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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Um trote tatibitate travestido de melô (*)

“Cê tá de sacanagem comigo!...”
A enigmática frase encerra mais uma das porcarias que nos enfiam pelo rádio e materializa o sentimento de quem quer ouvir música de verdade. As rádios estão realmente de sacanagem com a gente, emprenhando nossos ouvidos de baboseiras que sequer podem ser consideradas músicas.
Esse o caso do novo “hit” do verão nas rádios FM, o tal do “Melô do tio” ou “Trote do tio” (na verdade o nome é "Trote da Eliana". Se quiser ouvir a bomba, clique AQUI), uma farsa eletrônica com um diálogo tatibitate entre uma suposta criança e um idiota acerca de um bebê que estaria ficando sem ar porque a outra criança teria lhe dado comida de cachorro!
O diálogo é embalado por uma música incidental sampleada e recheado de recursos eletrônicos de mixagem sonora (que os DJ´s adoram usar), descobre-se ao final que tudo não passa de um trote telefônico. Ou melhor, um trote musical a quem quer desfrutar de uma boa música.
O tal “trote” já não pára de tocar nas rádios, e, como rastilho de pólvora, a novidade passa a contaminar um sem número de jovens que acham “legal a parada”, passando a pedir que o radialista reprograme o “sucesso”. Numa rápida espiadinha no Google descobri que o tal melô já é líder em várias listas de músicas mais tocadas pelas FM´s Brasil afora.
Ou seja, o idiotismo e a mediocridade entre os programadores de música deixou de ser exceção para ser regra. Afinal, uma excrescência como essa só tem espaço dentro de uma concepção consumista e descartável que humilha a inteligência dos ouvintes.
Por outro lado, há de se convir que se tal “obra” encontra eco na audiência, o problema é ainda mais grave: grande parte da juventude que acompanha a programação radiofônica acaba se encantando com porcarias como essa que só cabem em cérebros de minhoca. É o que eu chamo de “geração MTV”.
Isso já vem acontecendo gradativamente nas últimas décadas com produções como as do dublê de apresentador e cantor Sérgio Mallandro, a “Florentina”, do palhaço-”cantor” Tiririca ou a “Egüinha Pocotó” de um tal MC Serginho que se faz acompanhar de um travesti esquelético conhecido como Lacraia. Cada qual teve seu auge nas programações radiofônicas e televisivas, enquanto foi novidade. Depois sumiu.
Nessas horas dá até pra ter saudade de quando a produção musical de segunda classe se resumia ao besteirol da Xuxa ou às babaquices do Tchans da vida. Aliás, é possível que ali estivesse apenas começando um grande complô pela banalização cultural.
Com o surgimento dos Mamonas Assassinas, esse tipo de produção escrachada travestida de música chegou a ganhar um quê de inteligência. Mas não passava de uma banalidade mais bem elaborada e que acabou virando “cult” por causa da morte prematura do grupo num acidente aéreo.
O que ainda falta acontecer? Quem sabe se dentro de algum tempo não teremos que ouvir pelo rádio “músicas” inspiradas em dejetos fecais, flatulências, vômitos, escarros e outras excrescências humanas?
Será que nossos ouvidos continuarão servindo de penico?!
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(*)Artigo inserido hoje (17.02.2006), em minha coluna semanal Perípatos, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

3 comentários:

  1. Grego, eu escuto a rádio cultura FM em Belém, quando estou no carro. Em casa não tenho o hábito. Não é frescura, mas é dela que gosto e a qualidade me encanta.
    Este tipo de música que você se encrespa é o hit dos poetas (sic) modernos (???) e tem audência para ela. Fazer o que? Desligue o rádio!

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  2. Ah isso depende mto, por mais que eu goste da boa musica, goste de cultura, de historia, de estudar, de conversar (que eu gosto mesmo), as vezes eh bom sentar num buteco, falar merda, ouvir besteiras (sem "musicais" ou não) e tomar umas. Prefiro ouvir o Trote do tio que sentar num bar e ouvir Amado Batista (questão de gosto), isso não me torna menos seletiva que quem não ouve o trote, e falando nele, tem deixado de tocar, ou sou eu que não ouço radio?
    Mas que a voz eh "foufa" isso eh!

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