domingo, 13 de novembro de 2005

Perípatos - O corrupto que há dentro de nós

Texto publicado em minha coluna Perípatos, no jornal Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará, edição de sexta-feira:
“Mar de lama”. “Vergonha nacional”. “Podridão”. Não é de hoje que o Brasil vive sob o estigma da corrupção. Os políticos apesar de execrados, continuam sendo eleitos e a corrupção afeta os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Há várias teses para explicar a disseminação da corrupção brasileira, algumas enfatizando que o vírus se instalou em nós desde a chegada dos primeiros colonizadores em solo brasileiro. O historiador Cassiano Telles Conceição, em sua “História da Corrupção no Brasil Antigo”, conta que já no encontro inicial entre os descobridores portugueses e os índios, os primeiros não entregaram os presentes prometidos e os segundos fugiram com provisões contrabandeadas por um marinheiro!
O escritor João ubaldo Ribeiro, numa entrevista à Revista Veja em maio deste ano (antes de estourar toda a corrupção de Zé Dirceu & Cia.), disse que a colonização no Brasil se deu em moldes muito diferentes dos da colonização dos Estados Unidos, pois “os colonizadores ingleses, ao vir para a América, estavam dando as costas para a Europa. Eles vieram para nunca mais voltar. Sua intenção, ao chegar ao Novo Mundo, era conceber uma nação ou várias pequenas nações nas treze colônias. No Brasil isso não ocorreu. Não porque os portugueses sejam ordinários pela própria natureza, como freqüentemente se diz. A questão é que Portugal nos pegou num momento em que sua prosperidade dependia do fato de o país ser um grande entreposto da Europa, um grande fornecedor de mercadorias. Fizeram, assim, uma colonização predatória”.
Estaria aí a alma da corrupção brasileira? Poderia-se então afirmar que daí viria o tal “jeitinho brasileiro”? Quem já não teve a tentação de furar uma fila de banco, quando encontra um conhecido ou mesmo tem uma amigo no caixa? Quem já não conseguiu fugir de uma multa de um guarda de trânsito, dando-lhe “o da cervejinha”?
A corrupção está em nosso sangue e não bastará derrubar este ou aquele candidato na próxima eleição. Precisamos primeiramente estirpar o corrupto que há dentro de nós, pois sem corruptor não há corrupto.
Precisamos evitar que nossos filhos se acostumem com atos que incentivem a cultura da corrupção. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) divide a corrupção em três tipos: grande corrupção, corrupção na iniciativa privada e a corrupção leve, que é aquela que acontece no dia-a-dia, como os exemplos já citados.
Na próxima vez que pensar em eleger um vereador, não pense no que ele pode fazer pela sua familia ou por você mesmo. E sim o que ele pode fazer pela cidade. Conheço gente que elegeu vereador e na primeira semana se arrependeu: “Aaquele f.d.p. Não me arranjou uma vaga de assessor!”.
Como cobrar honestidade de um homem público se não dominarmos o corrupto que há dentro de nós?

Um comentário:

Anônimo disse...

Jota,

Um dia assistindo o programa do Jô, ouvi uma entrevista interessante, infelizmente não me lembro do nome do entrevistado que é brasileiro, mas ele chamou a atenção para a “sorte” que o Brasil teve, e no caso especifico os Índios, pois ao contrário do que aconteceu noutras terras como Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, Portugal não pegou nos Índios Brasileiros e os levou para terra estranha para os escravizar como fez com todos os nativos das outras terras.
Os Portugueses mantiveram sempre os Índios na sua terra natal, dando assim a possibilidade de eles se defenderem muito mais facilmente dos invasores, não conseguindo nunca totalmente controlar...
Acredito que como disse:

“Pêro Vaz de Caminha

Caminha descreve os autóctones como que maravilhado por aquilo a que se chama a sua inocência e que nota particularmente nos seus corpos (a sua nudez tantas vezes repetida) e na sua entrega aos visitantes ("muito mais nossos amigos que nós seus"). Tão homens como os europeus, tão inocentes como o primeiro homem.”

Que o charme nativo, tenha sido um importante aliado na defesa dos naturais de vossa terra.
Note-se que predatórias também foram as conquistas de Angola, Moçambique....mas não tão charmosas que evitassem a escravatura....
Ainda hoje, o Charme Brasileiro, é um ”ex Libris” do vosso país.
Concluindo, e para não fugir ao assunto exposto, corrupção é só uma forma de sobrevivência do país, o negócio, a troca sempre existiu desde o inicio, como poderão agora os brasileiros adoptar outra forma de olhar???
Como dizes, como controlar o corrupto dentro de vós?
Talvez, procurando descobrir a * fonte de prazer desviada*, pela corrupção inicial. Portugueses, inicialmente tentaram “desviar” vosso prazer natural para um mais rápido, mais fácil com o álcool, adornamentos bonitos e algumas guloseimas.
Recolocando o prazer natural inicial, mais imaterial, em cada um, terá inicio, na minha opinião a grande diminuição da corrupção.