Aí, se moram numa grande metrópole tomam um “break fast” ou um “coffee break” e vão a um “shopping center”. Depois de olhar as vitrines com as placas de “on sale”, “off price” e “off shore”, param num “fast food”, comem um “cheese egg burger” ou um simples “hot dog”. E o paizão, que acabou de voltar de uma viagem, passou pelo “check-in” de um aeroporto, fez um “check-up” no seu médico e tem carro moderno que foi comprado depois de um “test drive”. Provavelmente terá um “air bag” mesmo que seja uma “pick-up”. É o mesmo carro que passa num “drive-in” ou por um serviço de “drive-thru”.
Se você entendeu os parágrafos iniciais deste artigo, parabéns! Você é um legítimo brasileiro, mesmo que não viva num ambiente de classe média como o que foi descrito! Com certeza to da noite você deve assistir ao seu programa “cultural” favorito: o “Big Brother”. É o mesmo programa que na Argentina é chamado de “El gran hermano” (que quer dizer a mesma coisa, só que na língua portenha). E enquanto você tem medo de pegar AIDS (sigla de Acquired Immune Deficiency Syndrome), os portugueses em Portugal têm medo de pegar uma SIDA (Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida) que é a mesma coisa! Como diria Renato Russo, “que país é este?”.
Colonizados pelos lusitanos de Cabral assumimos como língua pátria o português, que depois receberam influências das línguas tupis dos indígenas que já habitavam esse solo, e dos dialetos africanos dos escravos trazidos nos navios negreiros. Formamos uma língua que já é conhecida mundo afora como Língua Portuguesa Brasileira. Entretanto, não conseguimos nos livrar da colonização lingüística que continua em curso. No início do século XX, era “très chic” falar francês. Nossa cultura acabou assimilando uma centena de palavras daquele idioma e as “aportuguesou”, como garçom, abajur, entre outras. Em meados do século passado, vivemos uma nova invasão com as terminologias norte-americanas, principalmente com a chegada da música e dos costumes da juventude transviada. Mas nas duas últimas décadas parece que perdemos o controle dessa sutil invasão. E hoje assimilamos de forma natural os termos já citados no início deste artigo.
Não quero ser confundido com lingüistas conservadores que não admitem que a língua seja algo vivo e passível de transformações de acordo com a evolução. Mas uma coisa é evolução outra coisa é colonização. Acredito que se um país não consegue ter domínio sobre sua língua, uma das principais marcas de soberania nacional, estamos fadados a aceitar a imposição da ideologia ianque, ligada ao consumismo e à falta de princípios morais e éticos. Sem exagero, é dessa passividade que surge uma massa despolitizada que elege políticos corruptos e depois se lamuria dizendo que “este país não presta”.
O que se vê na mídia “nacional” é a proliferação dessa cultura inútil e o bloqueio de qualquer iniciativa que tente diminuir esse impacto. É o caso do Projeto de Lei 1676/99, de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do B/SP) que tramita há oito anos na Câmara Federal.
O projeto prevê um combate contra os estrangeirismos em nossa língua, e apesar de ter apoio de alguns intelectuais, sofre uma campanha contrária de parte da elite brasileira que não quer ver extirpadas do nosso dia-a-dia os entulhos lingüísticos existentes. “A proposta foi elaborada a partir da observação da presença exagerada e desnecessária de palavras e expressões estrangeiras no nosso cotidiano. Devo ressaltar que o projeto não quer proibir o uso dos estrangeirismos, mas sim o abuso deles”, explica o próprio autor do projeto.
Como Rebelo, acredito que não se poderá impedir que em algumas áreas (inclusive o jornalismo onde milito nas horas vagas, quando me é cobrado pelo editor que cumpra meu “dead line”, que no nosso jargão é a “linha da morte” ou o prazo final para a entrega de uma reportagem...) se tenha tal purismo. A internet por exemplo, é um espaço livre onde a garotada se aprofunda num mundo sem fronteiras lingüísticas e acaba resvalando para uma linguagem que já conhecida como internetês. Mas isso é história para outro artigo...
O debate sobre o tema é importante e neste artigo apresento estas considerações iniciais para que sejam discutidas, principalmente, nas salas de aula.
Enquanto isso fica a provocação inicial: “Do you speak Português?”
Um comentário:
Excelente seu artigo e confesso não ser suspeita para falar, não apenas por fazer parte da equipe que viabiliza a publicação, mas por estar em meu quarto ano lutando para escrever e falar fluentemente o tão exigido inglês, no atual mercado de trabalho. Até porque acredito ser "obrigação" do próprio jornalista de ampliar seu conhecimento em pelo menos uma língua estrangeira. Tenho observado que a luta em conhecer e se adaptar ao estrangeirismo linguístico tem contribuido para que os brasileiros acabem deixando de lado a busca pelo português correto. Juro ter ficado horrorizada quando assiti em canal de televisão, um apresentador soletrar a palavra "ABSCESSO" e ele ter adicionado a letra "H" na frente, além de substituir os dois "SS" pelo "Ç". Sem contar outros e outros artistas famosos e que fazem tudo para se manter em evidência, que erraram palavras muito usadas em nosso cotidiano, como a "HIPERTENSÃO", que eles fizeram o favor de tirar a letra "H", inicial. Não só na prefireria, mas nas áreas centrais de bairros em Santarém, Belém, Manaus, Boa Vista, Macapá, Porto Alegre..., pudemos notar os erros de português nas placas oferecendo algum tipo de serviço e que, inclusive, já foi tema de reportagem na rede de televisão de maior audiência do País. No centro de Porto Alegre, região Sul do Brasil, onde a educação é considerada bastante desenvolvida, peguei um susto ao ver uma loja oferecendo serviço de "CONCERTO" de máquinas de lavar. No entanto, observo que são pouquíssimos os erros de pessoas que, mesmo sem conhecer o significado, arranham um ENGLISH, falado e escrito, e que fazem um esforço tremendo para evitar os erros, enquanto que o português....., vamos deixar pra lá!!!!! (Albanira Coelho)
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