terça-feira, 30 de maio de 2006

Anjo da Guarda

Continua repercutindo o texto que escrevi na semana passada no encarte regional do jornal Diário do Pará, ao criticar a chamada "guerra verde" que se instalou por aqui.
No comentário anterior, postei links para alguns dos comentários (a favor e contra) que foram feitos por leitores do Blog do Jeso, inclusive com um link para a réplica do padre Edilberto Sena, diretor da Rádio Rural e um dos principais líderes do movimento anti-sojeiros.
Um leitor anônimo (que assina com um pseudônimo original) do Blog do Jeso e que tem feito comentários sensatos em várias notas lá postadas, resolveu encarnar o papel de meu anjo da guarda, e assim se referiu à réplica do padre Edilberto Sena, que me acusou de ter "envelhecido" mentalmente:

Antes envelhecer coerente e racional do que se manter "jovem" numa ilusão de vida terrena (e além) baseada em princípios e pressupostos vazios e inexeqüiveis.
Achei a análise do Jota Ninos coerente, lógica, objetiva, sintética e corajosa. Diferentemente das opiniões apaixonadas e tendenciosas que usam subterfúgios, argumentos e sofismas para direcionar o pensamento das ovelhas acéfalas.
Nuranda
Noutro momento, o mesmo Nuranda deu sua opinião sobre a crítica feita pelo sociólogo Tibério Aloggio, outro participante assíduo do Blog do Jeso que não gostou da minha reflexão e afirmou que minha tese indicava a existência de uma "burrice genética" e que isso "é papo furado de intelectual acostumado a discutir em barzinhos os problemas da humanidade". Assim reagiu, meu "anjo da guarda", em dois textos:
Burrice genética?
Acho que não lemos o mesmo texto.
Curioso é ver alguém que deveria ser o especialista em análise sócio-política comete tantos deslizes, inconsistências e contradições. Contrariar a idéia alheia é uma coisa, tentar desqualificar o orador é outra.
O segundo parágrafo ratifica o que foi escrito pelo Jota. A casa da mãe Joana é isso mesmo. Os donos da casa permitem que quem vem de fora faça o que bem entender enquanto estes só observam e passam a mão de vez em quando enquanto os cafetões lucram.
Onde estavam a igreja e os grupos intitulados ambientais antes da chegada da soja, que não se mobilizaram para dar alternativas de produção para os 20 mil excluídos?
Essas pessoas só passaram a existir depois de migrarem?
Enquanto o paradigma for de dar emprego ao pequeno produtor, o êxodo continuará. Não existe possibilidade de manter o homem no campo sem infra estrutura pública e sem um modelo produtivista que lhes dê renda e lucro.
Ou jogamos conforme as regras do jogo ou continuaremos miseráveis e cheios de ideologia barata que não enche barriga mas enche cadeias.
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Gostaria que o Sr. Tibério Allogio citasse a fonte desses números.Êxodos das áreas rurais para periferias de centros urbanos é um fenomeno que vem ocorrendo no Brasil ha mais de meio século (com grande intensidade).
Qual o período "desses anos" que o Sr. Citou?
Qual a taxa de crescimento populacional esperado para o mesmo período na área urbana?
A "maioria" desses 20 mil expulsos pelo agronegócio significa quanto? 10%, 30%, 70%?
Os dados foram filtrados para verificar se o êxodo ocorreu por culpa do agronegócio ou vem ocorrendo desde o início da década de 90 com o declínio da economia local e queda geral do poder aquisitivo?
Outra pergunta: agronegócio de mini-fúndio é pecado também ou só é demonizado o latifúndio?
Já pararam pra pensar que se o peqeno produtor adotar uma postura empresarial (cooperado de preferência) ele pode ter a sua propriedade sustentável e rentável e não se render à venda das terras para o latifundiário?
Qual a proposta dos anti-monocultura para isso? Está sendo implementada?
Que tal aproveitar a riqueza que a Santa Sé tirou da região e reinvestir em capacitação dos trabalhadores rurais ao invés de insuflá-los contra as bestas-feras internacionais sem resultado plausível algum?
Números soltos não dizem nada. O Sr. como sociólogo sabe muito bem (ou deveria).
Uma análise de uma conjuntura sócio econômia só pode ser feita com uso de estatísticas oriunda de dados muito bem coletados e parametrizados, caso contrário o sr. não faz ciência e seu título acadêmico torna-se desnecessário.
Até agora não vi números que comprovem nem que a economia de Santarém melhorou com a chegada da soja e muito menos números concretos sobre os impactos gerados pela atual produção.
Estamos num embate cego e ideológico de perde-perde pois a energia dedicada a uma questão que absolutamente resultará em NADA, poderia ser gasta para a construção de um modelo alternativo, não com a proibição do atual, mas com a conquista através de resultados mensuráveis.
Nuranda
Meu Comentário: Para quem não é de Santarém, o pseudônimo Nuranda é uma referência a um mitológico índio de grandes proporções, guerreiro que teria habitado esta região antes dos portugueses aqui desembarcarem. Seu nome inteiro era Nurandaluguaburabara. Meu anjo da guarda demonstra ter conhcimentos culturais da cidade, mesclados à informações sobre agricultura regional. Obrigado, grande guerreiro!

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Ninos,

Não sou anjo da guarda de ninguém. Não quis somente defende-lo, mas sim, vossos argumentos.

Este debate todo tem que fugir do SIM x NÂO, do PODE x NÃO PODE e principalmente por essa polarização ser realizada por agentes externos. Critico e criticarei quantas vezes forem necessárias as intervenções sem embasamento técnico/científico que tentam explicar os fenomenos sócio economicos por vias meramente ideológicas. Religiosas então, não terão vez.

Tanto o mundo como Santarém precisam de razão! sem a luz dos argumentos e dos fatos (não é propagando pra Gazeta) boiaremos em fofocas, mitos, lendas e crendices como esta do Nurandaluguaburabara. É bonita, mas não resistiu à pólvora ibérica.