Belém – Comecei a escrever este artigo à bordo de mais uma viagem na minha eterna ponte aérea entre Santarém e Belém, realizada no domingo para curtir o final de minhas férias do Judiciário aqui na capital. Pelo título, fica claro ao leitor que as divagações foram montadas enquanto eu tremia de medo atravessando nuvens, sem que a visão da janelinha (o exuberante verde amazônico, serpenteado pelo rio-mar) em que sempre me agarro, pudesse diminuir tal tensão.
Fui vasculhando minha mente e lembrei que tenho fotos com três anos de idade, no parque Ibirapuera em São Paulo, e me lembrei que já haviam me dito que minha primeira viagem de avião foi em 1965. Lembrei também que meu pai e minha tia disseram que eu era o maior “capetinha” daquele vôo e nem me dava conta de que estava num avião, e que só queria correr entre as (belas) pernas da aeromoça, no corredor daquele vôo virginal.
Então, porque agora eu apenas me agarro aos braços da cadeira e descubro até um deus e uma reza, para me apegar, enquanto o comandante anuncia que alcançamos mais de 10 mil metros acima do mar?
A pergunta surge com o intuito de tentar entender esse medo, que Belchior tão bem expressou em uma de suas belas canções. O problema é que quase sempre tenho apenas um marmanjo ao meu lado e não ficaria bem pegar em sua mão, como sugerem os versos belchiorianos...
No alto de minhas conjecturas, creio que talvez o problema tenha surgido no segundo vôo, o da volta de São Paulo à Belém, em 1967, quando a família voltava com uma passageirinha a mais, minha prima-irmã Stella, greguinha nascida em Sampa. Mas como ninguém se lembra de nada de anormal sobre aquele retorno, a dúvida prossegue.
O terceiro vôo, quando eu realmente me dei conta que tinha medo de avião, só aconteceu 20 anos depois, ao tirar minhas primeiras férias da Rádio Rural, em 1985. De lá para cá se passaram mais de 20 anos voando entre Santarém-Belém e Santarém-Manaus, quase sempre em férias ou a serviço, além de outros vôos à Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Goiânia. Isso sem contar os vôos internacionais Recife-Lisboa-Atenas, que fiz em 1988, e Frankfurt-Recife, em 1991, na minha aventura no Velho Mundo.
Não tem jeito: cada vôo é um tormento.
O passageiro ao lado percebe e me pergunta com um sorriso-amarelo: “Você tem medo de avião?”. Balanço a cabeça apressadamente esperando que ele diga: “Seus problemas acabaram!”, mas ao invés de uma solução Tabajariana, ele apenas afirma serenamente: “Que tolice, a viagem de avião é a mais segura no mundo!”. A vontade é puxar a alavanca de emergência e arremessar o cara no espaço...
Trinco os dentes, suo frio e chamo a aeromoça (nem me animo de conferir suas pernas) pela undécima vez, para acalmar meu medo. Irritada ela já chega perguntando: “Mais um refrigerante, senhor?”. Balanço só a sobrancelha, mostrando que já não tenho forças no pescoço para afirmar que só essa bebida me acalma. Como não bebo nada alcoólico, não me arrisco. Sabe lá se fico porre e resolvo dar uma voltinha lá fora?
Lendo o que dizem psiquiatras num site especializado, descubro que “na maioria das vezes a fobia de avião costuma aparecer sem motivo aparente, ou seja, a pessoa não passou por acidentes nem turbulências, ela simplesmente deixa de pegar aviões”. Ainda não cheguei a esse extremo. Como preciso viajar uma vez ou outra para fora de Santarém e o avião é a solução mais rápida que o barco, acabo enfrentando meu velho tormento. E haja refrigerante! Diz ainda o mesmo site: “nem sempre existe o medo de que o avião caia, ou a presença de sintomas físicos do medo. Assim como a Síndrome do Pânico de uma maneira geral, a Fobia de Avião é facilmente tratada (...)”. Fácil falar...
“Seu refrigerante, senhor”, me espanta a aeromoça com cara de poucos amigos. Nesse momento, sinto centenas de olhares por sobre meus ombros. Dedos em riste e risadas sardônicas ecoam em meus ouvidos. O passageiro ao lado tenta me confortar: “a viagem de avião é a mais segura no mundo! DO MUNDO! DO MUNDO!!!!”. As palavras ecoam enquanto sorvo a bebida.
Fecho os olhos e lembro da reportagem do jornal carioca Diário Popular (31.01.2006), que li na internet e armazenei em meus arquivos, e que dizia que “entre os 50 milhões de brasileiros que viajam de avião anualmente, em média, cerca de 45% têm medo de voar”. Confortante saber que não estou sozinho em minha fobia. “Medo é normal, faz parte das defesas”, dizia o psicólogo entrevistado, que entre outras coisas ensina que é preciso “relaxar, focar a atenção nos aspectos positivos da viagem, pensar no que se vai fazer quando chegar ao destino, conversar com outras pessoas, ler um livro engraçado, ouvir música suave e desanuviar o pensamento”.
De repente, o comandante decreta: “Atenção tripulação, para aterrissagem no aeroporto de Belém”. Último sufoco. Depois da decolagem, dizem as estatísticas, a aterrissagem é o momento mais propício para um acidente aéreo.
O avião pousa suavemente. Estou salvo. Não seria o caso de beijar o chão como sempre o Papa João Paulo II fazia? Será que ele, o representante de Deus na Terra, também tinha medo de avião?
Fui vasculhando minha mente e lembrei que tenho fotos com três anos de idade, no parque Ibirapuera em São Paulo, e me lembrei que já haviam me dito que minha primeira viagem de avião foi em 1965. Lembrei também que meu pai e minha tia disseram que eu era o maior “capetinha” daquele vôo e nem me dava conta de que estava num avião, e que só queria correr entre as (belas) pernas da aeromoça, no corredor daquele vôo virginal.
Então, porque agora eu apenas me agarro aos braços da cadeira e descubro até um deus e uma reza, para me apegar, enquanto o comandante anuncia que alcançamos mais de 10 mil metros acima do mar?
A pergunta surge com o intuito de tentar entender esse medo, que Belchior tão bem expressou em uma de suas belas canções. O problema é que quase sempre tenho apenas um marmanjo ao meu lado e não ficaria bem pegar em sua mão, como sugerem os versos belchiorianos...
No alto de minhas conjecturas, creio que talvez o problema tenha surgido no segundo vôo, o da volta de São Paulo à Belém, em 1967, quando a família voltava com uma passageirinha a mais, minha prima-irmã Stella, greguinha nascida em Sampa. Mas como ninguém se lembra de nada de anormal sobre aquele retorno, a dúvida prossegue.
O terceiro vôo, quando eu realmente me dei conta que tinha medo de avião, só aconteceu 20 anos depois, ao tirar minhas primeiras férias da Rádio Rural, em 1985. De lá para cá se passaram mais de 20 anos voando entre Santarém-Belém e Santarém-Manaus, quase sempre em férias ou a serviço, além de outros vôos à Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Goiânia. Isso sem contar os vôos internacionais Recife-Lisboa-Atenas, que fiz em 1988, e Frankfurt-Recife, em 1991, na minha aventura no Velho Mundo.
Não tem jeito: cada vôo é um tormento.
O passageiro ao lado percebe e me pergunta com um sorriso-amarelo: “Você tem medo de avião?”. Balanço a cabeça apressadamente esperando que ele diga: “Seus problemas acabaram!”, mas ao invés de uma solução Tabajariana, ele apenas afirma serenamente: “Que tolice, a viagem de avião é a mais segura no mundo!”. A vontade é puxar a alavanca de emergência e arremessar o cara no espaço...
Trinco os dentes, suo frio e chamo a aeromoça (nem me animo de conferir suas pernas) pela undécima vez, para acalmar meu medo. Irritada ela já chega perguntando: “Mais um refrigerante, senhor?”. Balanço só a sobrancelha, mostrando que já não tenho forças no pescoço para afirmar que só essa bebida me acalma. Como não bebo nada alcoólico, não me arrisco. Sabe lá se fico porre e resolvo dar uma voltinha lá fora?
Lendo o que dizem psiquiatras num site especializado, descubro que “na maioria das vezes a fobia de avião costuma aparecer sem motivo aparente, ou seja, a pessoa não passou por acidentes nem turbulências, ela simplesmente deixa de pegar aviões”. Ainda não cheguei a esse extremo. Como preciso viajar uma vez ou outra para fora de Santarém e o avião é a solução mais rápida que o barco, acabo enfrentando meu velho tormento. E haja refrigerante! Diz ainda o mesmo site: “nem sempre existe o medo de que o avião caia, ou a presença de sintomas físicos do medo. Assim como a Síndrome do Pânico de uma maneira geral, a Fobia de Avião é facilmente tratada (...)”. Fácil falar...
“Seu refrigerante, senhor”, me espanta a aeromoça com cara de poucos amigos. Nesse momento, sinto centenas de olhares por sobre meus ombros. Dedos em riste e risadas sardônicas ecoam em meus ouvidos. O passageiro ao lado tenta me confortar: “a viagem de avião é a mais segura no mundo! DO MUNDO! DO MUNDO!!!!”. As palavras ecoam enquanto sorvo a bebida.
Fecho os olhos e lembro da reportagem do jornal carioca Diário Popular (31.01.2006), que li na internet e armazenei em meus arquivos, e que dizia que “entre os 50 milhões de brasileiros que viajam de avião anualmente, em média, cerca de 45% têm medo de voar”. Confortante saber que não estou sozinho em minha fobia. “Medo é normal, faz parte das defesas”, dizia o psicólogo entrevistado, que entre outras coisas ensina que é preciso “relaxar, focar a atenção nos aspectos positivos da viagem, pensar no que se vai fazer quando chegar ao destino, conversar com outras pessoas, ler um livro engraçado, ouvir música suave e desanuviar o pensamento”.
De repente, o comandante decreta: “Atenção tripulação, para aterrissagem no aeroporto de Belém”. Último sufoco. Depois da decolagem, dizem as estatísticas, a aterrissagem é o momento mais propício para um acidente aéreo.
O avião pousa suavemente. Estou salvo. Não seria o caso de beijar o chão como sempre o Papa João Paulo II fazia? Será que ele, o representante de Deus na Terra, também tinha medo de avião?
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(*) Artigo que estará inserido amanhã em minha coluna Perípatos, que é publicada semanalmente no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.
Quem vos fala é um velho medroso de avião.Aliás, ex-medroso.
ResponderExcluirComeçei a perde-lo no dia em que uma prima, que me acompanhava numa rápida ( 32 min)até Macapá disse-me para tentar sentar nas tres primeiras poltronas do bicho...
Desdaí, Ninossauro, santo remédio.Na frente, o avião joga muito menos, e é exatamente o que me deixava com medo.
Bem, alguém, muito medroso, pode argumentar que em caso de acidente, a probabilidade de óbito dos que estão sentados na frente é maior.
É verdade, mas aí...o que importa?
O cero é que perdi o me4do de avião.Pena que a Maria não possa me dar as milhas que tem...para conhecer a Grécia, por exemplo...eheh.
Abs.
Bicho, você é o cara. Esse texto está um porrete de bom!
ResponderExcluirQuanto a medo de viajar de avião, não deve haver muita gente mais medrosa do que eu. Estou no teu time, camarada. Viajar de avião para mim é um mal necessário.A partir de agora vou seguir o conselho do Juvêncio, sentando nas poltronas da frente. Não sei se vai adiantar muito.
Apesar de ser comprovadamente o meio de transporte mais seguro, estou com o Poetinha que justificava seu medo dizendo: como não ter medo de um meio de transporte, que se tiver algum problema técnico a oficina é lá embaixo?
Jota Parente
hahahahahaha...rir ou chorar!???
ResponderExcluirQuerido...nas nuvens a gente chora...Ri mesmo foi ao ler suas neuras....E comecei a viajar, literalmente, nas nuvens...que tal entrarmos numa comunidade do Orkut: "me cago de medo de voar"...rs. Bem, ainda não chegamos a tanto...né?
Mas compartilho dessa neura também! Sôo as mãos a cada decolagem. Até que um dia, ao voar do Rio à Brasília, numa turbulência doida, quem está ao meu lado??? - o mecânico do próprio avião. Continuava soando frio do mesmo jeito, mas sabia q se algo desse errado a culpa era dele...rsss
E quando o comandante vai falar algo pelo fone e a voz lenta, pesada, parece filme de terror...suspense total. Desespero! Nossa, ele vai dizer alguma coisa terrível...Ufa! Só é a previsão de tempo. Mas será que ele avisaria algo de ruim, tipo...- O avião vai cair????
E lembro ainda nessas vindas de Belém/Stm, minha bagagem já estava na aeronave, quando dei conta que iria voltar num outro vôo, numa aeronave bem pequena...fiz um escândalo e tiveram q retirar a mala e despachei em outro vôo. Disse até que eu sofria do coração...que a empresa poderia ter sérios problemas comigo...Uma carga nada segura! rs
Bem, posso dizer que mantenho mais a calma, depois de ter atravessado “os sete mares”, na ida à Índia...Agora é relaxar e gozar!!!! Se der tempo...como diz a piada!!!!
Bjs
Leiria
Bolo,
ResponderExcluirEspero que eu não seja a causa do seu medo, mas pensando bem... acho que sou sim, na ida eu ainda não existia e a atenção era toda voltada p/ você, mas quando eu cheguei "linda e maravilhosa" não teve mais pra ninguem (risos)
Que tal fazermos juntos uma viagem pra espantar esse medo todo? prometo que seguro a tua mão!
Te adoro!
Bjs Stella