Tenho enviado para a minha lista de e-mails uma mensagem que recebi há algum tempo e guardei em meus arquivos, por achá-la apropriada para ser difundida nesse período de fim-de-ano quando nos preparamos para uma nova andança.
Diz a parábola que um velho índio teria descrito seus conflitos internos afirmando que, "dentro de mim existem dois cachorros: um deles é cruel e mau, o outro é passivo e muito bom. Os dois estão sempre brigando." Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "aquele que eu alimento".
Quando pensamos no nosso dia-a-dia, podemos chegar à mesma conclusão do sábio índio. Conheço pessoas que não alimentam nenhum dos dois “cães da alma”. O resultado pode ser que os “cães” passem por um processo de autofagia ou ainda dilacerem as entranhas do dono.
Partindo desse ponto, creio que poderíamos tentar aplicar, de forma mais acertada, a fórmula “Fome Zero” lançada no governo Lula. Mas no nosso caso, evitaríamos o viés assistencialista da proposta, sem cartões ou bolsas disso ou daquilo e que acabou não se consolidando como política pública de inclusão social. O nosso “Fome Zero” serviria para alimentarmos os “dois cães” de forma mais dosada, dando a ambos o alimento capaz de arrefecer-lhes tanto a crueldade quanto a passividade.
Numa sociedade movida pela dicotomia maniqueísta entre “sim” e “não”, porque não oferecer a dúvida do “talvez”? Aristóteles já afirmava que a virtude se baseia no meio-termo. Que todos os extremos sejam extirpados!
Não pensem que esteja pregando uma utopia de centro ou uma filosofia típica do tucanato. Minha mensagem está mais para a não-violência pregada por Gandhi para libertar os indianos, sem que isso significasse passividade ou rebeldia sem causa. Algo como a metáfora de Cristo (o maior de todos os revolucionários, sem a crosta divina que lhe foi impingida pela Igreja): dar a outra face.
Sem pensar na “humanidade” e me deter na vizinhança - algo mais palpável - diria que ainda assim é difícil defender tal filosofia de vida, principalmente numa sociedade que privilegia o confronto, o conflito, a intriga. Literalmente, soltamos nossos cachorros pra tudo que acontece em nossa volta e dificilmente temos o bom senso de puxar a coleira. Ou então, deixamos o cão de guarda amarrado e com focinheira, quando seria necessária uma ronda no quintal. Aí vem o ladrão e rouba nossas mentes de madrugada...
Neste último artigo do ano, gostaria de deixar essa reflexão, meio tosca, meio poética, mas sincera: ainda há lugar para ensinamentos como os de ídolos acima citados (Gandhi e Cristo) que representam filosofias espirituais de mundos dicotômicos como o ocidente e o oriente.
Mas cabe aqui outra lição de vida de um outro líder revolucionário sulamericano, que transita entre os dois: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Jamais!
Diz a parábola que um velho índio teria descrito seus conflitos internos afirmando que, "dentro de mim existem dois cachorros: um deles é cruel e mau, o outro é passivo e muito bom. Os dois estão sempre brigando." Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "aquele que eu alimento".
Quando pensamos no nosso dia-a-dia, podemos chegar à mesma conclusão do sábio índio. Conheço pessoas que não alimentam nenhum dos dois “cães da alma”. O resultado pode ser que os “cães” passem por um processo de autofagia ou ainda dilacerem as entranhas do dono.
Partindo desse ponto, creio que poderíamos tentar aplicar, de forma mais acertada, a fórmula “Fome Zero” lançada no governo Lula. Mas no nosso caso, evitaríamos o viés assistencialista da proposta, sem cartões ou bolsas disso ou daquilo e que acabou não se consolidando como política pública de inclusão social. O nosso “Fome Zero” serviria para alimentarmos os “dois cães” de forma mais dosada, dando a ambos o alimento capaz de arrefecer-lhes tanto a crueldade quanto a passividade.
Numa sociedade movida pela dicotomia maniqueísta entre “sim” e “não”, porque não oferecer a dúvida do “talvez”? Aristóteles já afirmava que a virtude se baseia no meio-termo. Que todos os extremos sejam extirpados!
Não pensem que esteja pregando uma utopia de centro ou uma filosofia típica do tucanato. Minha mensagem está mais para a não-violência pregada por Gandhi para libertar os indianos, sem que isso significasse passividade ou rebeldia sem causa. Algo como a metáfora de Cristo (o maior de todos os revolucionários, sem a crosta divina que lhe foi impingida pela Igreja): dar a outra face.
Sem pensar na “humanidade” e me deter na vizinhança - algo mais palpável - diria que ainda assim é difícil defender tal filosofia de vida, principalmente numa sociedade que privilegia o confronto, o conflito, a intriga. Literalmente, soltamos nossos cachorros pra tudo que acontece em nossa volta e dificilmente temos o bom senso de puxar a coleira. Ou então, deixamos o cão de guarda amarrado e com focinheira, quando seria necessária uma ronda no quintal. Aí vem o ladrão e rouba nossas mentes de madrugada...
Neste último artigo do ano, gostaria de deixar essa reflexão, meio tosca, meio poética, mas sincera: ainda há lugar para ensinamentos como os de ídolos acima citados (Gandhi e Cristo) que representam filosofias espirituais de mundos dicotômicos como o ocidente e o oriente.
Mas cabe aqui outra lição de vida de um outro líder revolucionário sulamericano, que transita entre os dois: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Jamais!
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada na edição de 30.12.2005, no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará
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