terça-feira, 12 de abril de 2005

Pérola de Belchior

Essa é uma das pérolas da MPB que pouca gente conhece. Inda mais na voz de Belchior...
Já que não podem ouvi-la por aqui, curtam a inspirada poesia deste cearense cabra da peste!
Bahiuno
(Belchior – Francisco Casaverde)


Já que o tempo fez-te a graça
de visitares o Norte, leva notícias de mim.
Diz àqueles da província que já me viste a perigo
na cidade grande enfim.
Conta aos amigos doutores que abandonei
a escola pra cantar em cabaré,
Baiões bárbaros baihunos,
com a mesma dura ternura
que aprendi na estrada e em Ché.
Ah! metrópole violenta que exterminas miseráveis,
negros parias, teus meninos!
Mais uma estação no inferno, Babilônia, Dante!
Há Minas? outros destinos?

Conta àquela namorada que vai ser sempre o meu céu
mesmo que eu virar estrela.
O par de botas de couro

À família, dá-lhe um abraço apertado,
que a todos possa abraçar.
Fora da lei, procurado
me convém família unida contra quem me rebelar.

Cai o muro de Berlim cai sobre ti, sobre mim,
nova ordem mundial
Camisa de força de Vênus
Ah! quem compraria, ao menos o velho gozo animal

Já que o tempo fez-te a graça de visitares o Norte,
leva noticias de mim.
O cara caiu na vida, ao ver seu mundo tão certo,
assim tão perto do fim
Dá flores ao comandante
que um dia te dispensou do serviço militar
Ah! quem precisa de heróis
feras que matam na guerra e choram na volta ao lar.

Gênios do mal tropicais, poderosos bestiais
vergonha da mãe gentil
Fosse eu um Chico, um Caetano, e cantaria,
todo ufano ``os anais da guerra civil``

Ao pastor de minha igreja
reza que essa ovelha
jamais vai ficar branquinha

Se meu pai, se minha mãe se perguntarem, sem jeito
- onde foi que a gente errou?
Elogiando a loucura, e pondo-me entre os sonhadores,
diz que o show já começou.

Trogloditas, traficantes,
neonazistas, farsantes,
barbárie, devastação.
O rinoceronte e mais decente
do que essa gente demente
do Ocidente tão cristão.

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