Na coluna Peripatos, que publico no Diário do Tapajós, escrevi nesta terça-feira:
Na minha condição de quase-eterno andarilho-transeunte, desde que meu fusquinha azul 73 quase pegou fogo comigo dentro, há 11 anos ando por aí na dependência de uma carona ou do transporte da empresa em que estiver, para chegar mais rápido a qualquer lugar. Isso porque nosso sistema de transporte coletivo sempre foi deficitário. Esperar um ônibus é pagar por todos os pecados da nossa “pérola” (e o pior que esse pessoal não melhorar o serviço e só pensa naquilo... aumento do preço da passagem!).
Vai daí que o século 21 nos trouxe uma novidade que poderia ser a solução dos problemas dos sem-veículo: o moto-táxi. Desde o surgimento deste serviço em Santarém, tenho sido um freqüente usuário e posso dizer que já tenho know-how no assunto.
Houve um tempo em que eu, por questões éticas, só admitia pegar os regulares. Afinal, um servidor da lei não poderia andar por aí clandestinamente... Mas, de repente, mandei a ética às favas e prostituí meu assento (no bom sentido), sentando-me na primeira moto que passasse à minha frente. Isso foi acontecendo à medida em que me envolvia com tarefas das mais diversas e precisava estar, às vezes, em três lugares ao mesmo tempo...
Mas um das piores coisas desse serviço é dividir o fétido capacete que todo mundo usa. Pior ainda é a sensação de medo quando o moto-taxista quer dar uma de Valentino Rossi. E haja ziguezague entre carros... olha a velhinha!! Ei, aquele sinal não era vermelho? Cuidado com o ônibus! Mas aquela placa dizia PARE!
Na ânsia de ganhar mais trocados, muitos moto-taxistas esquecem que tem um idiota atrás e seguem tresloucadamente pelas ruas desta cidade desvairada. Marronzinhos e PM´s assistem impávidos o desvario. Autoridades discutem os índices de acidentes nas mesas-redondas do rádio e o otário aqui, esquece que o capacete fede e já se imagina dentro de uma cova!
Mas uma coisa que nunca gostei de um taxista ou moto-taxista é você dizer: vamos pra tal lugar e o cara virar e te perguntar descaradamente: “onde fica isso?” Aí é demais! Já na basta o circo de horrores que me reserva tal viagem e o cara ser um analfabeto em termos de localização?
Mas há sempre o outro lado da história. Apressado, pego o primeiro moto-táxi-de-capacete-fétido-que-passa e digo: praça São Raimundo! O cara fica estático e não diz nada. Acelera quase parando e me dá a sensação de que não sabe para onde está indo. De repente, enquanto ziguezagueia na Tapajós se vira e diz: “que praça é essa?” A vontade é descer, mas a pressa me faz engolir as palavras e mostrar com a mão: “sobe ali, é a praça que fica nesta rua!”. Ao chegarmos à praça, desço e já me preparo para esculachar o cara e dizer que poderia nem pagar pelo abuso, quando ele candidamente me diz: “me desculpe senhor, pensei que essa fosse a praça do Centenário...”
Cumprimento o cara, afinal, o jegue era eu, já que esse é o nome verdadeiro da praça. Chego à conclusão, neste meu peripatos motorizado que, “ainda há vida inteligente em alguns fétidos capacetes”...
Um comentário:
Oi, Ninos
teve um tempo no qual eu também não aceitava andar de mototaxista clandestino, mas, no meu caso, é por medo mesmo. Se já tenho receio de andar com legalizados, o receio é triplo quando se trata de clandestinos. Mas, a pressa ou a falta de paciência para esperar um transporte legalizado nos levam aos clandestinos. Na última quarta-feira mesmo, tive que usufruir desse tipo de transporte e o cidadão parecia que ia tirar a mãe da forca ou apagar um grave incêndio tal qual a sua pressa em me deixar no meu destino. Para completar o capacete não tinha qualquer segurança. A situação foi tão apavorante que não tive qualquer reação de pedir que ele parasse a fim de que pudesse encontrar outro transporte. Fiquei paralisada de medo e dediquei o tempo da viagem naquela moto para rezar.
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