segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Culinária regional: opção de emprego e renda (*)

A culinária regional deveria ter um destaque especial no programa de qualquer político que pretendesse implementar um programa sério de geração de emprego e renda. Seja para consumo de turistas ou para a população local, seria imprescindível uma maior atenção a este setor, afinal é o estômago que fisga a maior parte de nossa atenção no dia-a-dia dos lugares públicos, principalmente nos centros urbanos.
Não se ouve nenhum político dedicar um minuto de seu discurso para esse filão. E se fala, não concretiza qualquer projeto que aproveite a riqueza cultural de nossa culinária, transformando-a em geração de espaços para esse tipo de alimentação. A não ser em balneários turísticos onde a duras penas estes espaços existem, muito embora deixem muito a desejar.
Existe um exército de tacacazeiras e quituteiras regionais prontas para servir guloseimas de dar água na boca. A tradição destas mulheres do povo deixa suas marcas nas esquinas da cidade por conta de seu próprio esforço e perseverança. Elas sobrevivem sem fazer parte de uma estatística organizada da prefeitura ou de uma política de valorização dos espaços para a integração destes profissionais, que gerariam oportunidades de emprego e renda.
Em Belém, nas últimas décadas, muitos espaços públicos evidenciaram a construção de quiosques especiais para abrigar estes profissionais e investiu-se na padronização e na higiene dos produtos. Cada governo que passou deu sua contribuição: alguns com projetos arquitetônicos megalômanos, outros com medidas simples de organização ouvindo os próprios trabalhadores do local. Resultado: hoje dá gosto sentar e comer num boxe do Ver-o-peso, que por muitos anos foi sinônimo de sujeira e desorganização.
Em Santarém, o que se viu sempre foi a perseguição aos ambulantes e suas barraquinhas improvisadas por conta da procedência duvidosa e da higiene dos produtos. A orla em frente à cidade foi projetada para ter quiosques eqüidistantes que serviriam para abrigar esse tipo de serviço, mas até agora não saíram do papel.
E o pior: quem busca alguma guloseima regional entre os ambulantes que se instalaram em toda sua extensão, tem que se contentar com pizzas expressas, hot-dogs ou queijinhos defumados servidos em espeto. Tacacá ou vatapá, nem pensar!
Será que a Semdes – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, não poderia organizar estes espaços e garantir que a orla e outros espaços públicos fossem um espaço para todos os gostos? Porque temos que ser obrigados a desfrutar da bela visão do rio, sem poder degustar dos acepipes regionais? Sem contar na geração de emprego e renda combinada com alimentação mais nutricional.
Nada contra pizzas e x-qualquer coisa. Mas em tempo de diversidade regional e cultural, nada mais justo que garantir um lugar ao sol para nossa culinária, que faz qualquer turista (ou não) lamber os beiços!
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(*) Artigo publicado em minha coluna Peripatos, no Diário do Tapajós - edição regional do Diário do Pará - em 13.12.2005.

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