Volto a escrever a coluna depois de quase um mês inativo por conta de compromissos profissionais. E toco no assunto que vai começar a ganhar espaço na mídia: a preparação dos partidos para as eleições do próximo ano.
Sexta-feira, 05 de outubro, foi o último prazo para mudanças de partidos para quem pretende se candidatar a uma vaga nas próximas eleições. Houve muito troca-troca local e participei de um debate neste final de semana no blog do jornalista Jeso Carneiro, após ver o comentário de um internauta anônimo criticando a informação de que radialistas de Santarém estariam se filiando em vários partido na busca de uma vaga nas próximas eleições.
Discordei da “raiva” do internauta anônimo com os candidatos que trabalham em rádio. A questão não é ser radialista ou não. A questão é saber se suas intenções como candidatos são boas ou se querem ser apenas mais um político demagogo. Afinal, nossa Constituição garante o direito de qualquer cidadão votar e ser votado, preenchidos os requisitos básicos. O próprio anônimo, quem sabe, pode ser um talento da política que ainda não foi descoberto...
Mas afirmo de cátedra que todos deverão ser apenas “bois de piranha” nas próximas eleições, com poucas chances de conquistar uma vaga, mas ajudarão a eleger grande parte dos mesmos de sempre. Acho que todo mundo conhece a expressão “boi de piranha”, que vem de um costume de peões do Pantanal: quando uma boiada precisa atravessar um rio infestado de piranhas, os peões ferem um dos bois e atraem as feras sacrificando o animal - que geralmente é o mais velho do gado – e atravessam a salvo o resto da boiada num ponto mais afastado do rio.
Numa eleição, os astutos “reis do gado” (os donos dos partidos, mas nem sempre donos dos votos) usam de estratégia quase idêntica para garantir que sua manada se dê bem na disputa pelos votos. A diferença é que neste caso o “boi de piranha” é escolhido não entre velhos militantes do partido e sim entre pessoas sem experiência política, mas que tem alguma visibilidade na comunidade. De preferência, pessoas que alcançaram a fama através da mídia como radialistas, atletas ou artistas.
Outra diferença é que o “boi de piranha das eleições” atrai eleitores incautos para sua “carne fresca” e o partido ganha em troca o chamado “quociente partidário” (baseado no “quociente eleitoral” que define a tal proporcionalidade) e acaba conquistando mais vagas para a sua bancada (mas à frente tento explicar essa lógica). Às vezes, algum “boi de piranha” consegue se salvar, atravessa o “rio das eleições” e nada até às tranqüilas praias chamadas de “plenário do Legislativo”...
Essa situação já começa a se delinear a um ano das eleições como bem sugere matéria jornalística do portal G1 da que mostra as novas filiações de celebridades pelos partidos em nível nacional para as próximas eleições. E Santarém não fica atrás nessa onda.
Os “Ó’s do borogodó” - Os únicos radialistas que conseguiram a façanha de conquistar um mandato na recente história da Câmara Municipal de Santarém foram Oti Santos e Osvaldo de Andrade.
Ele foram os verdadeiros “Ó’s do borogodó” de sua época: dois jovens “galãs” do rádio santareno que entraram na política no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, passando pela Câmara Municipal e se firmando como políticos e ainda hoje como radialistas de sucesso, apesar dos altos e baixos em suas carreiras políticas (atualmente, mais baixos do que altos).
Os dois representavam (pelo menos aparentemente) duas posturas ideológicas distintas naquele período, além de rivalizarem o mesmo espaço no âmbito da locução esportiva. Mas os tempos eram outros: a cidade era mais provinciana que agora e a Rádio Rural (onde os dois atuavam) tinha uma quase absoluta audiência. Convivi de perto com os dois, como repórter e como colega de profissão e acho que posso me arriscar a delinear seus perfis.
Osvaldo era o projeto dos sonhos de liderança pró-regime militar sob as asas do então PDS de seu pai, Agapito Figueira (o velho líder comunitário da antiga Arena, partido dos militares). Eleito vereador para o período 1983/1988, Osvaldo retornou à Câmara só em 2001/2004 e atualmente é suplente de vereador. Mas decepcionou seu pai quando largou o PDS pelo PMDB, passou pelo PTB e hoje está no PSDB para tentar retornar à Câmara em 2008.
Já Oti Santos vinha de raízes baratistas (seu pai foi um “soldado” de Magalhães Barata, o “pai dos pobres” ao tucupi) e pretendia ser a antítese do regime militar pelo PMDB, remanescente do antigo PSD. Politicamente foi mais bem sucedido que Osvaldo, pois além de vereador foi deputado estadual e prefeito de Belterra por duas vezes e nunca trocou de partido. Hoje sonha em voltar à prefeitura de Belterra, mas ao que parece vai viver o pesadelo de comandar a Cosanpa...
Cito o exemplo dos dois para reafirmar que nos dias de hoje é mais difícil um radialista ou jornalista conseguir um espaço na política do que naquela época. Acompanho a votação de Santarém nos últimos 25 anos e constato que, no geral, esses profissionais têm uma votação pífia ou quando muito, conseguem uma boa projeção em votos mas não o suficiente para se eleger (eu mesmo já fui candidato em 1992 e senti isso de perto).
Outro fator que contribui para que os radialistas não obtenham esse sucesso na votação, está na pulverização de seu eleitorado. Algumas pessoas podem até votar num candidato pelo seu desempenho como profissional da comunicação, mas se houver vários candidatos essa audiência se dividirá entre os vários candidatos.
Segundo minhas anotações, o número de candidatos ligados à órgãos de comunicação vem diminuindo substancialmente. A maior leva de candidatos foi na eleição de 1992 quando cerca de 20 profissionais da imprensa tentaram uma vaga na Câmara Municipal. O mais votado naquele ano foi Osvaldo de Andrade (que tentava a reeleição) e que acabou ficando de fora. Já na eleição passada (2004) esse número não chegou a 5 candidatos e mais uma vez o mais votado foi Osvaldo de Andrade, que só conseguiu uma suplência.
Muita gente até hoje não compreende a lógica da proporcionalidade das eleições. Ano passado escrevi uma série de textos aqui “Perípatos” que chamei de “Manual do Eleitor Incauto”, sobre este e outros temas relacionados às eleições.
Disponibilizo agora apenas o trecho que fala exatamente desta complexa matemática para definir quem ocupará as tão sonhadas vagas do Legislativo pelo critério da proporcionalidade definido após as eleições, como forma de auxiliar os pretensos candidatos:
“(...)Primeiro define-se os votos válidos, obtidos a partir da diminuição dos votos em branco e dos votos nulos do número total de votantes na eleição. Por exemplo, num estado, o número de eleitores que votaram é de 1.000. Destes, 50 votaram nulo e 100 votaram em branco. Os votos válidos serão 850.
Feito isso, define-se o quociente eleitoral através da divisão dos votos válidos pelo número de lugares a preencher (cadeiras). Por exemplo, nesse mesmo estado, existem 10 cadeiras na Assembléia Legislativa. O Quociente Eleitoral será 85. Aí, o próximo passo é definir o Quociente Partidário, que é obtido, dividindo-se o total de votos recebidos por cada partido ou coligação pelo Quociente Eleitoral.
Seguindo o exemplo dado, digamos que neste hipotético estado 03 (três) partidos disputaram a eleição, sendo que o partido A teve 450 votos, o partido B teve 255 e o partido C apenas 145 votos. A divisão das cadeiras será assim: Partido A, cinco cadeiras (450/85), Partido B, três cadeiras (255/85) e o Partido C, uma cadeira (145/85).
Por fim, vem a definição das vagas que sobraram. Aí, o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação, será dividido pelo número de lugares obtidos por ele mais um. Sendo que caberá ao partido ou coligação que apresentar a maior média um dos lugares a preencher.
Seguindo o nosso exemplo, vamos ver quem fica com a última cadeira, que não foi preenchida: o Partido A teve 450 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (5), é igual a 90, somado a 1 = 91. Já o Partido B teve 255 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (3) é igual a 85, somado a 1 = 86. Por fim, o Partido C com seus 145 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (1) é igual a 145, somado a 1 = 146. Assim, coube ao Partido C a última vaga(...)”.
A coisa é complexa, mas quem já trabalha na política sabe como a engrenagem funciona. O problema são os milhares de candidatos novatos que são seduzidos à participar da campanha, alguns bem intencionados outros não, e que acabam servindo de “bois de piranha” nesta matemática confusa. Principalmente aqueles que se acham uma “celebridade”.
Tendo acompanhado duas campanhas municipais trabalhando com marketing e armazenando números de votos em um banco de dados próprio, acredito que a visibilidade que os nossos “artistas locais” possam ter no seu dia-a-dia numa emissora de rádio é apenas o que chamo de “potencial de partida” para impulsionar uma campanha.
Se não tiverem estrutura logística para se deslocar por todo o município e grupos de apoio nas comunidades e bairros para multiplicar esse potencial, serão apenas meros “bois de piranha” ajudando o partido a garantir o quociente para eleger as velhas figurinhas carimbadas da política.
E nunca serão um “Ó do borogodó”...
Sexta-feira, 05 de outubro, foi o último prazo para mudanças de partidos para quem pretende se candidatar a uma vaga nas próximas eleições. Houve muito troca-troca local e participei de um debate neste final de semana no blog do jornalista Jeso Carneiro, após ver o comentário de um internauta anônimo criticando a informação de que radialistas de Santarém estariam se filiando em vários partido na busca de uma vaga nas próximas eleições.
Discordei da “raiva” do internauta anônimo com os candidatos que trabalham em rádio. A questão não é ser radialista ou não. A questão é saber se suas intenções como candidatos são boas ou se querem ser apenas mais um político demagogo. Afinal, nossa Constituição garante o direito de qualquer cidadão votar e ser votado, preenchidos os requisitos básicos. O próprio anônimo, quem sabe, pode ser um talento da política que ainda não foi descoberto...
Mas afirmo de cátedra que todos deverão ser apenas “bois de piranha” nas próximas eleições, com poucas chances de conquistar uma vaga, mas ajudarão a eleger grande parte dos mesmos de sempre. Acho que todo mundo conhece a expressão “boi de piranha”, que vem de um costume de peões do Pantanal: quando uma boiada precisa atravessar um rio infestado de piranhas, os peões ferem um dos bois e atraem as feras sacrificando o animal - que geralmente é o mais velho do gado – e atravessam a salvo o resto da boiada num ponto mais afastado do rio.
Numa eleição, os astutos “reis do gado” (os donos dos partidos, mas nem sempre donos dos votos) usam de estratégia quase idêntica para garantir que sua manada se dê bem na disputa pelos votos. A diferença é que neste caso o “boi de piranha” é escolhido não entre velhos militantes do partido e sim entre pessoas sem experiência política, mas que tem alguma visibilidade na comunidade. De preferência, pessoas que alcançaram a fama através da mídia como radialistas, atletas ou artistas.
Outra diferença é que o “boi de piranha das eleições” atrai eleitores incautos para sua “carne fresca” e o partido ganha em troca o chamado “quociente partidário” (baseado no “quociente eleitoral” que define a tal proporcionalidade) e acaba conquistando mais vagas para a sua bancada (mas à frente tento explicar essa lógica). Às vezes, algum “boi de piranha” consegue se salvar, atravessa o “rio das eleições” e nada até às tranqüilas praias chamadas de “plenário do Legislativo”...
Essa situação já começa a se delinear a um ano das eleições como bem sugere matéria jornalística do portal G1 da que mostra as novas filiações de celebridades pelos partidos em nível nacional para as próximas eleições. E Santarém não fica atrás nessa onda.
Os “Ó’s do borogodó” - Os únicos radialistas que conseguiram a façanha de conquistar um mandato na recente história da Câmara Municipal de Santarém foram Oti Santos e Osvaldo de Andrade.
Ele foram os verdadeiros “Ó’s do borogodó” de sua época: dois jovens “galãs” do rádio santareno que entraram na política no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, passando pela Câmara Municipal e se firmando como políticos e ainda hoje como radialistas de sucesso, apesar dos altos e baixos em suas carreiras políticas (atualmente, mais baixos do que altos).
Os dois representavam (pelo menos aparentemente) duas posturas ideológicas distintas naquele período, além de rivalizarem o mesmo espaço no âmbito da locução esportiva. Mas os tempos eram outros: a cidade era mais provinciana que agora e a Rádio Rural (onde os dois atuavam) tinha uma quase absoluta audiência. Convivi de perto com os dois, como repórter e como colega de profissão e acho que posso me arriscar a delinear seus perfis.
Osvaldo era o projeto dos sonhos de liderança pró-regime militar sob as asas do então PDS de seu pai, Agapito Figueira (o velho líder comunitário da antiga Arena, partido dos militares). Eleito vereador para o período 1983/1988, Osvaldo retornou à Câmara só em 2001/2004 e atualmente é suplente de vereador. Mas decepcionou seu pai quando largou o PDS pelo PMDB, passou pelo PTB e hoje está no PSDB para tentar retornar à Câmara em 2008.
Já Oti Santos vinha de raízes baratistas (seu pai foi um “soldado” de Magalhães Barata, o “pai dos pobres” ao tucupi) e pretendia ser a antítese do regime militar pelo PMDB, remanescente do antigo PSD. Politicamente foi mais bem sucedido que Osvaldo, pois além de vereador foi deputado estadual e prefeito de Belterra por duas vezes e nunca trocou de partido. Hoje sonha em voltar à prefeitura de Belterra, mas ao que parece vai viver o pesadelo de comandar a Cosanpa...
Cito o exemplo dos dois para reafirmar que nos dias de hoje é mais difícil um radialista ou jornalista conseguir um espaço na política do que naquela época. Acompanho a votação de Santarém nos últimos 25 anos e constato que, no geral, esses profissionais têm uma votação pífia ou quando muito, conseguem uma boa projeção em votos mas não o suficiente para se eleger (eu mesmo já fui candidato em 1992 e senti isso de perto).
Outro fator que contribui para que os radialistas não obtenham esse sucesso na votação, está na pulverização de seu eleitorado. Algumas pessoas podem até votar num candidato pelo seu desempenho como profissional da comunicação, mas se houver vários candidatos essa audiência se dividirá entre os vários candidatos.
Segundo minhas anotações, o número de candidatos ligados à órgãos de comunicação vem diminuindo substancialmente. A maior leva de candidatos foi na eleição de 1992 quando cerca de 20 profissionais da imprensa tentaram uma vaga na Câmara Municipal. O mais votado naquele ano foi Osvaldo de Andrade (que tentava a reeleição) e que acabou ficando de fora. Já na eleição passada (2004) esse número não chegou a 5 candidatos e mais uma vez o mais votado foi Osvaldo de Andrade, que só conseguiu uma suplência.
Muita gente até hoje não compreende a lógica da proporcionalidade das eleições. Ano passado escrevi uma série de textos aqui “Perípatos” que chamei de “Manual do Eleitor Incauto”, sobre este e outros temas relacionados às eleições.
Disponibilizo agora apenas o trecho que fala exatamente desta complexa matemática para definir quem ocupará as tão sonhadas vagas do Legislativo pelo critério da proporcionalidade definido após as eleições, como forma de auxiliar os pretensos candidatos:
“(...)Primeiro define-se os votos válidos, obtidos a partir da diminuição dos votos em branco e dos votos nulos do número total de votantes na eleição. Por exemplo, num estado, o número de eleitores que votaram é de 1.000. Destes, 50 votaram nulo e 100 votaram em branco. Os votos válidos serão 850.
Feito isso, define-se o quociente eleitoral através da divisão dos votos válidos pelo número de lugares a preencher (cadeiras). Por exemplo, nesse mesmo estado, existem 10 cadeiras na Assembléia Legislativa. O Quociente Eleitoral será 85. Aí, o próximo passo é definir o Quociente Partidário, que é obtido, dividindo-se o total de votos recebidos por cada partido ou coligação pelo Quociente Eleitoral.
Seguindo o exemplo dado, digamos que neste hipotético estado 03 (três) partidos disputaram a eleição, sendo que o partido A teve 450 votos, o partido B teve 255 e o partido C apenas 145 votos. A divisão das cadeiras será assim: Partido A, cinco cadeiras (450/85), Partido B, três cadeiras (255/85) e o Partido C, uma cadeira (145/85).
Por fim, vem a definição das vagas que sobraram. Aí, o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação, será dividido pelo número de lugares obtidos por ele mais um. Sendo que caberá ao partido ou coligação que apresentar a maior média um dos lugares a preencher.
Seguindo o nosso exemplo, vamos ver quem fica com a última cadeira, que não foi preenchida: o Partido A teve 450 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (5), é igual a 90, somado a 1 = 91. Já o Partido B teve 255 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (3) é igual a 85, somado a 1 = 86. Por fim, o Partido C com seus 145 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (1) é igual a 145, somado a 1 = 146. Assim, coube ao Partido C a última vaga(...)”.
A coisa é complexa, mas quem já trabalha na política sabe como a engrenagem funciona. O problema são os milhares de candidatos novatos que são seduzidos à participar da campanha, alguns bem intencionados outros não, e que acabam servindo de “bois de piranha” nesta matemática confusa. Principalmente aqueles que se acham uma “celebridade”.
Tendo acompanhado duas campanhas municipais trabalhando com marketing e armazenando números de votos em um banco de dados próprio, acredito que a visibilidade que os nossos “artistas locais” possam ter no seu dia-a-dia numa emissora de rádio é apenas o que chamo de “potencial de partida” para impulsionar uma campanha.
Se não tiverem estrutura logística para se deslocar por todo o município e grupos de apoio nas comunidades e bairros para multiplicar esse potencial, serão apenas meros “bois de piranha” ajudando o partido a garantir o quociente para eleger as velhas figurinhas carimbadas da política.
E nunca serão um “Ó do borogodó”...
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