Antes de qualquer interpretação apressada, não sou hipocondríaco. Muito pelo contrário: detesto ir ao médico, visitar amigos ou parentes no hospital e sou extremamente indisciplinado para acompanhar qualquer receita médica (ir ao médico já é um sacrifício!). Na verdade, tudo isso acaba sendo causa e efeito de uma série de maus hábitos que cultivei na juventude e que enfraqueceram muito cedo o organismo que não aprendi a cuidar. Já até falei sobre isso em artigo anterior, sobre obesidade e sedentarismo.
Cheguei a tal situação que já criei uma tabelinha para administrar minhas dores: segundas e quartas são dias de dor de cabeça e nas articulações; terças e quintas dor de dente, de ouvido e das vias nasais; sextas e sábados, a famigerada dor de barriga. Aos domingos, como não sou de ferro, sinto dores de dente, de barriga, de ouvido, das narinas e da cabeça o dia todo... Por isso é que atualmente vivo na chamada fase do Homem-Condor, ou seja, vivo reclamando que estou com dor disso, com dor daquilo...
Daí porque vivo atrás de pílulas! Meu reino por uma pílula para aplacar as dores!
Mas antes de falar nelas, tenho que dizer que em termos de cuidado com o corpo fui um péssimo discípulo de meu pai que naõ cansou de me ensinar: “nosso corpo é como uma máquina. É preciso saber usá-la e conservá-la, cuidando de cada engrenagem para que a máquina não quebre”. O velho grego, maquinista de si mesmo, hoje no alto de seus 86 anos esbanja saúde e está tão enxutíssimo que sempre digo a ele que ainda vai acabar enterrando os filhos (toc, toc, isola!)!
Aposentado, o velho Ninos resolveu curtir a vida na terra natal, trilhando os caminhos de Alexandre, o Grande, na velha Macedônia, norte da Grécia. Enquanto curte a bela idade, se gaba sempre de que isso tudo começou quando chegou à minha atual idade e decidiu parar de fumar (quem o vê não pode imaginar que tenha sido, algum dia, fumante) e abdicou de comer carnes verdes para optar pelo cardápio vegetariano. Sem contar com a eterna ginástica, caminhadas, sexo e outras estripulias que geralmente a terceira idade já não consegue fazer!
Eu que estou na minha segunda juventude, já pareço um velho arcaico cheio de doenças, cansado, estressado... O pior é que não bebo e nem fumo, entretanto adoro comer carnes (todas elas!), sou um workaholic e me divido em diversas funções acreditando num sonho quixotesco de salvar o mundo, mas mal consigo salvar a própria pele. Quando não estou no computador do Fórum, atrás de uma pilha de processos, estou no computador da TV elaborando mil projetos, ou no computador de casa escrevendo artigos ou trabalhos de aula.
Posso dizer que sou o Ninobanco, o banco que funciona 30 horas! Insone, assisto o Corujão e “notinavego” na internet escrevendo em blogs, acessando os orkuts da vida, batendo papos e enviando e-mails, e de vez em quando dando uma “espiadinha” em sites menos recomendáveis, pois o cansaço não me deixa dormir. Quando enfim as pálpebras capitulam, meu galo eletrônico do celular cacareja: Aco-corda, Caaaara!
E haja pílula pra dormir, pra diminuir apetite, pra acabar com a dor disso, daquilo, daquilo outro... Dia desses, na madrugada de sexta pra sábado (dia de dor de barriga) peguei o saquinho de pílulas meio dormindo-em-pé e nem vi as instruções de como e quando tomá-las. Resultado: acabei tomando um laxante (que nem era meu) e passei a madrugada sentado no velho trono!
Pior ainda foi uma época em que recebi pílulas de todas as cores e de todos os tamanhos (me recusei apenas de usar o supositório e as injeções, que aí já era demais...). “Um tratamento infalível, para curar todas as dores” – dizia, sorridente, meu médico (com cifrões no lugar das pupilas antevendo as comissões que receberia do representante da indústria farmacêutica...).
Como vivia me esquecendo do que tomar, passei a ingerir pílulas que me ajudavam a recordar de que pílulas eu deveria tomar: a pílula azul me ajudava a recordar que às seis da manhã era hora de tomar a pílula verde; a pílula verde me recordava que às 10 horas era para tomar a pílula vermelha, para recordar de tomar a pílula amarela ao meio-dia, que enfim me recordaria de tomar a pílula roxa que era para... bom, me esqueci pra que servia esta última pílula...
Podem imaginar como o tratamento não deu certo?!
Por dever de ofício e de cidadania tenho lutado pela abertura do Hospital Regional, mas pergunta se vou querer entrar lá? Tenho verdadeira aversão a médicos, clínicas e hospitais!
O último tratamento de dente que fiz abandonei no meio, quando o dentista falou que precisava fazer “uma pequena cirurgia na gengiva”. Todo paciente de dentista vive de boca aberta, pois é a única profissão que nos deixa de queixo caído e por isso perguntei, boquiaberto: “xinxeramentxe, como xerá exa xirurxia na xenxiva, dotxô?”. Ele responde simetricamente: “um pequeno corte longitudinal, para abrir uma cavidade próximo ao palato para que eu possa introduzir um aparelho e...”.
Eu já estava desmaiado... Foi o jeito me dispensar e dar mais pílulas, para que eu retornasse outro dia. Até hoje não voltei lá.
E assim vou levando minha vida em pílulas, até que a morte me separe...
Cheguei a tal situação que já criei uma tabelinha para administrar minhas dores: segundas e quartas são dias de dor de cabeça e nas articulações; terças e quintas dor de dente, de ouvido e das vias nasais; sextas e sábados, a famigerada dor de barriga. Aos domingos, como não sou de ferro, sinto dores de dente, de barriga, de ouvido, das narinas e da cabeça o dia todo... Por isso é que atualmente vivo na chamada fase do Homem-Condor, ou seja, vivo reclamando que estou com dor disso, com dor daquilo...
Daí porque vivo atrás de pílulas! Meu reino por uma pílula para aplacar as dores!
Mas antes de falar nelas, tenho que dizer que em termos de cuidado com o corpo fui um péssimo discípulo de meu pai que naõ cansou de me ensinar: “nosso corpo é como uma máquina. É preciso saber usá-la e conservá-la, cuidando de cada engrenagem para que a máquina não quebre”. O velho grego, maquinista de si mesmo, hoje no alto de seus 86 anos esbanja saúde e está tão enxutíssimo que sempre digo a ele que ainda vai acabar enterrando os filhos (toc, toc, isola!)!
Aposentado, o velho Ninos resolveu curtir a vida na terra natal, trilhando os caminhos de Alexandre, o Grande, na velha Macedônia, norte da Grécia. Enquanto curte a bela idade, se gaba sempre de que isso tudo começou quando chegou à minha atual idade e decidiu parar de fumar (quem o vê não pode imaginar que tenha sido, algum dia, fumante) e abdicou de comer carnes verdes para optar pelo cardápio vegetariano. Sem contar com a eterna ginástica, caminhadas, sexo e outras estripulias que geralmente a terceira idade já não consegue fazer!
Eu que estou na minha segunda juventude, já pareço um velho arcaico cheio de doenças, cansado, estressado... O pior é que não bebo e nem fumo, entretanto adoro comer carnes (todas elas!), sou um workaholic e me divido em diversas funções acreditando num sonho quixotesco de salvar o mundo, mas mal consigo salvar a própria pele. Quando não estou no computador do Fórum, atrás de uma pilha de processos, estou no computador da TV elaborando mil projetos, ou no computador de casa escrevendo artigos ou trabalhos de aula.
Posso dizer que sou o Ninobanco, o banco que funciona 30 horas! Insone, assisto o Corujão e “notinavego” na internet escrevendo em blogs, acessando os orkuts da vida, batendo papos e enviando e-mails, e de vez em quando dando uma “espiadinha” em sites menos recomendáveis, pois o cansaço não me deixa dormir. Quando enfim as pálpebras capitulam, meu galo eletrônico do celular cacareja: Aco-corda, Caaaara!
E haja pílula pra dormir, pra diminuir apetite, pra acabar com a dor disso, daquilo, daquilo outro... Dia desses, na madrugada de sexta pra sábado (dia de dor de barriga) peguei o saquinho de pílulas meio dormindo-em-pé e nem vi as instruções de como e quando tomá-las. Resultado: acabei tomando um laxante (que nem era meu) e passei a madrugada sentado no velho trono!
Pior ainda foi uma época em que recebi pílulas de todas as cores e de todos os tamanhos (me recusei apenas de usar o supositório e as injeções, que aí já era demais...). “Um tratamento infalível, para curar todas as dores” – dizia, sorridente, meu médico (com cifrões no lugar das pupilas antevendo as comissões que receberia do representante da indústria farmacêutica...).
Como vivia me esquecendo do que tomar, passei a ingerir pílulas que me ajudavam a recordar de que pílulas eu deveria tomar: a pílula azul me ajudava a recordar que às seis da manhã era hora de tomar a pílula verde; a pílula verde me recordava que às 10 horas era para tomar a pílula vermelha, para recordar de tomar a pílula amarela ao meio-dia, que enfim me recordaria de tomar a pílula roxa que era para... bom, me esqueci pra que servia esta última pílula...
Podem imaginar como o tratamento não deu certo?!
Por dever de ofício e de cidadania tenho lutado pela abertura do Hospital Regional, mas pergunta se vou querer entrar lá? Tenho verdadeira aversão a médicos, clínicas e hospitais!
O último tratamento de dente que fiz abandonei no meio, quando o dentista falou que precisava fazer “uma pequena cirurgia na gengiva”. Todo paciente de dentista vive de boca aberta, pois é a única profissão que nos deixa de queixo caído e por isso perguntei, boquiaberto: “xinxeramentxe, como xerá exa xirurxia na xenxiva, dotxô?”. Ele responde simetricamente: “um pequeno corte longitudinal, para abrir uma cavidade próximo ao palato para que eu possa introduzir um aparelho e...”.
Eu já estava desmaiado... Foi o jeito me dispensar e dar mais pílulas, para que eu retornasse outro dia. Até hoje não voltei lá.
E assim vou levando minha vida em pílulas, até que a morte me separe...
(P.S.= a única pílula que ainda não é bem-vinda em meu cardápio é a pílula azul.)
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicado esta semana, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
6 comentários:
Vc pode até dizer que não é bem vinda a pílula azul, mas no texto que diz que tomava diariamente. (rs)
Acabou se entregando!!!
huahuahuauhauhahuauhauhauhauh
Pois é caro William... É que quando escrevi o texto no jornal, a notícia sobre o desempenho sexual dos gregos ainda não havia sido publicada. A pílula azul a que me refiro no texto não aquela pílula azul a que me refiro no P.S., que remete ao link sobre a outra notía, que já comentei no blog de outro amigo...
E acaba gerando a confusãp... Valeu tua participação, obrigado!
Opa, começarei a frenquentar com mais frequência, afinal gostei muito do blog e desde já me desculpo pela brincadeirinha (rs).
Abração e ótimo final de semana
Olá sulamericano-grego !
Sou viciado em paracetamol.
Comecei com pírulas pequenas de 250 e agora já estou nas 750 mg. E pior, as pílulas não funcionam mais como antes.
Aliás: não funcionar como antes, talvez justifique o porquê de tomares diariamente a tal pílula azul ! kkkkk
Bração,
Fábio Rangel
Meu caro amigo Ninos, como em outras ocasiões, sua crônica me causou gratificantes momentos. Gosto de ler seus escritos. São leves, misturam coisa séria com humor sem perder a classe e nos levam a viajar em nossos esconderijos, afinal, creio que todos nós temos um pouco de tudo isto.
E isto é que faz o encanto de um texto.
Acho que você é mestre nisso.em envolver o leitor e fazê-lo pensar que também está escrevendo. Continue e nos brindar com essas delícias, mesmo que seja à custa de muitas pílulas. Eu confesso que também sou chegado a algumas delas (não tantas quanto você), mas eu não suporto sentir dor, qualquer que seja. Acho que dor não combina com seres que reivindicam inteligência. Por isso, não hesito em lançar mão das pílulas diante do mais leve sintoma de desconforto. Contrariando as recomendações médicas, e mesmo sabendo do mal que isto acarreta, não hesito em combater a dor.
É pensa que algumas dores não sejam curadas com pílulas. Até porque elas doem de forma diferente. É o caso da dor provocada pela incompreensão, a dor da saudade, a dor da ausência, a dor da solidão quando estamos no meio da multidão, enfim, dores que atingem a alma, e para as quais as pílulas convencinais não se aplicam. Mesmo assim, e ainda bem, existem as boas leituras, como a sua crônica, que funcionam como "pílulas especiais".
Um abraço, do amigo: Anselmo Colares.
Querido amigo...rsrsrrs...quem diria que eu ainda iria ler sobre voce a este cúmulo?kkk
Também já fui adepta das pílulas, mas há alguns anos já, tenho uma alimentação o mais natural possivel(troquei a lactose pelo leite de soja, o queijo pelo tofu, a carne pela soja, a coca cola pelo suco natural.Adotei a linhaça e o Noni e outros alimentos naturais)+ 2 hs de exercícios diários...enfim, chegou o número 48!!!E creia-me, as dores se foram!Só não dispenso a cerveja geladinha do final de semana e algum vinho no poente, em um dia no meio da semana e isso ouvindo o velho Chico, a maravilhosa Mercedes e como sempre ...com Neruda por companhia!!!E sem dispensar um bom samba de gafieira no sábado...
Uma vez a cada 15 dias como carne vermelha(claro, sem exageros).Ainda não penso na velhice...acredite!!!kkkkkk
Lembro do Jota ainda jovem...cheio de vida e sem dores!Do velho fusca, da moto, do sindicato...ahhhh, enfim, quantas bela lembranças...também lembro do amigo que me salvava...nos bailes da velha Signus...huahuhauhaua.
Abraços, amigo.
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