sábado, 19 de julho de 2014

Sinjor/PA pode recorrer à Justiça contra empresas de rádio e televisão de Santarém

André Serrão (foto Roberta Vilanova)
 “Todas as decisões de convenção coletiva de trabalho entre os sindicatos de trabalhadores e patronal, tomadas em Belém, devem beneficiar todos os jornalistas do Pará, sem distinção”. A afirmação foi feita pelo advogado do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor/PA), André Serrão, durante o encontro realizado pela entidade na última quinta-feira (17/07), na sede da OAB/Santarém, para um público de cerca de 50 jornalistas locais. O encontro foi coordenado pela presidente do Sinjor/PA, Sheila Faro, juntamente com outros diretores, inclusive a presidente eleita em junho passado, Roberta Vilanova e seu vice, João Freitas, além de Eliete Ramos, responsável pela secretaria de formação sindical, que serão empossados em agosto.
Serrão garantiu que o Sinjor vai analisar todas as denúncias de desvio de funções e descumprimento das cláusulas da convenção coletiva do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado do Pará (Sertep), que forem encaminhadas ao sindicato. “Inicialmente vamos tentar um acordo via administrativa para tratar sobre o assunto e caso não obtenhamos resposta, recorremos à Justiça do Trabalho”, sentenciou. Atualmente apenas duas empresas de Santarém são filiadas ao Sertep, sendo que uma delas tem até representante na diretoria eleita ano passado. “O fato das demais empresas não estarem filiadas ao Sertep, não implica que não cumpram as normas da convenção coletiva”, enfatizou Serrão. Com relação às empresas de jornal impresso e internet, o Sinjor deverá discutir um acordo à parte.
Sheila Faro: "Vamos nos assumir
como jornalistas" (foto Roberta Vilanova)
O advogado disse ainda que as empresas locais vêm adotando há anos as normas previstas no acordo coletivo realizado pelo Sindicato dos Radialistas de Santarém, sem fazer distinção dos jornalistas que buscaram a capacitação, adquirindo diplomas em faculdades locais nos últimos quatro anos. Segundo dados apresentados por membros da Diretoria Regional provisória do Sinjor, há pelo menos 120 profissionais atuando com produção de informação nos vários veículos de comunicação de Santarém e dois terços destes já conseguiram seus diplomas.
Filiação – muitas perguntas foram feitas pelos jornalistas e repórteres cinematográficos presentes ao encontro, sobre a situação dos profissionais locais que recebem hoje o piso salarial da categoria dos radialistas em torno de R$ 780,00, além de horas trabalhadas a mais e acúmulo de funções não remuneradas. Os diretores do Sinjor reafirmaram a necessidade de todos se assumirem como jornalistas e participarem do processo de filiação ao sindicato, para fortalecer a luta dos jornalistas paraenses. Vários jornalistas diplomados presentes aproveitaram a ocasião e entregaram documentação para a filiação no Sinjor.
Filhos de jornalistas, recém-nascidos,
também participaram
do encontro (foto Ronilma Santos)
Alguns cinegrafistas também se filiaram no ato, já que para eles não há a exigência do diploma. “Vou me encarregar pessoalmente junto à SRT (Superintendência Regional do Trabalho) na capital, em regularizar a situação dos repórteres cinematográficos de Santarém para que possam ser reconhecidos não mais como operadores de unidades portáteis e sim como repórteres cinematográficos, pois é o que são”, disse João Freitas, que também exerce essa função sendo bastante aplaudido pelos presentes.
O jornalista Miguel Oliveira, proprietário do jornal online EstadoNet questionou o porquê do Sinjor não aceitar a filiação de jornalistas sem-diploma, uma vez que existe a determinação do STF – Supremo Tribunal Federal, da não-exigência do diploma para a contratação de jornalistas pelas empresas. Sheila Faro informou que essa é uma posição política da Fenaj – Federação Nacional de Jornalistas, definida em congresso recente, como forma de fortalecer a luta pela volta da obrigatoriedade do diploma, através de projeto que tramita no Congresso Nacional.
Diretoria do Sinjor tira dúvidas
dos jornalistas de Santarém (Foto Joab Ferreira)
 “O Sinjor/PA juntamente com outros dois sindicatos posicionou-se contrário à essa tese, mas fomos voto vencido nesse encontro e diante disso respeitamos a democracia e acatamos a proposta”, disse Sheila Faro. Ela reconheceu que os jornalistas que já conseguiram se formar nas duas faculdades particulares de Santarém fizeram um esforço enorme em conseguir essa qualificação, diante das dificuldades financeiras locais. Diante disso, informou que o Sinjor iniciará um diálogo com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), para propor a implantação do Curso de Jornalismo em Santarém, como forma de contemplar os profissionais que querem obter o diploma. A medida foi aprovada por unanimidade pelos presentes.
Referendo – Além disso, os jornalistas presentes referendaram também, por unanimidade de votos, os quatro pontos para a pauta de reivindicações da data-base/2014 do Sertep: piso salarial, aumento real de salário, auxílio alimentação e adicional de risco de vida. A assembleia também deliberou que seja feito um planejamento a médio prazo para sindicalização dos jornalistas de Santarém, visando realizar o processo eleitoral para a escolha da Diretoria Regional, que deve acontecer no próximo ano.
A comissão que organizou o evento (foto Samara Taré)
Segundo dados da secretaria, atualmente há pelo menos 15 jornalistas já associados, mas alguns encontram-se inadimplentes. Para a eleição da Diretoria Regional é preciso que todos estejam em dia com suas obrigações, para exercer o direito de votar e ser votado. “Nossa intenção é estar mais presente em Santarém, para acompanhar de perto esse processo e ajudar os profissionais da comunicação a completarem essa transição, assumindo-se efetivamente como jornalistas e com diploma, para melhorar ainda mais o potencial jornalístico das empresas locais”, disse Roberta Vilanova. “Mas é preciso que as empresas reconheçam este esforço dos jornalistas e cumpram com os acordos trabalhistas”, completou Sheila Faro.

Com informações da Ascom/Sinjor.


Jornalistas posam para foto ao final do encontro (Foto Samara Taré)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

As copas em minha vida – 40 anos na frente da TV

Completei no último domingo, 13/07/2014, além dos 51 anos de idade, praticamente 30 dias assistindo os jogos na Copa do Mundo de Futebol que se realizou no Brasil. Não era a final que eu queria ver no dia do meu aniversário. O Brasil decepcionou como nunca e levou duas goleadas acachapantes e ficou em quarto lugar. Completei também, 40 anos assistindo a Copa pela TV.

Eu e Nicole na torcida pelo Hexa!
Restou-me torcer pela Argentina, mais por solidariedade latino-americana (se bem que isso não passou na cabeça da maioria dos torcedores brasileiros, em virtude da eterna rivalidade com os hermanos) do que por um futebol vistoso. A Alemanha mereceu a conquista por sintetizar o que de melhor se viu de outras seleções – inclusive o Brasil – desde o surgimento da Copa do Mundo em 1930.

Assisti a quase todos os jogos desde a abertura (aquela coisa horrível, com “padrão Fifa”) em 12/06, aproveitando as férias que tirei para cuidar da caçulinha Nicole que acabara de nascer. Até tentei dar um apoio logístico ao bebê, mas confesso: assistir os jogos da Copa pela TV é um costume que completa 40 anos e do qual não consigo me desvencilhar e a mãe acabou ficando mais tempo com a pequerrucha. Num certo dia, torci com tanta ênfase que assustei Nicole e peguei até um ralho da mãe dela, Ana Charlene...

A Copa e a política

Logicamente que uma Copa em ano de eleição acontecendo em nosso país, só podia ser usada como escudo de ambições de grupos de extrema direita e de extrema esquerda que usaram a mídia para desgastar o evento, apesar da mesma mídia precisar deste evento para seus objetivos comerciais. A ideia era mostrar que a Copa seria uma porcaria e que a culpa era da atual presidente que tenta sua reeleição. 

Mas como a direita é péssima em ir pras ruas protestar, a esquerda mais utópica se encarregou de fazer esse papel levantando bandeiras vermelhas e atacando a antiga esquerda (que hoje está no centro e já quase caindo pra direita) que comanda o País. Até a bola rolar. Os black-blocks não resistiram à mania nacional que é o futebol. E nada do que se previu na organizações dos jogos aconteceu. A imprensa internacional reverenciou a Copa das Copas!

Já vivi os dogmas da esquerda no passado com maior ênfase, ao ponto de declarar como um mantra que “o futebol é ópio do povo”, parafraseando Marx. Lembro que quando disse isso para um atônito Jota Parente (jornalista que foi meu chefe na Rádio Rural, quando comecei minha carreira), recebi uma reprimenda por ter uma postura que ele considerava tão radical. Mas apesar de ter esse pensamento, em época de Copa, nunca deixei de acompanhar freneticamente os jogos, e quase sempre torcendo para o Brasil. Não mudei minha concepção, apenas me entorpeço dela...

Teve copa - e das boas - apesar dos BB...
Creio que não perdi a essência de me rebelar, de me indignar, de criticar aqueles que saíram dos trilhos. Tento manter acesa a chama do socialismo que acredito, mesmo que ele não seja pra mim aquele mais utópico. Hoje tenho críticas ao governo do PT, mesmo estando filiado a um partido que é seu principal aliado (PC do B). O PT no Pará, então, esse já não existe, principalmente depois da patuscada de apoiar os Barbalho e Lira Maia para o Governo do Estado (e o PC do B junto).

Sei que a CBF é corrupta e a Fifa também. Mas todos queriam que o evento Copa viesse pra cá. O problema é que os tucanos não conseguiram a proeza, e não aceitam o fato de não estar no poder. Com certeza se estivessem, grande parte da mídia estaria favorável à Copa. Quanto aos “radicais” de esquerda e seus black-blocks... ali não há cheiro de povo, apenas uma maioria de jovens rebeldes que aproveitaram para levantar as mesmas bandeiras dos tempos da ditadura... É desse proselitismo político que eu quero sair.

Três gerações torcendo pela Grécia na Copa 2014
Este ano torci pelo hexa do Brasil e por uma boa performance da Grécia, minha segunda Pátria (a primeira foi fraca no início e acabou goleada de forma vexatória, já a segunda começou goleada e se despediu de forma mais honrosa nas oitavas de final...). Assisti aos jogos da Grécia, alguns deles acompanhado de meu velho pai Georgios Ninos e de meu filho Georgios Ninos Neto, os solitários torcedores helênicos de Santarém (foto ao lado)...

Enquanto assistia a noticiários na TV sobre manifestações e via as postagens de muitos amigos da esquerda detonando a Copa, preferi fazer outra leitura deste momento. Daí, a necessidade de escrever minhas reminiscências sobre as Copas que vivi para poder justificar porque torci pela Copa e não contra ela.

Seleção colorida em 1974

Pela primeira vez uma final de Copa caiu no dia do meu aniversário. Quando nasci há 51 anos, já era bicampeão e nem sabia. Em 1966, tinha apenas três anos, mas nem me dei conta que a seleção se deu mal na Inglaterra. Assim, a mais antiga lembrança que tenho de uma Copa do Mundo é vaga, e resume-se a fogos de artifício pela conquista do tricampeonato, além daquela música “chiclete” (“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil...”). Eu tinha sete anos e lembro da comemoração em casa. Mas é só. Não lembro das imagens de TV ou de gols. Acho que a Copa era algo sem qualquer importância naquele meu mundinho.

O Manoel Pinto visto da
Praça da República em Belém
A paixão pela Copa surgiu quatro anos depois e foi justamente por causa do fascínio pela TV, que para mim era algo bem próximo. Explico: eu morava com a família no 24º andar do edifício Manuel Pinto da Silva (foto ao lado) – que à época era considerado o maior espigão da Amazônia – e o andar de cima era ocupado pela TV Guajará que era a afiliada da Rede Globo em Belém (anos depois, a recém-criada TV Liberal assumiria a Globo, na capital paraense).

Eu brincava nos corredores do 25º andar e acabava sendo convidado a conhecer as coxias dos estúdios onde se produziam os programas locais, principalmente o jornal da noite que era a edição local do Jornal Nacional. Mas não assistia nada ao vivo. Ficava fascinado quando assistia ao jornal da noite, e em seguida saía com a família para uma volta na Praça da República e dava de cara, no elevador, com aquele homem de paletó que eu acabara de assistir na TV. Talvez ali começasse a nascer em mim uma vontade de um dia ser jornalista.

Mas voltando à Copa de 1974, naquele ano seria a primeira vez que a Globo exibiria os jogos em cores. TV colorida ainda era uma novidade e pouca gente em Belém tinha uma, mesmo uma família de classe média alta como a minha. Pra nossa surpresa, a direção da TV Guajará resolveu convidar todos os vizinhos do 24º andar para assistirem ao jogo de abertura da Copa da Alemanha que seria entre o então tricampeão Brasil e a Iugoslávia (hoje dividida em Croácia, Sérvia e Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Macedônia e Eslovênia). 

Fiquei estupefato. Pirei. Naquele dia decidi que não deixaria de assistir as próximas Copas. Colecionei até álbuns de figurinha! Sabia escalações de seleções, fazia análises de resultados, somava pontos e gols para ver quais se classificariam! Mas era algo meticuloso e científico. Curiosidade de um futuro jornalista e não apenas deslumbre de um pequeno torcedor. Mas como era ruim de bola, me tornei um craque no jogo de botão, onde montava times invencíveis com os craques da Copa!!! fiquei tão bom, que passei a fazer times com tampinhas de Whisky que juntava na rua ou umas medidas de leite em pó Mococa, que era a minha seleção imbatível!
O envolvente "Carrossel Holandês" de 1974.

Da Copa de 74 não esqueço de duas coisas: o belo gol do Rivelino na antiga Alemanha Oriental, numa falta batida pra cima da barreira, onde o Jairzinho estava infiltrado e se jogou no chão abrindo uma brecha. A jogada foi diversas vezes imitada e até hoje cria aquele empurra-empurra nas barreiras. A outra coisa foi a bela seleção holandesa, o chamado “Carrossel Holandês” que atropelou o Brasil com seu jogo coletivo de ir e vir para o ataque e para a defesa, na quartas de final. Mas a “Laranja Mecânica” como também ficou conhecida aquela seleção acabou perdendo na final, para a então ensossa e sempre eficiente Alemanha, dona da casa. Eu era fã Cruijf (o Robben é brilhante no atual time que também goleou o Brasil e ficou com o terceiro lugar, mas não se compara com o mestre holandês de 1974)!

A copa em videotape

Quatro anos depois eu e minha família nos transferíamos para uma tal de Santarém (eu nem sabia o que era essa cidade. Hoje não sei se poderei um dia viver longe dela....). Ao chegar aqui descobri que ainda não havia um canal de TV! Tragédia! Como eu assistiria a Copa que aconteceria na Argentina? Mas a TV Tapajós já estava vivendo sua fase experimental. Só que ainda não podia exibir imagens via satélite. Assim, a gente acompanhava os resultados pelo rádio e no dia seguinte assistíamos o jogo em vídeo-tape!
A TV Tapajós inaugurada em 1979,
mostrando a Copa da Argentina em videotape

Meu pai montou sua famosa lanchonete Nino-Lanche no centro comercial. Atraiu boa freguesia e conheceu um empresário que tinha um cinema, o velho Cine Acácia, na avenida São Sebastião com Moraes Sarmento. Convidou-o para tomar conta da lanchonete que montou ao lado, o Acação. E lá fui eu trabalhar às tardes e ouvir o jogo pelo rádio em volume alto no bar do seu Caixeirinho, pai do advogado Wilton Dolzanis. A música chiclete era “corrente 78, o ano da nossa seleção...”

Foi quando comecei a acreditar que uma Copa podia ser arranjada: o Brasil era a melhor equipe e terminou invicta em 3º lugar, mas a Argentina precisava ganhar por conta de interesses da ditadura local. E o Peru levou uma surra dos Hermanos, deixando o Brasil fora da final que aconteceria com o pessoal do “Carrossel Holandês” de novo! E prevaleceu o joguinho catimbado da Argentina, que acabou erguendo a taça em plena ditadura Argentina.

O futebol da filó-filosofia

A maior geração de craques que o Brasil possuiu foi a do início dos anos 1980. O País vivia o final de uma ditadura e ia pras ruas em busca de um Brasil melhor. Eu começava a militar nos movimentos sociais e apesar de criticarmos o aparato da Copa, no fundo torcíamos por um sucesso da seleção. Lula era nossa referência e o PT surgia como esperança. Assim como Telê Santana, o técnico que comandaria as seleções de 1982 e 1986. Ele tinha jogadores maravilhosos como Zico, Sócrates, Falcão, Éder, Júnior, Casagrande, Alemão, careca e tantos outros craques que encantavam qualquer um.

Telê era um turrão, como a maioria dos técnicos brasileiros, mas empolgou apesar de eliminado nas duas copas por falhas bobas nas oitavas de final. Em 1982, na Espanha, quando só precisava de um empate com a Itália deixaram um tal de Paolo Rossi solto e ele acabou fazendo três gols. O Brasil fez só dois voltou pra casa. Em 1986, no México,, o algoz foi a França de Platini, que nos venceu nos pênaltis, mas acabou indo decidir o terceiro lugar e perdeu.

Dessa última copa cheguei a me empolgar com a Dinamáquina, como ficou inicialmente conhecida a seleção da Dinamarca do craque Michael Laudrup, que empolgou na primeira fase com um jogo vibrante e muitos gols, principalmente o 6 x 1 no Uruguai, mas acabou eliminada pela Espanha por 5 x 1 nas oitavas da final. Foi a Copa de Maradona e “La mano de Diós...

A música que mexeu com minha geração na década de 1980 foi a da Copa de 1982, até hoje um primor de letra num belíssimo frevo, feita pelo baiano Moraes Moreira. “Tá lá, tá lá, tá no filó, tá na filosofia, o craque brasileiro tem sabedoria! Tá lá!”. Me lembro que bebi todas (acreditam?) no 4 x 1 do Brasil contra a Escócia e quase furava o vinil em compacto que não parava de rodar na vitrolinha de casa! (clique no link acima para escutar a música). Havia ainda as do "Mexe, mexe, coração", de um personagem criado pela Globo, o tal de Araken... mas apesar de engraçadinhas, não barravam o frevo de Moreira.

O fiasco de Lazaroni assistido na Grécia

Em 1988 tive que sair de Santarém, pois havia mexido com gente grande e não demoraria virar presunto. Um autoexílio de três anos na terra de meu pai, a Grécia. De lá, acompanhei o fiasco da seleção de Lazaroni em 1990, que perdeu nas oitavas de final para a Argentina, de Maradona, que perderia na final da Alemanha, como agora no Brasil.

O interessante desta copa foi o inusitado convite que recebi do radialista Olympio Guarany, que montava uma equipe de 10 radialistas para cobrir a copa pela Rádio Rural. Eu seria o 11º da equipe com a incumbência de cobrir o que aconteceria fora dos estádios. Foi quando comecei a estudar todos os mundiais, comprando enciclopédias e almanaques, para não fazer feio. Mas a utopia de Olympio se acabou no Plano Collor, que confiscou a poupança dos brasileiros no início de seu desastroso governo que cairia dois anos depois...

A música que recordo era a tal de “Papa essa Brasil...” uma alusão à Copa na Itália, próximo ao Papa... sem graça.

O tetra na terra do Tio Sam e o fiasco na França

Já de volta ao Brasil, acompanhei outra Copa, a dos EUA com um time que tinha muitos craques e muita arrogância. Com Romário – apesar de gênio – à frente. Empolgou com um jogo meio fechado do calado Parreira. Foi ano do nascimento de meu filho Georgios. Ele de fraldas no meu colo, não entendia toda aquela gritaria e chorava (assim como Nicole chorou agora). Bebeto fez o gol embala nenê, assim como eu embalava meu molequinho...

Bebeto e o Embala Nenê...
A vitória conquistada 24 anos depois do Tri de Pelé fez com que o Brasil perdesse a humildade. Acho que depois daquela Copa começamos a viver de improvisos em busca de uma hegemonia no futebol que já havíamos perdido. Uma Copa conquistada em pênaltis depois de um ensosso 0 x 0 com a Itália de Baggio, que aliás nos deu a taça ao errar seu chute. O Brasil vivia a euforia do Real e os tucanos se aboletavam no poder com FHC. E a música da Copa passou a ser hino exclusivo da Globo, que só vem mudando a letra desde lá de tetra pra penta e de penta pra hexa...

Chegamos à França em 1998 acreditando que nos bastava um Ronaldinho para acabar com tudo. Fomos até bem e chegamos à final com os donos da casa, até à estranha convulsão do craque no dia da final e a surra dos franceses comandados por Zinedine Zidane. Teorias de Conspiração começaram a ser tecidas, mas nunca confirmadas: o Brasil entregou o jogo? Apesar da derrota, FHC bateu em Lula de novo na reeleição que ele garantiu com o Congresso Nacional.

O penta da redenção e o hexa que não chega

Madrugar para assistir jogos do outro lado do mundo. Uma rotina diária em 2002, numa Copa na Ásia (Japão e Coreia do Sul). Mas valeu as horas sem sono. O time encantou. Felipão convenceu como paizão. E a final com a Alemanha foi uma coisa do outro mundo. Éramos soberanos, mas a lição que deixamos aos alemães eles aprenderam e doze anos depois vieram nos devolver a derrota (com juros e correção monetária de 7 por 1...) aqui na nossa casa.

FHC recebeu os “heróis” na rampa do Planalto com direito a cambalhota sem jeito de um Vampeta embriagado. Se o Brasil tava com tudo, o real já não bastava e os tucanos acreditaram que com Serra dariam outra surra no PT. Lula levou a melhor...

O ridículo corte de Ronaldinho no penta
Do penta para o hexa parecia um pulo. Em 2006, na Alemanha, paramos novamente na França de Zidane nas oitavas de final. Em 2010, a escalação de Dunga para técnico na África do Sul já era o prenúncio de catástrofe, que acabou no jogo contra a Holanda com direito a frango de Júlio César e expulsão ridícula de Felipe Melo. No Brasil, apesar disso e do início da trama chamada Mensalão na qual o PT se envolveu e a mídia insuflou, Lula se reelegeu.

E Lula foi buscar o direito de sediar uma Copa no Brasil 64 anos depois do “Maracanaço”. A euforia foi geral. Parecia que o hexa era detalhe. Lula elegeu Dilma, que seria a “gerentona” desse projeto. O que se viu de lá para cá foi muita trapalhada, mas talvez com muito exagero da imprensa que não aguenta mais o poderio lulo-petista. Acabar com a Copa parece ter sido a última bala na agulha para evitar o quarto mandato do PT à frente do governo. Muitos tucanos torceram pela derrota da seleção, para derrotar Dilma. Mas será que isso acontecerá? Hoje já é possível antever que pelo menos deve haver um segundo turno, mas o resultado da Copa não será definitivo, como não foi em outros anos, para o desfecho final.

O futuro do futebol brasileiro

O futebol virou um grande negócio e a multinacional que lida com isso é a Fifa. A próxima Copa será na Rússia, mas se a política interna do futebol continuar como hoje (o que é razoavelmente possível), só se pode esperar um novo fiasco e a consagração do projeto alemão de se tornar penta e quem sabe chegar ao hexa antes de nós. Será que os atletas do Bom Senso Futebol Clube conseguirão passar suas propostas? Eles já denunciam que a máfia na CBF continua.

Daqui a quatro anos estarei novamente à frente de uma TV, palpitando, torcendo, mas sem aquela coisa ufanista de cantar o hino em época de Copa. Precisamos “desimbecilizar” o sentimento patriótico de quatro em quatro anos. Acho que o Brasil já pendurou, este ano, a tal de “Pátria de Chuteiras”. Precisamos voltar ao futebol descalço das várzeas e periferias, com um governo que avance ainda mais nas questões sociais.


E que o terrível 7 x 1 seja um novo começo do futebol brasileiro...


P.S. Esse texto começou a ser escrito antes da Copa iniciar, mas os afazeres com Nicole foram adiando o fechamento do texto. Acabei parando e resolvi lançar como texto de aniversário, como faço todos os anos. Mas um problema com meu computador me impediu de postá-lo no sábado, depois de mais um fiasco do Brasil. Acabei tendo que atualizá-lo, para postá-lo hoje.