Recebi por e-mail um artigo do genial escritor Mário Prata intitulado “Jingle Bells pra vocês”, que logo inseri em meu quase sempre desatualizado blog. Sua definição para o tal “espírito natalino” que baixa em nossos corpos anualmente foi fantástica. Sem a mesma genialidade do mestre, faço minhas reflexões, correndo o risco de ser amaldiçoado, já que para mim não existe data mais hipócrita do que o Natal.
Em nome do tal “espírito natalino”, de repente, todos nós vivemos o êxtase do arrependimento e nos reunimos com familiares ou colegas de trabalho para “confraternizar”. Por alguns instantes esquecemos todo o ódio que destilamos durante todo o ano e nos convertemos em “cristãos” de última hora. Vemos “o renascimento de Cristo em nossos corações” e chegamos a, hipocritamente, rezar um Pai Nosso que dificilmente balbuciamos no restante do ano!
E aí vem a história da tradição dos presentes. A obrigação de dar um mimo a um “ente querido” ou participar dos repugnantes “amigos secretos”. E o ”Jingle Bell” que azucrina nossos ouvidos combina com o tilintar das caixas registradoras dos comerciantes.
A tal tradição foi praticamente criada pela igreja católica, a partir do mito dos três reis magos, “personagens criados pelo evangelista Mateus para simbolizar o reconhecimento de Jesus por todos os povos”, como explica o professor de História Antiga da UFRJ, André Chevitaresse (Superinteressante/ JAN-2002). Nem há certeza de que tenham sido reis, mas segundo ele, o mito era uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”.
O fato é que em torno desta tradição construiu-se o merchandising necessário para todo mundo faturar. Por conta disso a manjedoura de Cristo está à venda das lojas de R$ 1,99 aos shoppings de luxo. Tudo isso me inspira um mini-conto de Natal:
Casal de retirantes (ela grávida, quase parindo) chega do interior, de bajara, à cidade. Expulsos de suas terras por grileiros, vêm tentar a sobrevida em Santarém. Sem dinheiro e sem abrigo, passa a dormir embaixo daquele monstrengo que chamam de viaduto.
Nasce um menino. Por conta do “espírito natalino” algum “rei mago” surgirá com uma cesta básica. Mas, passado o Natal, a manjedoura (uma caixa de leite forrada de folhas de jornal) e o casal terão que deixar o local, pois o progresso urge.
Mais de trinta anos depois, aquela família estará vivendo em algum lote numa invasão da periferia. Semi-analfabeto e desempregado, o jovem vive de bicos como o pai, que já está quase cego, enquanto a mãe trabalha de doméstica. Revoltado com a situação, o jovem participa de movimentos populares e um dia pode ser morto por um policial durante uma manifestação.
A história se repete, quase com o mesmo enredo, há mais de dois mil anos. Mas o que importa é o peru do Natal e o ho-ho-ho de um Papai Noel gigante na praça.
Em nome do tal “espírito natalino”, de repente, todos nós vivemos o êxtase do arrependimento e nos reunimos com familiares ou colegas de trabalho para “confraternizar”. Por alguns instantes esquecemos todo o ódio que destilamos durante todo o ano e nos convertemos em “cristãos” de última hora. Vemos “o renascimento de Cristo em nossos corações” e chegamos a, hipocritamente, rezar um Pai Nosso que dificilmente balbuciamos no restante do ano!
E aí vem a história da tradição dos presentes. A obrigação de dar um mimo a um “ente querido” ou participar dos repugnantes “amigos secretos”. E o ”Jingle Bell” que azucrina nossos ouvidos combina com o tilintar das caixas registradoras dos comerciantes.
A tal tradição foi praticamente criada pela igreja católica, a partir do mito dos três reis magos, “personagens criados pelo evangelista Mateus para simbolizar o reconhecimento de Jesus por todos os povos”, como explica o professor de História Antiga da UFRJ, André Chevitaresse (Superinteressante/ JAN-2002). Nem há certeza de que tenham sido reis, mas segundo ele, o mito era uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”.
O fato é que em torno desta tradição construiu-se o merchandising necessário para todo mundo faturar. Por conta disso a manjedoura de Cristo está à venda das lojas de R$ 1,99 aos shoppings de luxo. Tudo isso me inspira um mini-conto de Natal:
Casal de retirantes (ela grávida, quase parindo) chega do interior, de bajara, à cidade. Expulsos de suas terras por grileiros, vêm tentar a sobrevida em Santarém. Sem dinheiro e sem abrigo, passa a dormir embaixo daquele monstrengo que chamam de viaduto.
Nasce um menino. Por conta do “espírito natalino” algum “rei mago” surgirá com uma cesta básica. Mas, passado o Natal, a manjedoura (uma caixa de leite forrada de folhas de jornal) e o casal terão que deixar o local, pois o progresso urge.
Mais de trinta anos depois, aquela família estará vivendo em algum lote numa invasão da periferia. Semi-analfabeto e desempregado, o jovem vive de bicos como o pai, que já está quase cego, enquanto a mãe trabalha de doméstica. Revoltado com a situação, o jovem participa de movimentos populares e um dia pode ser morto por um policial durante uma manifestação.
A história se repete, quase com o mesmo enredo, há mais de dois mil anos. Mas o que importa é o peru do Natal e o ho-ho-ho de um Papai Noel gigante na praça.
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(*) Artigo inserido no dia 20.12.2005 em minha coluna Perípatos, que é publicada às terças e sextas no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.
Um comentário:
Esse é vc. um grande abraço.
Rosivaldo TJE/PA - ANANINDEUA
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