Ausente do espaço por conta de outros afazeres e pelo feriado de carnaval, dou continuidade à reflexão iniciada mês passado neste espaço sobre o manifesto virtual do jornalista santareno Manuel Dutra pela qualidade de vida em Santarém e que circula na internet. O manifesto toca em pelo menos dois problemas cruciais no que se refere à qualidade de vida em Santarém nos últimos anos: a necessidade de arborização da cidade e o fim da calamidade pública em que se transformou o trânsito, principalmente por causa da tragédia pública dos mutilados em acidentes de moto.
Como disse naquela ocasião, “coloco o espaço de minha coluna aqui no Diário do Tapajós, para trazer para o mundo ‘um pouco mais real’ da impressão em papel, onde pelo menos as palavras são ‘palpáveis’... E quem sabe conseguir outros adeptos para algumas das idéias e informações que circulam naquele blog”.
No artigo anterior dediquei maior parte das linhas ao tema do trânsito, mostrando o que se debateu até então. Hoje quero resgatar a questão da arborização e outros temas que fluíram até agora. Até porque, este tema pode ter uma maior participação do cidadão, independentemente das ações do Poder Público. Vale ressaltar que uma conquista neste item está prestes a se consolidar após o anúncio pela prefeitura municipal sobre a criação do Horto Municipal na área da Aeronáutica que foi repassada o município, nos bairros do Aeroporto Velho/Jardim Santarém. É bem verdade que a idéia sobre a utilização daquele local para um espaço desse tipo, era uma das condicionantes da Aeronáutica na negociação com a prefeitura desde outras gestões. Mas o fato da prefeita bancar a idéia reforça que as ações sugeridas no manifesto são urgentes e necessárias O alerta global contra o aquecimento, como se viu recentemente, já ecoa na cabeça dura de George Bush e faz parte dos debates dos poderosos de Davos (Suíça): eles estão com medo que aquecimento global atinja o traseiro de todos!
Voltando ao manifesto virtual de Dutra, tem sido interessante a contribuição do jovem designer industrial santareno, Aldrwin Hamad (foto), ao apresentar uma série de sugestões simples, demonstrando que existem cabeças arejadas pensando a cidade de forma mais prática, sem discursos proselitistas e demagógicos. Hamad enfatiza inicialmente, que seria necessário começar pela implantação de um sistema de drenagem e pavimentação das ruas em áreas mais elevadas da cidade, “evitando o acúmulo de detritos e areia nos pavimentos existentes das áreas de confluência dos fluxos pluviais”. Diz ainda que a utilização de pavimentação de concreto ao invés de pavimento flexível com asfalto, garante maior durabilidade, segurança e qualidade, além de contribuir em muito para redução do aquecimento. “Caso seja usado pavimento intertravado de concreto teremos ainda o benefício da redução da camada impermeabilizante que o asfalto cria”, finaliza ele.
Mas o ponto crucial das propostas do engenheiro, e que atingem o âmago das preocupações de Dutra, é a afirmação de que “os projetos de urbanização das vias públicas DEVEM conter como norma a arborização contínua com espécies adequadas e específicas para não interferir na queda de frutos nos veículos nem no desprendimento de muitas folhas para que venham obstruir as redes de escoamento pluvial”. Para ele, um estudo de especialistas poderia indicar que espécies seriam, contanto que em ruas mais estreitas seja obrigatório o plantio de árvores em áreas de calçadas entre o meio fio e o início da calçada de pedestres. [Aqui um parêntesis: eu acrescentaria à esta proposta de “árvores nas calçadas” a necessidade de, inicialmente termos calçadas! Quando comecei este Perípatos, a principal motivação era exatamente a falta de um “perípatos” como o da velha Atenas, para que se possa passear, filosofar e curtir a beleza da cidade. O que se tem hoje é apenas uma extensão das casas nas calçadas. Não há passeios públicos e o pedestre se vê obrigado e dividir o espaço do meio-fio com os tresloucados carros de nossa urbis. Fecha parêntesis.]
Hamad propõe ainda que em ruas mais largas e com canteiro central, devem haver, obrigatoriamente, “fileiras de árvores para sombra e não meramente decorativas como palmeiras imperiais ou açaí por exemplo, apesar de serem árvores lindas, não teriam a função de proporcionar um corredor de sombra”. Para ele, as espécies arbóreas seriam produzidas pelo próprio município (agora com o horto municipal). Ele chega a sugerir que tal plantio poderia utilizar “a mão-de-obra dos detentos da penitenciária agrícola” ou ainda dos ‘próprios alunos das escolas públicas”, como forma de criar um senso de responsabilidade a estes dois grupos.
Ele sugere também que se estude a viabilidade de uma medida que exija dos donos de terrenos baldios o plantio de árvores maiores, sem que fira o direito de propriedade. Talvez com um programa de incentivo fiscal na base de descontos no IPTU pra cada árvore plantada ou área sombreada, ou coisa parecida. Nesse ponto, eu teria uma discordância com o engenheiro. Acho que os terrenos baldios deveriam ter um tratamento mais incisivo, pois tem muita gente acumulando área apenas para fim de especulação e acabam criando um grande problema social, que se agrava quando os sem-teto resolvem invadir estas áreas. A cidade vive hoje o drama de milhares de famílias que poderiam ser despejadas da área do Maicá, por causa de uma suposta herança ou da pretensão de uma empresa em ocupar parte da área com um terminal graneleiro. Tudo isso começou de terrenos baldios e falta de uma política de gestão urbana. Houve uma época que um vereador (se não me engano, João Otaviano Mattos Neto) teria apresentado ou sugerido a apresentação de um projeto que obrigaria os donos de terrenos baldios a severas multas por não dar uma destinação aos seus terrenos.
As idéias de Hamad e de outros que assinaram o Manifesto de Dutra vão mais além do espaço que tenho aqui. Se você ainda não o leu o manifesto e nem o assinou, vale a pena entrar lá no blog do Jeso e acessar o link existente, para conhecer esta e outras propostas. E saiba também que Hamad e outros jovens preocupados com estas questões, já estão se reunindo para transformar em prática as preocupações elencadas no Manifesto de Dutra. Você pode contribuir também, fazendo a sua parte, mesmo que não queira participar diretamente do movimento. Basta plantar alguma árvore no seu quintal, na sua rua ou em qualquer lugar que tenha livre acesso.
Encerro minha contribuição neste espaço, e na próxima semana volto às crônicas humoradas e/ou filosóficas que caracterizam o Perípatos.
Como disse naquela ocasião, “coloco o espaço de minha coluna aqui no Diário do Tapajós, para trazer para o mundo ‘um pouco mais real’ da impressão em papel, onde pelo menos as palavras são ‘palpáveis’... E quem sabe conseguir outros adeptos para algumas das idéias e informações que circulam naquele blog”.
No artigo anterior dediquei maior parte das linhas ao tema do trânsito, mostrando o que se debateu até então. Hoje quero resgatar a questão da arborização e outros temas que fluíram até agora. Até porque, este tema pode ter uma maior participação do cidadão, independentemente das ações do Poder Público. Vale ressaltar que uma conquista neste item está prestes a se consolidar após o anúncio pela prefeitura municipal sobre a criação do Horto Municipal na área da Aeronáutica que foi repassada o município, nos bairros do Aeroporto Velho/Jardim Santarém. É bem verdade que a idéia sobre a utilização daquele local para um espaço desse tipo, era uma das condicionantes da Aeronáutica na negociação com a prefeitura desde outras gestões. Mas o fato da prefeita bancar a idéia reforça que as ações sugeridas no manifesto são urgentes e necessárias O alerta global contra o aquecimento, como se viu recentemente, já ecoa na cabeça dura de George Bush e faz parte dos debates dos poderosos de Davos (Suíça): eles estão com medo que aquecimento global atinja o traseiro de todos!
Voltando ao manifesto virtual de Dutra, tem sido interessante a contribuição do jovem designer industrial santareno, Aldrwin Hamad (foto), ao apresentar uma série de sugestões simples, demonstrando que existem cabeças arejadas pensando a cidade de forma mais prática, sem discursos proselitistas e demagógicos. Hamad enfatiza inicialmente, que seria necessário começar pela implantação de um sistema de drenagem e pavimentação das ruas em áreas mais elevadas da cidade, “evitando o acúmulo de detritos e areia nos pavimentos existentes das áreas de confluência dos fluxos pluviais”. Diz ainda que a utilização de pavimentação de concreto ao invés de pavimento flexível com asfalto, garante maior durabilidade, segurança e qualidade, além de contribuir em muito para redução do aquecimento. “Caso seja usado pavimento intertravado de concreto teremos ainda o benefício da redução da camada impermeabilizante que o asfalto cria”, finaliza ele.
Mas o ponto crucial das propostas do engenheiro, e que atingem o âmago das preocupações de Dutra, é a afirmação de que “os projetos de urbanização das vias públicas DEVEM conter como norma a arborização contínua com espécies adequadas e específicas para não interferir na queda de frutos nos veículos nem no desprendimento de muitas folhas para que venham obstruir as redes de escoamento pluvial”. Para ele, um estudo de especialistas poderia indicar que espécies seriam, contanto que em ruas mais estreitas seja obrigatório o plantio de árvores em áreas de calçadas entre o meio fio e o início da calçada de pedestres. [Aqui um parêntesis: eu acrescentaria à esta proposta de “árvores nas calçadas” a necessidade de, inicialmente termos calçadas! Quando comecei este Perípatos, a principal motivação era exatamente a falta de um “perípatos” como o da velha Atenas, para que se possa passear, filosofar e curtir a beleza da cidade. O que se tem hoje é apenas uma extensão das casas nas calçadas. Não há passeios públicos e o pedestre se vê obrigado e dividir o espaço do meio-fio com os tresloucados carros de nossa urbis. Fecha parêntesis.]
Hamad propõe ainda que em ruas mais largas e com canteiro central, devem haver, obrigatoriamente, “fileiras de árvores para sombra e não meramente decorativas como palmeiras imperiais ou açaí por exemplo, apesar de serem árvores lindas, não teriam a função de proporcionar um corredor de sombra”. Para ele, as espécies arbóreas seriam produzidas pelo próprio município (agora com o horto municipal). Ele chega a sugerir que tal plantio poderia utilizar “a mão-de-obra dos detentos da penitenciária agrícola” ou ainda dos ‘próprios alunos das escolas públicas”, como forma de criar um senso de responsabilidade a estes dois grupos.
Ele sugere também que se estude a viabilidade de uma medida que exija dos donos de terrenos baldios o plantio de árvores maiores, sem que fira o direito de propriedade. Talvez com um programa de incentivo fiscal na base de descontos no IPTU pra cada árvore plantada ou área sombreada, ou coisa parecida. Nesse ponto, eu teria uma discordância com o engenheiro. Acho que os terrenos baldios deveriam ter um tratamento mais incisivo, pois tem muita gente acumulando área apenas para fim de especulação e acabam criando um grande problema social, que se agrava quando os sem-teto resolvem invadir estas áreas. A cidade vive hoje o drama de milhares de famílias que poderiam ser despejadas da área do Maicá, por causa de uma suposta herança ou da pretensão de uma empresa em ocupar parte da área com um terminal graneleiro. Tudo isso começou de terrenos baldios e falta de uma política de gestão urbana. Houve uma época que um vereador (se não me engano, João Otaviano Mattos Neto) teria apresentado ou sugerido a apresentação de um projeto que obrigaria os donos de terrenos baldios a severas multas por não dar uma destinação aos seus terrenos.
As idéias de Hamad e de outros que assinaram o Manifesto de Dutra vão mais além do espaço que tenho aqui. Se você ainda não o leu o manifesto e nem o assinou, vale a pena entrar lá no blog do Jeso e acessar o link existente, para conhecer esta e outras propostas. E saiba também que Hamad e outros jovens preocupados com estas questões, já estão se reunindo para transformar em prática as preocupações elencadas no Manifesto de Dutra. Você pode contribuir também, fazendo a sua parte, mesmo que não queira participar diretamente do movimento. Basta plantar alguma árvore no seu quintal, na sua rua ou em qualquer lugar que tenha livre acesso.
Encerro minha contribuição neste espaço, e na próxima semana volto às crônicas humoradas e/ou filosóficas que caracterizam o Perípatos.
-------------------------------------
(*) Artigo inserido em minha coluna semanal Perípatos, publicada em 27.02.2007, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aqui você ajuda a fazer este blog. Comente.