Das experiências que tive em minha vida, uma das que me deixou seqüelas foi um porre homérico que tomei aos 18 anos.
A lembrança me veio à cabeça neste final de semana quando resolvi acabar com uma insônia enchendo a cara (quem me conhece e estiver lendo não vai acreditar). Emborquei meia garrafa e fui pra cama. Não dormi, desmaiei. No dia seguinte acordei péssimo e lembrei do maior porre de minha vida.
Naquela época, o Fluminense realizava o “Carná Setembro”, um carnaval de salão fora de época que levava muita gente para a sua sede. Resolvi ir, mas como encarar um baile carnavalesco sem nenhuma gota de álcool? Naquele dia eu tomei uma decisão: “vou experimentar ficar porre e ver o que acontece”.
Cheguei na mercearia da esquina e como aqueles cowboys do velho oeste, bati com a mão espalmada no balcão abarrotado de moscas e sentenciei para o atônito taberneiro:
- Desce uma meiota pura!
Na verdade eu nem sabia o que era uma meiota. Tinha ouvido falar e resolvi experimentar.
Sem pestanejar, o taberneiro botou uma garrafa de pinga pela metade e saiu de perto. Olhei ao redor e vi biriteiros mais acostumados escondendo um riso entre os dentes não acreditando que aquele fracote (nessa época eu era bem magrinho) seria capaz de tal proeza.
Empurrei o copo de lado, peguei a garrafa e tomei tudo no gut-gut. Paguei e sai me achando o “cara”! Entrei no clube e já fui pulando e cantando “Alala-ôôôôô...”
Daí em diante as lembranças são confusas: rostos deformados (não sei se eram máscaras de carnaval ou efeitos do álcool), serpentinas que pareciam cobras se enroscando em mim e um barulho ensurdecedor que me inebriava ainda mais.
Pulei, gritei, atravessei o salão como se fosse um corredor polonês. Ainda lembro que senti um estremecimento no corpo que me avisava: "vais cair!" Reuni as últimas forças e dei a volta no salão em direção à rua. Acho que fui um folião-relâmpago que entrou na história do clube (talvez ninguém nem tenha notado minha entrada).
Saí e me lembro que a rua tinha umas oito pistas e milhares de carros se amontoavam à frente do clube. Cheguei à conclusão que a meiota já estava fazendo o efeito.
- Vai um táxi patrão?patrão?patrão?patrão...
A oferta do (ou dos?) motora(s) ecoava no meu ouvido, mas meu orgulho embebido de álcool achou que se eu pegasse um táxi naquele momento seria a confirmação de que eu era um frouxo.
- Não, minha é casa é logo ali – apontei rodopiando 360 graus.
Eu até que não morava longe. Minha casa nessa época era por trás da igreja Matriz, mas no estado em que eu estava era o mesmo que ir para o Japão de bicicleta.
Resisti bravamente. Segui em frente com objetivo de chegar em casa. Mas de repente alguém apagou as luzes...
Quando abri os olhos, vi luzes fortes formando um círculo no céu. Um disco-voador? De repente uma mulher toda de branco com uma lanterninha em meus olhos. Estaria sendo abduzido? Outro homem, de branco e com uma barba serena e um sorriso meigo puxa meu braço e me levanta. Seria Deus? Então morri e cheguei ao paraíso?
Me dou conta, finalmente, que estou no hospital do Sesp (hoje, o nosso HSM). Tentam me colocar de pé fora da maca e me conduzem até à porta onde outro homem, carrancudo, me aguarda.
Meu pai me fita com aquele olhar gélido de reprovação. Soube depois que eu havia sido recolhido por um conhecido seu, de uma sarjeta há duas quadras de casa! Me levou ao hospital todo sujo de lama. Acordou meu pai que saiu de casa, agoniado, pensando que eu tinha sido acidentado.
- Tudo bem “seu” Nino, o rapaz só pegou um porre... - disse o médico com um sorriso de gozador.
Bufando como um touro (seu signo), o velho grego me puxa pelos corredores até um táxi. Me joga dentro do carro, onde minha madrasta me aguarda, pega sua velha bicicleta e nos segue. O trajeto entre o hospital e nossa casa é um tormento. Espinafrado com lições de moral dentro do carro, me sinto como se estivesse amarrado ao badalo da igreja. De repente, o motora informa que meu pai caiu da bicicleta lá atrás! Pára o carro, retorna e o coloca no banco ao me lado, com o queixo quebrado e esvaindo-se em sangue! Sou deixado em casa e ele é conduzido ao hospital. Desabo na cama e o badalo foi serenando, mas sonhei que me afogava naquele sangue...
Meu pai ficou sem falar comigo por meses. Trabalhávamos juntos no balcão da lanchonete sem nos comunicar. Foi um castigo maior do que se eu tivesse tomado uma surra dele. Depois disso nunca mais bebi...
Cheguei à conclusão que não fui feito para beber e assumi a condição de “vigilante da sobriedade”, título que até hoje carrego já que sempre que saio com qualquer turma sou o único a não beber uma gota de álcool sequer, e no fim acabo sendo a voz da consciência dos que se embebedam e o conciliador em caso de estranhamentos entre amigos.
A lembrança me veio à cabeça neste final de semana quando resolvi acabar com uma insônia enchendo a cara (quem me conhece e estiver lendo não vai acreditar). Emborquei meia garrafa e fui pra cama. Não dormi, desmaiei. No dia seguinte acordei péssimo e lembrei do maior porre de minha vida.
Naquela época, o Fluminense realizava o “Carná Setembro”, um carnaval de salão fora de época que levava muita gente para a sua sede. Resolvi ir, mas como encarar um baile carnavalesco sem nenhuma gota de álcool? Naquele dia eu tomei uma decisão: “vou experimentar ficar porre e ver o que acontece”.
Cheguei na mercearia da esquina e como aqueles cowboys do velho oeste, bati com a mão espalmada no balcão abarrotado de moscas e sentenciei para o atônito taberneiro:
- Desce uma meiota pura!
Na verdade eu nem sabia o que era uma meiota. Tinha ouvido falar e resolvi experimentar.
Sem pestanejar, o taberneiro botou uma garrafa de pinga pela metade e saiu de perto. Olhei ao redor e vi biriteiros mais acostumados escondendo um riso entre os dentes não acreditando que aquele fracote (nessa época eu era bem magrinho) seria capaz de tal proeza.
Empurrei o copo de lado, peguei a garrafa e tomei tudo no gut-gut. Paguei e sai me achando o “cara”! Entrei no clube e já fui pulando e cantando “Alala-ôôôôô...”
Daí em diante as lembranças são confusas: rostos deformados (não sei se eram máscaras de carnaval ou efeitos do álcool), serpentinas que pareciam cobras se enroscando em mim e um barulho ensurdecedor que me inebriava ainda mais.
Pulei, gritei, atravessei o salão como se fosse um corredor polonês. Ainda lembro que senti um estremecimento no corpo que me avisava: "vais cair!" Reuni as últimas forças e dei a volta no salão em direção à rua. Acho que fui um folião-relâmpago que entrou na história do clube (talvez ninguém nem tenha notado minha entrada).
Saí e me lembro que a rua tinha umas oito pistas e milhares de carros se amontoavam à frente do clube. Cheguei à conclusão que a meiota já estava fazendo o efeito.
- Vai um táxi patrão?patrão?patrão?patrão...
A oferta do (ou dos?) motora(s) ecoava no meu ouvido, mas meu orgulho embebido de álcool achou que se eu pegasse um táxi naquele momento seria a confirmação de que eu era um frouxo.
- Não, minha é casa é logo ali – apontei rodopiando 360 graus.
Eu até que não morava longe. Minha casa nessa época era por trás da igreja Matriz, mas no estado em que eu estava era o mesmo que ir para o Japão de bicicleta.
Resisti bravamente. Segui em frente com objetivo de chegar em casa. Mas de repente alguém apagou as luzes...
Quando abri os olhos, vi luzes fortes formando um círculo no céu. Um disco-voador? De repente uma mulher toda de branco com uma lanterninha em meus olhos. Estaria sendo abduzido? Outro homem, de branco e com uma barba serena e um sorriso meigo puxa meu braço e me levanta. Seria Deus? Então morri e cheguei ao paraíso?
Me dou conta, finalmente, que estou no hospital do Sesp (hoje, o nosso HSM). Tentam me colocar de pé fora da maca e me conduzem até à porta onde outro homem, carrancudo, me aguarda.
Meu pai me fita com aquele olhar gélido de reprovação. Soube depois que eu havia sido recolhido por um conhecido seu, de uma sarjeta há duas quadras de casa! Me levou ao hospital todo sujo de lama. Acordou meu pai que saiu de casa, agoniado, pensando que eu tinha sido acidentado.
- Tudo bem “seu” Nino, o rapaz só pegou um porre... - disse o médico com um sorriso de gozador.
Bufando como um touro (seu signo), o velho grego me puxa pelos corredores até um táxi. Me joga dentro do carro, onde minha madrasta me aguarda, pega sua velha bicicleta e nos segue. O trajeto entre o hospital e nossa casa é um tormento. Espinafrado com lições de moral dentro do carro, me sinto como se estivesse amarrado ao badalo da igreja. De repente, o motora informa que meu pai caiu da bicicleta lá atrás! Pára o carro, retorna e o coloca no banco ao me lado, com o queixo quebrado e esvaindo-se em sangue! Sou deixado em casa e ele é conduzido ao hospital. Desabo na cama e o badalo foi serenando, mas sonhei que me afogava naquele sangue...
Meu pai ficou sem falar comigo por meses. Trabalhávamos juntos no balcão da lanchonete sem nos comunicar. Foi um castigo maior do que se eu tivesse tomado uma surra dele. Depois disso nunca mais bebi...
Cheguei à conclusão que não fui feito para beber e assumi a condição de “vigilante da sobriedade”, título que até hoje carrego já que sempre que saio com qualquer turma sou o único a não beber uma gota de álcool sequer, e no fim acabo sendo a voz da consciência dos que se embebedam e o conciliador em caso de estranhamentos entre amigos.
Ou o motorista pra levar os bebuns para casa...
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(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada terça-feira, 08.05.2007, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
Então é por isso que não gostas da bagaça, hein Grego.
ResponderExcluirBom exemplo!..rs
Abs
Esqueceste de outro pequeno porre: eu, Dutra e você no bar da Baiana, em Belém. Bebeste dois copos com cerveja e capotaste na mesa!!! Lembra!! Querias experimentar, de novo; mas... não tinha jeito mesmo!
ResponderExcluirDornélio Silva
Aqui passou uma amiga orgulhosa da sobriedade deste grego cativante e companheiro(mesmo em manguaças, hehehe) que é você... apesar de já ter visto o comentário anteror ao meu, que revela outro "único" porre seu, rssss.
ResponderExcluirTe gosto demais, migo.
bjs
Pelo menos mais duas testemunhas oculares me garantiram que já viram Jota Ninos embalado num "porre homérico". Então, com o do Flu, do Dornélio e o do Dutra já são cinco. Há alguma coisa de errada na conta do cronista. Melhor pra nós, leitores. Vem mais crônicas sobre os outros porres aí.
ResponderExcluirQuando disse que "nunca mais bebi", na verdade me referia mais à qualidade do "beber". é bem verdade que vez por outra, mas muito dificilmente, tomo um ou outro trago. Como sou fraco (bem lembrou Dornélio), logo que sinto o início do efeito, largo o copo.
ResponderExcluirMas porre homérico mesmo, só aquele, há 26 anos, de cair na sarjeta!!
Ninos, deixe que da sua cota eu dou conta. Mas não desapareça!
ResponderExcluirFloripa
Oi! migo,
ResponderExcluirdei uma passada em seu blog, dei boas gargalhadas c/ a história do porre, Mto. legal.
bjs
Ida
Jota Ninos
ResponderExcluirEstava eu, com o moral um tanto para baixo, meu violão jogado ao lado, acho que nem sei mais tocar, quando lembrei que existe a internet. E lá vou eu remando ou navegando, sei lá de que jeito eu ia, quando deparei-me com seu blog.
Comecei ler suas crônicas e meu estado de espírito mudou completamente. Até agora o pessoal de casa jura que estou ficando doido, pois comecei a dar verdadeiras gargalhadas, principalmente com "O dia em que quase pisei num podium" e "Havia uma garrafa no meio do caminho... ".
Parabéns pelas belas crônicas, virei um leitor assíduo.
Abraços.
Jefferson Brasil Rebelo