quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

2008: o ano que ainda não acabou para os santarenos

Feliz 2010!

Talvez até lá possamos comemorar um ano realmente novo, pois 2008 ainda não acabou e 2009 é apenas uma continuação, ou melhor, um “2º turno” do ano mais conturbado da vida dos santarenos nos últimos 40 anos. 2008 deveria ter terminado como um ano em que vivemos um “triunvirato mariano” desde 2007, com os três poderes locais ao comando de uma Maria do Carmo (Executivo), de umJosé Maria Tapajós (Legislativo) e de um Silvio César Maria (Judiciário). Mas o “Poder Mariano” continua, com um José Maria Tapajós no Executivo (interinamente) e no Legislativo (que tem um Nélio, interino, a guiar...) e um Silvio Maria no Judiciário! A Maria corre por fora, esperando a chance de recompor o “triunvirato mariano”... 

Como já havia dito em meu último artigo de 2008 (na coluna que escrevo, de vez em quando, no Diário do Tapajós), continuamos vislumbrando o “passo suspenso da cegonha”! Santarém vive um eterno suspense...

Aliás, já nem podemos ser chamados de “santarenos”. Agora somos os “santerinos”, habitantes da cidade dos interinos... O prefeito é interino, o secretariado é interino, o presidente da Câmara é interino, tudo gira em torno da interinidade. Viva a “Santerinidade”!

E pensar que o nome de Santarém, do Pará – copiado da Santarém, de Portugal – originou-se de uma lenda em que uma princesa perdeu a cabeça! A lenda de Sant’Irene foi cultuada em Portugal e acabou tornando-se o novo nome da velha cidade de Scalabis. Até que um dos governadores da Província do Grão-Pará, o Mendonça Furtado, resolveu chamar de Santarém a antiga aldeia dos Tapajós quando a transformou em vila.

Os “santerinos” aguardam que a Justiça (Divina?) nos dê uma luz e tire aquela espada que pende sobre nossas cabeças. As informações são tão diversas e tão complexas, que ninguém se entende. Mas, basicamente, parece que existem dois caminhos (mais ou menos) certos para dar uma definição ao nosso imbróglio jurídico-eleitoral: esgotar os recursos na esfera jurídica para a posse de Maria do Carmo como prefeita ou realizar novas eleições ainda esse ano.

A ditadura dos “se...”

É aí que começa a ditadura dos “se...” 

Se Maria ganhar, pode tomar posse e tocar o governo (até quando, não se sabe). Se Maria perder, todo mundo vai querer sentar no trono, ocupado, interinamente, pelo vereador José Maria Tapajós.

Em todas as ruas se ouvem especulações sobre o caso. Juristas não se entendem. Começa a briga dos Zés da advocacia e da política: de um lado, Zé Ronaldo e Zé Osmando (tem também o Geraldo Sirotheau, que não é Zé, mas é Maria, no nome...). Do outro, Zé Olivar e Zé Maria Lima. Zé Antonio Rocha nem vice conseguiu ser. Zé Maria Tapajós nasceu de quina pra lua, e por enquanto segura Sant’Irene nos ombros (Foto de José Maria, acima - montagem mal feita por mim sobre imagem mitológica do gigante Atlas). 

E agora, Josés?

Mas dentro da ditadura dos “se...”, a dúvida toma conta de todos sobre quem vai realmente comandar o município nesse quadriênio. De tudo se ouve por aí. Todo mundo virou “analista político” e aqueles que, como eu, se atrevem a fazer tais análises em artigos de jornais e blogs, acabam atirando para todos os lados, já que a indefinição e a incerteza pairam sobre nossas cabeças. Uma nova eleição muda todo o quadro político, a correlação de forças e muita coisa do que foi dita pode ter que se reescrita ou reciclada. Eu mesmo escrevi sobre Ocasos e Acasos, logo depois das eleições. 

O que se ouve por aí?:

- “A Maria vai se candidatar de novo e vai dar outra surra!” (petista fervoroso);

- “O Lira Maia é que vai se eleger e mostrar o que o povo gosta” (maista saudoso);

- “Nem Maria, Nem Maia, o futuro é o Márcio na prefeitura. Eu quero o Pinto de Jesus na prefeitura!” (psolista esperançoso);

- “Que nada, os três estão inelegíveis, só o Hamad pode ser candidato. Agora Santarém vai voar” (o próprio Hamad, sozinho, sem apoio da família).

Brincadeiras à parte, ninguém pode confirmar nada. Além dos quatro candidatos que disputaram as últimas eleições, na provável eleição de 2009, tem muito mais gente querendo entrar na roda.

Ciranda dos candidatos

Os 19 partidos que participaram das eleições de 2008, em quatro coligações, estão ouriçados com o novo quadro. Alguns até mantiveram suas sedes abertas, já que é praxe ter sede de partido só em época de eleição e depois fechar as portas. Várias pesquisas eleitorais vêm sendo realizadas na cidade, em busca do nome da hora.

À frente dos debates, PT e PMDB, os dois maiores partidos e que encabeçaram a coligação “vencedora”; O DEM e o PSDB vislumbram nova chance de voltarem ao poder, dependendo de quem é o não inelegível; PSOL e PTC correm por fora, como co-adjuvantes do espetáculo; Mas dentro da coligação que apoiou Maria, outros partidos podem querer se “enxerir” e tentar uma aventura, como o PDT, de Osmando, o PMN, de Nélio e até o quase extinto PTB, que já foi mais estruturado em campanhas anteriores e este ano teve uma participação pífia com apenas um candidato a vereador!

Petistas voltam às bases

O PT acordou, diante da possível queda do Império dos Martins, e voltou às bases.

As tendências do partido, que haviam se acomodado nos últimos anos dando chance para que o todo-poderoso Everaldo Martins (da tendência do deputado Paulo Rocha, a UL – Unidade na Luta) tomasse conta do PT, ensaiam agora uma insurreição diante do nome já proposto por ele – se a mana Maria não puder realmente ser candidata – o do ex-secretário de Governo Inácio Corrêa.

(Uma curiosidade: caso o nome de Inácio vingue e seja eleito, será o segundo Inácio Corrêa à frente dos destinos de Santarém. O outro foi o intendente Inácio Corrêa, que governou Santarém há 114 anos e hoje é nome de rua...)

Os irmãos Peloso (Pedro, Milton e Rita), líderes históricos e que se agrupam na AS – Articulação Socialista, debatem a possibilidade de indicar um nome de seu grupo ou até mesmo o da ex-vereadora Odete Costa, que já participou da tendência e está sem rumo no momento (tem sido “paquerada” também pela DS – Democracia Socialista, da governadora Ana Júlia). Pedro Peloso já até assinou um outdoor com o deputado Roberto Faro, solidarizando-se com Maria. Uma mexida dos Peloso no tabuleiro do xadrez político...

(Uma curiosidade: Pedro Peloso aprendeu a jogar xadrez comigo, no início da década de 1980, época em que eu convivia com ele nas andanças petistas. Era a única coisa que eu ganhava do Pedro, mas um dia ele conseguiu me vencer. Depois me deram um xeque-mate ideológico e fui deixando o PT pra trás...)

Já a tendência “PT pra valer”, liderada pelos Pastana e Ganzer, tem falado no nome do empresário Gilmar Pastana, da Massabor, que já foi representante regional da Secretaria Estadual de Transportes.

(Uma curiosidade: caso o nome de Gilmar vingue e seja eleito, teremos dois irmãos Pastana comandando Santarém e Belterra, onde Geraldo Pastana foi reeleito.)

Além desses nomes, há ainda os dos vereadores Evaldo da Premac e Carlos Jaime, com menores chances na disputa. Sonhar não custa nada. O PT vai realizar diversas reuniões em bairros para encontrar um nome de consenso, mas desde já, Inácio Corrêa, o ungido de Maria e Everaldo, é o nome mais forte do partido.

Uma Rocha no caminho

O PMDB, que não elege prefeito em Santarém desde 1985 (Ronaldo Campos foi o primeiro peemedebista a chegar ao cargo pelo voto), depende muito do que seu maior líder decidir. O deputado estadual Antonio Rocha, que comanda com mão de ferro a sigla, há 15 anos, desde que assumiu seu primeiro cargo público como vereador, vive sonhando em chegar à Prefeitura. Já tentou duas vezes, mas só conseguiu chegar lá, apoiando Lira Maia em 2000 e Maria em 2008 (vitória frustrada pelo TSE).

O partido tem musculatura eleitoral, mas talvez Rocha não seja um nome “palatável” para a maioria dos eleitores (principalmente depois do episódio infantil, em que o deputado saiu nos tapas com um militante universitário do PSOL, no início do ano). Se for vencida a pretensão pessoal (e temerária) de Antonio Rocha de ser candidato a qualquer custo (ou de indicar um de seus pimpolhos, como o José Antonio, caso seja elegível), o partido pode tentar outros nomes. 

Aí se encaixam Helenilson Pontes, advogado tributarista que parece querer agarrar essa oportunidade, e o próprio prefeito interino José Maria Tapajós, se a legislação permitir. Helenilson seria do agrado de Jader Barbalho, de olho em 2010, mas nada no PMDB pode sair sem negociação com Rocha. Jader, esperto como ele só, nunca vai atropelar um forte aliado que sempre manteve a estrutura do PMDB local.

Tucanos e demos no camarote

O PSDB e o DEM assistem a tudo de camarote e na undécima hora decidirão o que fazer.

O deputado federal Lira Maia (DEM) – tudo mundo sabe – é louco para ter um terceiro mandato na Prefeitura. Mas uma nova tentativa em 2009 não depende só de sua vontade. Maia já não é a quase unanimidade entre o eleitorado de 2000, e quiçá o eleitorado de 2006, que lhe deu grande votação para a Câmara Federal. Pesa contra ele a grande quantidade de processos por improbidade administrativa (e como todo político, ele alega que é “vítima de perseguição de seus adversários”), e principalmente um possível ônus pelo imbróglio jurídico-eleitoral em que nos encontramos.

(Uma curiosidade: a primeira tentativa de, Lira Maia, conquistar um cargo público via eleição, foi em 1992, quando era candidato a vice-prefeito na chapa pura do PMDB, encabeçada pelo ex-prefeito Ronaldo Campos. A Justiça Eleitoral cassou o registro de Ronaldo a 15 dias da eleição, por ter sido considerado inelegível já que havia sido condenado por improbidade administrativa. Maia acabou sendo o candidato a prefeito, com a ex-primeira dama – já falecida – Rosilda Campos como vice. Não ganhou, mas teve mais votos que Nivaldo Pereira, do PTB)

Toda essa confusão tende a aumentar a rejeição de Lira Maia, mas ele ainda é um forte candidato. Tudo depende de que escolha fará: manter-se como deputado federal garantindo o foro privilegiado de seus processos, além de se escudar no DEM nacional para tentar ser um líder partidário mais respeitado ou tentar voltar à Prefeitura para garantir os empregos de parentes e aderentes, correndo até o risco de uma segunda derrota em menos de seis meses? Já disse em outra ocasião que Lira Maia é “cobra-de-vidro”...

No caso de Lira Maia abrir mão de uma “re-recandidatura”, o nome mais visível é o do tucano e eterno companheiro de mutirão, Alexandre Von. O deputado estadual ainda não conseguiu luz própria na política, mas já demonstrou que não pretende se meter em aventuras como a de Maia nas últimas eleições. Von, pelo que se soube nos bastidores, rejeitou a proposta de reeditar a parceria com Maia na condição de seu vice, e indicou o ex-vereador Otávio Macedo. Ponto para Von, que evitou um maior desgaste político para prejudicar sua campanha em 2010. Só que a situação agora é outra. Dependendo dos acertos – ou desacertos – da coligação que apoiou Maria, o quadro poderia ser favorável ao tucano. O problema é que ele tem a fama de ser muito “pesado”. Literalmente...

Outro nome do grupo de Maia e Von que corre por fora é do vereador Erasmo Maia, com poucas chances de progredir.

Outros nomes

Sem contar Márcio Pinto, que já se lançou candidato (se não tiver problemas de inelegibilidade, por conta de prazo de desincompatibilização – ele retornou à sua função no Judiciário) e Joaquim Hamad que promete um(a) vice diferente e menos problemático(a), outros nomes tem sido ventilados nos bastidores como possíveis candidatos. Os vereadores eleitos Nélio Aguiar (PMN), Emir Aguiar (PR), Bruno Pará (PDT), Maurício Corrêa (PMDB) e Reginaldo Campos (PSB), são alguns destes. Também foram sondados os nomes da empresária Vânia Maia (TV Tapajós) e do advogado José Ronaldo Campos, filiados ao PTB. Mas os dois descartaram a hipótese (por enquanto).

Como não custa sonhar, não duvidem que alguém se lembre até de Ronaldo Campos, Ruy Corrêa ou Hilário Coimbra, que já foram ou tentaram ser prefeitos.

Uma coisa é certa: tudo depende das conversas entre Antonio Rocha e o PT. Se houver desacerto entre eles e decidirem bater de frente, tucanos e demos se apresentam com Maia reforçado, ou indicam um vice para o PMDB. 

Mas antes de tudo, temos que esperar a definição da Justiça Eleitoral. O TRE, por enquanto, não se posicionou sobre a convocação das eleições. Pode ser que o faça já ou aguarde a definição sobre os recursos no TSE e STF.

E o eleitor, como fica?

O cidadão santareno (ou “santerino”) assiste a tudo feito cego em tiroteio. A disputa pelo poder enveredou pela incompreensível seara jurídica que nem mesmo os juristas conseguem decifrar, já que o Caso Maria é inédito no Brasil.

Mesmo que tudo volte à normalidade (se é que isso é possível), o estrago já foi feito: a vontade do eleitor não prevaleceu diante da imperfeição jurídica definida após o pleito. De nada adiantou assistir horas de programas eleitorais no rádio e na TV, candidatos se esgoelando em comícios, dinheiro gasto com material publicitário, gente colorindo muros e carregando bandeiras. De nada adiantou votar neste ou naquele candidato. Foi tudo invalidado. Novos gastos podem vir pela frente e o eleitor, cansado, pode não ter o mesmo ânimo. Pode estar descrente do processo. Pode estar se sentindo ludibriado por todos, políticos e Justiça.

Uma das coisas que mais me perturba nisso tudo é que o processo democrático, para a escolha dos candidatos, prevê um debate nos bastidores que começa pelo menos um ano antes da eleição, até que uma convenção defina a posição dos partidos. A possível nova eleição, em 2009, será feita de afogadilho. O tempo é curto para se debater novos nomes e se algum deles vingar, pode não representar um projeto político-partidário bem definido. Será uma candidatura do sufoco. Sufoco que todos nós, cidadãos-eleitores, vivemos nesses dias de interinidade.

Por mais que eu não tenha religião, não posso deixar de tocar no tema, já que vivemos cercados de santidades por todos os lados, como por exemplo a Santa que inspirou o nome de Santarém, citada nos primeiros parágrafos dessa análise. 

Lembro que existe outra Santa Irene cultuada pelos católicos ortodoxos, lá da minha segunda cidade natal, Salônica/Grécia (ou Saloniki, que é também o nome de minha neta). Essa santa também foi mártir do cristianismo mase, Irene, em grego, quer dizer Paz.

Acho que é o que buscamos para essa Sant’Irene do Tapajós, neste conturbado 2008/2009...

4 comentários:

Anônimo disse...

Jota, Ver seu blog atualizado (mesmo que interinamente) é sempre um afago para minha vista cansada de tanta politiquice piegas e provinciana. É muito bom ver emergir a sua intelectualidade política sempre a serviço da cultura e do prazer da leitura. Bom ver comentários afofocais (ou a-fofocais ?? Puts essa reforma me mata, acho que ainda estou interinamente desatualizado da gramática!!!).
abraços
Grazziano

Anônimo disse...

Jota, mandei esse comentário também para o Alailson. É sobre o suposto fator HP, que a meu ver, em caso de eleições é o último dos fatores da conjuntura santarena atual
Abs.
Tiberio Alloggio

O destino de Helenilson Pontes é muito parecido ao de José Serrágio (de pedágio, os mais caros do Brasil), como o jornalista Paulo Henrique Amorim apelidou Serra
Serrágio é o Presidente eleito pela mídia desde 2002, ainda na espera de ser empossado em 2010, mas o que tudo indica, nunca vai tomar posse.
O que acontece com o Presidente eleito José Serrágio, também acontece aqui em Santarém com o Helenilson Pontes, o Prefeito eleito pelo Atlético Cearense e pelo PIC (Partido da Imprensa Cearense) ainda na espera de ser empossado. Quem sabe já em 2009.
Ninguém da etnia cearense ainda se tocou que primeiro tem que ter um projeto politico, uma proposta (a proposito o que pensa esse rapaz?), e depois agregar nela uma coligação. Por ultimo conseguir a indicação para disputar e talvez ganhar uma eleição.
Não adianta invocar Barbalho, pois o Jader tem que pensar a como se eleger Senador e o grupo do HP não garante ele nem como Deputado Estadual.
Helenilson no PMDB é o ultimo da fila.

Suas chances estão todas no Partido dos Cearenses, mas este não é uma legenda, e mesmo seu grupo esteja desdobrado entre alguns partidos nanicos quantos votos poderia angariar? 10 mil?
Enfim, não se lidera nada sem ter força politica por trás.

Agora, tentar se passar como única alternativa ao retorno de Lira Maia...pleitar os votos do PT e da esquerda para se eleger... já é demais!
Principalmente depois do grupo do Helenilson de ter freqüentado até ontem o restaurante da direita e ainda nas últimas eleições Estaduais ter ficado junto ao Almir e Lira Maia.

O PT com mais de 30 mil votos é o maior partido em Santarém. Só uma aliança com PDT e PSB é mais do que meio caminho andado para vencer... Então...

Primeiro: Maria do Carmo deverá voltar.

Se por ventura não voltar:
Primeiro: Os Partidos definem seus candidatos.
Segundo: Em cima dos números e dos partidos mais cotados se formam as coligações.
Terceiro: Se escolhem e se lançam os candidatos.
Quarto: Se ganha ou se perde.

Anônimo disse...

Graças adeus cheguei ao fim desse post antes de pegar um resfriado nessa sala gelada (labin 2).

Agora uma coisa é certa: continuo sem entender nada dessa atual situação...

Mas aprecio as tuas definicções dos Zés, Marias, Rochas...Tomara que essa coisa toda termine bem, pelo menos pros leitores de plantão...

Anônimo disse...

Amigo Jota Ninos:

Agradeço teres me enviado o texto que publicastes em teu blog com o título “2008: o ano que ainda não acabou para os santarenos”.
Comentei-o no programa e dei-me a liberdade de publicá-lo no blog do “Bom Dia Cidadão”.

Mais uma vez demonstras uma observação percuciente sobre a política santarena. Tens em teus dedos de jornalista os fios que ligam cada um dos atores que estão na ribalta do poder mocorongo. Lendo a tua análise, se vislumbra as malhas que compõe este tecido que deveria ser tão caro à comunidade da Pérola do Tapajós.

Chama a atenção a lucidez com que consegues ver mais pretendentes a chefe do que aqueles que não vão além do maniqueísmo Maria X Lira. Ao acompanhar a produção dos formadores de opinião que dominam o rádio, a TV e a internet em Santarém, se observa apenas dois grupos: os marianos e os liristas. É pobreza da qual o município não consegue se livrar.

Nada contra àqueles que professam sua preferência política partidária, porém – há sempre os poréns – não é difícil concluir que falta um amadurecimento político aos grupos partidários mocorongos. A qualificação institucional possibilitará a Santarém ocupar na política o mesmo lugar de destaque que o paraíso que lhe foi legado recebe dos que o visitam.

A prefeita Maria do Carmo é sem dúvida uma agradável surpresa enquanto liderança política, e boa de voto. É jovem, arejada, portanto, uma esperança para a tarefa de enterrar os cacos de um passado nada edificante dos grupos que dominaram o poder público nas últimas três décadas.

Há tempos o eleitor aposta em mudanças, por isso elegeu os Ronaldos e os Ronans. Mas nada de novo aconteceu, e as oligarquias, submissas à capital, continuaram dando as cartas. Veja: os Corrêa já dominavam a política quando a Costa do Tapará tinha tanta ou mais importância que a Pérola do Tapajós.

A nova geração da segunda metade do século XX está passando sem dizer a que veio. Pode-se listar o que Santarém conseguiu além da beleza colonial criada pelos séculos de extrativismo, senão, vejamos: meia dúzia de boas escolas,Senai, dois bons conjuntos habitacinais, cais de arrimo, porto, aeroporto, Curuá-Una, Santarém-Cuiabá, o fim das voçorocas da Barjonas de Miranda, Silvino Pinto e Turiano Meira, e, ainda os quilômetros de galerias espalhadas pela cidade. Tudo, fruto do conluio entre os grupos oligárquicos da terra e a ditadura militar. Sem essas obras, Santarém seria uma cidade estagnada no tempo, mais um entre os tantos municípios paraenses que perderam o trem da história.

Alguém pode dizer que são conjecturas, e que se a ditadura e seus chefetes não tivessem dado um golpe, projetos como esses teriam sido executados por uma sociedade democrática. É bem possível, mas 20anos se passaram e nada que se compare aqui foi edificado.

Mas esta não é a questão central, pois o cerne é político. Obras, com dinheiro, todos podem fazê-las. Agora, quando não há os recursos necessários para criar uma infra-estrutura que dê suporte ao desenvolvimento material, ainda assim é possível investir em um patrimônio que pode mudar radicalmente uma comunidade, uma cidade, um estado, um país. O problema é a falta de dinheiro para infra-estrutura, para a saúde, para a educação e nenhuma disposição para mudar o jogo político.

Dá gosto ver que com pouco dinheiro a prefeita Maria do Carmo conseguiu dar uma repaginada no aspecto físico da cidade. O esforço que ela faz para melhorar a educação e a saúde é visível. Mas o seu grupo político perdeu a oportunidade - e acredito que não seja por má-fé ou esperteza política de Maria, talvez, um cochilo. E se foi cochilo, já deveria ter acordado - de dar o salto qualitativo que a política santarena tanto necessita para se ver livre das cúpidas raposas de sempre.

O jogo político em Santarém sempre foi oportunista, mesquinho, rasteiro, miserável, inominável. Tal comportamento, no entanto, não condiz com o espírito com o qual as pessoas de bem honraram a esta cidade. Este transcende às obras criadas pelos homens e se coloca à altura da espiritualidade desta natureza exuberante que nos acolheu. Os responsáveis pela criação da alma desta Pérola têm esperado em vão que a ética se sobreponha aos interesses menores, sejam eles particulares ou de grupos partidários.

Um grande e saudoso abraço,
Santino Soares