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segunda-feira, 8 de maio de 2006

Comunicação e expressão: mais que um ato, um direito(*)

Os atos de se comunicar e de se expressar são a essência do ser humano. Dito isso, vale a pena resgatar alguns conceitos que indicam que os dois atos tem uma certa distinção entre si.

Comunicar é um processo complexo que vem sendo explicado desde Aristóteles (meu inspirador eterno neste Perípatos), em sua obra sobre a Retórica. Não é simplesmente dizer alguma coisa, porque nem sempre o que se diz é captado como se quer (quando ocorre o que se chama de “ruído da comunicação”). Um bom conceito para definir o ato de comunicação seria “a capacidade de representação dos significados através de códigos, palavras, imagens, gestos, sons, mas também o modo de ser, viver e sentir das pessoas, ou seja, a cultura, que é produzida por uma civilização com a finalidade de comunicar suas informações a si e a outras gerações” (Suzana Sedrez).


O ato de se expressar pode ir ainda mais além da simples comunicação entre duas pessoas. A expressão do ser humano transita no mundo das ideias, dos sentimentos e das virtudes, como diria o próprio Aristóteles. Assim, todos nós nos comunicamos e, através desse ato podemos expressar o que trazemos em nossa alma. Ou seja, as duas funções juntas nos diferenciam dos animais irracionais.

Talvez por isso existam tantas datas em nosso calendário que lembram o ato de se comunicar e de se expressar. Até porque, a irracionalidade de quem detém algum tipo de poder, sempre há de se manifestar no sentido de impedir manifestações que se contraponham ao seu status quo.


Com exceção do mês de outubro (até onde pesquisei), durante o restante do ano todo existe um sem-número de datas que lembram as várias formas de comunicar e expressar.

Este mês que se inicia com o Dia do Trabalhador (aí envolvidos, também, os trabalhadores da comunicação) é um dos mais profícuos em datas, como as comemoradas anteontem (03/05), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e hoje, Dia Nacional da Comunicações. Este mês há ainda o dia do profissional de Marketing (08/05), o Dia Internacional da Comunicação e das Telecomunicações (17/05) e o Dia Mundial das Comunicações Sociais (31/05), instituída pela Igreja Católica a partir do Concílio Vaticano II.

A data de hoje relembra o patrono das comunicações no Brasil, o marechal Candido Rondon, que como descendente de índios além de defender a causa de sua gente, foi um dos pioneiros nas comunicações telegráficas do Brasil, tendo percorrido mais de 5.000 quilometro pelo país afora nesse trabalho.


Mais que a data de hoje, é importante lembrar a de anteontem, Dia Internacional pela Liberdade de Imprensa, que nada mais é que um dia pela liberdade de expressão (muito embora, a data para comemorar esse dia seja 28/09). Segundo relatório do Comitê Internacional para a Proteção dos Jornalistas, só em 2005 47 jornalistas foram assassinados e nos primeiros meses de 20066, outros 11 já perderam a vida defendendo este direito.

Logo mais estarei, juntamente com um dos mestres da comunicação local, o jornalista Manuel Dutra, no programa Cidade Alerta (TV Guarany, canal 15), debatendo exatamente esta necessidade de comunicar e expressar do ser humano, e principalmente de quem milita nas comunicações.

Para mim, pessoalmente, o mês de maio é marcante porque foi exatamente num dia 25 de maio, há 22 anos atrás, que eu comecei a trilhar os caminhos da comunicação profissional ao passar num teste como repórter na Rádio Rural. Três anos depois, em 13 de maio (Dia da Abolição da Escravatura), tive meu direito de expressão era pela primeira vez aviltado: fui processado por calúnia e difamação pelo prefeito da época, por denunciar em plena Nova República, um escândalo envolvendo milhares de sacas de cimento que seriam trocadas por uma área pública a ser doada a uma empresa de combustíveis.

Foi um dia ímpar em minha vida, com policial no estúdio da emissora, prefeito vociferando, depoimento na delegacia, sessão da Câmara lotada e manchete em jornal da capital. Mas foi, também minha consolidação como profissional polêmico e como referencial de uma juventude que não queria apenas se comunicar através das emissoras locais, mas que acreditava que a expressão de ideias era importante para reafirmar o processo de redemocratização do país.


Ainda hoje tenho orgulho de exercer esse direito, como todos os que fazem a comunicação local.
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(*) Artigo inserido na Coluna Perípatos (05.05.2006), que é publicada semanalmente no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.

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