Nas minhas andanças pela cidade gosto de conversar com pessoas que têm histórias interessantes para contar. Este emocionante depoimento colhi de um moto-taxista enquanto nos dirigíamos à faculdade.
Ele se apresentou a mim apenas como Naldo. Evangélico e músico autodidata, trabalha há algum tempo como moto-taxista regularizado e garante que consegue tirar seu ganha-pão daquela profissão. Ao descobrir que trabalhei na Rádio Rural, passa a me narrar uma história ocorrida há vários anos. Vou tentar reproduzi-la como a ouvi, podendo cometer aqui ou ali pequenos erros de informação, mas a essência é o que vale.
Morando numa colônia, Naldo cresceu ouvindo a Rural onde aprendeu a cantar as músicas que lá tocavam. Tinha em torno de quatro anos e tornou-se fã do programa de Bena Lago, comunicadora que tinha um grande público infantil, uma espécie de “Xuxa negra e ao tucupi”. Trabalhei com ela e me lembro da sua famosa saudação às crianças: “uma beijoca na ponta do nariz”. Naldo também se lembra. E como.
Naquele ano, Bena Lago instituiu um concurso para talentos infantis: as crianças deviam cantar em seu programa e aquelas que melhor se apresentassem ganhavam um presente dela. “Podiam pedir o que quisessem, desde que não fossem influenciados pelos pais”, lembra.
Aquela era sua chance de conseguir uma passagem para ir em busca do pai, que havia se separado de sua mãe quando ainda este nem tinha nascido. Sabia apenas que ele morava pras bandas do rio Moju.
Como era um garoto esperto, cantava qualquer música e fazia pequenos shows para os vizinhos. Ora, se tinha talento poderia se dar bem no programa da “tia Bena”, pensou. Mas como chegar à cidade? A família não tinha condições para tal luxo. A mãe cuidava dele e de outros quatro irmãos.
Um dia o prefeito (ele acha que foi o Ronan Liberal) passou pela sua localidade para entregar alguma obra. Disseram que a criança que melhor recebesse o prefeito ganharia dele o que quisesse. Naldo logo se apreentou. Cantou. Fez um show e emocionou o prefeito a tal ponto de sua mulher sugerir à mãe que gostaria de levá-lo para criá-lo na cidade. Naldo resistiu, mas cobrou a promessa do prefeito. “Peça o que quiser”, disse ele. “Quero ir no programa da Bena Lago”, disse o menino sem imaginar que o próprio prefeito poderia tê-lo levado ao encontro do pai!
Promessa cumprida, dias depois ele chegou ao estúdio e se superou: cantou maviosamente e emocionou a todos, ganhando seu prêmio. Bena se encarregou de encaminhá-lo em busca do pai no Moju. Emocionado, me relata que através daquele gesto conseguiu reunir a familia. A mãe já faleceu, mas hoje vive com o pai em plena harmonia.
Corações que se ligaram através das ondas do rádio. Uma das milhares de histórias que ainda circulam por aí, muitas delas inéditas como esta.
Até agora.
Ele se apresentou a mim apenas como Naldo. Evangélico e músico autodidata, trabalha há algum tempo como moto-taxista regularizado e garante que consegue tirar seu ganha-pão daquela profissão. Ao descobrir que trabalhei na Rádio Rural, passa a me narrar uma história ocorrida há vários anos. Vou tentar reproduzi-la como a ouvi, podendo cometer aqui ou ali pequenos erros de informação, mas a essência é o que vale.
Morando numa colônia, Naldo cresceu ouvindo a Rural onde aprendeu a cantar as músicas que lá tocavam. Tinha em torno de quatro anos e tornou-se fã do programa de Bena Lago, comunicadora que tinha um grande público infantil, uma espécie de “Xuxa negra e ao tucupi”. Trabalhei com ela e me lembro da sua famosa saudação às crianças: “uma beijoca na ponta do nariz”. Naldo também se lembra. E como.
Naquele ano, Bena Lago instituiu um concurso para talentos infantis: as crianças deviam cantar em seu programa e aquelas que melhor se apresentassem ganhavam um presente dela. “Podiam pedir o que quisessem, desde que não fossem influenciados pelos pais”, lembra.
Aquela era sua chance de conseguir uma passagem para ir em busca do pai, que havia se separado de sua mãe quando ainda este nem tinha nascido. Sabia apenas que ele morava pras bandas do rio Moju.
Como era um garoto esperto, cantava qualquer música e fazia pequenos shows para os vizinhos. Ora, se tinha talento poderia se dar bem no programa da “tia Bena”, pensou. Mas como chegar à cidade? A família não tinha condições para tal luxo. A mãe cuidava dele e de outros quatro irmãos.
Um dia o prefeito (ele acha que foi o Ronan Liberal) passou pela sua localidade para entregar alguma obra. Disseram que a criança que melhor recebesse o prefeito ganharia dele o que quisesse. Naldo logo se apreentou. Cantou. Fez um show e emocionou o prefeito a tal ponto de sua mulher sugerir à mãe que gostaria de levá-lo para criá-lo na cidade. Naldo resistiu, mas cobrou a promessa do prefeito. “Peça o que quiser”, disse ele. “Quero ir no programa da Bena Lago”, disse o menino sem imaginar que o próprio prefeito poderia tê-lo levado ao encontro do pai!
Promessa cumprida, dias depois ele chegou ao estúdio e se superou: cantou maviosamente e emocionou a todos, ganhando seu prêmio. Bena se encarregou de encaminhá-lo em busca do pai no Moju. Emocionado, me relata que através daquele gesto conseguiu reunir a familia. A mãe já faleceu, mas hoje vive com o pai em plena harmonia.
Corações que se ligaram através das ondas do rádio. Uma das milhares de histórias que ainda circulam por aí, muitas delas inéditas como esta.
Até agora.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), de 25.11.2005.
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