Um grupo com cerca de 30 jornalistas fez um manifesto pacífico intitulado“Comunic#ação pela Valorização” no
final da tarde desta sexta-feira (20/06) pelas ruas do centro de Santarém,
utilizando como mote a semana de aniversário da cidade (que se comemora no
domingo, 22/06) e a torcida pela seleção brasileira na Copa 2014. Os jornalistas
saíram pelas ruas do comércio com apetrechos de torcedores da seleção fazendo um
“apitaço” e distribuindo um panfleto para as pessoas que passavam. Ao final da
passeata, os jornalistas e radialistas fizeram discursos na Praça do Pescador,
onde já acontecia um manifesto de estudantes que acabaram se integrando ao
movimento.
Cartaz-convite de mobilização espalhado pelas redes sociais |
“Nós fazemos,
diariamente, cobertura sobre movimentos grevistas de todas as categorias, agora
é nossa vez”, dizia o jornalista Jefferson Santos, um dos animadores da
passeata que saiu do Mirante do Tapajós, passou pelas ruas do comércio e se
concentrou na Praça do Pescador. Jefferson ressaltou ainda que o grupo de
manifestantes representava cerca de 30% dos jornalistas em atividade. “Muitos colegas
não estão aqui com medo de represálias em suas empresas, mas estão apoiando a
manifestação”, disse ele.
Jornalistas em manifesto pelas ruas de Santarém |
O movimento dos
jornalistas é histórico e foi organizado pelas redes sociais dentro de uma
semana pela jornalista Ronilma Santos, após o anúncio do último acordo coletivo
do Sindicato dos Radialistas de Santarém que definiu um percentual de reajuste
nos salários da categoria abaixo de 6%. O movimento foi espontâneo e nem o Sindicato
dos Jornalistas do Pará (Sinjor) foi comunicado.
Ormano Sousa e Jota Ninos discursando na Praça do Pescador |
Piso defasado - Durante o protesto, o
presidente do sindicato, Augusto Sousa – que é chefe de fiscalização do
trânsito da Prefeitura de Santarém e deu apoio logístico à manifestação dos
jornalistas além de participar da passeata – elogiou a iniciativa dos
jornalistas e disse que a proposta inicial apresentada aos empresários era de
12%, na tentativa de amenizar as perdas salariais no já defasado piso salarial
da categoria (um dos menores do país, um pouco acima do salário mínimo), mas a
classe patronal bateu pé e só concedeu menos da metade do esperado. “Cheguei a
sugerir em assembleia, ainda no processo de discussão do acordo coletivo, que fizéssemos
uma paralisação de advertência em todas as emissoras de Rádio e TV, mas no dia
marcado para o protesto os associados foram ao trabalho”, afirmou Augusto.
Ronilma, que
recentemente foi demitida da empresa de TV onde trabalhava por reclamar das
condições de trabalho, é membro da Diretoria Regional provisória do Sinjor em
Santarém, e resolveu encabeçar o movimento pelas redes sociais, pois as reuniões
no sindicato (tanto dos radialistas quanto dos jornalistas) eram maçantes e
infrutíferas. “A caminhada teve a finalidade não só de integrar os profissionais
de comunicação, como também mostrar , à população, de cara limpa e sem o
glamour que cerca a profissão, a dura realidade de quem faz a comunicação nesta
cidade que completa 353 anos”, disse Ronilma. Desde o ano passado, segundo ela, vem sendo
feito um trabalho para a filiação no Sinjor dos jornalistas já diplomados, para
se iniciar a discussão de um piso salarial diferenciado para a categoria. “O
próximo passo é convocar uma assembleia até o final do ano e eleger uma diretoria
regional definitiva, para atuar no oeste do Pará, com apoio do Sinjor”,
finalizou a sindicalista.
Profissionalização de jornalistas ainda divide comunicadores de Santarém
“Há 161 anos,
surgiu o primeiro jornal impresso. Há 66 anos, a primeira emissora de rádio. Há
35 anos, o primeiro canal de TV e há 10 anos, os primeiros sites e blogs na
internet. Os profissionais que têm surgido nesses meios, em grande parte, têm
sido desvalorizados com salários aviltantes”. A frase consta do manifesto dos
jornalistas de Santarém, que saíram às ruas na tarde desta sexta-feira (20/06),
para protestar contra o índice de aumento definido entre empresários e o
Sindicato dos Radialistas de Santarém, que ainda representa a maioria dos
profissionais da comunicação.
Jornalistas concentrados no Mirante do Tapajós, antes da passeata |
Desde 2010,
com a formação da primeira turma de Jornalismo em faculdade local, os
profissionais começaram a questionar essa relação com o Sindicato. Alguns
buscaram se filiar ao Sindicato dos Jornalistas do Pará, mas ainda hoje vive-se
a transição entre um carreira e outra. Hoje já há cerca de 100 jornalistas
diplomados ou em via de se diplomar, sendo que grande parte trabalha em
emissoras de Rádio e TV, e se sente aviltado pelo baixo piso da categoria.
Alguns jornalistas acabaram desistindo e buscando outras profissões ou
trabalham em assessoria de imprensa, onde os salários são maiores.
Essa situação
divide os profissionais de Santarém. Alguns radialistas da chamada “velha
guarda” que preferiram não entrar na Academia em busca de diploma ou locutores
e blogueiros que questionam a necessidade de um diploma para trabalhar na área,
chegam a criticar jovens jornalistas diplomados acusando-os de “soberba”. Estes
por sua vez, rebatem dizendo que investiram na capacitação pagando mensalidades
caras nas duas únicas faculdades privadas que oferecem o curso de Jornalismo e,
portanto, merecem ter um melhor reconhecimento das empresas.
Luta sindical – Apesar dos debates,
todos reconhecem que é preciso um mínimo de organização para melhorar as
condições financeiras de todos. O Sindicato dos Radialistas surgiu há 25 anos,
no momento em que o número de emissoras de Rádio e TV se multiplicou em
Santarém. Até 1979, havia apenas duas emissoras AM em Santarém: a Rádio Clube
de Santarém (atual Rádio Ponta negra) e a Rádio Rural de Santarém, ligada à
Igreja católica. Com o surgimento, naquele ano, da TV Tapajós (afiliada da Rede
Globo), deu-se o início da fundação de diversas emissoras de Rádio e TV chegando
ao final da década ao incrível número de 5 emissoras de rádio (três AM e duas
FM) e 6 canais de televisão (uma geradora e cinco retransmissoras de TV).
As emissoras
não tinham uma política definida de salários. A grande maioria pagava apenas o
salário mínimo e algumas chegavam a pagar menos que isso, além de manterem um
clima de terror contra os profissionais. O Sindicato dos Radialistas surgiu da
insatisfação dos profissionais, mas logo de início muitos acabaram sendo vítimas
da represália das empresas, por organizarem o sindicato. Houve demissões e
alguns radialistas conseguiram inclusive a reintegração às empresas, por serem
membros das diretorias eleitas.
Com o tempo,
foi conquistado um piso salarial, com o chamado salário normativo da categoria
que sempre foi maior que o salário mínimo. Mas a maioria das empresas se nega a
pagar mais que o mínimo, e acaba forçando os profissionais a cumprirem jornadas
mais extensas, a título de “acúmulo de função”, para ganharem mais 40% de
remuneração.
"Apitaço" de jornalistas nas ruas de Santarém |
Atualmente,
mais uma emissora de Rádio e outra de TV, completam o número de seis emissoras
de Rádio e sete de TV. O número de profissionais envolvidos, entre funcionários da
administração, técnicos e locutores, além dos profissionais que atuam
diretamente com a informação, ultrapassa o número de 200 pessoas, segundo dados
não-oficiais obtidos por consulta entre os jornalistas que organizaram o
protesto.
A ruptura
entre radialistas e jornalistas, que já ocorre em nível nacional há décadas,
começa a se desenhar em Santarém, e ao que tudo indica, o manifesto encabeçado
pelos jornalistas pode ser o divisor de águas entre as duas categorias. “Apoio
a manifestação de vocês e no que depender de mim à frente do sindicato, não
criarei empecilhos para a organização dos jornalistas em outra entidade”,
declarou Augusto Sousa, presidente do Sindicato dos Radialistas de Santarém. “Vamos
lutar por um piso salarial condizente com nossos investimentos na
profissionalização, mas seria bom que todos, radialistas e jornalistas, se
unissem para acabar com a exploração das empresas de comunicação de Santarém”,
concluiu Ronilma Santos, organizadora do manifesto dos jornalistas.
O manifesto dos Jornalistas distribuído nas ruas da cidade:
MANIFESTO COMUNIC#AÇÃO 2014!
JORNALISTAS DE SANTARÉM
NA LUTA PELA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
Neste dia 22 de junho de 2014, Santarém completa 353
anos de fundação. Hoje, os jornalistas de Santarém aproveitam para também
entrar na história e pela primeira vez fazer um manifesto público e pacífico
pela valorização dos profissionais da comunicação, no clima da Copa de Futebol
que se realiza no Brasil em plena época de festas juninas.
Santarém é uma terra de comunicação e de
comunicadores, e tem exportado talentos para fora daqui. Há 161 anos, surgiu o
primeiro jornal impresso. Há 66 anos, a primeira emissora de rádio. Há 35 anos,
o primeiro canal de TV e há 10 anos, os primeiros sites e blogs na internet. Os
profissionais que têm surgido nesses meios, em grande parte, têm sido
desvalorizados com salários aviltantes.
Os radialistas se organizaram e criaram seu sindicato
há 25 anos, quando perceberam que unidos poderiam diminuir as injustiças. À
época, a maioria das empresas sequer pagava um salário mínimo para os
profissionais. Depois de alguns anos de luta, os radialistas conseguiram
definir um piso salarial, que sempre foi um pouco maior que o salário mínimo e
outras garantias sociais. Alguns sindicalistas foram perseguidos e demitidos
por tentarem organizar a categoria.
De lá para cá, o Sindicato dos Radialistas vem
tentando conseguir reajustes mais condizentes, pelo menos com os índices da
inflação, mas os empresários da comunicação insistem em não aceitar aumentos
que valorizem a profissão, mesmo com profissionais que investiram em sua
capacitação, na maioria das vezes com seus parcos recursos.
Desde 2010, várias turmas de jornalismo vêm sendo
formadas por instituições privadas de ensino superior. Muitos colegas ainda
continuam sem diploma por não conseguirem reunir o dinheiro necessário para sua
formação acadêmica. Outros foram mais além e conseguiram até fazer cursos de
pós-graduação, mas nem isso tem sensibilizado a classe patronal a dar um
salário digno aos profissionais que levam a informação através dos meios de
comunicação, com jornadas de trabalho que precisam ser muitas vezes estendidas,
para que o profissional faça jus a um percentual de 40% por acúmulo de função.
Hoje somos mais de 100 profissionais trabalhando nesta área!
O último reajuste acertado entre o Sindicato dos
Radialistas e a classe patronal não chegou a 6%, o que apenas se aproxima dos
índices inflacionários. Hoje, os profissionais de comunicação em Santarém
ganham menos que a maioria das categorias de trabalhadores de Santarém!
Esse manifesto surgiu pela indignação entre
jornalistas que trabalham nas redações, com apoio de colegas que hoje trabalham
em assessorias de imprensa (onde os salários são um pouco maiores), mas que
gostariam de estar trabalhando no dia a dia da notícia. Não foi feita nenhuma
reunião, apenas uma mobilização pelas redes sociais. Queremos neste ato falar
para Santarém, aquilo que provavelmente não será dito nos noticiários das
rádios e das TVs e de alguns jornais e sites: FAZER JORNALISMO EM SANTARÉM É
QUASE UM SACRIFÍCIO!
Muitos profissionais já tiveram que sair daqui para
buscar empregos em outros centros. Mas aqueles que ficaram querem, agora, se
organizar e fazer funcionar a Diretoria Regional do Sindicato dos Jornalistas
do Oeste do Pará, criada pelo Sinjor/PA há dois anos. Uma diretoria provisória
chegou a tentar organizar, mas com pouco apoio quase não avançou em seus
trabalhos. Um grupo de jovens jornalistas assumiu nos últimos meses um trabalho
para a filiação ao Sindicato, para que possamos lutar por um piso salarial
condizente com o esforço que tem sido feito pelos profissionais que buscaram um
diploma nas universidades. E aqueles que ainda não tem diploma, querem poder
também conquistar essa graduação.
Este documento será encaminhado à direção estadual do
Sinjor/PA, solicitando que a nova diretoria eleita dia 11 de junho, venha a
Santarém para dar maior apoio à consolidação da Diretoria Regional e que inclua
nas negociações salariais com empresas de Belém, um piso salarial para os jornalistas do interior do Pará. Abaixo,
vão assinaturas dos profissionais da comunicação que apóiam o movimento.
CONVOCAMOS OS JORNALISTAS, DIPLOMADOS OU NÃO, A
BUSCAREM SEU REGISTRO PROFISSIONAL E SE FILIAREM AO SINDICATO DOS JORNALISTAS
DO PARÁ.
PELA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL DOS JORNALISTAS!
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