sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Agradecimento

Agradeço a todos os amigos que mandaram mensagens no blog e "babaram" comigo na minha nova vida de vovô. Helena também agradece e para não fazer injustiça, não posso deixar de citar o nome do pai do futuro bebê (como se quisesse me apoderar do seu filho - coisas de avô babão...) : Mádson também está feliz com o moleque.


Quem ainda não leu as mensagens ou ainda quiser "babar" comigo, basta visitar a caixinha de comentários de minha crônica ou a da poesia abaixo, ou ainda os comentários que foram feitos lá no Blog do Jeso, meu grande divulgador.


Aguardo receitas de mingau... rsrsr!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O filho que eu quero ter

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim

Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus

Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter
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Vinícius de Moraes, o nosso poetinha (que entre outras qualidades era Botafoguense).
Essa aí é uma de suas mais lindas poesias na minha opinião (depois de Operário em Construção e Rosa de Hiroshima) e que, de certa forma, combina com a crônica escrita no post abaixo.
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Essa poesia de Vinícius foi lindamente musicada por seu eterno parceiro Toquinho e gravada por ele em disco, mas a minha versão preferida é a de Chico Buarque de Holanda (na foto, com seu compadre Vinícius) no disco Sinal Fechado (1974).
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Quer ouvir? Clique AQUI.

A plenitude do ser na plena juventude do renascer(*)

“- Pai, tô grávida!”
Naquele dia eu havia dormido pai e acordado avô! A revelação dita em tom meio alegre e meio nervoso pela garotinha que vi nascer há 21 anos, me fez despertar para um novo mundo. Para quem andava meio acabrunhado com sinais de que a velhice vinha insistindo em bater à minha porta e dizer “oi” em plenos 44 anos, através de dores, e doenças, cansaços e estresses, agora surgia a certeza de que a vida me mostrava um novo caminho que há tanto eu perseguia: a plenitude do ser.
Há pelo menos 15 dias venho curtindo a idéia de ser avô aos 45! O neto anunciado virá ao mundo entre junho e julho do próximo ano, quando estarei completando esta idade, quem sabe até venha embrulhado em papel de presente, no próximo 13 de julho...
Já andei espalhando a notícia por aí, mas preciso andar com um lenço na mão para evitar me afogar na própria baba... Não podia continuar andando de boca em boca com tal notícia. De repente, em meio a tantas babas de “pappú” (vovô, em grego), me lembrei que também sou jornalista e que escrevo artigos num jornal e no meu blog. Então: boca no trombone para anunciar meu primeiro “engonós” (neto, em grego)! Mais um greguinho-amazônida no forno...
O anúncio desse neto me recorda o nascimento de minha primogênita – a mãe dele – que chamei de Helena (na foto abaixo, ao lado do avô-coruja) em homenagem à famosa princesa que uniu os reis da Grécia contra a mítica Tróia. Eu tinha, então, 23 anos e num dos – muitos – arroubos românticos regados à testosterona, acabei gerando uma princesinha que deu um novo alento àquela vida pós-adolescente de então. Foi depois de seu nascimento que comecei a perceber que o mundo não era feito só de aventuras. Mesmo assim, ou talvez por isso, acabei me aventurando para conhecer o mundo helênico que meu pai havia deixado atrás. Fui em busca das raízes gregas para juntá-las aos cipós amazônicos e consolidar um novo homem (não sei se consegui...).
Mas, infelizmente, minha relação com a primeira filha foi feita de altos e baixos, exatamente por levar uma vida atribulada entre jornalismo e política e nem sempre dar maior atenção à família. Quantas vezes eu esqueci(!) de buscar a linda menina loira na escolinha da professora Helena Bezerra, debruçado que estava editando matérias para um jornal que quase ninguém assistia, depois do “Jô onze e meia” no SBT? Para a minha sorte, a xará dela cuidava da menina até o desalmado pai comparecer de moto e levar a menina chorosa pra casa...
Mas deixemos de lado estas lembranças e concentremos-nos na plenitude do ser.
Um dos temas recorrentes em minhas vãs filosofias é a morte e antes dela a velhice. Envelhecer para mim nunca foi problema. O problema é que a velhice é o corredor que nos leva à morte e até hoje não me convenci de que quero chegar ao final desse corredor. Talvez por isso vivi perigosamente, como quem quisesse desafiar a morte, apesar de morrer (ops) de medo dela...
Envelhecer é ficar mais sábio. Hoje me sinto mais seguro de mim e não temo em expressar minhas opiniões abertamente. Não mais como um kamikaze dos tempos de rebeldia sem causa e de polêmicas sem nexo. Agora estou mais para um samurai. Só não sei se estou pronto para um dia cometer um haraquiri... Quem sabe quando finalmente me aprofundar nas filosofias orientais que há muito persigo, consiga encontrar essas respostas.
A busca pela eterna juventude sempre se prendeu à busca pela imortalidade. E mais uma vez a sabedoria dos meus antepassados gregos deixa uma lição, através do belo mito de Eos e Tithonus. Eos era a deusa da Aurora (a palavra latina aurora vem do grego auôs, que é uma outra forma de éôs). Ela era irmã de Hélios, o Sol, e de Selene, a Lua. Conta a lenda que Eos se apaixonou por um mortal célebre por sua beleza, Tithonus, irmão do rei de Tróia, Príamo. Para poder amá-lo por toda a eternidade suplicou a Zeus, deus dos deuses, que transformasse seu amado em um ser imortal como ela. Mas a apaixonada Eos se esqueceu de pedir para que ele também não envelhecesse. Tithonus, feito imortal, foi envelhecendo e ficando cada vez mais velho, tão velho que foi definhando, definhando e sem forças nem para se mexer de seu quarto até que Eos, apiedada da sorte que reservara ao seu amado transformou-o numa cigarra.
A lição que fica é que a morte faz parte da vida e não há como escapar dela. Numa das sempre superinteressantes reportagens de minha revista favorita, publicada há 5 anos, a jornalista Maria Fernanda Vomero afirmava que “é um paradoxo: a valorização da vida e a ilusão de eterna beleza e jovialidade trazidas pela vida moderna acabam gerando, por meio do apego a tudo isso, muito mais tristeza e sofrimento pelo fim inevitável da existência do que felicidade pelo mais de vida que proporcionam.”
A matéria tratava sobre a morte e como nós, principalmente os ocidentais, convivemos com o tema transformando-a em tabu desde a infância. Não ensinamos nossos filhos a conviverem com a morte, daí nosso medo da vida. "O medo da morte nos força a viver - a nos relacionarmos, a procriarmos, a criarmos, a construirmos coisas que nos transcendam", afirma na mesma reportagem a socioantropóloga Luce Des Aulniers, responsável pela disciplina de Estudos Sobre a Morte, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canadá.
Mais do que nunca começo a me convencer que a única forma de se eternizar é através de nossos feitos ou de nossa prole. O filho que gera o neto, que gera o bisneto e todas as gerações que virão. Eu por exemplo, posso ser, talvez, a concepção dos sonhos de meu bisavô grego que fugiu do lado turco no território disputado por gregos e otomanos para não perder – literalmente – a cabeça numa espada durante a guerra entre os dois povos no início do século XIX e se eternizar (nem ele sabia) em solo amazônico!
A plenitude do meu ser começou com Helena e se espalhou pelos outros filhos que gerei (Thiago e Georgios) e até a que criei (Carla). Todos meus pequeNinos destinos no futuro. Daí o título acima que me leva a pensar na plenitude do ser como conseqüência da plena juventude do eterno renascer.
Agora é pensar nas fraldas, nos carrinhos, nos carinhos, na mamadeira e nas brincadeiras com o primeiro neto. De muitos que certamente virão...
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Peripatos, que circula logo hoje no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.