Tudo começou quando vi aquela teta de mamãe. Sorvi o leite como se fora o néctar dos deuses. Uma teta não me bastava. Secava as duas diariamente e muito cedo ela teve que me desmamar para não morrer de inanição! Caiu em si de que parira um pequeno glutão.
Vejo minhas fotos de menino e não acredito nessa história que me contam, afinal sempre pareci mais magérrimo do que gostaria de ser. É bem verdade que já trazia uma protuberância abdominal que fazia de meu perfil uma espécie de “chapéu em pé, com a aba enterrada no chão”. O famoso “menino do buchão”. Mas à medida que crescia, resolvi distribuir minhas gorduras horizontal e verticalmente, sempre à base de alimentação da “melhor” qualidade (hot-dogs, x-qualquer coisa, pizzas, doces, macarronadas, pão, pizzas, x-qualquertudo, chocolate, pizzas, pizzas e pizzas).
Enfim, todo tipo de quitute, acepipe, guloseima que surgia era devidamente devorado. O crescimento horizontal do meu ser não acompanhou o crescimento vertical. Hoje tenho o que se chama de uma quase obesidade mórbida. Nos exames com os médicos, sou logo detonado na entrada: “Quer morrer?”, pergunta o médico quando vê que meus triglicerídios estão mais altos que as ações da Petrobrás na bolsa.
Ainda tenho um coração que pulsa bem, mas tudo indica que os caminhos a ele vão ficando mais entupidos. Sei que não posso tomar refrigerantes. Mas antes de desistir deles, sento numa lanchonete e penso sobre o assunto sorvendo uma garrafa de 600 e um bom sanduba...
Tenho dito por aí que minha atitude não é tão irresponsável e sim, ecológica! Afinal, se um dia vou morrer, porque não alimentar minhas carnes e oferecer mais húmus à terra que me acolherá? Quem sabe um cientista, no futuro, acabe descobrindo uma nova fruta suculenta nascida de um pomar próximo de minha cova, com proteínas como nunca se viu? Reivindico desde já que se chame, cientificamente, de ninus suculentus, ou com o nome popular de Ninosola (tipo acerola, carambola, graviola...)!
Mas deixando de lado estas divagações narcísicas, que tentam esconder um problema de fato, escrevo na verdade este artigo porque o final do ano está aí, e como sempre, as tentações alimentares se multiplicam. Haja panetones, perus, chesters, lasanhas e muito refrigerante! E como sempre aquela promessa que nunca se cumpre: no primeiro dia do ano, começo uma rígida dieta! (Hahahaha!!) Essa é a maior mentira do mundo.
Tenho consciência (pesada) de que nada faço para diminuir meu apetite exacerbado. E quanto mais tenso fico, mais glutão me torno. Não que eu queira chegar a ser esbelto como uma sílfide. Mas perder uns quilinhos proporcionaria menos cobranças ou olhares indiscretos e preconceituosos dos ditadores da dieta. As duas últimas gerações seguiram o padrão de corpos esbeltos e sarados (muito embora, pouco desprovidos de cérebros...). Como comportar mais de 100 quilos em menos de 1,70 de altura? Entretanto, como abrir mão daquela lasanha ou do pão nosso de cada dia (com manteiga, queijo e presunto)?
O grande problema é quando se vai renovar o armário. Recentemente, durante uma viagem à Belém, resolvi investir comprando novas roupas. Entro na loja, e um sorridente vendedor me mostra os atalhos entre “araras” cheias de calças e camisas. Escolho aquele que eu gosto e aí vem a fatídica pergunta: “Qual o tamanho?” Falo baixinho, pra ninguém ouvir, mas o vendedor não entende. “Qual o tamanho, senhor?”. Repito envergonhado, já com outros clientes ao meu redor, esticando as orelhas para ouvir. O vendedor não compreende e suplica desesperado: “Fale mais alto, por favor, seu tamanho!”. Irritado e possesso dou um grito “EXTRAAAAA LAAAARGOOOO!” Momentos de tensão. O garotão ao lado, atônito, deixa cair aquela bermuda de surfista magricela, um senhor mais a frente pára de experimentar a calça de malha justa. Viro a cabeça e sinto como se estivesse num paredão. Todos tentam disfarçar uma gargalhada segurando a boca com a mão. O vendedor arrasado logo me despreza, apontando para a loja em frente onde se lê: “Temos tamanhos gigantes”.
Me recuso a comprar nestas lojas. Não quero acreditar que esteja tão balofo. Saio indignado e ao dobrar na esquina ouço um cacarejar explosivo de clientes ensandecidos. Naquele momento penso em criar um grupo terrorista para acabar com a ditadura da magreza. Seria uma ramificação da “Al Qaeda” (quem sabe a “Al Caída”, como minha barriga...). E eu seria a encarnação mais gorda do Osama bin Laden (ou melhor, Osama bem Larguem...).
Porque tanta discriminação aos gordos? Num ônibus, uma borboleta discriminatória que quando não prende a barriga, prende os glúteos. Sem contar que os assentos dos ônibus, tal qual dos aviões, é feito só para corpos de Gisele Bündchen e não para um “bunda cheia”...
A minha maior alegria é quando encontro algumas figuras conhecidas com uma pança dez vezes maior que a minha. Aí sinto que ainda sou um homem magro. Mas me solidarizo com os companheiros. Precisamos nos unir e criar o PORCO – Partido dos Obesos Radicais Contra a Opressão! Abaixo o regime e viva o gordo, como já dizia nosso MAIOR representante, JÔ Soares!
Não que eu queira continuar engordando, mas não precisa haver tanta discriminação com a nossa raça... Prometo que tentarei não engordar mais. Mas só depois das festas do fim de ano... Afinal, 2007 tem tudo pra ser um ano magérrimo, como o próprio número sete o é. Já em 2008, tudo pode ser bem mais redondo como os zeros e oito...
Feliz panetone e um próspero chester pra todo mundo!
Vejo minhas fotos de menino e não acredito nessa história que me contam, afinal sempre pareci mais magérrimo do que gostaria de ser. É bem verdade que já trazia uma protuberância abdominal que fazia de meu perfil uma espécie de “chapéu em pé, com a aba enterrada no chão”. O famoso “menino do buchão”. Mas à medida que crescia, resolvi distribuir minhas gorduras horizontal e verticalmente, sempre à base de alimentação da “melhor” qualidade (hot-dogs, x-qualquer coisa, pizzas, doces, macarronadas, pão, pizzas, x-qualquertudo, chocolate, pizzas, pizzas e pizzas).
Enfim, todo tipo de quitute, acepipe, guloseima que surgia era devidamente devorado. O crescimento horizontal do meu ser não acompanhou o crescimento vertical. Hoje tenho o que se chama de uma quase obesidade mórbida. Nos exames com os médicos, sou logo detonado na entrada: “Quer morrer?”, pergunta o médico quando vê que meus triglicerídios estão mais altos que as ações da Petrobrás na bolsa.
Ainda tenho um coração que pulsa bem, mas tudo indica que os caminhos a ele vão ficando mais entupidos. Sei que não posso tomar refrigerantes. Mas antes de desistir deles, sento numa lanchonete e penso sobre o assunto sorvendo uma garrafa de 600 e um bom sanduba...
Tenho dito por aí que minha atitude não é tão irresponsável e sim, ecológica! Afinal, se um dia vou morrer, porque não alimentar minhas carnes e oferecer mais húmus à terra que me acolherá? Quem sabe um cientista, no futuro, acabe descobrindo uma nova fruta suculenta nascida de um pomar próximo de minha cova, com proteínas como nunca se viu? Reivindico desde já que se chame, cientificamente, de ninus suculentus, ou com o nome popular de Ninosola (tipo acerola, carambola, graviola...)!
Mas deixando de lado estas divagações narcísicas, que tentam esconder um problema de fato, escrevo na verdade este artigo porque o final do ano está aí, e como sempre, as tentações alimentares se multiplicam. Haja panetones, perus, chesters, lasanhas e muito refrigerante! E como sempre aquela promessa que nunca se cumpre: no primeiro dia do ano, começo uma rígida dieta! (Hahahaha!!) Essa é a maior mentira do mundo.
Tenho consciência (pesada) de que nada faço para diminuir meu apetite exacerbado. E quanto mais tenso fico, mais glutão me torno. Não que eu queira chegar a ser esbelto como uma sílfide. Mas perder uns quilinhos proporcionaria menos cobranças ou olhares indiscretos e preconceituosos dos ditadores da dieta. As duas últimas gerações seguiram o padrão de corpos esbeltos e sarados (muito embora, pouco desprovidos de cérebros...). Como comportar mais de 100 quilos em menos de 1,70 de altura? Entretanto, como abrir mão daquela lasanha ou do pão nosso de cada dia (com manteiga, queijo e presunto)?
O grande problema é quando se vai renovar o armário. Recentemente, durante uma viagem à Belém, resolvi investir comprando novas roupas. Entro na loja, e um sorridente vendedor me mostra os atalhos entre “araras” cheias de calças e camisas. Escolho aquele que eu gosto e aí vem a fatídica pergunta: “Qual o tamanho?” Falo baixinho, pra ninguém ouvir, mas o vendedor não entende. “Qual o tamanho, senhor?”. Repito envergonhado, já com outros clientes ao meu redor, esticando as orelhas para ouvir. O vendedor não compreende e suplica desesperado: “Fale mais alto, por favor, seu tamanho!”. Irritado e possesso dou um grito “EXTRAAAAA LAAAARGOOOO!” Momentos de tensão. O garotão ao lado, atônito, deixa cair aquela bermuda de surfista magricela, um senhor mais a frente pára de experimentar a calça de malha justa. Viro a cabeça e sinto como se estivesse num paredão. Todos tentam disfarçar uma gargalhada segurando a boca com a mão. O vendedor arrasado logo me despreza, apontando para a loja em frente onde se lê: “Temos tamanhos gigantes”.
Me recuso a comprar nestas lojas. Não quero acreditar que esteja tão balofo. Saio indignado e ao dobrar na esquina ouço um cacarejar explosivo de clientes ensandecidos. Naquele momento penso em criar um grupo terrorista para acabar com a ditadura da magreza. Seria uma ramificação da “Al Qaeda” (quem sabe a “Al Caída”, como minha barriga...). E eu seria a encarnação mais gorda do Osama bin Laden (ou melhor, Osama bem Larguem...).
Porque tanta discriminação aos gordos? Num ônibus, uma borboleta discriminatória que quando não prende a barriga, prende os glúteos. Sem contar que os assentos dos ônibus, tal qual dos aviões, é feito só para corpos de Gisele Bündchen e não para um “bunda cheia”...
A minha maior alegria é quando encontro algumas figuras conhecidas com uma pança dez vezes maior que a minha. Aí sinto que ainda sou um homem magro. Mas me solidarizo com os companheiros. Precisamos nos unir e criar o PORCO – Partido dos Obesos Radicais Contra a Opressão! Abaixo o regime e viva o gordo, como já dizia nosso MAIOR representante, JÔ Soares!
Não que eu queira continuar engordando, mas não precisa haver tanta discriminação com a nossa raça... Prometo que tentarei não engordar mais. Mas só depois das festas do fim de ano... Afinal, 2007 tem tudo pra ser um ano magérrimo, como o próprio número sete o é. Já em 2008, tudo pode ser bem mais redondo como os zeros e oito...
Feliz panetone e um próspero chester pra todo mundo!
---------------------------
(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada hoje no Diário do Tapajós, edição regional do jornal Diário do Pará.
4 comentários:
Ninos, meu irmãozinho, só mesmo você para criar coisas belas como essa.
Parabéns e muito rango neste fim de ano.
Pra ser diferente, Feliz Natal e um próspero Ano Novo.
Floripa.
rsrsrsrs pense num texto maravilhoso esse teu. Aliás os teus textos de Perípatos me faz rir à bessa, isso mostra além do teu lado inteligentérrimo, divertido.
Parabéns!!! Pra variar tô indo no mesmo rumo dos gordinhos, mas no início do ano... kkkkk
bjos e um abençoado 2007 procê.
Um ótimo 2007 para você.
Saúde e Paz!
Viva a boa mesa!!
Ninótico,os gordos sofrem,mas sabem aproveitar melhor as delícias da boa mesa...eheh.
Cá em casa teremos, amanhã, bacalhau, peru e um leitão assado de forno com uma maçã na boca.
Ponha água na sua.
Um graaaaande 2007 prá voce e os seus.
Postar um comentário