Todo início de ano é a mesma coisa: o sindicato dos rodoviários ameaça entrar em greve e na mesma época, empresas de transportes coletivos pressionam a prefeitura a aumentar a tarifa dos ônibus. Coincidência ou não, os interesses antagônicos entre as duas classes convergem para o mesmo ponto: o bolso do cidadão.
A reivindicação de uma categoria trabalhista é legítima, quando baseada em argumentos sólidos que envolvam a preservação de direitos salariais à luz da defasagem imposta por parâmetros econômicos. Por outro lado, é direito de uma empresa que tem a concessão de um serviço público essencial, como são os transportes urbanos, reivindicar uma tarifação que não prejudique o serviço prestado. Mas o condicionamento de um em relação ao outro, sugere uma orquestração espúria com requintes de cartel econômico.
O agravante nesta questão é que há muito tempo as empresas de transportes coletivos não oferecem um serviço condizente com o esperado pela população. É bem verdade, porém, que a prefeitura até hoje também não conseguiu cumprir com um projeto condigno de asfaltamento do chamado “cinturão viário”, por onde passam as principais linhas de ônibus. Isso dá um pretexto às empresas para apresentarem planilhas de gastos com manutenção que justificariam a majoração da passagem nos ônibus.
Mas há outras questões em debate que poderiam diminuir a pretensão das empresas nesse processo de majoração dos preços, e que nem sempre é colocado nas mesas de negociação:
1) A frota tem sido renovada nos últimos dez anos, mas ainda não atingiu um patamar aceitável para uma cidade como Santarém que pretende ser metrópole e futura capital de um estado. Ainda há muita lata velha, sucateada, que veio de outras cidades e roda – descaradamente, até com pinturas e avisos das empresas – impunemente pela cidade;
2) Nenhuma empresa até hoje, fez qualquer investimento para adquirir veículos modernos e adaptados para uma população cada vez mais crescente: os cidadãos com necessidades especiais, cadeirantes ou não. Nesse quesito, a própria prefeitura até hoje foi incompetente em adequar a cidade para estas pessoas;
3) O trajeto utilizado pela maioria das linhas de ônibus de Santarém sequer utiliza a metade do trecho das empresas de capitais como Belém, para justificar uma tarifa equânime;
4) E por fim, o mais importante, a capacitação dos profissionais do volante não segue um padrão que pudesse fazer com que a população sentisse orgulho de seu transporte público. Na maioria das vezes encontra-se um motorista ou cobrador que mais parece um cavalo no atendimento (que me desculpem os eqüinos pela comparação), principalmente aos idosos.
No dia em que um prefeito tiver coragem de combater com estes argumentos, a população poderá dizer que elegeu um representante digno do cargo.
E se as empresas chiarem, tem um jeito para acabar com o cartel: abra-se uma concorrência pública para a regularização definitiva da concessão do serviço.
Quem quiser trabalhar de forma correta, deve respeitar a cidade e não utilizar-se de subterfúgio para continuar prestando um desserviço à população.
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(*) Artigo inserido ontem (14.04), em minha coluna Perípatos, publicada semanalmante no encarte regional Diário do Tapajós, que circula duas vezes na semana no Diário do Pará
3 comentários:
Questão antiga essa,aí em Santaré,Jota, é verdade.É simples e difícil resolve-la, como em outras cidades do Brasil.Mas é melhor encarar agora, com a estratégia correta: pressão popular, também uma saída simples e difícil.Boa Páscoa pra voces aí em casa.
Verdade, Juventy. De cartel em cartel a gente enche o saco...
Atrasado, Feliz páscoa procê também
Pura delícia, a Pensata.
Amanhã mando uma prá ti,pelo Quinta,um resumo do primeiro ano e meio desse quintal.Abs.
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