segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Diana Pequeno e a versão de Bob Dylan
Duas mensagens, um motivo
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
domingo, 23 de dezembro de 2007
Canto de Várzea canta no Bazar Brasileiro
O CD foi lançado pela Secretaria de Estado de Cultura através do Selo Paranatinga que tem como objetivo divulgar e promover o registro da obra de grupos musicais tradicionais do Estado, além de homenagear o poeta santareno Ruy Paranatinga Barata.
O Canto de Várzea completou 25 anos de história, já tendo passado por ele vários músicos, interpretes e compositores santarenos. Atualmente é formado pelos músicos Emir Bemerguy Filho, Beto Paixão, Antônio Álvaro, Nicolau Paixão, João Otaviano, Everaldo Martins Filho, Otacílio Amaral e Samuel Lima.
Na sexta-feira, além do lançamento do CD - que contou com as participações dos cantores Maria Lídia e Zé Azevedo, que também têm laços com o grupo apesar de suas carreiras solo - foi feita a gravação para um DVD que será lançado em breve.
Acompanhe a entrevista com o pessoal do Canto de Várzea logo mais na Rádio Rural, que terá também a presença do radialista Dornélio Silva (foto menor), um dos fundadores do programa de passagem por Santarém. Se estiver fora de Santarém, tente o link http://radiorural.v10.com.br/, nem sempre funciona, mas quem sabe você tenha sorte...
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Agradecimento
terça-feira, 6 de novembro de 2007
O filho que eu quero ter
A plenitude do ser na plena juventude do renascer(*)
Naquele dia eu havia dormido pai e acordado avô! A revelação dita em tom meio alegre e meio nervoso pela garotinha que vi nascer há 21 anos, me fez despertar para um novo mundo. Para quem andava meio acabrunhado com sinais de que a velhice vinha insistindo em bater à minha porta e dizer “oi” em plenos 44 anos, através de dores, e doenças, cansaços e estresses, agora surgia a certeza de que a vida me mostrava um novo caminho que há tanto eu perseguia: a plenitude do ser.
Há pelo menos 15 dias venho curtindo a idéia de ser avô aos 45! O neto anunciado virá ao mundo entre junho e julho do próximo ano, quando estarei completando esta idade, quem sabe até venha embrulhado em papel de presente, no próximo 13 de julho...
Já andei espalhando a notícia por aí, mas preciso andar com um lenço na mão para evitar me afogar na própria baba... Não podia continuar andando de boca em boca com tal notícia. De repente, em meio a tantas babas de “pappú” (vovô, em grego), me lembrei que também sou jornalista e que escrevo artigos num jornal e no meu blog. Então: boca no trombone para anunciar meu primeiro “engonós” (neto, em grego)! Mais um greguinho-amazônida no forno...
O anúncio desse neto me recorda o nascimento de minha primogênita – a mãe dele – que chamei de Helena (na foto abaixo, ao lado do avô-coruja) em homenagem à famosa princesa que uniu os reis da Grécia contra a mítica Tróia. Eu tinha, então, 23 anos e num dos – muitos – arroubos românticos regados à testosterona, acabei gerando uma princesinha que deu um novo alento àquela vida pós-adolescente de então. Foi depois de seu nascimento que comecei a perceber que o mundo não era feito só de aventuras. Mesmo assim, ou talvez por isso, acabei me aventurando para conhecer o mundo helênico que meu pai havia deixado atrás. Fui em busca das raízes gregas para juntá-las aos cipós amazônicos e consolidar um novo homem (não sei se consegui...).
Mas deixemos de lado estas lembranças e concentremos-nos na plenitude do ser.
Um dos temas recorrentes em minhas vãs filosofias é a morte e antes dela a velhice. Envelhecer para mim nunca foi problema. O problema é que a velhice é o corredor que nos leva à morte e até hoje não me convenci de que quero chegar ao final desse corredor. Talvez por isso vivi perigosamente, como quem quisesse desafiar a morte, apesar de morrer (ops) de medo dela...
Envelhecer é ficar mais sábio. Hoje me sinto mais seguro de mim e não temo em expressar minhas opiniões abertamente. Não mais como um kamikaze dos tempos de rebeldia sem causa e de polêmicas sem nexo. Agora estou mais para um samurai. Só não sei se estou pronto para um dia cometer um haraquiri... Quem sabe quando finalmente me aprofundar nas filosofias orientais que há muito persigo, consiga encontrar essas respostas.
A busca pela eterna juventude sempre se prendeu à busca pela imortalidade. E mais uma vez a sabedoria dos meus antepassados gregos deixa uma lição, através do belo mito de Eos e Tithonus. Eos era a deusa da Aurora (a palavra latina aurora vem do grego auôs, que é uma outra forma de éôs). Ela era irmã de Hélios, o Sol, e de Selene, a Lua. Conta a lenda que Eos se apaixonou por um mortal célebre por sua beleza, Tithonus, irmão do rei de Tróia, Príamo. Para poder amá-lo por toda a eternidade suplicou a Zeus, deus dos deuses, que transformasse seu amado em um ser imortal como ela. Mas a apaixonada Eos se esqueceu de pedir para que ele também não envelhecesse. Tithonus, feito imortal, foi envelhecendo e ficando cada vez mais velho, tão velho que foi definhando, definhando e sem forças nem para se mexer de seu quarto até que Eos, apiedada da sorte que reservara ao seu amado transformou-o numa cigarra.
A lição que fica é que a morte faz parte da vida e não há como escapar dela. Numa das sempre superinteressantes reportagens de minha revista favorita, publicada há 5 anos, a jornalista Maria Fernanda Vomero afirmava que “é um paradoxo: a valorização da vida e a ilusão de eterna beleza e jovialidade trazidas pela vida moderna acabam gerando, por meio do apego a tudo isso, muito mais tristeza e sofrimento pelo fim inevitável da existência do que felicidade pelo mais de vida que proporcionam.”
A matéria tratava sobre a morte e como nós, principalmente os ocidentais, convivemos com o tema transformando-a em tabu desde a infância. Não ensinamos nossos filhos a conviverem com a morte, daí nosso medo da vida. "O medo da morte nos força a viver - a nos relacionarmos, a procriarmos, a criarmos, a construirmos coisas que nos transcendam", afirma na mesma reportagem a socioantropóloga Luce Des Aulniers, responsável pela disciplina de Estudos Sobre a Morte, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canadá.
Mais do que nunca começo a me convencer que a única forma de se eternizar é através de nossos feitos ou de nossa prole. O filho que gera o neto, que gera o bisneto e todas as gerações que virão. Eu por exemplo, posso ser, talvez, a concepção dos sonhos de meu bisavô grego que fugiu do lado turco no território disputado por gregos e otomanos para não perder – literalmente – a cabeça numa espada durante a guerra entre os dois povos no início do século XIX e se eternizar (nem ele sabia) em solo amazônico!
A plenitude do meu ser começou com Helena e se espalhou pelos outros filhos que gerei (Thiago e Georgios) e até a que criei (Carla). Todos meus pequeNinos destinos no futuro. Daí o título acima que me leva a pensar na plenitude do ser como conseqüência da plena juventude do eterno renascer.
Agora é pensar nas fraldas, nos carrinhos, nos carinhos, na mamadeira e nas brincadeiras com o primeiro neto. De muitos que certamente virão...
(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Peripatos, que circula logo hoje no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Crônica de um santareno em Macapá
Í r i s
À medida que os passos caminham por si, paisagens várias se me acumulam os olhos, cenários vários. E minha menina passeia feliz pelos brinquedos rotos das praças, pela relva queimada, tufos castigados de sol do santo dia, pelas ruelas e becos estranhos e solenes. Os paralelepípedos das ruas (inexistentes, a não ser em meus devaneios poéticos) ferem os pés.
Mas a menina não liga. Íris é seu nome, e ela passeia, me levando a conhecer a cidade que já conheço. Sem ela sou cego. É ela quem observa os sinaleiros, as placas, os carros. Ela é quem me atravessa a rua após olhar os dois lados, como aprendi com a professora de infância. Usa-me como linha a costurar ruas tortas, becos mínimos, calçadas sem calçadas da minha cidade.
Ah! menina, mostra-me a cidade como quem o faz a um turista daqui mesmo. Mostra-me a cidade minha, que já conheço e que está tão em mim amalgamada.
É esta, a de linhas tortas e horizontes levemente arqueados. De rios que não se misturam por medo de perder sua identidade. De ilhas flutuantes que sempre crescem mais e mais, e se multiplicam e se proliferam...
O cheiro de povo vem de novo. Exala dos cascos das embarcações, das praias mortas a beira-rio, dos costumes e crenças de cada esquina, do concreto do cais do porto.
Barracas de peixe frito ao lado de sub-MacDonalds lembram minha alma de moleque, estranho moleque que não soltava pipa, não brincava gude ou pião, não esquadrinhava as ruas com a turma barulhenta, mas que já naquela época tinha sede de liberdade. Mesmo sendo uma liberdade presa no terreno grande de casa, imensa prisão disfarçada de mundo.
A cidade que conheci estava ali. A que me mostra agora minha menina é outra e a mesma, estranha e íntima como a segunda namorada, que da primeira não tenho lembranças.
Minha cidade em mim entranhada é corpo estranho em meu próprio corpo, é corpo largado nas ruas mais perigosas, nos cantos mais escuros. É corpo virgem a quem são mostrados os discretos motéis de beira de estrada. Corpo suado de correr na orla, de malhar no meio-fio. Corpo de prazer. Corpo de delito.
Minha menina é sábia. A cidade que me mostra é aquela que já sei. A das boates da noite, bares da vida em cuja mesa de pano verde às vezes passo meu tempo. E ela, a minha menina, me auxilia a encaçapar bolas, a namorar meninas outras já da vida, a sentir o prazer de olhar de perto (com auxílio de mãos e dedos e outras partes do corpo) tantos segredos semi-escondidos, semimostrados.
Menina sem corpo, que me pertence. Cidade sem porto que me prende. Paixão sem rosto que me atende os desejos mais vis, mais abjetos, mais sublimes. Toma minha frente, menina. Leva-me atrás de si a descobrir de novo minha cidade. A visitar seus portos e suas tendas, seus luares e lupanares. Pores-de-sol. Os lugares que não conheço, os que conheço e não uso, por medo talvez, ou vergonha, de que percebam que não sou daqui.
A cidade que me desconhece me esconde em si, e há tantos lugares, tantos desencontros marcados em suas esquinas, em seus velhos casarões do Centro, que nem centro é, é frente (estranha cidade em que a frente é centro, o centro é periferia e a periferia é mato, ou outra cidade).
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De repente me vejo, eu e minha menina, em outro cenário, outra cidade. Esta não é minha, nunca foi. Para um paraense de Santarém não existe outra cidade. Só há o brilho da Pérola do Tapajós em meio às águas do grande rio. Sinto falta das suas praias de rio, limpas de águas e de branco areal.
Minha menina já não me leva a passeio. Parece cansada. Na verdade, creio que é saudade da nossa cidade, onde éramos livres e à qual estávamos presos. Mas agora estamos aqui, embora não haja Fortaleza de São José que se compare às paredes em ruínas do nosso Castelinho.
Nesta cidade, nomes como “Çairé”, “Borari”, “Alter-do-Chão” e “Encontro das águas” soam estranhos. As raízes são outras, os nomes também. Zerão, Marco Zero, Fortaleza. A Cidade do Meio do Mundo pulsa cheia de vida, mas fico trancado, eu e minha menina, contemplando as paredes brancas e os labirintos de teia que formam mandalas nos vãos do teto. Os tambores no meio do mundo chamam ao requebro, o marabaixo estende seu balanço pelo mar inteiro, rio inteiro e suas margens. Mas eu nunca fui de dança. E o trapiche só traz saudade de outro, mais famoso e querido porque já não existe senão na lembrança dos antigos santarenos. A cidade não é minha. Quisera que fosse.
Fosse minha, mandava ladrilhar com minhas lembranças felizes da cidade minha outra. Fosse minha, não sofreria tanto pela falta de areia branca das praias de verdade, nem pela falta de todas as pequenas coisas que me deixaram marcas indeléveis. Não sentiria a saudade que advém do cheiro de maresia entranhado nas embarcações ao longo do rio, nem a falta das serenatas nas noites enluaradas da minha terra.
Do meu quarto, entre paredes brancas e teto de barro, com a visão presa no emaranhado cintilante das teias caleidoscópicas, quedamos eu e minha menina, sozinhos, saudosos de outras terras, de outros momentos. Vem, menina. Para melhor suportar essas horas de solidão, deixa eu te envolver, abraçar com a minha pele, sentir teu toque escorregadio, lubrificado. E sonhar recordações.
Por que nessas linhas carregadas de palavras incestuosas, de laços impróprios entre um homem e sua menina, um simples fechar de pálpebras mitiga um pouco a saudade.
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Minha menina (Íris é seu nome) está entranhada nesses olhos que brilham agora por trás das lentes míopes de meus óculos...
Eleições: os “bois de piranha” e os “Ó’s do borogodó” (*)
Sexta-feira, 05 de outubro, foi o último prazo para mudanças de partidos para quem pretende se candidatar a uma vaga nas próximas eleições. Houve muito troca-troca local e participei de um debate neste final de semana (06/10) no blog do jornalista Jeso Carneiro, após ver o comentário de um internauta anônimo criticando a informação de que radialistas de Santarém estariam se filiando em vários partido na busca de uma vaga nas próximas eleições.
Discordei da “raiva” do internauta anônimo com os candidatos que trabalham em rádio. A questão não é ser radialista ou não. A questão é saber se suas intenções como candidatos são boas ou se querem ser apenas mais um político demagogo. Afinal, nossa Constituição garante o direito de qualquer cidadão votar e ser votado, preenchidos os requisitos básicos. O próprio anônimo, quem sabe, pode ser um talento da política que ainda não foi descoberto...
Mas afirmo de cátedra que todos deverão ser apenas “bois de piranha” nas próximas eleições, com poucas chances de conquistar uma vaga, mas ajudarão a eleger grande parte dos mesmos de sempre. Acho que todo mundo conhece a expressão “boi de piranha”, que vem de um costume de peões do Pantanal: quando uma boiada precisa atravessar um rio infestado de piranhas, os peões ferem um dos bois e atraem as feras sacrificando o animal - que geralmente é o mais velho do gado – e atravessam a salvo o resto da boiada num ponto mais afastado do rio.
Numa eleição, os astutos “reis do gado” (os donos dos partidos, mas nem sempre donos dos votos) usam de estratégia quase idêntica para garantir que sua manada se dê bem na disputa pelos votos. A diferença é que neste caso o “boi de piranha” é escolhido não entre velhos militantes do partido e sim entre pessoas sem experiência política, mas que tem alguma visibilidade na comunidade. De preferência, pessoas que alcançaram a fama através da mídia como radialistas, atletas ou artistas.
Outra diferença é que o “boi de piranha das eleições” atrai eleitores incautos para sua “carne fresca” e o partido ganha em troca o chamado “quociente partidário” (baseado no “quociente eleitoral” que define a tal proporcionalidade) e acaba conquistando mais vagas para a sua bancada (mas à frente tento explicar essa lógica). Às vezes, algum “boi de piranha” consegue se salvar, atravessa o “rio das eleições” e nada até às tranqüilas praias chamadas de “plenário do Legislativo”...
Essa situação já começa a se delinear a um ano das eleições como bem sugere matéria jornalística do portal G1 da que mostra as novas filiações de celebridades pelos partidos em nível nacional para as próximas eleições. E Santarém não fica atrás nessa onda.
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Ele foram os verdadeiros “Ó’s do borogodó” de sua época: dois jovens “galãs” do rádio santareno que entraram na política no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, passando pela Câmara Municipal e se firmando como políticos e ainda hoje como radialistas de sucesso, apesar dos altos e baixos em suas carreiras políticas (atualmente, mais baixos do que altos).
Os dois representavam (pelo menos aparentemente) duas posturas ideológicas distintas naquele período, além de rivalizarem o mesmo espaço no âmbito da locução esportiva. Mas os tempos eram outros: a cidade era mais provinciana que agora e a Rádio Rural (onde os dois atuavam) tinha uma quase absoluta audiência. Convivi de perto com os dois, como repórter e como colega de profissão e acho que posso me arriscar a delinear seus perfis.
Osvaldo era o projeto dos sonhos de liderança pró-regime militar sob as asas do então PDS de seu pai, Agapito Figueira (o velho líder comunitário da antiga Arena, partido dos militares). Eleito vereador para o período 1983/1988, Osvaldo retornou à Câmara só em 2001/2004 e atualmente é suplente de vereador. Mas decepcionou seu pai quando largou o PDS pelo PMDB, passou pelo PTB e hoje está no PSDB para tentar retornar à Câmara em 2008.
Já Oti Santos vinha de raízes baratistas (seu pai foi um “soldado” de Magalhães Barata, o “pai dos pobres” ao tucupi) e pretendia ser a antítese do regime militar pelo PMDB, remanescente do antigo PSD. Politicamente foi mais bem sucedido que Osvaldo, pois além de vereador foi deputado estadual e prefeito de Belterra por duas vezes e nunca trocou de partido. Hoje sonha em voltar à prefeitura de Belterra, mas ao que parece vai viver o pesadelo de comandar a Cosanpa...
Cito o exemplo dos dois para reafirmar que nos dias de hoje é mais difícil um radialista ou jornalista conseguir um espaço na política do que naquela época. Acompanho a votação de Santarém nos últimos 25 anos e constato que, no geral, esses profissionais têm uma votação pífia ou quando muito, conseguem uma boa projeção em votos mas não o suficiente para se eleger (eu mesmo já fui candidato em 1992 e senti isso de perto).
Outro fator que contribui para que os radialistas não obtenham esse sucesso na votação, está na pulverização de seu eleitorado. Algumas pessoas podem até votar num candidato pelo seu desempenho como profissional da comunicação, mas se houver vários candidatos essa audiência se dividirá entre os vários candidatos.
Segundo minhas anotações, o número de candidatos ligados à órgãos de comunicação vem diminuindo substancialmente. A maior leva de candidatos foi na eleição de 1992 quando cerca de 20 profissionais da imprensa tentaram uma vaga na Câmara Municipal. O mais votado naquele ano foi Osvaldo de Andrade (que tentava a reeleição) e que acabou ficando de fora. Já na eleição passada (2004) esse número não chegou a 5 candidatos e mais uma vez o mais votado foi Osvaldo de Andrade, que só conseguiu uma suplência.
Muita gente até hoje não compreende a lógica da proporcionalidade das eleições. Ano passado escrevi uma série de textos aqui “Perípatos” que chamei de “Manual do Eleitor Incauto”, sobre este e outros temas relacionados às eleições (para ler esses textos clique AQUI, AQUI, e AQUI).
A coisa é complexa, mas quem já trabalha na política sabe como a engrenagem funciona. O problema são os milhares de candidatos novatos que são seduzidos à participar da campanha, alguns bem intencionados outros não, e que acabam servindo de “bois de piranha” nesta matemática confusa. Principalmente aqueles que se acham uma “celebridade”.
Tendo acompanhado duas campanhas municipais trabalhando com marketing e armazenando números de votos em um banco de dados próprio, acredito que a visibilidade que os nossos “artistas locais” possam ter no seu dia-a-dia numa emissora de rádio é apenas o que chamo de “potencial de partida” para impulsionar uma campanha.
Se não tiverem estrutura logística para se deslocar por todo o município e grupos de apoio nas comunidades e bairros para multiplicar esse potencial, serão apenas meros “bois de piranha” ajudando o partido a garantir o quociente para eleger as velhas figurinhas carimbadas da política.
E nunca serão um “Ó do borogodó”...
Eleições: os “bois de piranha” e os “Ó’s do borogodó” (*)
Sexta-feira, 05 de outubro, foi o último prazo para mudanças de partidos para quem pretende se candidatar a uma vaga nas próximas eleições. Houve muito troca-troca local e participei de um debate neste final de semana no blog do jornalista Jeso Carneiro, após ver o comentário de um internauta anônimo criticando a informação de que radialistas de Santarém estariam se filiando em vários partido na busca de uma vaga nas próximas eleições.
Discordei da “raiva” do internauta anônimo com os candidatos que trabalham em rádio. A questão não é ser radialista ou não. A questão é saber se suas intenções como candidatos são boas ou se querem ser apenas mais um político demagogo. Afinal, nossa Constituição garante o direito de qualquer cidadão votar e ser votado, preenchidos os requisitos básicos. O próprio anônimo, quem sabe, pode ser um talento da política que ainda não foi descoberto...
Mas afirmo de cátedra que todos deverão ser apenas “bois de piranha” nas próximas eleições, com poucas chances de conquistar uma vaga, mas ajudarão a eleger grande parte dos mesmos de sempre. Acho que todo mundo conhece a expressão “boi de piranha”, que vem de um costume de peões do Pantanal: quando uma boiada precisa atravessar um rio infestado de piranhas, os peões ferem um dos bois e atraem as feras sacrificando o animal - que geralmente é o mais velho do gado – e atravessam a salvo o resto da boiada num ponto mais afastado do rio.
Numa eleição, os astutos “reis do gado” (os donos dos partidos, mas nem sempre donos dos votos) usam de estratégia quase idêntica para garantir que sua manada se dê bem na disputa pelos votos. A diferença é que neste caso o “boi de piranha” é escolhido não entre velhos militantes do partido e sim entre pessoas sem experiência política, mas que tem alguma visibilidade na comunidade. De preferência, pessoas que alcançaram a fama através da mídia como radialistas, atletas ou artistas.
Outra diferença é que o “boi de piranha das eleições” atrai eleitores incautos para sua “carne fresca” e o partido ganha em troca o chamado “quociente partidário” (baseado no “quociente eleitoral” que define a tal proporcionalidade) e acaba conquistando mais vagas para a sua bancada (mas à frente tento explicar essa lógica). Às vezes, algum “boi de piranha” consegue se salvar, atravessa o “rio das eleições” e nada até às tranqüilas praias chamadas de “plenário do Legislativo”...
Essa situação já começa a se delinear a um ano das eleições como bem sugere matéria jornalística do portal G1 da que mostra as novas filiações de celebridades pelos partidos em nível nacional para as próximas eleições. E Santarém não fica atrás nessa onda.
Os “Ó’s do borogodó” - Os únicos radialistas que conseguiram a façanha de conquistar um mandato na recente história da Câmara Municipal de Santarém foram Oti Santos e Osvaldo de Andrade.
Ele foram os verdadeiros “Ó’s do borogodó” de sua época: dois jovens “galãs” do rádio santareno que entraram na política no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, passando pela Câmara Municipal e se firmando como políticos e ainda hoje como radialistas de sucesso, apesar dos altos e baixos em suas carreiras políticas (atualmente, mais baixos do que altos).
Os dois representavam (pelo menos aparentemente) duas posturas ideológicas distintas naquele período, além de rivalizarem o mesmo espaço no âmbito da locução esportiva. Mas os tempos eram outros: a cidade era mais provinciana que agora e a Rádio Rural (onde os dois atuavam) tinha uma quase absoluta audiência. Convivi de perto com os dois, como repórter e como colega de profissão e acho que posso me arriscar a delinear seus perfis.
Osvaldo era o projeto dos sonhos de liderança pró-regime militar sob as asas do então PDS de seu pai, Agapito Figueira (o velho líder comunitário da antiga Arena, partido dos militares). Eleito vereador para o período 1983/1988, Osvaldo retornou à Câmara só em 2001/2004 e atualmente é suplente de vereador. Mas decepcionou seu pai quando largou o PDS pelo PMDB, passou pelo PTB e hoje está no PSDB para tentar retornar à Câmara em 2008.
Já Oti Santos vinha de raízes baratistas (seu pai foi um “soldado” de Magalhães Barata, o “pai dos pobres” ao tucupi) e pretendia ser a antítese do regime militar pelo PMDB, remanescente do antigo PSD. Politicamente foi mais bem sucedido que Osvaldo, pois além de vereador foi deputado estadual e prefeito de Belterra por duas vezes e nunca trocou de partido. Hoje sonha em voltar à prefeitura de Belterra, mas ao que parece vai viver o pesadelo de comandar a Cosanpa...
Cito o exemplo dos dois para reafirmar que nos dias de hoje é mais difícil um radialista ou jornalista conseguir um espaço na política do que naquela época. Acompanho a votação de Santarém nos últimos 25 anos e constato que, no geral, esses profissionais têm uma votação pífia ou quando muito, conseguem uma boa projeção em votos mas não o suficiente para se eleger (eu mesmo já fui candidato em 1992 e senti isso de perto).
Outro fator que contribui para que os radialistas não obtenham esse sucesso na votação, está na pulverização de seu eleitorado. Algumas pessoas podem até votar num candidato pelo seu desempenho como profissional da comunicação, mas se houver vários candidatos essa audiência se dividirá entre os vários candidatos.
Segundo minhas anotações, o número de candidatos ligados à órgãos de comunicação vem diminuindo substancialmente. A maior leva de candidatos foi na eleição de 1992 quando cerca de 20 profissionais da imprensa tentaram uma vaga na Câmara Municipal. O mais votado naquele ano foi Osvaldo de Andrade (que tentava a reeleição) e que acabou ficando de fora. Já na eleição passada (2004) esse número não chegou a 5 candidatos e mais uma vez o mais votado foi Osvaldo de Andrade, que só conseguiu uma suplência.
Muita gente até hoje não compreende a lógica da proporcionalidade das eleições. Ano passado escrevi uma série de textos aqui “Perípatos” que chamei de “Manual do Eleitor Incauto”, sobre este e outros temas relacionados às eleições.
Disponibilizo agora apenas o trecho que fala exatamente desta complexa matemática para definir quem ocupará as tão sonhadas vagas do Legislativo pelo critério da proporcionalidade definido após as eleições, como forma de auxiliar os pretensos candidatos:
“(...)Primeiro define-se os votos válidos, obtidos a partir da diminuição dos votos em branco e dos votos nulos do número total de votantes na eleição. Por exemplo, num estado, o número de eleitores que votaram é de 1.000. Destes, 50 votaram nulo e 100 votaram em branco. Os votos válidos serão 850.
Feito isso, define-se o quociente eleitoral através da divisão dos votos válidos pelo número de lugares a preencher (cadeiras). Por exemplo, nesse mesmo estado, existem 10 cadeiras na Assembléia Legislativa. O Quociente Eleitoral será 85. Aí, o próximo passo é definir o Quociente Partidário, que é obtido, dividindo-se o total de votos recebidos por cada partido ou coligação pelo Quociente Eleitoral.
Seguindo o exemplo dado, digamos que neste hipotético estado 03 (três) partidos disputaram a eleição, sendo que o partido A teve 450 votos, o partido B teve 255 e o partido C apenas 145 votos. A divisão das cadeiras será assim: Partido A, cinco cadeiras (450/85), Partido B, três cadeiras (255/85) e o Partido C, uma cadeira (145/85).
Por fim, vem a definição das vagas que sobraram. Aí, o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação, será dividido pelo número de lugares obtidos por ele mais um. Sendo que caberá ao partido ou coligação que apresentar a maior média um dos lugares a preencher.
Seguindo o nosso exemplo, vamos ver quem fica com a última cadeira, que não foi preenchida: o Partido A teve 450 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (5), é igual a 90, somado a 1 = 91. Já o Partido B teve 255 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (3) é igual a 85, somado a 1 = 86. Por fim, o Partido C com seus 145 votos, que divididos pelas vagas obtidas na primeira soma (1) é igual a 145, somado a 1 = 146. Assim, coube ao Partido C a última vaga(...)”.
A coisa é complexa, mas quem já trabalha na política sabe como a engrenagem funciona. O problema são os milhares de candidatos novatos que são seduzidos à participar da campanha, alguns bem intencionados outros não, e que acabam servindo de “bois de piranha” nesta matemática confusa. Principalmente aqueles que se acham uma “celebridade”.
Tendo acompanhado duas campanhas municipais trabalhando com marketing e armazenando números de votos em um banco de dados próprio, acredito que a visibilidade que os nossos “artistas locais” possam ter no seu dia-a-dia numa emissora de rádio é apenas o que chamo de “potencial de partida” para impulsionar uma campanha.
Se não tiverem estrutura logística para se deslocar por todo o município e grupos de apoio nas comunidades e bairros para multiplicar esse potencial, serão apenas meros “bois de piranha” ajudando o partido a garantir o quociente para eleger as velhas figurinhas carimbadas da política.
E nunca serão um “Ó do borogodó”...
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Madeireiro processa jornalista santareno
O processo é claramente intimidatório. Piteira acompanha, como jornalista, as ações de madeireiros e grileiros no município de Monte Alegre, assim como as reações do poder público e de entidades civis locais, desde 2003. Mais de uma dezena de reportagens assinadas por ele já foram publicadas em jornais de Belém e da região, com reprodução em vários sites do Brasil. O JBSB publicou todas as reportagens do jornalista sobre o assunto.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Eu e o 11 de setembro (*)
Em julho deste ano, durante uma das disciplinas no meu curso de jornalismo, eu e os outros colegas fomos desafiados pela jornalista e professora Socorro Veloso, paraense radicada em São Paulo e que ministrou a disciplina “Entrevista e Reportagem”, a escrever um texto em sala de aula tentando lembrar o que fazíamos naquela data. Muitos textos interessantes foram formulados, com lembranças de alguns que ainda eram adolescentes e outros já maduros.
Meu texto me fez voltar ao tempo e perceber como aquele evento entrou em minha vida, de repente, num momento em que eu também vivia uma crise pessoal e profissional. Por sugestão da professora, que gostou do meu texto, resolvi publicá-lo nesta data. Seria interessante que todos nós pudéssemos fazer esse exercício catártico, lembrando o que fazíamos naquele momento.
Mas deixando as divagações de lado, vamos ao texto:
Santarém, 11 de setembro de 2001.
A impressora Desk Jet 530 despejava as folhas de forma suave sobre a bandeja. Eu olhava com orgulho o equipamento recém-adquirido, bem como a produção que nele se imprimia. Era a minha primeira pesquisa de opinião pública “saindo do forno”! Há três anos, “Lexis Marketing, Pesquisa & Comunicação Ltda” era sinônimo de um sonho de realização pessoal, uma empresa de publicidade que naquele momento tentava se reabilitar apostando naquela pesquisa.
O escritório já não era mais no centro da cidade. Trouxe os móveis para a sala de casa e acreditava que aquela pesquisa sobre a aceitação ou não da proposta de criação do Estado do Tapajós em seis municípios da região oeste do Pará. Era minha redenção profissional. Trabalho de fôlego!
As folhas continuavam caindo na bandeja. Percebi então, que amanhecera na produção do relatório final. Meu cliente estaria ali, em breve, para ver o resultado. A análise dos dados me foi enviada pelo jornalista Manuel Dutra, por e-mail e acabara de juntá-la aos gráficos e tabelas do banco de dados. Esfreguei os olhos, bocejei, mas não podia me entregar “aos braços de Morfeu” na reta final!O cliente estaria ali, em breve, para ver o resultado...
Na tentativa de vencer o sono, achei que o melhor era assistir à TV. Globo, logicamente. Era cedo, mas o jornal Bom Dia Brasil já devia ter terminado. Estava fadado a assistir alguma receita rocambolesca da Ana Maria Braga com o auxílio do “mala” do Louro José...
Zap! A imagem não é de uma cozinha no Projac. Um prédio arde em chamas. Parece que um grande incêndio está acontecendo em uma das Torres Gêmeas do World Trade Center. O som baixo nada revela. O controle remoto é acionado. O silêncio que antes existia na sala – quebrado apenas pelo arremesso de folhas de minha impressora – ganha o ar dramático da narrativa dos repórteres da Globo.
Até aquele momento, nem eles entendem o que aconteceu. Um avião chocou-se ao prédio? Um acidente sem proporções. Um frio percorre minha espinha e me vem à mente o pavor que tenho de voar em aviões. “Bem que eu disse que não é seguro”, penso em voz alta.
De repente, o segundo avião! Eu me espanto e já não ligo para as folhas caindo na impressora. Fico em pé do lado da televisão e acompanho a narrativa. O controle remoto, freneticamente, pula de canal em canal como se quisesse confirmar que aquilo é real e não alguma “pegadinha” do Louro José...
Sim. As imagens se fundem e se confundem. O 11 de setembro entra em minha vida abruptamente. Ligo ao Dutra em Belém. Sonolento, ele não sabe o que está ocorrendo [Eureka! Pensei baixinho, afinal tinha conseguido “dar um furo” no grande mestre Esso]! Passamos a conversar sobre o episódio e o resto da manhã não consegui sair de frente da TV. A pesquisa ficou lá. O cliente não veio. O sono se foi. A história e a arrogância americana se desmilingüiram à minha frente. 11 de setembro de 2001: já não importava o futuro da “Lexis Marketing Pesquisa & Comunicação Ltda.”
(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada hoje no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Zé Maria inunda o Bazar de poesia
A poesia sensual em pessoa
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
17 anos do CDC
Por isso, para marcar a data, a equipe que faz o Projeto de Extensão EDUCAÇÃO DO ESTUDANTE CONSUMIDOR do Curso de Direito do CEULS/ULBRA, sob a coordenação da profª. Silvania Bezerra Franco, estará na quarta-feira, 12/09, a partir das 8h, na escola João XXIII na comunidade de Cipoal e na Escola da Comunidade de São José, ambas na Santarém-Cuiabá, planalto santareno, para levar a informação sobre o direito do consumidor àqueles estudantes e professores.
PROCON/Santarém
O dia seguinte do Bazar
domingo, 2 de setembro de 2007
Os pintos do Dornélio
A volta do Bazar Brasileiro
Bazar Brasileiro foi um espaço cultural importante no rádio santareno na década de 1980. Era um programa dominical com 5 horas de duração nas noites de domingo, que abria espaço para a cultura regional com música de qualidade, entrevistas com artistas da terra, poesias e muita informação. Era uma época sem internet e com muito idealismo.
A idéia do programa surgiu depois de uma conversa com o Jota Parente (foto abaixo à direita), diretor de programação da Rádio Rural àquela época. Eu já havia consolidado a carreira de repórter depois daquela estréia atabalhoada, e resolvi apostar minhas fichas num programa de rádio diferente.
Santarém vivia um momento de efervescência cultural com a criação das secretarias de cultura, estadual e municipal. Era uma época de realização de festivais de música, semanas de poesia e de um crescente movimento teatral e folclórico. Faltava um programa de rádio que abrisse espaço para essa cultura.
No final de 1984 havia um programa na Rádio Rural, aos sábados, chamado “Canta Brasil” que era apresentado pelo Jota Parente. Eu adorava o programa que ele fazia por idealismo, destacando músicas da MPB com pequenos comentários sobre sua importância no contexto musical. Mas as várias ocupações de Parente o fizeram desistir de continuar produzindo o programa. Fui até ele e me dispus a continuar o programa. Parente gostou de ver que um jovem de 22 anos gostava de MPB e se dispunha a produzir um programa sem patrocinador, num horário esquecido aos sábados e me deu crédito, liberando o programa para mim.
E foi minha primeira experiência como locutor de rádio (no jornalismo, minha participação era como repórter e redator). Gostei da coisa e resolvi ousar mais. Alguns meses depois procurei o Parente e pedi para ocupar o horário da noite de domingo, que não tinha um programa específico. Quando terminava a jornada esportiva aos domingos, o sonoplasta do horário ficava rodando uns LPs da Rádio Neederland (da Holanda, parceira internacional da Rural) com um programa enlatado que tinha músicas clássicas. Era um horário morto, desperdiçado. Só um louco como eu para querer ressuscitá-lo.
Apresentei a idéia de um programa cultural com entrevistas ao vivo de artistas locais, música de qualidade, informação e humor. Imaginei fazer um programa diferente em que eu pudesse conversar com os ouvintes, que acreditávamos serem em sua maioria do interior. Inspirado no estilo do programa Som Brasil apresentado pelo Rolando Boldrin na TV Globo (foto à esquerda), a proposta do programa era estabelecer um diálogo como se o locutor estivesse num balcão de uma mercearia atendendo seus "clientes". Aí vi a capa de um disco do Moraes Moreira (foto abaixo, à direita) lançado àquela época e adotei o nome do LP: Bazar Brasileiro. Tinha tudo a ver.
Enquanto eu discutia o programa com o Parente, Dornélio Silva tinha tido a mesma idéia de usar o mesmo horário, mas sem uma proposta definida e conversava com o gerente da Rural, Eduardo dos Anjos. Quando Parente e Eduardo se encontraram souberam das propostas dos dois lados e propuseram que nós dois trabalhássemos juntos na proposta. Como nossa relação pessoal era boa a simbiose foi perfeita e nascia um programa gostoso de fazer e de ouvir. Eu era a emoção e Dornélio a razão. Dupla imbatível.
Entre 1985 e 1988, apresentamos mais de 150 programas sempre aos domingos de sete à meia-noite! Entrevistamos quase todos os artistas locais e alguns nacionais que passavam por aqui para algum show. Mantivemos no ar a apresentação de poesias que nos eram enviadas por gente simples do interior e comentávamos as notícias do Fantástico (Globo) que assistíamos num televisor no estúdio, além de destacarmos as informações do jornais dominicais que circulavam em Santarém (O Liberal, Diário do Pará e A Província do Pará).
Em 1988, Dornélio voltou à Belém e eu fui morar na Grécia. O movimento cultural na cidade não queria perder o espaço e a Rural deu um jeito de manter o programa no ar com a mesma filosofia. Muita gente boa passou por lá comandando o Bazar Brasileiro, que saiu do ar em 1993! Eduardo dos Anjos, Jair Pedroso, João Otaviano Mattos, Anselmo Colares e Jérter Resende, foram alguns dos “sócios” do Bazar Brasileiro nesse período.
O desafio agora é retornar com o programa repaginado, numa época em que a internet faz parte de nossa vida e a cultura regional vive um momento de decadência. Para essa empreitada convidei o amigo Ormano Sousa, jornalista e professor (na foto acima, ao meu lado, nos estúdios da Rural), que foi um fã do programa à época e agora terá a chance de produzi-lo e apresentá-lo comigo. O horário já não será de 5 horas de programação, pois a Rádio Rural encerra sua programação dominical às 9 da noite, mas no acordo que tivemos com o diretor da emissora, padre Edilberto Sena, dependendo da resposta do público e do patrocínio que pretendemos buscar, podemos “esticar” o horário da rádio se for necessário.
Hoje à noite, na estréia, vamos apresentar a proposta do programa, que pretende entre outras coisas, resgatar o imaginário cultural da região, através de um concurso de "causos", abrindo espaço para que pessoas do interior e da cidade contem histórias e lendas de suas localidades. Para hoje, estamos tentando levar ao estúdio, nada mais nada menos do que Renato Teixeira (foto) o autor de “Romaria” que está em Santarém para encerrar a Feira da Cultura Popular na praça de São Sebastião. Se não for possível a presença dele ao vivo, já acertamos pelo menos uma entrevista gravada com o compositor paulista que está comemorando 40 anos de carreira.
Convido todos a sintonizar, hoje, o Bazar Brasileiro, às 19h30, na Rádio Rural, logo após a jornada esportiva. E quem estiver fora da cidade e não conseguir sintonizar pelo rádio, pode ouvir o programa na internet acessando este link: http://radiorural.v10.com.br/
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Poesia
Uma das que mais me chamou a atenção foi de um ex-colega do curso de Letras da Ufpa., poeta de mão cheia, Hamilton Fernandes (na foto com uma boina das que eu também gosto de usar), que hoje reside em Macapá e que de lá enviou uma linda poesia que reproduzo neste espaço:
terça-feira, 28 de agosto de 2007
INCOMPETENTES!
Uma estréia digna de um repórter atrapalhado (*)
Maio de 1984. O departamento de jornalismo da poderosa Rádio Rural precisava contratar um novo repórter. Um ex-seminarista nascido na vila de Cucurunã, o hoje bem sucedido publicitário Dornélio Silva, havia retornado há pouco tempo para sua cidade natal com um projeto de criar pintos, mas não deu certo: os pintos de Dornélio morreram (ele vai odiar isso...) e acabou indo trabalhar na Catequese Rural onde mantinha vínculos com os movimentos sociais. Dornélio teve a idéia de tentar indicar alguém que estivesse atuando nesse movimento, mas não conhecia ninguém pessoalmente.
Ele foi à uma das infindáveis reuniões de um desses grupos e perguntou: “Vocês não têm alguém que atue no movimento, que seja meio doido e saiba escrever alguma coisa para ser indicado e disputar uma vaga de repórter na Rural?”. Os líderes sindicais, em uníssono (num êxtase coletivo), gritaram: “Jota Ninos!” Não sei se era amor por minha performance como militante, pelo meu estilo aguerrido ou simplesmente para me ver pelas costas. Mal eles sabiam que ali nascia um repórter!
Eu era o cara que andava sempre de gravador, caneta e papel na mão, ou escrevendo atas ou gravando conversas. Uma memória ambulante que tinha sua utilidade no registro do movimento popular em panfletos, boletins e outros materiais impressos. Além disso, já vinha gravando semanalmente o programa de rádio Momento Sindical, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, na Rádio Rural. Ao meu lado a também futura jornalista (e hoje diretora do Ideflor) Raimunda Monteiro, a eterna Raimundinha.
Naquele tempo eu tinha também uma barulhenta Mobylette Caloi prateada, motoneta precursora das scooters de hoje e que eu vivia empurrando nos areiões da periferia. Corpo esquálido (com uma protuberante barriguinha), óculos de John Lennon e cabelo idem, sandálias de dedo, calça jeans surrada e uma velha mochila fedorenta cheia de papel velho. Em suma, era um lixo ambulante se achando revolucionário!
Recebi a notícia com entusiasmo. Três dias depois lá estava eu me apresentando ao futuro chefe, Eriberto Santos. Ao chegar na rádio passei pelos estúdios onde tocava uma música que fazia sucesso naquela época, do Genival Lacerda: “mata o véio, mata o véio...” Torci o nariz. Soube então, que disputaria a vaga com outro candidato que apareceu por lá. Eriberto, solenemente, mas com aquele eterno sorriso de seresteiro, nos deu duas pautas diferentes.
Eu deveria entrevistar o novo coordenador da regional da Sespa que funcionava àquela época na avenida Barão do Rio Branco, onde hoje se compra vale-transporte. Em seguida, uma esticada ao Mercado Modelo (o Mercadão, naquela época, não existia) para saber como estava o preço do peixe, e por último, uma passagem na emergência do Sesp e na Delegacia de Polícia. Pautas corriqueiras de qualquer “foca”...
“Quem chegar primeiro, ganha a vaga”, disse meu editor. Saímos os dois candidatos chispando e ouvimos atrás de nós gargalhadas abafadas de radialistas que faziam apostas de quem desistiria primeiro...
Logo na primeira parada o primeiro chá de cadeira. A ilustre autoridade (nem me recordo quem era) me deixou plantado um bom tempo, esperando. Desesperado, olhava os minutos passarem e achei que se continuasse ali meu adversário acabaria chegando primeiro nas fontes de notícia e tchau emprego! Comecei a pensar com meus botões: será que foi uma cilada daquele editor para favorecer o outro? Era uma época em que todo revolucionário petista era paranóico e vivia pensando que o mundo estava contra si (cá pra nós, isso não mudou muito nos dias de hoje entre psois e pstus...).
Decidi me rebelar contra a pauta. “Vou ali e volto”, disse à solícita secretária. Olhei o relógio e vi que tinha pouco tempo para voltar à redação. As palavras de Eriberto ecoavam em minha cabeça: “Quem chegar primeiro, ganha a vaga.” Eu não podia perder a chance.
Em desembalada carreira montei minha possante Monareta e desci a Barão em direção à praça da Matriz, com intenção de dobrar no Cine Olympia e chegar ao Mercado Modelo (esse era o trajeto na época). Ia pensando: “como vou perguntar sobre peixes, se mal os conheço?”. Se Eriberto tivesse me pedido uma pauta sobre reuniões de sindicatos, eu daria um show. E continuei pensando, monareta na banguela, “como é mesmo o nome daquele peixe que o Eriberto disse, Jara...”
- Quiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... A freada não conseguiu parar a motoneta. Por trás da matriz, dei de cara com um velhinho atravessando a rua. Ele caiu prum lado eu pro outro e a monareta na parede da igreja!
O choque no meio da rua. Carros páram, mulheres gritam. “Socorre o velhinho!”, disse uma beata. “Motoqueiro assassino!”, condenou a outra. Joelho ralado, calça rasgada, motoneta avariada e o velhinho caído no asfalto de cara no chão. A turba já pensa em me agredir. Vejo dois radialistas chegando ao local para dar o “furo”. Gérson Gregório e Bena Santana, que mal sabiam que estavam frente a um futuro colega, registravam a cena. Escutei a narrativa para o programa do Edinaldo Mota: “Motoqueiro irresponsável pode ter matado um velhinho aqui próximo à Matriz!”. Minha primeira notícia na rádio era eu mesmo!!!
Meio choroso olhava atônito a cena sem saber o que fazer, até levar um safanão de um homem-armário. “Levanta, guri. Socorre o velho, tchê!” O gaúcho me puxou o braço e quase ficou com ele nas mãos... Cheguei próximo do velhinho e ele respirava. Com a ajuda do gaúcho coloquei o velhinho na carroceria de sua picape e só tive tempo de dizer a uma funcionária da Matriz: “Cuide da minha moto!”. Ela balançou a cabeça positivamente, enquanto Bena Santana entrevistava os transeuntes.
Chego à emergência do Sesp. O velhinho é socorrido e passa bem. Continuo choroso. O gaúcho foi embora. O médico me consola, mas ao mesmo tempo me assusta. “É bom você ir registrar o caso na delegacia, vai que o velho morre...” Desabo em prantos, mas logo me refaço. Aproveito e pergunto como está o plantão. “Tirando esse acidente, tudo normal”, diz o plantonista. Na delegacia prefiro não registrar minha ocorrência e perder um tempo precioso. “Depois eu faço”, pensei. Precisava acreditar que tudo acabaria bem. Anoto alguns roubos de galinha e sigo em frente. Ouço quando um policial chega e diz: “Parece que um motoqueiro matou um velhinho lá na matriz!”. O delegado me olha e diz: “Jornalista, mete pau nesses malucos!”. “Xa’comigo, delega!”, digo eu todo íntimo, quase me borrando nas calças.
Pego um ônibus e desço até a regional da Sespa. Sou recebido pelo diretor. O joelho dói, o coração apertado, mas não posso perder o emprego. “Cuidado ao sair amigo, tem um motoqueiro maluco matando gente aí na Barão”!, me informa o médico. Quase mostro-lhe um cotoco, mas dou um sorriso amarelo e saio.
Volto à Matriz, agradeço a gentil senhora e pego o que sobrou da Monareta e sigo ao Mercado Modelo, aos trancos e barrancos. O Pirarucu continua caro. Melhor preço é o Acari. O joelho continua doendo. Sinto que vou desmaiar. A motoneta, já fumegando, me leva até à Rural que funcionava onde hoje é a entrada da TV Vida, na travessa dos Mártires. Entrego as reportagens ao Eriberto. Minhas pernas tremem. Vejo que o tempo marcado já extrapolou e tento explicar.
“Mas fostes tu a notícia do dia?”, diz Eriberto em gargalhada. “E o emprego?”, pergunto, já variando. “Perdi a vaga pro meu concorrente?”. Eriberto, com o olhar terno, arremata: “a vaga é tua cara, o outro desistiu e você apesar de passar por um acidente ainda trouxe todas as pautas. Parabéns, colega!”.
Meu batismo no jornalismo foi assim: com sangue, suor e lágrimas. O velhinho ficou bem e até ficamos amigos. Mas tive que suportar meus colegas de rádio me torturarem por vários meses com uma musiquinha que passou a ser meu prefixo, no início de carreira, por obra e graça de Edinaldo Mota que me apelidou de “repórter mata o véio”!
E haja Genival Lacerda, antes das notícias policiais...