Feliz 2010!
Talvez até lá possamos comemorar um ano realmente novo, pois 2008 ainda não acabou e 2009 é apenas uma continuação, ou melhor, um “2º turno” do ano mais conturbado da vida dos santarenos nos últimos 40 anos. 2008 deveria ter terminado como um ano em que vivemos um “triunvirato mariano” desde 2007, com os três poderes locais ao comando de uma Maria do Carmo (Executivo), de umJosé Maria Tapajós (Legislativo) e de um Silvio César Maria (Judiciário). Mas o “Poder Mariano” continua, com um José Maria Tapajós no Executivo (interinamente) e no Legislativo (que tem um Nélio, interino, a guiar...) e um Silvio Maria no Judiciário! A Maria corre por fora, esperando a chance de recompor o “triunvirato mariano”...
Como já havia dito em meu último artigo de 2008 (na coluna que escrevo, de vez em quando, no Diário do Tapajós), continuamos vislumbrando o “passo suspenso da cegonha”! Santarém vive um eterno suspense...
Aliás, já nem podemos ser chamados de “santarenos”. Agora somos os “santerinos”, habitantes da cidade dos interinos... O prefeito é interino, o secretariado é interino, o presidente da Câmara é interino, tudo gira em torno da interinidade. Viva a “Santerinidade”!
E pensar que o nome de Santarém, do Pará – copiado da Santarém, de Portugal – originou-se de uma lenda em que uma princesa perdeu a cabeça! A lenda de Sant’Irene foi cultuada em Portugal e acabou tornando-se o novo nome da velha cidade de Scalabis. Até que um dos governadores da Província do Grão-Pará, o Mendonça Furtado, resolveu chamar de Santarém a antiga aldeia dos Tapajós quando a transformou em vila.
Os “santerinos” aguardam que a Justiça (Divina?) nos dê uma luz e tire aquela espada que pende sobre nossas cabeças. As informações são tão diversas e tão complexas, que ninguém se entende. Mas, basicamente, parece que existem dois caminhos (mais ou menos) certos para dar uma definição ao nosso imbróglio jurídico-eleitoral: esgotar os recursos na esfera jurídica para a posse de Maria do Carmo como prefeita ou realizar novas eleições ainda esse ano.
A ditadura dos “se...”
É aí que começa a ditadura dos “se...”
Se Maria ganhar, pode tomar posse e tocar o governo (até quando, não se sabe). Se Maria perder, todo mundo vai querer sentar no trono, ocupado, interinamente, pelo vereador José Maria Tapajós.
Em todas as ruas se ouvem especulações sobre o caso. Juristas não se entendem. Começa a briga dos Zés da advocacia e da política: de um lado, Zé Ronaldo e Zé Osmando (tem também o Geraldo Sirotheau, que não é Zé, mas é Maria, no nome...). Do outro, Zé Olivar e Zé Maria Lima. Zé Antonio Rocha nem vice conseguiu ser. Zé Maria Tapajós nasceu de quina pra lua, e por enquanto segura Sant’Irene nos ombros (Foto de José Maria, acima - montagem mal feita por mim sobre imagem mitológica do gigante Atlas).
E agora, Josés?
Mas dentro da ditadura dos “se...”, a dúvida toma conta de todos sobre quem vai realmente comandar o município nesse quadriênio. De tudo se ouve por aí. Todo mundo virou “analista político” e aqueles que, como eu, se atrevem a fazer tais análises em artigos de jornais e blogs, acabam atirando para todos os lados, já que a indefinição e a incerteza pairam sobre nossas cabeças. Uma nova eleição muda todo o quadro político, a correlação de forças e muita coisa do que foi dita pode ter que se reescrita ou reciclada. Eu mesmo escrevi sobre Ocasos e Acasos, logo depois das eleições.
O que se ouve por aí?:
- “A Maria vai se candidatar de novo e vai dar outra surra!” (petista fervoroso);
- “O Lira Maia é que vai se eleger e mostrar o que o povo gosta” (maista saudoso);
- “Nem Maria, Nem Maia, o futuro é o Márcio na prefeitura. Eu quero o Pinto de Jesus na prefeitura!” (psolista esperançoso);
- “Que nada, os três estão inelegíveis, só o Hamad pode ser candidato. Agora Santarém vai voar” (o próprio Hamad, sozinho, sem apoio da família).
Brincadeiras à parte, ninguém pode confirmar nada. Além dos quatro candidatos que disputaram as últimas eleições, na provável eleição de 2009, tem muito mais gente querendo entrar na roda.
Ciranda dos candidatos
Os 19 partidos que participaram das eleições de 2008, em quatro coligações, estão ouriçados com o novo quadro. Alguns até mantiveram suas sedes abertas, já que é praxe ter sede de partido só em época de eleição e depois fechar as portas. Várias pesquisas eleitorais vêm sendo realizadas na cidade, em busca do nome da hora.
À frente dos debates, PT e PMDB, os dois maiores partidos e que encabeçaram a coligação “vencedora”; O DEM e o PSDB vislumbram nova chance de voltarem ao poder, dependendo de quem é o não inelegível; PSOL e PTC correm por fora, como co-adjuvantes do espetáculo; Mas dentro da coligação que apoiou Maria, outros partidos podem querer se “enxerir” e tentar uma aventura, como o PDT, de Osmando, o PMN, de Nélio e até o quase extinto PTB, que já foi mais estruturado em campanhas anteriores e este ano teve uma participação pífia com apenas um candidato a vereador!
Petistas voltam às bases
O PT acordou, diante da possível queda do Império dos Martins, e voltou às bases.
As tendências do partido, que haviam se acomodado nos últimos anos dando chance para que o todo-poderoso Everaldo Martins (da tendência do deputado Paulo Rocha, a UL – Unidade na Luta) tomasse conta do PT, ensaiam agora uma insurreição diante do nome já proposto por ele – se a mana Maria não puder realmente ser candidata – o do ex-secretário de Governo Inácio Corrêa.
(Uma curiosidade: caso o nome de Inácio vingue e seja eleito, será o segundo Inácio Corrêa à frente dos destinos de Santarém. O outro foi o intendente Inácio Corrêa, que governou Santarém há 114 anos e hoje é nome de rua...)
Os irmãos Peloso (Pedro, Milton e Rita), líderes históricos e que se agrupam na AS – Articulação Socialista, debatem a possibilidade de indicar um nome de seu grupo ou até mesmo o da ex-vereadora Odete Costa, que já participou da tendência e está sem rumo no momento (tem sido “paquerada” também pela DS – Democracia Socialista, da governadora Ana Júlia). Pedro Peloso já até assinou um outdoor com o deputado Roberto Faro, solidarizando-se com Maria. Uma mexida dos Peloso no tabuleiro do xadrez político...
(Uma curiosidade: Pedro Peloso aprendeu a jogar xadrez comigo, no início da década de 1980, época em que eu convivia com ele nas andanças petistas. Era a única coisa que eu ganhava do Pedro, mas um dia ele conseguiu me vencer. Depois me deram um xeque-mate ideológico e fui deixando o PT pra trás...)
Já a tendência “PT pra valer”, liderada pelos Pastana e Ganzer, tem falado no nome do empresário Gilmar Pastana, da Massabor, que já foi representante regional da Secretaria Estadual de Transportes.
(Uma curiosidade: caso o nome de Gilmar vingue e seja eleito, teremos dois irmãos Pastana comandando Santarém e Belterra, onde Geraldo Pastana foi reeleito.)
Além desses nomes, há ainda os dos vereadores Evaldo da Premac e Carlos Jaime, com menores chances na disputa. Sonhar não custa nada. O PT vai realizar diversas reuniões em bairros para encontrar um nome de consenso, mas desde já, Inácio Corrêa, o ungido de Maria e Everaldo, é o nome mais forte do partido.
Uma Rocha no caminho
O PMDB, que não elege prefeito em Santarém desde 1985 (Ronaldo Campos foi o primeiro peemedebista a chegar ao cargo pelo voto), depende muito do que seu maior líder decidir. O deputado estadual Antonio Rocha, que comanda com mão de ferro a sigla, há 15 anos, desde que assumiu seu primeiro cargo público como vereador, vive sonhando em chegar à Prefeitura. Já tentou duas vezes, mas só conseguiu chegar lá, apoiando Lira Maia em 2000 e Maria em 2008 (vitória frustrada pelo TSE).
O partido tem musculatura eleitoral, mas talvez Rocha não seja um nome “palatável” para a maioria dos eleitores (principalmente depois do episódio infantil, em que o deputado saiu nos tapas com um militante universitário do PSOL, no início do ano). Se for vencida a pretensão pessoal (e temerária) de Antonio Rocha de ser candidato a qualquer custo (ou de indicar um de seus pimpolhos, como o José Antonio, caso seja elegível), o partido pode tentar outros nomes.
Aí se encaixam Helenilson Pontes, advogado tributarista que parece querer agarrar essa oportunidade, e o próprio prefeito interino José Maria Tapajós, se a legislação permitir. Helenilson seria do agrado de Jader Barbalho, de olho em 2010, mas nada no PMDB pode sair sem negociação com Rocha. Jader, esperto como ele só, nunca vai atropelar um forte aliado que sempre manteve a estrutura do PMDB local.
Tucanos e demos no camarote
O PSDB e o DEM assistem a tudo de camarote e na undécima hora decidirão o que fazer.
O deputado federal Lira Maia (DEM) – tudo mundo sabe – é louco para ter um terceiro mandato na Prefeitura. Mas uma nova tentativa em 2009 não depende só de sua vontade. Maia já não é a quase unanimidade entre o eleitorado de 2000, e quiçá o eleitorado de 2006, que lhe deu grande votação para a Câmara Federal. Pesa contra ele a grande quantidade de processos por improbidade administrativa (e como todo político, ele alega que é “vítima de perseguição de seus adversários”), e principalmente um possível ônus pelo imbróglio jurídico-eleitoral em que nos encontramos.
(Uma curiosidade: a primeira tentativa de, Lira Maia, conquistar um cargo público via eleição, foi em 1992, quando era candidato a vice-prefeito na chapa pura do PMDB, encabeçada pelo ex-prefeito Ronaldo Campos. A Justiça Eleitoral cassou o registro de Ronaldo a 15 dias da eleição, por ter sido considerado inelegível já que havia sido condenado por improbidade administrativa. Maia acabou sendo o candidato a prefeito, com a ex-primeira dama – já falecida – Rosilda Campos como vice. Não ganhou, mas teve mais votos que Nivaldo Pereira, do PTB)
Toda essa confusão tende a aumentar a rejeição de Lira Maia, mas ele ainda é um forte candidato. Tudo depende de que escolha fará: manter-se como deputado federal garantindo o foro privilegiado de seus processos, além de se escudar no DEM nacional para tentar ser um líder partidário mais respeitado ou tentar voltar à Prefeitura para garantir os empregos de parentes e aderentes, correndo até o risco de uma segunda derrota em menos de seis meses? Já disse em outra ocasião que Lira Maia é “cobra-de-vidro”...
No caso de Lira Maia abrir mão de uma “re-recandidatura”, o nome mais visível é o do tucano e eterno companheiro de mutirão, Alexandre Von. O deputado estadual ainda não conseguiu luz própria na política, mas já demonstrou que não pretende se meter em aventuras como a de Maia nas últimas eleições. Von, pelo que se soube nos bastidores, rejeitou a proposta de reeditar a parceria com Maia na condição de seu vice, e indicou o ex-vereador Otávio Macedo. Ponto para Von, que evitou um maior desgaste político para prejudicar sua campanha em 2010. Só que a situação agora é outra. Dependendo dos acertos – ou desacertos – da coligação que apoiou Maria, o quadro poderia ser favorável ao tucano. O problema é que ele tem a fama de ser muito “pesado”. Literalmente...
Outro nome do grupo de Maia e Von que corre por fora é do vereador Erasmo Maia, com poucas chances de progredir.
Outros nomes
Sem contar Márcio Pinto, que já se lançou candidato (se não tiver problemas de inelegibilidade, por conta de prazo de desincompatibilização – ele retornou à sua função no Judiciário) e Joaquim Hamad que promete um(a) vice diferente e menos problemático(a), outros nomes tem sido ventilados nos bastidores como possíveis candidatos. Os vereadores eleitos Nélio Aguiar (PMN), Emir Aguiar (PR), Bruno Pará (PDT), Maurício Corrêa (PMDB) e Reginaldo Campos (PSB), são alguns destes. Também foram sondados os nomes da empresária Vânia Maia (TV Tapajós) e do advogado José Ronaldo Campos, filiados ao PTB. Mas os dois descartaram a hipótese (por enquanto).
Como não custa sonhar, não duvidem que alguém se lembre até de Ronaldo Campos, Ruy Corrêa ou Hilário Coimbra, que já foram ou tentaram ser prefeitos.
Uma coisa é certa: tudo depende das conversas entre Antonio Rocha e o PT. Se houver desacerto entre eles e decidirem bater de frente, tucanos e demos se apresentam com Maia reforçado, ou indicam um vice para o PMDB.
Mas antes de tudo, temos que esperar a definição da Justiça Eleitoral. O TRE, por enquanto, não se posicionou sobre a convocação das eleições. Pode ser que o faça já ou aguarde a definição sobre os recursos no TSE e STF.
E o eleitor, como fica?
O cidadão santareno (ou “santerino”) assiste a tudo feito cego em tiroteio. A disputa pelo poder enveredou pela incompreensível seara jurídica que nem mesmo os juristas conseguem decifrar, já que o Caso Maria é inédito no Brasil.
Mesmo que tudo volte à normalidade (se é que isso é possível), o estrago já foi feito: a vontade do eleitor não prevaleceu diante da imperfeição jurídica definida após o pleito. De nada adiantou assistir horas de programas eleitorais no rádio e na TV, candidatos se esgoelando em comícios, dinheiro gasto com material publicitário, gente colorindo muros e carregando bandeiras. De nada adiantou votar neste ou naquele candidato. Foi tudo invalidado. Novos gastos podem vir pela frente e o eleitor, cansado, pode não ter o mesmo ânimo. Pode estar descrente do processo. Pode estar se sentindo ludibriado por todos, políticos e Justiça.
Uma das coisas que mais me perturba nisso tudo é que o processo democrático, para a escolha dos candidatos, prevê um debate nos bastidores que começa pelo menos um ano antes da eleição, até que uma convenção defina a posição dos partidos. A possível nova eleição, em 2009, será feita de afogadilho. O tempo é curto para se debater novos nomes e se algum deles vingar, pode não representar um projeto político-partidário bem definido. Será uma candidatura do sufoco. Sufoco que todos nós, cidadãos-eleitores, vivemos nesses dias de interinidade.
Por mais que eu não tenha religião, não posso deixar de tocar no tema, já que vivemos cercados de santidades por todos os lados, como por exemplo a Santa que inspirou o nome de Santarém, citada nos primeiros parágrafos dessa análise.
Lembro que existe outra Santa Irene cultuada pelos católicos ortodoxos, lá da minha segunda cidade natal, Salônica/Grécia (ou Saloniki, que é também o nome de minha neta). Essa santa também foi mártir do cristianismo mase, Irene, em grego, quer dizer Paz.
Acho que é o que buscamos para essa Sant’Irene do Tapajós, neste conturbado 2008/2009...