sábado, 21 de junho de 2014

Jornalistas de Santarém fazem manifesto pela valorização profissional

Um grupo com cerca de 30 jornalistas fez um manifesto pacífico intitulado“Comunic#ação pela Valorização” no final da tarde desta sexta-feira (20/06) pelas ruas do centro de Santarém, utilizando como mote a semana de aniversário da cidade (que se comemora no domingo, 22/06) e a torcida pela seleção brasileira na Copa 2014. Os jornalistas saíram pelas ruas do comércio com apetrechos de torcedores da seleção fazendo um “apitaço” e distribuindo um panfleto para as pessoas que passavam. Ao final da passeata, os jornalistas e radialistas fizeram discursos na Praça do Pescador, onde já acontecia um manifesto de estudantes que acabaram se integrando ao movimento.
Cartaz-convite de mobilização espalhado pelas redes sociais
 “Nós fazemos, diariamente, cobertura sobre movimentos grevistas de todas as categorias, agora é nossa vez”, dizia o jornalista Jefferson Santos, um dos animadores da passeata que saiu do Mirante do Tapajós, passou pelas ruas do comércio e se concentrou na Praça do Pescador. Jefferson ressaltou ainda que o grupo de manifestantes representava cerca de 30% dos jornalistas em atividade. “Muitos colegas não estão aqui com medo de represálias em suas empresas, mas estão apoiando a manifestação”, disse ele.
Jornalistas em manifesto pelas ruas de Santarém
O movimento dos jornalistas é histórico e foi organizado pelas redes sociais dentro de uma semana pela jornalista Ronilma Santos, após o anúncio do último acordo coletivo do Sindicato dos Radialistas de Santarém que definiu um percentual de reajuste nos salários da categoria abaixo de 6%. O movimento foi espontâneo e nem o Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor) foi comunicado.
Ormano Sousa e Jota Ninos discursando na Praça do Pescador
Piso defasado - Durante o protesto, o presidente do sindicato, Augusto Sousa – que é chefe de fiscalização do trânsito da Prefeitura de Santarém e deu apoio logístico à manifestação dos jornalistas além de participar da passeata – elogiou a iniciativa dos jornalistas e disse que a proposta inicial apresentada aos empresários era de 12%, na tentativa de amenizar as perdas salariais no já defasado piso salarial da categoria (um dos menores do país, um pouco acima do salário mínimo), mas a classe patronal bateu pé e só concedeu menos da metade do esperado. “Cheguei a sugerir em assembleia, ainda no processo de discussão do acordo coletivo, que fizéssemos uma paralisação de advertência em todas as emissoras de Rádio e TV, mas no dia marcado para o protesto os associados foram ao trabalho”, afirmou Augusto.
Ronilma, que recentemente foi demitida da empresa de TV onde trabalhava por reclamar das condições de trabalho, é membro da Diretoria Regional provisória do Sinjor em Santarém, e resolveu encabeçar o movimento pelas redes sociais, pois as reuniões no sindicato (tanto dos radialistas quanto dos jornalistas) eram maçantes e infrutíferas. “A caminhada teve a finalidade não só de integrar os profissionais de comunicação, como também mostrar , à população, de cara limpa e sem o glamour que cerca a profissão, a dura realidade de quem faz a comunicação nesta cidade que completa 353 anos”, disse Ronilma.  Desde o ano passado, segundo ela, vem sendo feito um trabalho para a filiação no Sinjor dos jornalistas já diplomados, para se iniciar a discussão de um piso salarial diferenciado para a categoria. “O próximo passo é convocar uma assembleia até o final do ano e eleger uma diretoria regional definitiva, para atuar no oeste do Pará, com apoio do Sinjor”, finalizou a sindicalista.

Profissionalização de jornalistas ainda divide comunicadores de Santarém

“Há 161 anos, surgiu o primeiro jornal impresso. Há 66 anos, a primeira emissora de rádio. Há 35 anos, o primeiro canal de TV e há 10 anos, os primeiros sites e blogs na internet. Os profissionais que têm surgido nesses meios, em grande parte, têm sido desvalorizados com salários aviltantes”. A frase consta do manifesto dos jornalistas de Santarém, que saíram às ruas na tarde desta sexta-feira (20/06), para protestar contra o índice de aumento definido entre empresários e o Sindicato dos Radialistas de Santarém, que ainda representa a maioria dos profissionais da comunicação.
Jornalistas concentrados no Mirante do Tapajós, antes da passeata
Desde 2010, com a formação da primeira turma de Jornalismo em faculdade local, os profissionais começaram a questionar essa relação com o Sindicato. Alguns buscaram se filiar ao Sindicato dos Jornalistas do Pará, mas ainda hoje vive-se a transição entre um carreira e outra. Hoje já há cerca de 100 jornalistas diplomados ou em via de se diplomar, sendo que grande parte trabalha em emissoras de Rádio e TV, e se sente aviltado pelo baixo piso da categoria. Alguns jornalistas acabaram desistindo e buscando outras profissões ou trabalham em assessoria de imprensa, onde os salários são maiores.
Essa situação divide os profissionais de Santarém. Alguns radialistas da chamada “velha guarda” que preferiram não entrar na Academia em busca de diploma ou locutores e blogueiros que questionam a necessidade de um diploma para trabalhar na área, chegam a criticar jovens jornalistas diplomados acusando-os de “soberba”. Estes por sua vez, rebatem dizendo que investiram na capacitação pagando mensalidades caras nas duas únicas faculdades privadas que oferecem o curso de Jornalismo e, portanto, merecem ter um melhor reconhecimento das empresas.
Luta sindical – Apesar dos debates, todos reconhecem que é preciso um mínimo de organização para melhorar as condições financeiras de todos. O Sindicato dos Radialistas surgiu há 25 anos, no momento em que o número de emissoras de Rádio e TV se multiplicou em Santarém. Até 1979, havia apenas duas emissoras AM em Santarém: a Rádio Clube de Santarém (atual Rádio Ponta negra) e a Rádio Rural de Santarém, ligada à Igreja católica. Com o surgimento, naquele ano, da TV Tapajós (afiliada da Rede Globo), deu-se o início da fundação de diversas emissoras de Rádio e TV chegando ao final da década ao incrível número de 5 emissoras de rádio (três AM e duas FM) e 6 canais de televisão (uma geradora e cinco retransmissoras de TV).
As emissoras não tinham uma política definida de salários. A grande maioria pagava apenas o salário mínimo e algumas chegavam a pagar menos que isso, além de manterem um clima de terror contra os profissionais. O Sindicato dos Radialistas surgiu da insatisfação dos profissionais, mas logo de início muitos acabaram sendo vítimas da represália das empresas, por organizarem o sindicato. Houve demissões e alguns radialistas conseguiram inclusive a reintegração às empresas, por serem membros das diretorias eleitas.
Com o tempo, foi conquistado um piso salarial, com o chamado salário normativo da categoria que sempre foi maior que o salário mínimo. Mas a maioria das empresas se nega a pagar mais que o mínimo, e acaba forçando os profissionais a cumprirem jornadas mais extensas, a título de “acúmulo de função”, para ganharem mais 40% de remuneração.
"Apitaço" de jornalistas nas ruas de Santarém

Atualmente, mais uma emissora de Rádio e outra de TV, completam o número de seis emissoras de Rádio e sete de TV. O número de profissionais envolvidos, entre funcionários da administração, técnicos e locutores, além dos profissionais que atuam diretamente com a informação, ultrapassa o número de 200 pessoas, segundo dados não-oficiais obtidos por consulta entre os jornalistas que organizaram o protesto.
A ruptura entre radialistas e jornalistas, que já ocorre em nível nacional há décadas, começa a se desenhar em Santarém, e ao que tudo indica, o manifesto encabeçado pelos jornalistas pode ser o divisor de águas entre as duas categorias. “Apoio a manifestação de vocês e no que depender de mim à frente do sindicato, não criarei empecilhos para a organização dos jornalistas em outra entidade”, declarou Augusto Sousa, presidente do Sindicato dos Radialistas de Santarém. “Vamos lutar por um piso salarial condizente com nossos investimentos na profissionalização, mas seria bom que todos, radialistas e jornalistas, se unissem para acabar com a exploração das empresas de comunicação de Santarém”, concluiu Ronilma Santos, organizadora do manifesto dos jornalistas.

O manifesto dos Jornalistas distribuído nas ruas da cidade:

MANIFESTO COMUNIC#AÇÃO 2014!

JORNALISTAS DE SANTARÉM
NA LUTA PELA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL


Neste dia 22 de junho de 2014, Santarém completa 353 anos de fundação. Hoje, os jornalistas de Santarém aproveitam para também entrar na história e pela primeira vez fazer um manifesto público e pacífico pela valorização dos profissionais da comunicação, no clima da Copa de Futebol que se realiza no Brasil em plena época de festas juninas.
Santarém é uma terra de comunicação e de comunicadores, e tem exportado talentos para fora daqui. Há 161 anos, surgiu o primeiro jornal impresso. Há 66 anos, a primeira emissora de rádio. Há 35 anos, o primeiro canal de TV e há 10 anos, os primeiros sites e blogs na internet. Os profissionais que têm surgido nesses meios, em grande parte, têm sido desvalorizados com salários aviltantes.
Os radialistas se organizaram e criaram seu sindicato há 25 anos, quando perceberam que unidos poderiam diminuir as injustiças. À época, a maioria das empresas sequer pagava um salário mínimo para os profissionais. Depois de alguns anos de luta, os radialistas conseguiram definir um piso salarial, que sempre foi um pouco maior que o salário mínimo e outras garantias sociais. Alguns sindicalistas foram perseguidos e demitidos por tentarem organizar a categoria.
De lá para cá, o Sindicato dos Radialistas vem tentando conseguir reajustes mais condizentes, pelo menos com os índices da inflação, mas os empresários da comunicação insistem em não aceitar aumentos que valorizem a profissão, mesmo com profissionais que investiram em sua capacitação, na maioria das vezes com seus parcos recursos.
Desde 2010, várias turmas de jornalismo vêm sendo formadas por instituições privadas de ensino superior. Muitos colegas ainda continuam sem diploma por não conseguirem reunir o dinheiro necessário para sua formação acadêmica. Outros foram mais além e conseguiram até fazer cursos de pós-graduação, mas nem isso tem sensibilizado a classe patronal a dar um salário digno aos profissionais que levam a informação através dos meios de comunicação, com jornadas de trabalho que precisam ser muitas vezes estendidas, para que o profissional faça jus a um percentual de 40% por acúmulo de função. Hoje somos mais de 100 profissionais trabalhando nesta área!
O último reajuste acertado entre o Sindicato dos Radialistas e a classe patronal não chegou a 6%, o que apenas se aproxima dos índices inflacionários. Hoje, os profissionais de comunicação em Santarém ganham menos que a maioria das categorias de trabalhadores de Santarém!
Esse manifesto surgiu pela indignação entre jornalistas que trabalham nas redações, com apoio de colegas que hoje trabalham em assessorias de imprensa (onde os salários são um pouco maiores), mas que gostariam de estar trabalhando no dia a dia da notícia. Não foi feita nenhuma reunião, apenas uma mobilização pelas redes sociais. Queremos neste ato falar para Santarém, aquilo que provavelmente não será dito nos noticiários das rádios e das TVs e de alguns jornais e sites: FAZER JORNALISMO EM SANTARÉM É QUASE UM SACRIFÍCIO!
Muitos profissionais já tiveram que sair daqui para buscar empregos em outros centros. Mas aqueles que ficaram querem, agora, se organizar e fazer funcionar a Diretoria Regional do Sindicato dos Jornalistas do Oeste do Pará, criada pelo Sinjor/PA há dois anos. Uma diretoria provisória chegou a tentar organizar, mas com pouco apoio quase não avançou em seus trabalhos. Um grupo de jovens jornalistas assumiu nos últimos meses um trabalho para a filiação ao Sindicato, para que possamos lutar por um piso salarial condizente com o esforço que tem sido feito pelos profissionais que buscaram um diploma nas universidades. E aqueles que ainda não tem diploma, querem poder também conquistar essa graduação.
Este documento será encaminhado à direção estadual do Sinjor/PA, solicitando que a nova diretoria eleita dia 11 de junho, venha a Santarém para dar maior apoio à consolidação da Diretoria Regional e que inclua nas negociações salariais com empresas de Belém, um piso salarial para os jornalistas do interior do Pará. Abaixo, vão assinaturas dos profissionais da comunicação que apóiam o movimento.
CONVOCAMOS OS JORNALISTAS, DIPLOMADOS OU NÃO, A BUSCAREM SEU REGISTRO PROFISSIONAL E SE FILIAREM AO SINDICATO DOS JORNALISTAS DO PARÁ.
PELA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL DOS JORNALISTAS!

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