sexta-feira, 30 de setembro de 2005
Frei Ambrósio Affair
Dia "D"
Há fortes indícios que o vereador e ex-prefeito Ruy Corrêa assine ainda hoje a ficha do PMDB, retornando ao partido para tentar uma vaga na Câmara Federal. Mas é possível que Ruy, na última hora, acabe ficando mesmo no PP, desde que tenha uma vaga garantida para disputar as eleições. Outro que poderia deixar a bancada do PL, seria Emir Aguiar, mas ao que parece resolveu no partido para tentar uma vaga na AL, com uma diferença: não deverá fazer dobradinha com o ex-prefeito Lira Maia, e sim com o deputado federal (natural de Santarém) Raimundo Santos, do mesmo partido.
Previsões por baixo, indicam que em 2006 teremos na região oeste do Pará, algo em torno de 20 candidatos para disputar as 41 vagas da Assembléia Legislativa . O resultado é só um: elegeremos, se muito, um ou dois candidatos.
Nossos políticos continuam olhando primeiro para suas ambições pessoais, do que para as necessidades regionais. A pulverização de votos com tantos candidatos favorece candidaturas de Belém no processo.
Assim, nunca teremos uma representação consistente para que os interesses da região, entre eles a criação do estado do tapajós, entrem na pauta do dia. Para deputado federal, já estão confirmadas pelo menos três candidaturas da região. Mas não duvidem que o número dobre.
Dando nomes aos bois
Última capa
Da edição de hoje, destaco o artigo que eu mesmo escrevi:
Nem todo limite deve ser ultrapassado
Capitulei.
Meus limites de simples ser humano estancaram minha vontade de me multifacetar em hiperatividades complexas, como se eu tivesse vários clones à minha disposição. Não suportei a vida dupla/tripla e atribulada de escrivão/escritor/escrevinhador/escravo... de mim mesmo.
Foram quatro meses assumindo a tarefa de editar este suplemento regional do Diário do Pará, em concomitância com minha outra atividade como serventuário da Justiça. Quando fui convidado a assumir a tarefa, em abril, refuguei inicialmente, mas depois aceitei acreditando que o Super-homem que eu acreditava existir dentro de mim superaria todos os infortúnios. Mas no meio do caminho havia uma pedra... de kryptonita! E aí nem um super-homem dá jeito!
Esta é a última edição do Diário do Tapajós que eu edito. Depois de quatro meses, fui vencido pela estafa de tantas atividades, pois além das já citadas me envolvi também com atividades culturais (grupo de teatro), sociais (conselho da comunidade) e “internáuticas” (meu blog na internet)! Sem contar o Curso de Gestão em Jornalismo na FIT. E quase sempre, uma ou outra acaba penalizada.
Além disso, a mulher reclama, os filhos mendigam meu carinho e o bocejo passou a ser minha rotina. O livro que eu ia escrever, mofa nas prateleiras. Meus cinco cachorros já me olham desconfiados e parecem dizer: “será que esse cara é um ladrão entrando em casa de madrugada? Ele até parece com meu dono, que há tempos não vejo”... Felizmente, antes de me morderem, reconhecem meu cheiro (pra eles, pelo menos é bom...)
Houve uma época em minha adolescência que cunhei uma frase como minha favorita e que expressava todo o gás que sempre tive para assumir tarefas hercúleas, principalmente se envolvessem atitudes radicais: “um homem só conhece seus limites, depois que os ultrapassa”. Apesar de ter abandonado essa filosofia sectária há tempos, hoje sinto que ela se materializou nesta minha jornada. Ultrapassei meus limites e meu corpo reagiu.
Mas sou jornalista, não desisto nunca. Deixo a edição, mas continuarei escrevendo como colaborador. Minha saída acontece no momento em que o Diário prepara uma nova investida neste projeto arrojado, tendo à frente Jader Filho, com quem tive excelente parceria. Saio, mas deixo uma equipe bem mais preparada para esse novo desafio, que exigirá maior empenho para as mudanças que virão. Continuarei por aqui, escrevendo uma coluna ou matérias especiais. E quem sabe um dia possa voltar a integrar a equipe, quando o Diário do Tapajós, for realmente um Diário, como prevê o plano inicial.
Como diz Chico Buarque: “(...) Me dá, só um dia, que eu faço desatar a minha fantasia...”
P. S. Agora poderei atualizar meu pobre blog, com mais freqüência. Espero todos lá: www.jotaninos.blogspot.com
Comentário do blog: como já havia dito aqui no blog, um dia teria que optar em deixar uma de minhas funções. Agora, livre da responsabilidade de fechar o Diádio do Tapajós (um novo editor assume na terça-feira), terei mais tempo para este blog e as outras 499 atividades que sobraram...
Pérolas da Comunicação – Edinaldo Mota
Hoje tenho a honra de destacar um mestre da comunicação em Santarém: Edinaldo Luiz da Mota. Nascido em Óbidos em data não revelada, Edinaldo é cidadão da Amazônia, tendo se estabelecido em Santarém (depois de uma passagem por Belterra), além de ter “forte descendência arapixunense” herdada do lado materno, que segundo ele “se revela de quando em vez, pelo sotaque interiorano expresso em vogais com sons fechados”, principalmente na troca do “o” pelo “u”.
Começou como locutor de alto-falantes em quermesses no Colégio Dom Amando ou nos arraiais de Santo Antonio, em Belterra. Daí foi evoluindo para locutor, apresentador e animador de comícios, shows e cerimônias das mais festivas à mais fúnebres...
Profissionalmente, começou no rádio em 1967, quando disputou com outros 74 candidatos uma vaga para Locutor da Rádio Rural. E lá ficou por longos 18 anos conquistando uma audiência cativa, que o acompanhou fora da rádio.
Com o amigo Ércio Bemerguy, participou do históricos eventos como animador de auditório dos programas E-29 Show e MusiArt Show, entre outros.
Na Rural adquiriu ainda a habilidade no gerenciamento de diversos departamentos como o Comercial, o de Programação, além de ter assumido a Gerência da emissora diversas vezes.
Em 1985 migrou para o rádio FM, levando a experiência adquirida na Rural. Foi o responsável por uma nova linguagem nos canais FM, ousando em não se contaminar pelo padrão adotado então, e mantendo o mesmo estilo da AM e de seu “Papo informal”.
Na Guarany, comanda desde então, o programa “Bom Dia em Alto Astral”. Já se vão outros 20 anos de atividade no rádio santareno.
Formado em Direito, exerce ainda a atividade de Defensor Público e não perde a verve humorística, desanuviando sisudas audiências contando causos do interior (jurando que tudo é verdade!).
Especializou-se também na arte do Cerimonial, tendo feito diversos cursos. Na vida pública já foi também secretário de Cultura e chefe do Cerimonial da Prefeitura.
Há 38 anos ininterruptos, o rádio santareno tem a presença marcante de uma das figuras mais carismáticas da comunicação: Edinaldo Mota, uma Pérola da Comunicação!
Dossiê PT – estórias que não gostaria de contar
Nas duas partes anteriores deste capítulo terceiro (leia AQUI o capítulo anterior), revelei passo-a-passo o trabalho para a formação de quadros do movimento popular, com a utilização de técnicas de dramaturgia engajada. A idéia sempre foi criar um movimento paralelo de trabalhadores urbanos ao incipiente movimento no campo, onde continuava o crescimento do trabalho nas delegacias sindicais, depois da vitória da Corrente Sindical Lavradores Unidos (CSLU), à frente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém. Como o trabalho com o grupo de jovens não avançou nas periferias, abandonou-se momentaneamente a organização popular que ajudariam a criar futuras associações de moradores (no fundo, ficou uma semente).
O raciocínio de Antonio Vieira, o guru da CSLU, era lógico: para haver um processo revolucionário no país, a partir de um movimento criado na Amazônia, não bastaria a organização de trabalhadores rurais. Uma vez ouvi ele dizendo numa conversa reservada: “não existe na Amazônia o conceito de trabalhador rural”. Na verdade e com razão, todas aquelas pessoas que participavam do movimento, eram pequenos e médios agricultores abandonados à mercê da própria sorte no meio da mata, pelo governo, sem qualquer investimento para produzir, levando-os a tal estado de penúria que mais se pareciam com bóias-frias do interior de São Paulo, estes sim, verdadeiros trabalhadores rurais, sem terra e apenas com a força de trabalho nos braços.
Num estudo interno da CSLU, chegou-se à conclusão que era preciso investir numa categoria de trabalhadores da cidade, mas como não haviam industriários, operários ou metalúrgicos como em São Paulo, onde fervilhavam as lutas de um certo Luís Inácio da Silva, como iniciar o movimento? Até hoje, a maior categoria de trabalhadores existente em Santarém é a dos comerciários, mas sempre foi uma categoria muito difícil de lidar, afinal, a grande maioria de trabalhadores é transitória. Dificilmente alguém escolhe ser comerciário para toda a vida. E essa mobilidade interna era um ponto negativo para criar um movimento consistente.
Mesmo assim, resolveu-se tentar. Pedro Peloso havia absorvido muito bem os ensinamento de Vieira. Enquanto ainda insistia em salvar o que restou do grupo de jovens que formou, abandonou o negócio da família – uma barraca de venda de caldo de cana no Mercado Modelo – para iniciar o processo de criação de uma célula sindical no comércio. O primeiro passo foi encontrar um emprego estratégico no comércio. Tinha que ser a loja que tivesse o maior número de funcionários, para futuras mobilizações e ele escolheu a dedo: Mundo dos Tecidos, uma empresa do grupo Pontes & Irmãos, que tinha várias lojas e dezenas de funcionários.
Nessa época, após algumas pesquisas, descobriu-se que havia um sindicato de comerciários já fundado, cuja Carta Sindical havia sido cassada na época do golpe militar, só que não por motivos políticos e sim administrativos. Reaver a Carta naquele momento seria muito difícil, por isso o grupo optou por “refundar” o movimento (para ver como as coisas se repetem...). Criou-se então a Associação dos Comerciários de Santarém e Pedro foi eleito seu primeiro (e único) presidente. A solenidade de posse foi no salão paroquial de Nossa Senhora das Graças e a diretoria era composta por comerciários de várias lojas, mas a maioria era do grupo Ponte & Irmãos, que Pedro recrutou.
A Associação dos Comerciários precisava criar um fato político para iniciar um processo de mobilização. Foi quando lançou o incendiário “O Talonário”, um boletim com denúncias sobre as injustiças praticadas pelos patrões no comércio. O n° 02 do jornalzinho foi uma edição histórica: Pedro fez fotos de comerciários trabalhando além do horário, varrendo as lojas e o mote era exatamente a exploração dos trabalhadores que não recebiam hora extra e ficavam além do expediente limpando suas lojas. Era uma coisa revolucionária, em 1979, um boletim atrevido nominando as lojas que praticavam esse abuso. Distribuído gratuitamente, “O Talonário” foi disputado à tapas e virou o maior burburinho do comércio. A genialidade de Vieira mais uma vez estava presente. No título apropriado do boletim, nos textos e na diagramação, tudo concebido nos mínimos detalhes por ele, bancado pela Fase e com a contribuição de Pedro, seu “aprendiz de feiticeiro”.
Mas o que ninguém esperava era a violenta reação. Como a maioria da diretoria da Associação era da empresa denunciada Pontes & Irmãos, eles devolveram a ousadia com a mesma moeda: fizeram uma “varrida” na incipiente militância botando toda a diretoria da Associação pro olho da rua. Isso causou um impacto na proposta inicial. As avaliações indicavam que a denúncia foi feita sem que houvesse condição para um refluxo da categoria, em caso de repressão. Era preciso recompor o movimento, buscando primeiro um apoio legal: tentou-se junto à Justiça a reintegração dos funcionários sob a alegação de que teriam estabilidade, mas a lei só definia essa vantagem para sindicatos e não associações. Entretanto havia um dispositivo que abria uma brecha apenas para o presidente da entidade (Pedro lutou por anos na Justiça pelo seu direito e um dia venceu no TST – Tribunal Superior do Trabalho, só que ao invés de ser reintegrado, aceitou uma polpuda indenização com a qual comprou uma casa!).
Com as demissões, os liderados de Pedro debandaram e procuraram esquecer a aventura sindical. Para não deixar o movimento esmorecer, tentou-se reconstituir a base da diretoria. Optou-se por recrutar funcionários de empresas menores ou que estivessem fora do epicentro da discórdia. Pedro então cooptou novos militantes que viriam a constituir o “grupo pensante” do movimento. Algo como um “campo majoritário” dos comerciários.
Éramos seis: além de Pedro Peloso, líder desempregado, mas contratado como auxiliar administrativo da Fase, participava dessa elite sua já esposa Raimundinha Monteiro (que trabalhava no Foto Meneses), Isabel Corrêa, uma funcionária da antiga loja Sousa Arnaud (que funcionava onde hoje existe um supermercado, na 24 de outubro, próximo à Semed), Orlando Gamboa (funcionário da extinta Modelo Construções, onde hoje fica a Amacon), o já falecido Apolônio Moreira (funcionário do Posto Progresso, ao lado da Modelo Construções) e eu, já conhecido por Jota Ninos, filho do “seu” Nino, o dono do lanche e que naquele momento trabalhava como funcionário do já extinto Leão das Ferragens, empreendimento de Pereira & Bastos (isso mesmo, fui funcionário do sr. Joaquim da Costa Pereira, ainda adolescente, e lá dentro tentava organizar a associação!).
Para não dar na vista de que os patrões haviam quebrado o movimento com as demissões, continuamos editando “O Talonário”. Foi ali minha estréia como um futuro jornalista. Comecei a participar da produção de textos, estudei em oficinas de redação comandadas pela Fase e pelo próprio Vieira. Convivi de perto com este “monstro sagrado”, que do seu jeito, truculento, também acreditou no meu potencial e abriu algumas portas para formar meu tirocínio político. “O Talonário” continuava fustigando os comerciantes com denúncias e denúncias, mas a Associação ia mal das pernas. Enquanto isso, a Fase já investia em outros nichos sindicais: veio a conquista da Z-20, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (durou apenas um mandato).
Naquele momento, apesar de nossa inglória campanha não conseguir avançar junto às massas (as reuniões tinham que ser às escondidas, pois todos os comerciários temiam uma nova onda de repressões), passávamos a impressão, através d’O Talonário, de que éramos mais forte do que a realidade. Os seis já caminhavam para ser dez: juntava-se ao grupo um velho funcionário da Automic (empresa do sr. Ivair Chaves, no bairro da Liberdade), o sr. Pedro Moreira, outro funcionário da extinta Cante Construções, Pedro Oliveira (formamos a tríade de Pedros no movimento), da extinta Sanmaq uma jovem promessa, Nilce Batista e da Sousa Arnaud mais uma funcionária, Cleonice Almeida (tia da jornalista Rúbia Corrêa). Para consumo interno, isso nos animava e achávamos que estávamos no caminho certo, a ponto de acreditar na possibilidade de fazer uma greve no comércio!
Numa última reunião resolvemos fazer uma grande mobilização para levar 50 comerciários para um encontro no Emaús. A idéia parecia simples (ou melhor, simplória): cada um dos 10 se comprometia em convencer cinco companheiros comerciários da importância de ir para esse encontro. Como éramos 10, teríamos 50 recrutados. Aí, no encontro de um único domingo, faríamos a cabeça de todos usando a mesma técnica da dramaturgia. Preparamos uma pequena dramatização com 6 integrantes e fomos ensaiados por um já falecido americano bonachão, funcionário da Fase, Todd Brem, que foi definido para acompanhar nosso trabalho. A idéia era que depois da apresentação e de alguns debates, desceríamos prontos para multiplicar os 50 em 500, o que possibilitaria uma parada no comércio! Começamos a mobilização. Investi todas as fichas, varei noites e dias visitando uma lista de pessoas, antigos contatos da Associação. Empolgado, saía das casas com a promessa de que todos estariam lá.
Cheguei exultante, afiançando que tinha recrutado, sozinho, três vezes mais do que o previsto. Contratamos dois caminhões para levar os novos militantes para o Emaús. Domingo de manhã, lá estavamos nós no ponto definido. As pessoas vão chegando aos poucos. Chegam cinco, mais cinco, e outros cinco e... só! Éramos 15, na verdade nosso grupo de 10 e outros cinco recrutados!! A frustração foi grande. Dispensamos um caminhão e seguimos no outro. A programação seria mantida, mas enquanto a maioria demonstrava raiva, eu chorava encolhido num canto da carroceria. Tinha acreditado que ajudaria a liderar uma greve, mas foi um fiasco. Comecei a cair na real de que aquilo não podia dar certo. Éramos tão-somente um verdadeiro exército Brancaleone ao tucupi, e nada mais...
Mas apesar de tudo, os empresários acreditavam que nós estávamos crescendo na surdina e temiam que o movimento avançasse. Então fizeram uma reunião e resolveram dar um basta naquilo! Decidiram pedir a interferência do senador Jarbas Passarinho, então ministro do Trabalho, para reaver a Carta Sindical do Sindicato dos Comerciários. Convocaram alguns gerentes de lojas, de sua confiança e lhes deram a tarefa de estruturarem a primeira diretoria. Tudo foi feito com estardalhaço. Eles acreditavam que desta forma abafariam a Associação. Para nós foi um alento, pois nosso grupo agonizava. Corria o ano de 1981. As articulações para a criação do PT absorviam as lideranças. Pedro Peloso foi se afastando do movimento dos comerciários, deixando a liderança com Apolônio e Raimundinha, mas em seguida ela também se afastou. Isabel já cogitava viajar para Manaus e Orlando foi convocado para organizar o PT em seu bairro, a Interventoria. Acabei ficando sozinho, com a incumbência de liderar o grupo que restava.
Foi aí que decidimos numa última reunião de todos que era hora de extinguirmos a Associação dos Comerciários. Se bem me recordo, lançamos um último número de O Talonário anunciando que naquele momento todos deveriam contribuir com o Sindicato recém-constituído. Espertamente, aproveitamos que a maioria dos nossos membros não eram “queimados” junto aos patrões e nos infiltramos na formação da primeira diretoria. Assim, de repente, lá estava o sr. Pedro Moreira como primeiro presidente do Sindicato dos Comerciários. Apolônio, Pedro Oliveira e Cleonice também entraram na diretoria e eu era um membro atuante, que apesar de não ser da diretoria, passei a ter voz ativa.
Em 1983, convencemos a diretoria da importância de participar de um congresso de trabalhadores em São Paulo e acabei sendo escolhido como delegado para integrar a caravana que foi à São Bernardo do Campo participar da fundação da CUT! Lá estava eu, vendo o companheiro Lula e acreditando que o pesadelo dos comerciários teve suas vantagens. Dali em diante eu me preparava para ser o substituto de Pedro Moreira no Sindicato e já estava até filiado ao PT... Mas acabei virando jornalista, comecei a pensar com minha cabeça e isso incomodou os companheiros. Era o início do primeiro grande “racha” da Corrente, a facção soberana do movimento sindical e partidário do norte do Brasil.
Mas essa história fica para o próximo capítulo...
terça-feira, 27 de setembro de 2005
Mensalinho no Pará
Sindicato debate compromisso do radialista
“De todos os artigos da Lei de Imprensa apenas um é favorável ao profissional da comunicação, que é o sigilo da fonte, mas até isso é relativo”. A constatação é do radialista Sampaio Brelaz (94 FM), um dos debatedores da mesa-redonda sobre o tema “O compromisso social do radialista do Oeste do Pará”, que fechou as comemorações em homenagem ao Dia do Radialista (21/09), num evento organizado pelo sindicato da categoria na sexta-feira (23/09), no auditório do Iespes.
Coordenada pelo jornalista Jota Ninos, editor-chefe do Diário do Tapajós, a mesa-redonda teve ainda a participação dos radialistas Rosa Rodrigues e Leíria Rodrigues (Rural AM) e Clenildo Vasconcelos (TV Santarém) e contou com a presença de dezenas de radialistas e acadêmicos do curso de Gestão em Publicidade e Propaganda do Instituto Esperança de Ensino Superior (Iespes).
Além da mesa-redonda, foram entregues durante a solenidade, pelo presidente do Sindicato dos Radialistas, Daleuson Menezes, o “Dada”, registros profissionais aos radialistas que se capacitaram junto ao sindicato este ano.
Desafios - “O desafio do radialista é condicionar a liberdade de expressão à linha editorial de cada empresa”, disse Rosa ao falar sobre o tema. Ninos, por sua vez citou um velho ensinamento do jornalista Manuel Dutra: “A linha editorial é uma linha imaginária entre o jornalista e o dono da empresa. Ela é tênue, mas a tarefa do jornalista não é ultrapassá-la, e sim alargá-la o quanto possível.”
Clenildo Vasconcelos, apresentador do Patrulhão da Cidade, ressaltou a importância do comunicador de promover, através de sua comunicação, a solidariedade com os excluídos, mas para Leíria Rodrigues, “a responsabilidade do comunicador é repassar a mensagem após captar a essência do receptor”, efetivando assim um processo não somente comunicativo e sim educacional. “Antes de prestar a pura assistência, a gente tem que dar condições para seu ouvinte de lutar contra a injustiça social”, finalizou Leíria. (foto de Pedro Fernando)
Separatismo - nem a favor, nem contra, nem muito pelo contrário
Em 1999 publiquei um livro, produto de dois anos e meio de pesquisa, intitulado “O Pará dividido: discurso e construção do Estado do Tapajós”. Como era esperado, poucos o leram – os escassos militantes em favor da criação do novo Estado disseram que o trabalho era contra; os contrários, que era a favor. Se ambos o tivessem lido, talvez contassem com melhores argumentos para seus discursos.
Há alguns meses, publiquei artigo no jornal Beira do Rio, da Universidade Federal do Pará, que inicia assim:
“A rigor, não existe um debate sobre as demandas das regiões Oeste e Sul do Pará por autonomia política. Em Belém, isso não existe por desconhecimento das razões desses pleitos, um desconhecimento que engendra o preconceito. Em Santarém e Marabá, candidatas a capitais, o debate é débil em virtude da profunda dependência político-partidária das elites locais em relação aos grupos de poder político e econômico sediados na capital do Pará. Não havendo, lá, diferenças sociais não partidárias engajadas no embate separatista, o que deveria ser um debate salutar, lá e cá, torna-se conversa sazonal que se transfere para o âmbito de comissões do Congresso, em Brasília”.
Há três semanas eu estava em Santarém e, mais uma vez, acompanhei, ao longe, a ida de um grupo de políticos a Brasília com o objetivo de pressionar pela inclusão do plebiscito (que desejavam ver realizar-se juntamente com o referendo sobre porte de armas) na pauta do Congresso, com o apoio – disseram – do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que havia cancelado uma viagem ao Tapajós.
Há que se fazer uma distinção entre as demandas do Oeste e do Sul do Pará.
No caso do pretendido Estado do Carajás, a demanda vem do início dos anos 1990, quando aquela região começou a ter novo sentido econômico, a partir do significado da Serra dos Carajás e do desenvolvimento da agricultura e pecuária. Empreendimentos que ensejaram a formação de uma inda nascente elite regional, liderada fortemente por grupos não-paraenses, sem maiores ligações históricas e culturais com o Pará e com Belém, esta grande cabeça física e humana, inchadas pelas migrações, de uma unidade federativa cujas elites desconhecem profundamente o que se passa no interior do Estado.
No Oeste do Estado existe consistência histórica para o pleito, que vem do momento em que Pedro II assinou, em 1850, o decreto de criação da Província do Rio Negro, mais tarde Província e Estado do Amazonas, depois que as elites daquela unidade intentaram, sem êxito, a separação por conta própria, em 1832.
Após a perda territorial de sua imensa banda Oeste, as elites paraenses permaneceram inconformadas, e rusgas foram freqüentes entre as duas unidades. Surgiu, então, a idéia de se criar uma terceira província, que viria, naquele momento, servir de algodão entre cristais. Em 1869, segundo relata Ferreira Reis, foram intensos os debates no Parlamento Imperial sobre a necessidade de transformar o Baixo Amazonas paraense (hoje chamado de Oeste do Pará) em uma província autônoma. Em 1832, o Grão-Pará tinha três Comarcas: Belém, Santarém e Manaus. Santarém adquiria, assim, status jurídico e administrativo semelhante ao das outras duas cidades, alimentando o sonho da autonomia que jamais veio a se realizar.
Esse fracasso histórico das elites santarenas resulta de sua própria debilidade política. Ainda no Império, a ação de dois barões – o de Santarém e o do Tapajós – impediu qualquer veleidade autonomista haja vista ser o Estado brasileiro, historicamente, extremamente centralizador e cujos limites internos carregam as marcas das velhas capitanias hereditárias. Hoje, militantes favoráveis de ontem mostram-se contrários, como o ex-deputado Benedicto Monteiro, que foi um dos constituintes de frente em 1987, juntamente com Gabriel Guerreiro e Paulo Roberto Mattos.
Mas não se pode negar que se criou uma cultura da autonomia, geração após geração. E é isto que difere profundamente o pleito do Oeste daquele do Sul do Pará. E é esse sentimento popular que é explorado partidariamente por grupos políticos, que mudam de posição ao sabor das conveniências da cada campanha, iludindo os eleitores de que irão à luta. Nem vão à luta e nem se envergonham de que hoje o principal paladino do Estado do Tapajós é um deputado federal de Roraima.
É esse aspecto que deixa muitas dúvidas sobre a possibilidade da criação do Estado do Tapajós. O Oeste do Pará, e sobretudo Santarém, já abrigam uma crescente elite descompromissada com a região, com a sua cultura e com a sua história, de modo distinto mas não tanto do que ocorre em outras regiões do estado, onde a presença paraense escasseia.
Na hipótese positiva, criado o novo Estado, quem garante, neste momento, que as elites locais terão força para contrapor-se a interesses de fora da Amazônia? O primeiro governador seria quem? A olhar o panorama das atuais lideranças baseadas em Santarém, sinceramente, é apavorante o horizonte. Dessa forma, as razões históricas e atuais cairiam por terra, num momento em que grupos de outras regiões vêm a Amazônia apenas em busca de seus recursos, fazer dinheiro rápido para investir em seus lugares de origem. Nessa perspectiva, por exemplo, uma hipotética Assembléia Legislativa do Estado do Tapajós teria quantos deputados nativos?
Então, seria um Estado para servir de instrumento de melhoria de qualidade de vida para a sua população, ou seria um biombo para aprofundar a dependência da Amazônia de grupos arrivistas e sem o menor interesse no bem-estar que não seja o seu próprio? É só olhar os estados recém-criados na Amazônia.
Questões como estas não são levantadas publicamente, quando deveriam estar na agenda ao menos dos defensores do novo Estado.
(*) jornalista e professor na UFPA, artigo publicado no Diário do Pará (15.09.2005)
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Sessão Maldita - Mulheres Choradeiras
Quem quiser um bom espetáculo, vale a pena entrar nesta sessão maldita. REPITO: 11 HORAS DA NOITE!!!
Tri-Alírio
Com este resultado, Alírio Jr. vem mantendo as metas traçadas para este ano (a principal delas era constar na lista dos 15 melhores tri-atletas do país). O santareno se prepara agora para disputar a VI Etapa, marcada para o dia 16 de outubro, em São Paulo. Para isso, faz treinamentos diários e tem acompanhamentos freqüentes de médicos e uma nutricionista. “Estou feliz. Agora é a vez dos atletas do Norte”, festejou. Alírio Jr. tem o apoio do Banco da Amazônia, Ulbra, TAM, Unimed e Governo do Estado do Pará.
Prova – Disputado há 15 anos, o Troféu Brasil de Triatlhon é o circuito mais antigo do Brasil e da América Latina. Anualmente, são disputadas 7 etapas, com provas nas cidades de Santos, Goiânia, Belo Horizonte, Niterói e São Paulo. Os tri-atletas disputam 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10km de corrida.
Blogueiros unidos...
A MASSA
É dor de menino acanhado
Menino bezerro pisado
No curral do mundo a penar
Que salta aos olhos
Igual a um gemido calado
À sombra do mal assombrado
É a dor de nem poder chorar
Moinho de homens
Que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados
Massa de medos iguais
Amassando a massa
A mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga
A massa dos homens normais
Quando eu lembro da massa
Da mandioca mãe da massa
When I remember of "massa" of manioc
Quando eu lembro da massa
Da mandioca mãe da massa
Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe
Da massa que planta a mandioca, mãe
A massa qu'eu falo é a que passa fome, mãe
A massa que planta mandioca mãe
Quand je rappele de la masse du manioc, mére
Quando eu lembro da massa da mandioca
Lelé meu amor lelé
Lelé meu amor lelé
No cabo de uma enxada
Não conheço "coroné"
Eu quero mas não quero, camarão
Mulher minha na função, camarão
Que está livre de um abraço
Mas não está de um beliscão
Torna a repetir meu amor: ai, ai, ai!
É que o guarda civil não quer
A roupa no quarador
O guarda civil não quer a roupa no quarador
Meu Deus onde vai parar
Parar essa massa
Meu Deus onde vai rolar
Rolar a massa...
quinta-feira, 22 de setembro de 2005
Pornografia brasileira
Há uma rima entre pornografia sexual e pornografia política. Basta lembrar que o Bush foi eleito por causa das transas de Clinton com Monica Lewinski, o sexo oral que mudou a historia do ocidente.
Aqui, nesta crise pornô política só ouvimos: “não, não, não fiz”. Já que a nudez da verdade está coberta pelo manto sujo da mentira, já que não podemos ver o Dirceu nu, o Delúbio pelado, o Gushiken fazendo strip tease, só nos resta esperar que as boazudas da CPI, a mulher do Buani, a Camila assessora, até a Karina posem nuas. Seria uma verdade ao menos, porque nunca vimos tanta prostituição ao vivo como nas CPIs.
FIT X Ibama
Dos portugueses aos motoqueiros
Transamargura
Viração
tanta gente abriu espaço
Preparando a viração
Desata esse nó aperta o cerco,
Tanta flor nasce no esterco
perfumando a escuridão
Sempre alerta a hora certa
é aquela que se tem na mão
De repente, simplesmente
rompe esse cordão
Que te aperta força o traço,
tanta falta faz teu braço
Mutilado ou feito aço,
traz a força da razão
Rasga esse chão,
aperta o passo,
tanta gente abriu espaço
preparando a viração
Rasga esse chão,
aperta o passo,
tanta gente abriu espaço
preparando a viração.
Aroldo Santarosa/Cacá Bloise/Jackie Vellego
A volta de Jader?
Nosso Amor
quarta-feira, 21 de setembro de 2005
A festa do Rádio
Comentário do Blog: Dadá me ligou hoje à tarde e confirmou a programação alusiva ao Dia do Radialista, que acontecerá nesta sexta-feira (23/09), no auditório do Iespes. Haverá uma mesa-redonda com o tema "A função social do radialista no Oeste do Pará". Fui convidado para comandar a mesa-redonda, que terá a participação dos radialistas Wilson Lima (94 FM), Leíria Rodrigues (Rural AM), Edinaldo Mota (Guarany FM) e Everaldo Cordeiro (Ascom Semed). No domingo, havverá uma programação espeortiva no Iate Clube.
BR-163: vantagens econômicas superam impactos ambientais
Susto
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Do mestre ao discípulo
Caro Jota,
Ser jornalista é barra pesada mas é divertido também. O Fernando Menezes, jornalista da velha cepa, de Recife, disse certa vez que a melhor coisa do mundo é ser um repórter bem pago, ou seja, poder viver tão-somente dessa instigante profissão de não deixar nada ficar por debaixo dos panos.
abs: Manuel Dutra
Nova diretoria da ATAS
Hoje é dia de Severino
Mordendo a língua
Mancada socialista
Nessa mesma legislatura, o então vereador eleito pelo PDS, o médico Júlio Cezar Imbiriba, ingressou no PSB, que era o partido do prefeito, também na época do PSB, Ruy Corrêa.
Radialistas
Amor...
assim como não existem três tipos de saudades,
quatro de ódio, seis espécies de inveja.
O amor é único, como qualquer sentimento,
seja ele destinado a familiares,
ao cônjuge ou a Deus.
A diferença é que,
como entre marido e mulher
a sedução tem que ser ininterrupta.
Por não haver nenhuma garantia de durabilidade,
qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza,
e de cobrança em cobrança
acabamos por sepultar uma relação
que poderia ser eterna.
Casaram.
Te amo pra lá, te amo pra cá.
Lindo, mas insustentável.
O sucesso de um casamento
exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem
dividir o mesmo teto,
tem que haver muito maisdo que amor,
e às vezes nem necessita
de um amor tão intenso.
antes de mais nada, respeito.
Agressões zero.Disposição para ouvir
argumentos alheios.
Alguma paciência...
Amor, só, não basta.
Não pode haver competição.
Nem comparações.
Tem que ter jogo de cintura
para acatar regras
que não foram
previamente combinadas.
Tem que haver bom humor
para enfrentar imprevistos,
infantilidades.
Tem que saber levar.
Amar, só, é pouco.
Tem que haver inteligência.
Um cérebro programado
Para enfrentar tensões pré-menstruais,
rejeições, demissões inesperadas,
Tem que ter disciplina
para educar filhos,
dar exemplo, não gritar.
Não adianta, apenas, amar.Entre casais que se unem
visando à longevidade do matrimônio
tem que haver um pouco de silêncio,
amigos de infância, vida própria,
um tempo pra cada um.
Tem que haver confiança.
Uma certa camaradagem,
às vezes fingir que não viu,
fazer de conta que não escutou.
É preciso entender que união
não significa, necessariamente, fusão.
E que amar, "solamente", não basta.
Entre homens e mulheres
que acham que o amor é só poesia,
tem que haver discernimento,
pé no chão, racionalidade.
que o amor pode ser bom,
pode durar para sempre,
mas que sozinho
não dá conta do recado.
O amor é grande,
mas não é dois.
É preciso convocar
uma turma de sentimentos
para amparar esse amor
que carrega o ônus da onipotência.
O amor até pode nos bastar,
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domingo, 18 de setembro de 2005
Assim eu vejo a vida
As dez mais
Pensatas no além-blog
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
Dossiê PT – estórias que não gostaria de contar
Na primeira parte deste capítulo do meu “Dossiê PT”, falava sobre a utilização do teatro engajado como ferramenta para a formação de um núcleo urbano de resistência vinculado à “Corrente Sindical Lavradores Unidos”, grupo organizado por trabalhadores rurais com apoio de padres da Teologia da Libertação e técnicos da FASE (Federação dos Órgãos de Assistência Educacional e Social). (Leia AQUI o capítulo anterior)
Esse foi na verdade o espaço em que comecei a me formar um militante da causa. Os irmãos Ranulfo e Pedro Peloso foram os responsáveis pela formação do grupo, que se reuniria semanalmente na casa dos Peloso com a motivação de preparar o que se chamava de “sócio-drama”, ou seja, uma pequena historieta dramatizada, escrita com primor pelo grande guru Antonio Vieira, com apoio dos irmãos Peloso, e que levaria uma mensagem ideológica clara para populações de periferia: para vencer seria preciso a organização coletiva e dispensar qualquer aproximação dos “patrões” (ou “burguesia’).
O grupo era formado essencialmente por jovens de classe média, em sua maioria irmãos, amigos e vizinhos dos Peloso, que moravam à época numa casa da Avenida São Sebastião, quase em frente ao Colégio Ezeriel Mônico de Matos. Ali surgiria o laboratório para as futuras lideranças políticas, que em grande parte ainda lideram o movimento petista em Santarém.
Éramos 12 jovens (coincidência com os 12 apóstolos de Cristo?). Além de Pedro, participavam do grupo: seus irmãos Milton, Rita e Socorro Peloso e um sobrinho chamado Manuel (conhecido por “Bertué”), dois colegas de Pedro, Onildo e Maurício, que trabalhavam no Mercado Modelo na venda de garapa – atividade exercida por muito tempo pelos Peloso, naquele local – (de Onildo não tive mais notícia e quanto a Maurício, sempre cruzo com ele no Hemopa, onde é funcionário); participavam também as então namoradas de Milton e Pedro, respectivamente, Tânia (nunca mais soube dela) e Raimundinha (que casou e separou de Pedro, e hoje é esposa do deputado petista Aírton Faleiro); e mais duas amigas, Albertina, uma vizinha dos Peloso (que nunca mais vi) e Delza, uma professora que até pouco tempo dava aulas na escola Janelinha do Saber.
Eu fui o último a ser integrado ao grupo. Na verdade só entrei porque um dos membros havia desistido e a peça em ato único que se ensaiava já tinha data para a primeira apresentação. Mas para eu ser convidado, houve todo um processo de seleção que eu nem percebi. Outras pessoas que foram sondadas não preencheram os requisitos e acabei sendo indicado (pelo menos foi o que soube muito tempo depois).
Corria o ano de 1979. Há um ano eu morava em Santarém e tinha acabado de completar 16 anos. Trabalhava com meu pai no Nino-lanche, uma lanchonete que funcionou inicialmente na Travessa dos Mártires, bem em frente às Boas Lojas (na época era a Paralar, o grupo se consolidou anos mais tarde). Fui vizinho do Foto Ideal, loja do peruano Alfonso Jimenez (o “Poderoso”). Mas havia uma outra loja de fotografia no canto da Travessa dos Mártires com a Floriano Peixoto (onde hoje existe uma loja de produtos importados), a filial do Foto Menezes. Ali trabalhava a então comerciária Raimunda Nonata Monteiro, até hoje conhecida carinhosamente como Raimundinha. Atualmente é jornalista e professora da Ufra. Segundo me consta, ela também buscava encontrar alguém com o perfil que se encaixasse no que o grupo precisava e eu era seu alvo.
Raimundinha era minha freguesa mais assídua na lanchonete. Com seu enorme sorriso, sempre ia lá nos intervalos de seu expediente e começava a puxar conversa comigo. Fazia perguntas e eu respondia. Eu fazia palhaçadas, mostrava um talento pra contar piadas (que, modéstia parte, sempre tive), falava de minhas preferências musicais (naquele tempo não conhecia Chico Buarque e ainda vivia uma fase meio brega). Foi quando falei que gostava de teatro e que havia feito várias peças em Belém, quando estudava no colégio anglicano Jonh F. Kennedy. Raimundinha passou a conversar cada vez mais comigo buscando outras informações sobre minha experiência teatral. Aos poucos foi me sondando e falava do grupo que participava. Eu tinha ojeriza a grupos de jovens católicos, mas ela me garantiu que a proposta do seu grupo era só fazer teatro. Não ficava bem claro para mim as idéias do grupo, mas fui me fascinando por suas narrativas e aguardava ansioso que ela me convidasse a conhecer o grupo. E parece que ela sentia isso também, mas talvez o método de abordagem ainda não estivesse completo. Até que um dia o convite foi feito.
Naquela semana de julho fui ao endereço na São Sebastião. As reuniões aconteciam no quintal da casa dos Peloso, embaixo de uma barraca coberta. Fui apresentado ao grupo e me senti muito bem. Cheguei calado, mas eles foram me descontraindo. Milton era sempre o animador. Com seu inseparável violão, tocava músicas de Chico, Caetano e outras da MPB. Mas a música de encerramento das reuniões do grupo era “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Foi a primeira vez que ouvi aquela canção e fiquei fascinado. Eles cantavam como se fosse um hino e eu me senti envergonhado por nunca ter ouvido tal música (o mais “ revolucionário” que eu conhecia e Gitá, de Raul Seixas...). Eu era um alienado total naquele tempo.
Resumindo a história, depois de algum tempo me enturmei e aceitei participar do grupo e da peça. Meu empenho logo me levou à condição de secretário. Fiquei responsável pela lavratura das atas. O meu papel encaixava como uma luva para mim: eu faria um jovem filho de um empresário que vivia o dilema de ser filho adotivo e cuja origem era de sua família era pobre. Assim me identificava com os trabalhadores de meu pai, chegando a participar de assembléias de sindicato. Meu “pai” era o Milton e minha “mãe” a Tânia. A idéia era mostrar o conflito ideológico que passava na cabeça de meu personagem, que no ápice da peça tinha que decidir de que lado ficaria. O final era contundente. O filho é flagrado pela polícia repressiva numa batida ao sindicato. Os sindicalistas são presos pela repressão e o pai chega e encosta o filho na parede com um discurso sobre as vantagens do capitalismo. O filho, acaba correndo atrás do pai e abandona os trabalhadores que acreditaram nele, à própria sorte. A frase que é dita no meio da peça ecoa nos meu ouvidos até hoje: “Água não se mistura com óleo!”. Esse é o cerne ideológico incutido por Vieira (o guru da Fase) naquele sócio-drama.
A peça durava algo em torno de 40 minutos. Foi ensaiada exaustivamente e seria apresentada em três bairros: Uruará (onde hoje é o São José Operário), Interventoria e Matinha. O trabalho de divulgação era feito por nós mesmos. Divididos em três grupos de quatro jovens cada, visitávamos há cada domingo aqueles bairros, fazendo abordagens junto aos moradores da periferia. Foi a experiência mais fantástica de minha vida. Andando no Uruará (o bairro para o qual foi designado), juntamente com Delza, Albertina e Tânia, aprendi o que era militância. Incorporei o espírito da Corrente e aos poucos fui sendo seduzido pelas idéias do grupo, e principalmente pelo carisma de Pedro.
Após as três apresentações nos bairros, fazíamos uma reunião com os moradores e discutíamos qual o principal problema que os afligia. A falta d´água era quase unanimidade. Recolhíamos então assinaturas para um abaixo-assinado e nos preparávamos para levar a reivindicação à Cosanpa. Estava plantada a semente das primeiras associações de bairro de que se teve notícia. Daquelas reuniões, surgiram muitas pessoas simples que acreditaram em nossa proposta e que anos depois seriam os verdadeiros militantes de base do PT. Essa mesma gente acreditou no partido e nem percebia o processo de lavagem cerebral (pelo qual nos já havíamos passado) patrocinado pela “Corrente”.
Depois de seis meses de atividades o grupo perdeu a força. Pedro, Ranulfo e Antonio Vieira chegaram à conclusão de que a experiência não progrediria. Pedro já havia assumido uma nova tarefa: elegeu-se presidente da recém-criada Associação dos Comerciários. Iniciava uma nova etapa, a da plantação das sementes do sindicalismo urbano. Mas a sagacidade de Pedro era algo fora do comum. Ele não queria desistir de todo do projeto com os jovens. Percebeu que entre os doze pelo menos três poderiam ser “salvos”, já que a maioria não queria mais saber de reunir ou andar nas periferias. Os três eram eu Milton e Onildo. Chamou-nos para uma conversa e nos desafiou a concentrarmos nossas forças no bairro que havia avançado mais em organização: a Interventoria. Aceitamos e passamos a visitá-la com freqüência. Convencemos os demais a nos ajudarem numa última apresentação da peça naquele bairro. Pedro acreditava que depois disso teríamos um foco de movimento popular na Interventoria. Só que depois da apresentação nada aconteceu. Milton e Onildo esmoreceram e só eu mostrava apetite para continuar.
Pedro, já casado com Raimundinha, me chamou à sua casa e passamos a conversar cada vez mais. Comecei a ler Marx, Lênin e outros autores. Ele me ensinava política e eu lhe ensinava xadrez. Mestre e discípulo eram unha e carne, a ponto de Raimundinha ser deixada em segundo plano. Pedro praticamente me adotou como um irmão mais novo. Minha vida vazia encontrava ali algum sentido. Estava consagrada a junção da fome com a vontade de comer. Eu nem imaginava que toda aquela experiência redundaria, dois anos depois, na minha filiação a um partido político de esquerda. E como Lula, eu odiava política...
Mas antes disso eu precisava ser batizado na vida sindical. Pedro apostou todas as fichas em mim e me convidou a fazer parte do “grupo dos seis” da Associação dos Comerciários. Mas esta é outra história, que eu conto em breve.