sexta-feira, 12 de maio de 2006

Aprendendo e ensinando uma antiga lição(*)

Santarém pode ter vivido esta semana um momento histórico que será lembrado nas próximas décadas. A manifestação dos estudantes secundaristas pelas ruas da cidade, contra o aumento no preço das passagens de ônibus e a reação desproporcional da polícia militar contra o ato, pode ser o embrião de um novo movimento estudantil e laboratório de futuras lideranças de movimentos sociais organizados.
Até um mês atrás, muitas pessoas, como eu, que viveram os tempos áureos da organização popular, se questionavam sobre a apatia dos estudantes e seus reflexos no surgimento de nomes que hão de compor as alternativas de poder municipal no novo milênio. Não só aqui, mas em todo país, é crescente a preocupação pela renovação de lideranças dentro dos novos conceitos filosóficos mundiais pós-neoliberalismo e pós-ascensão das esquerdas ao poder, notadamente na América do Sul.
Na França e em toda a Europa, novos movimentos juvenis surgem, sem consistência, e se apresentam como estopins de violência inconseqüente que assustam autoridades, mas em alguns casos acabam conquistando direitos aviltados.
No Brasil, a juventude remanescente dos “caras-pintadas” (movimento que deflagrou a queda do presidente Collor, em 1992) envelheceu e se acomodou em cargos públicos ou perdeu o tom do discurso na era FHC. Como resultado, surgiu aquilo que eu chamo de “Geração MTV”, uma juventude mais pragmática, mais consumista e que mostra indícios de uma alienação latente provocada, principalmente, por uma programação cultural enlatada e sem conteúdo para reflexão que a grande mídia (representada por canais como a MTV) insiste em propagar.
A rebeldia juvenil nos últimos tempos parece ter se resumido a modismos cada vez mais descartáveis, como a representada pelos integrantes dos “Rebeldes”, grupo musical mexicano que faz uma novelinha no estilo “Malhação”, da Globo (produto nacional tão insípido quanto o enlatado mexicano) e que nos remete aos “Menudos”, grupo caribenho que foi a febre da juventude na década de 1980 e que também idiotizou parte da chamada “Geração 80”. A parte não contaminada foi aquela que foi às ruas e pintou a cara.
Antes que meu artigo resvale para o velho discurso de satanização da mídia, assunto recorrente em dezenas de tratados filosóficos, ou não, da esquerda recalcada ou da direita moralizadora que vêem o apocalipse ou holocausto por trás de um simples programa de rádio ou de TV, quero enfatizar que a grande mídia reflete o status quo vigente e, se encontra audiência é porque existem mentes preparadas (ou despreparadas?) pelo sistema educacional caduco que nos ensina “antigas lições”, como diria Geraldo Vandré de quem parafraseei o título acima por melhor representar o sentimento de rebeldia que explode nas ruas.

Houvesse tomado outro rumo, o ensino contribuiria para a formação de um cidadão capaz de pensar e se rebelar na medida do desrespeito a direitos fundamentais, que vão da formação de filas hediondas em um banco para alimentar a economia do próprio sistema econômico à prestação de serviços essenciais como a distribuição de água numa cidade cercada de rios.
Voltando ao tema do primeiro parágrafo, a movimentação estudantil é salutar na medida que proporciona aos jovens a oportunidade de saírem do marasmo para protestar, ao invés de aceitarem passivamente uma situação abusiva como a imposição de uma nova tarifa nos ônibus. A calhordice dos empresários de ônibus de Santarém, da qual já me referi em artigo anterior, e a cumplicidade dos órgãos públicos em se deixar chantagear por um cartel estúpido precisava de um basta! O movimento é apenas um detonador da insatisfação sussurrada por uma massa disforme que alguns estudiosos chamam de “maioria silenciosa”. Depois dos jovens, é a hora dos pais em suas associações de moradores descerem as ruas e exercerem seu direito à cidadania, reivindicando um novo paradigma na relação Povo X Poder.
Como sempre há entretantos, não poderia deixar de alertar que por trás de uma organização (ou desorganização?) de um movimento popular como o dos estudantes, há sempre o perigo da contaminação sectária de grupos facistóides (de esquerda ou de direita) que podem aproveitar a turba para levantar suas bandeiras. Recentemente vimos duas tendências antagônicas tentando se impor durante o “debate” (ainda insípido e sem consistência) sobre a questão ambiental. Ambientalistas e desenvolvimentistas manipulam informações ao seu bel-prazer e transformam tudo, naquilo que o escritor e humorista carioca da década de 1960, Sérgio Porto (conhecido como Stanislaw Ponte Preta), chamou de “Febeapá – Festival de Besteiras que Assolam o País” ou o popular “Samba do Crioulo Doido”.
Não acompanhei o movimento dos estudantes de perto, mas o que vi e ouvi pela televisão me deu quase a certeza de que houve infiltração no movimento de jovens com discurso preparado em reuniões do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, a nova “porraloquice” de esquerda que tenta “cooptar” o movimento estudantil para deflagrar um contínuo processo de manipulação de outras entidades populares que já estiveram nas mãos do antigo PT, hoje aboletado no poder. Sabe-se que há algum tempo, os partidários da senadora Heloísa Helena e do deputado paraense “Babá” (que felizmente vai se acabar no Rio de Janeiro, para onde se mudou), vem se estruturando dentro da UFPa. e tentando assumir a vanguarda das organizações estudantis. “Babá” sempre teve um reduto de “babacas” que o acompanhavam cegamente dentro do Campus da UFPa. em Belém. Agora eles já estão por aqui.
Entidades estudantis como a UMES (União Municipal de Estudantes Secundaristas) e AES (Associação dos Estudantes de Santarém), que vinham sendo controladas nos últimos anos por oportunistas sem nenhum compromisso com a consolidação de um movimento autêntico, devem viver a velha disputa ideológica que foi travada nos idos dos anos 1980 entre partidos de esquerda como PT, PCB e PC do B, e movimentos mais à direita (apesar de travestidos de esquerda) como o MR-8 (comandada pelo ex-governador Orestes Quércia) e a Libelu (comandada pelo ex-ministro Antonio Palocci) dando lugar, depois à facções ligadas ao PSDB.
Sem um contraponto, o pessoal do PSOL tende a crescer dentro dos grêmios estudantis, e o tom agressivo e inconseqüente será cada vez mais presente em manifestações. E como nossa polícia é despreparada, a provocação poderá se transformar em reação à base de cassetetes e com a televisão filmando... é tudo o que eles querem para justificar antigas lições...
Apesar de tudo, viva o movimento estudantil! Os filhos da Geração Carapintada aguardam novas lições de quem já sentiu a emoção de tomar as ruas, “caminhando e cantando e seguindo a canção”...

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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos (12/05/06), publicada no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

Um comentário:

Anônimo disse...

AQUELES BABACAS QUE PINTARAM A CARA NEM SABIAM O QUE ESTAVAN FAZENDO LÁ... VEJA SE ELES TIVERAM CU PRA FAZER CONTRA FHC? A DIFERENÇA É QUE COLLOR ERA DEMOCRATA, PERMITIU. QUALQUER UM SEJA LULA, FHC, JATENE, JADER BARBALHO TERIA ENCHIDO OS CARA-PINTADAS COMO DE FATO FIZERAM. LEMBRA DA CARA ESTOURADA DO LINDBERGH FARIAS POR UM PM QUE ENFIOU UM SOCO NAS FUÇAS DELE? NÃO? QUE PENA... NA EPOCA O PRESIDENTE ERA FHC. VE SE ALGUEM PINTA A CARA HOJE... SE PINTAR A CARA VAI SER DE SANGUE POIS VAI TOMAR MUITA BIFA PRA DEIXAR DE SER BESTA...