As maravilhas da tecnologia nos ajudam, há cada dia, a ter mais informações pela internet.
Há algum tempo venho recebendo notícias em meu e-mail de acordo com os temas que escolho, e isso me ajuda a descobrir textos interessantes como esse que estou postando agora, do jornalista André Cananéa do Jornal da Paraíba, sobre um de meus grandes ídolos e que faz parte de minhas propostas de divulgação neste blog: Chico Buarque.
A reportagem tem como título A arte a serviço da ideologia e faz um retrospecto do papel da música de protesto na sociedade moderna, a partir da resenha de um livro lançado recentemente sobre Chico Buarque e Bob Dylan, dois expoentes desse tipo de música, o primeiro na América Latina e o segundo em nível mundial.
Acompanhe a leitura:
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A garotada da geração iPod, com certeza, não se lembra. Mas muito, muito tempo antes de CPM-22, Pitty e até O Rappa havia um sentido social importante na música (sim, muito maior do que nas letras de O Rappa). Havia poesia, mas também ideologia. Isso foi antes do emocore, do hardcore, da música eletrônica. Antes mesmo da ascensão do rock brasileiro. Cazuza, em 1988, recla-mava: “Ideologia, eu quero uma pra viver”. Renato Russo, anos antes, já taxava a falta de idealismo da juventude de então: a geração Coca-Cola só queria saber de consumir.
A garotada da geração iPod, com certeza, não se lembra. Mas muito, muito tempo antes de CPM-22, Pitty e até O Rappa havia um sentido social importante na música (sim, muito maior do que nas letras de O Rappa). Havia poesia, mas também ideologia. Isso foi antes do emocore, do hardcore, da música eletrônica. Antes mesmo da ascensão do rock brasileiro. Cazuza, em 1988, recla-mava: “Ideologia, eu quero uma pra viver”. Renato Russo, anos antes, já taxava a falta de idealismo da juventude de então: a geração Coca-Cola só queria saber de consumir.
Mas ali, por volta dos anos 1960 e 1970, os refrões clamavam por um país livre, pela garantia de direitos civis e contra uma máquina opressora, fosse aqui ou lá fora. No Brasil, um dos grandes porta-vozes dessas angústias sociais foi Chico Buarque. Na América, a música de protesto ganhou uma das suas melhores traduções nas letras de Bob Dylan. Inseridos dentro de um contexto histórico importante, Chico e Dylan se tornaram ícones, heróis de uma geração e exemplos de compositores que, parece, o tempo esqueceu de produzir.
Poesia e Política nas Canções de Bob Dylan e Chico Buarque (Nova Editora, 207 páginas, R$ 35) é, mais do que uma análise técnica da importância desses compositores para a música. Trata-se de um resgate de um tempo onde a música cumpria uma função social sem precedentes para a história humana e social do planeta. “Nesta abordagem, procuraremos evidenciar que, em determinado período, Bob Dylan e Chico Buarque colocaram sua poética em prol de um programa e expressaram seu pensamento crítico, apelando para o sentido de justiça e igualdade social”, escreveu a autora, Ligia Vieira César, lembrando que essa postura, no caso de Dylan, deságua na ‘protest song’ (música de protesto) americana e no caso de Chico, no samba-protesto.
Professora e pesquisadora paranaense, Ligia examina a ideologia e a contra-ideologia na literatura de protesto. Sua análise, como dita anteriormente, é técnica e seu texto, acadêmico. Portanto, não se trata de um ensaio literário sobre a beleza e a importância desses dois cânones da música, mas uma análise bem fundamentada, a luz de autores clássicos, sobre a obra de Chico e Dylan. “É necessário ressaltar que, ao analisarmos a postura ideológica das canções desses autores, partimos de pressupostos teóricos sobre ideologia”, escreveu a pesquisadora em seu livro.
Lígia começa seu livro remontando ao surgimento da balada e da canção de protesto e também do surgimento do samba-canção e da bossa-nova para contextualizar Dylan e Chico em um cenário político-histórico que remete aos idos de 1964. “Com esta obra, procura-se demonstrar que, apesar das dessemelhanças culturais e políticas, ambos os autores se coadunam ideologicamente, na temática de protesto e nas formas composicionais de suas canções”, diz a autora.
Dylan saiu de sua Minnesota natal e se mudou para Nova York, onde passou a conviver com poetas beatnik, em 1961. Abraçou o rhythm & blues, o folk e, mais tarde, o rock e aderiu às canções de protesto que pregavam contra as guerras, o establishment e desejava um mundo mais justo, como apregoava a ideologia hippie dos anos 60/70, fruto exatamente na geração beat. Enquanto isso, o Brasil vive mergulhado em uma ditadura opressora e a classe artística acaba se tornando a porta-voz de um país sufocado. E é neste ambiente que Chico, com talento e grandes sacadas, contribui para a abertura do processo democrático, sob o qual vivemos hoje.
No fim das contas, Heloísa Buarque de Holanda, que assina junto com Alice Ruiz a contracapa do livro, tem toda razão. “Se hoje se duvida da eficácia da articulação entre poesia e política, o trabalho de Lígia Vieira César, por meio de um cuidadoso exame do processo construtivo dessa articulação, aponta para o horizonte da permanência e da vitalidade do papel da poesia em nossos dias”.
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Caricaturas de Dálcio (Chico) e Vizcarra (Dylan). Capa do livro, Nova Editora (divulgação).
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