptos a ocupar um posto em dias de pico de atendimento.
Mas isso significa maiores investimentos em recursos humanos, e diminuição dos lucros capitalistas. Dane-se o consumidor! Farinha pouca, meu pirão primeiro, deve dizer o “empresário da fila”.
Pelo que sei, a lei não prevê, ainda, sanções mais severas para quem nem implementar os serviços necessários para acabar com essa praga nacional. Só quando doer no bolso deles é que se darão conta que existe vida humana na fila e não número e cifrões das contas bancárias.
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(*) Artigo inserido em minha coluna semana Perípatos, publicada em 11.07.2006 no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Porque a elite bur(r)ocrata insiste em roubar a beleza do nosso futebol?(*)

Não pretendia voltar a falar de futebol nesta coluna, como fiz no dia da estréia da seleção brasileira na Copa da Alemanha (13/06). Não é um tema que domino, apesar de, como todo brasileiro, ser fissurado nele. Mas não poderia deixar de escrever sobre as decepções que nos foram impingidas nesta e em outras Copas, por aquela que insiste em nos roubar os melhores sonhos: a elite bur(r)ocrata brasileira.
Minha paixão pela Copa começou em 1970, quando tinha 7 anos e de qual guardo vagas lembranças de belas jogadas de Pelé & Cia., no México. Lembro-me mais da euforia em casa, onde fogos de artifícios eram acionados na varanda de meu apartamento, no 24º andar do então edifício mais alto da Amazônia, o Manuel Pinto da Silva, em Belém.
A primeira copa que assisti por inteiro mesmo foi a de 1974 (na então Alemanha Ocidental), inclusive com o privilégio de ser um dos poucos paraenses a assistir uma transmissão em cores do jogo de estréia da seleção brasileira: a extinta TV Guajará, que na época transmitia o sinal da Globo em Belém e ocupava todo o 25º andar do prédio, convidou alguns vizinhos para ver a novidade tecnológica ainda em fase de testes.
Meu olhar de 11 anos ainda não havia percebido que exatamente naquele ano eu começaria a presenciar a tentativa da elite bur(r)ocrata de nos roubar a beleza daquele esporte do qual éramos tricampeões mundiais e que adotamos como nosso, desde que o abençoado inglês Charles Miller nos apresentou à uma bola couro e às regras de um esporte recém-inventado pelos súditos da Rainha, no final século XIX.
O que aconteceu nesta Copa, na Alemanha unificada, parece muito com o que nos aconteceu há 30 anos. Após a Copa de 1970, onde brilhamos como nunca, acharam que Zagallo podia repetir o feito (para o delírio dos militares) mesclando alguns jogadores da copa anterior com novos talentos. Mas a bur(r)ocracia já havia tomado conta da então CBD (hoje CBF). Só havíamos empatado sem gols com a Iuguslávia e com a Escócia e passamos à próxima fase por causa dos três frangos providenciais do goleiro do Zaire, para vencer a Alemanha Oriental por 1X 0 e a Argentina por 2 X 1 nas quartas de final, acreditando que estávamos no caminho certo. Mas havia um carrossel holandês, no meio do caminho...
O holandês Crujff e seus comandados deram um show naquela copa com uma tática revolucionária de ataque e defesa do time todo, que envolvia os adversários, e marcou 16 gols (tomando apenas 3) em 7 jogos, com 5 vitórias (uma contra o Brasil, em 2 X 0), 1 empate e apenas a fatídica derrota na final contra a dona da casa, a Alemanha. Não era uma questão de estatística, como o bur(r)ocrata Parreira e o mesmo Zagallo de 1974, gostam de usar em suas explicações sobre recordes de gols e de vitórias. Era um jogo bonito, para fazer a torcida vibrar, com competência e estilo.
Nas copas seguintes, a bur(r)ocracia continuaria imperando. Os militares acabaram colocando um representante seu no comando da seleção, o capitão do exército Cláudio Coutinho, que vai à Argentina e perde para... os militares argentinos.
Em 1982 (Espanha) e 1986 (México), a magia parecia querer voltar a campo com Telê Santana, Zico, Sócrates & Cia. O time nos deu as maiores alegrias com jogadas espetaculares, e principalmente determinação em campo, só perdeu por jogar sem muita responsabilidade nos jogos decisivos contra Itália (82) e França (86).
Em 1990, a estupidez dos bur(r)ocratas (agora na Era Collor) nos apresentou uma seleção liderada pelo técnico Sebastião Lazaroni e por Dunga e vários outros jogadores medíocres, que não se atreviam passar do meio de campo, na Itália. Sofri assistindo aos jogos, na Grécia (onde passei três anos), e foi lá que comecei a estudar o futebol pois havia a possibilidade de trabalhar como repórter naquela Copa, integrando a primeira equipe da Rádio Rural para uma transmissão internacional. Pena que os planos foram por água abaixo, por causa do Plano Collor.... Acabei acompanhando a mediocridade dos “canarinhos” pela TV, até sermos eliminados pela Argentina do Dieguito! Estava decretado o fim do futebol-arte!
Apesar do fiasco de 1990 a filosofia tinha que continuar, pois o que valia era o resultado. Por isso, nos empurraram o Parreira que nos trouxe, em 1994, a tão sonhada quarta estrela ao decidir a Copa dos Estados Unidos num 0 X 0 com a Itália, nas cobranças de pênaltis. Mas insosso, impossível! Houve momentos de brilho, mas só através de jogadas individuais com a dupla Romário e Bebeto. O coletivo já não existia (só aquela palhaçada marqueteira de entrar em campo com as mãos dadas). E haja berro de Galvão Bueno e de um ensandecido Pelé: “É Tetra! É Tetra!”. Confesso que comemorei, mas com restrições.
Aí os bur(r)ocratas acharam que o Penta era moleza. Levaram o Zagallo de novo à França (1998) usando a mesma tática de 74: mesclar veteranos com novatos e esperar uma jogada de gênio. O problema é que o gênio de então (Ronaldinho Fenômeno) teve uma convulsão na última partida, e Zidane (sem convulsão), da mesma França de 1986, arrasou a gente.
Quatro anos depois, no Japão, o Penta chega. É verdade que com mais emoção e um Ronaldinho refeito. Mas havia um Felipão aguerrido, em busca do gol, mesmo que sem muito brilho, mas com raça e determinação, empurrando o time até à final e vencendo os alemães. Vitória convincente, muito embora estivesse longe do futebol-arte.
2006. Favoritos. Adormecidos em campo. “Vamos crescer na competição”, nos diz o mesmo Parreira, acreditando que na Alemanha repetiria os Estados Unidos. O time jogou sempre em busca de uma vitória de meio a zero, só para passar para a próxima fase. Apesar de adversários fracos, suamos para vencer as primeiras partidas. Fomos dominados por Gana, apesar de aplicar um 3 X 0 pouco convincente. E lá vem Zidane, para nos lembrar o quanto continuamos medíocres...
A elite bur(r)ocrata venceu. Assim como vem vencendo nos campeonatos estaduais e no Brasileirão. A mesma elite que destruiu o futebol paraense e santareno. É a mesma elite que acaba com os campinhos de várzea e com a possibilidade de um futebol mais democrático.
Mas o futebol, essa força pujante que trazemos do berço, continuará criando novas estrelas que, infelizmente, irão cada vez mais cedo brilhar em campos europeus, e na hora de vestir a camisa da Nike, pensarão duas vezes antes de uma dividida com os Zidanes da vida, estes sim comprometidos com o futebol-arte...
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(*) Artigo que estará em minha coluna Perípatos nesta terça-feira (04/07), publicada no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.