Sou um perna-de-pau desde os tempos em que jogava com bola de meia nos corredores do edifício em que me criei, na cidade das mangueiras. Arrisquei os primeiros chutes, ao ar livre, na praça da República e só jogava nos times formados pela molecada porque era o dono da bola...
No Colégio John Kennedy, o professor de educação física (que revi aqui em Santarém, agora como educador do trânsito, o querido Clauriberto Levy) só me deixava jogar porque, afinal, não podia me barrar dos treinos da escola. Mas eu acabava sempre na vaga reservada aos piores jogadores: o gol.
Passei a me arriscar mais. Pulava feito macaco tentando mostrar que tinha muito valor, mas desisti no dia em que tomei um frango histórico (que nem Valdir Peres, na Copa de 1982) depois que a bola chutada do campo adversário bateu numa raiz de uma velha árvore, que insistia em crescer perto do campinho e me cobriu! Eu seria um digno jogador do Tabajara F. C...
Mas apesar disso, sempre gostei de futebol. Sofri, vendo meus times apanhando dos adversários em jogos na TV ou mesmo no estádio. Sempre que ia ver o Paysandu jogar com aquela “coisa” azul, voltava com a bandeira no saco. Achei então que o pé-frio era eu (o pior é que, quando deixei de ir pro estádio, o Papão começou a ganhar títulos...).
Mas apesar de tudo, nunca deixei de gostar de futebol.
Quando cheguei em Santarém, continuei fominha de bola: quando não estava jogando em frente ao velho Hotel Uirapuru, na praia, estava esfolando meu pé no asfalto em frente ao colégio frei Ambrósio, onde jogava com os irmãos goianos do Quitandão (o agora tenente PM Osmar, o diretor da TV Amazônia, Walter, e o delegado Nelson Silva) e os ‘greguinhos” como eu, Mac e Eco, além do hoje advogado Anderson Dezincourt e outros.
Até que um dia entrei na militância política de esquerda e percebi, que por trás daquela alegria toda, eu vivia num mundo em que os generais é que jogavam um “bolão”. Na verdade, vivi a Ditadura já nos seus acréscimos do segundo tempo. Mas fui aprendendo como o futebol era usado como “ópio do povo”, típica expressão maniqueísta de esquerda para contrapor ao grito do ‘Pra frente, Brasil!”, da Copa de 70.
Os tempos são outros e apesar dos maniqueísmos de ambas as partes, o futebol ainda hoje é o nosso fetiche cotidiano. Não há como não gostar de um jogo em que todas as energias exalam do corpo e explodem num grito uníssono: GOOOOOLLLL! Mesmo assim, não há também como negar que o futebol ainda hoje é uma arma utilizada por quem está no poder para amplificar a catarse de todas as dores do dia-a-dia servindo como ungüento que nós faz esquecer as mazelas numa final de campeonato.
E o que dizer quando isso faz parte de um espetáculo mundial como a Copa do Mundo?
Nessa hora, nós, brasileiros bons de bola (tirando eu), somos os “capitalistas” do futebol. Nosso PIB (Produto Interno da Bola) é o maior do mundo! Produzimos e exportamos craques, abocanhamos títulos e somos reverenciados do deserto do Saara ao mais remoto iglu do Alaska!
Perder a Copa, para nós, equivale a uma catástrofe como um tsunami na Indonésia. Como não temos terremotos e vulcões para arrasar nosso território, basta um Paolo Rossi (aquele italiano que acabou com o então sonho do tetra, na Espanha) ou um Maradona (que com um passe de gênio para o Caníggia acabou com a defesa medíocre montada pelo Lazaroni e nos tirou da Copa de 1990, na Itália) para o mundo vir abaixo!
E o que dizer quando um ídolo que, na hora em que mais se precisa dele, chuta um pênalti pra fora (como Zico ou Sócrates, em 1886, no México) ou tem uma convulsão que acaba em goleada (como Ronaldinho, na França, em 1998)? Equivale a depositar todas as esperanças em um Lula, nas urnas, e ver o sonho se acabar num mensalão...
Apesar de tudo, sempre que houver uma Copa, inda mais com tantos ‘Rs’ dando show, sempre estaremos prontos para calçar a chuteira e entrar em campo rumo ao Hexa, ao Epta, ao Octa, etc.
A expressão “Pátria de Chuteiras” revela o tom nacionalista que sempre toma conta de nós, em época de Copa do Mundo, revelando que neste momento, somos “o rei do mundo”, como diria Leonardo Di Caprio, um pouco antes do Titanic afundar nas telas do cinema. E haja verde e amarelo nas calçadas...
Mas como toda chuteira, haverá sempre algo de podre exalando quando tirarmos esta do pé. Se estivermos enebriados com um Hexa, talvez não sintamos a podridão que exala da política nacional e o voto nas urnas será tão verde e amarelo quanto nosso orgulho. Mas, ao contrário, poderemos acreditar que além das derrotas do dia-a-dia de nada valeu endeusar nossos craques e afundaremos na mais triste das desesperanças.
O que isso significará em votos?
Nem os “Deuses do Futebol” saberiam dizer...
No Colégio John Kennedy, o professor de educação física (que revi aqui em Santarém, agora como educador do trânsito, o querido Clauriberto Levy) só me deixava jogar porque, afinal, não podia me barrar dos treinos da escola. Mas eu acabava sempre na vaga reservada aos piores jogadores: o gol.
Passei a me arriscar mais. Pulava feito macaco tentando mostrar que tinha muito valor, mas desisti no dia em que tomei um frango histórico (que nem Valdir Peres, na Copa de 1982) depois que a bola chutada do campo adversário bateu numa raiz de uma velha árvore, que insistia em crescer perto do campinho e me cobriu! Eu seria um digno jogador do Tabajara F. C...
Mas apesar disso, sempre gostei de futebol. Sofri, vendo meus times apanhando dos adversários em jogos na TV ou mesmo no estádio. Sempre que ia ver o Paysandu jogar com aquela “coisa” azul, voltava com a bandeira no saco. Achei então que o pé-frio era eu (o pior é que, quando deixei de ir pro estádio, o Papão começou a ganhar títulos...).
Mas apesar de tudo, nunca deixei de gostar de futebol.
Quando cheguei em Santarém, continuei fominha de bola: quando não estava jogando em frente ao velho Hotel Uirapuru, na praia, estava esfolando meu pé no asfalto em frente ao colégio frei Ambrósio, onde jogava com os irmãos goianos do Quitandão (o agora tenente PM Osmar, o diretor da TV Amazônia, Walter, e o delegado Nelson Silva) e os ‘greguinhos” como eu, Mac e Eco, além do hoje advogado Anderson Dezincourt e outros.
Até que um dia entrei na militância política de esquerda e percebi, que por trás daquela alegria toda, eu vivia num mundo em que os generais é que jogavam um “bolão”. Na verdade, vivi a Ditadura já nos seus acréscimos do segundo tempo. Mas fui aprendendo como o futebol era usado como “ópio do povo”, típica expressão maniqueísta de esquerda para contrapor ao grito do ‘Pra frente, Brasil!”, da Copa de 70.
Os tempos são outros e apesar dos maniqueísmos de ambas as partes, o futebol ainda hoje é o nosso fetiche cotidiano. Não há como não gostar de um jogo em que todas as energias exalam do corpo e explodem num grito uníssono: GOOOOOLLLL! Mesmo assim, não há também como negar que o futebol ainda hoje é uma arma utilizada por quem está no poder para amplificar a catarse de todas as dores do dia-a-dia servindo como ungüento que nós faz esquecer as mazelas numa final de campeonato.
E o que dizer quando isso faz parte de um espetáculo mundial como a Copa do Mundo?
Nessa hora, nós, brasileiros bons de bola (tirando eu), somos os “capitalistas” do futebol. Nosso PIB (Produto Interno da Bola) é o maior do mundo! Produzimos e exportamos craques, abocanhamos títulos e somos reverenciados do deserto do Saara ao mais remoto iglu do Alaska!
Perder a Copa, para nós, equivale a uma catástrofe como um tsunami na Indonésia. Como não temos terremotos e vulcões para arrasar nosso território, basta um Paolo Rossi (aquele italiano que acabou com o então sonho do tetra, na Espanha) ou um Maradona (que com um passe de gênio para o Caníggia acabou com a defesa medíocre montada pelo Lazaroni e nos tirou da Copa de 1990, na Itália) para o mundo vir abaixo!
E o que dizer quando um ídolo que, na hora em que mais se precisa dele, chuta um pênalti pra fora (como Zico ou Sócrates, em 1886, no México) ou tem uma convulsão que acaba em goleada (como Ronaldinho, na França, em 1998)? Equivale a depositar todas as esperanças em um Lula, nas urnas, e ver o sonho se acabar num mensalão...
Apesar de tudo, sempre que houver uma Copa, inda mais com tantos ‘Rs’ dando show, sempre estaremos prontos para calçar a chuteira e entrar em campo rumo ao Hexa, ao Epta, ao Octa, etc.
A expressão “Pátria de Chuteiras” revela o tom nacionalista que sempre toma conta de nós, em época de Copa do Mundo, revelando que neste momento, somos “o rei do mundo”, como diria Leonardo Di Caprio, um pouco antes do Titanic afundar nas telas do cinema. E haja verde e amarelo nas calçadas...
Mas como toda chuteira, haverá sempre algo de podre exalando quando tirarmos esta do pé. Se estivermos enebriados com um Hexa, talvez não sintamos a podridão que exala da política nacional e o voto nas urnas será tão verde e amarelo quanto nosso orgulho. Mas, ao contrário, poderemos acreditar que além das derrotas do dia-a-dia de nada valeu endeusar nossos craques e afundaremos na mais triste das desesperanças.
O que isso significará em votos?
Nem os “Deuses do Futebol” saberiam dizer...
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada em 13.06.2006, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
Um comentário:
Porra Jota, tambem nao precisa ser tao realista, queres tirar até os sonhos dos brasileiros.
Quem mandou seres ruim de bola...rs...
abraços, sempre é um prazer ler o que escreves.
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