Continuo com problemas com a internet. Posto com atraso meu artigo publicado no início da semana na coluna Peripatos, no jornal Diário do Tapajós:
Longe de mim ter um discurso moralista e repressor. Sou de uma geração que conviveu num período de transição de nossa cultura, e apesar dos ares de liberdade de expressão da década de 70, senti na pele a educação repressiva de meus pais.
Acho que por isso mesmo minha geração resolveu criar seus filhos de uma forma mais liberal, mas isso não quer dizer que os filhos tenham que ser jogados ao léu. Creio que na última década tem sido quase constante a utilização do advento tecnológico como meio de “educar” os filhos, sem que nenhum filtro seja imposto na programação televisiva ou na internet, ou mesmo nos horários para a utilização destes meios.
Conheço muitos amigos, vizinhos e parentes que não se preocupam com o que os filhos assistem na TV ou que sites acessam na internet. Se sentem aliviados com o fato dos filhos serem criados pelas babás eletrônicas, sem perceber o mal que determinadas cenas podem causar na criação deles. Sei de pessoas que assistem filmes em horários impróprios e não se incomodam que seus filhos com pouca idade assistam qualquer cena. É assim que eles deixam que sua infância escorra entre seus dedos, e depois não poderão juntar os pedaços quando a adolescência revelar desvios.
Não me esqueço de uma cena que vi recentemente nas redondezas de minha casa, que me fez pensar sobre a degradação dos costumes que os canais de comunicação impõem a uma criança desavisada: dois garotos, entre quatro e cinco anos, brincavam na calçada de suas casas em frente à minha. A rua estava deserta e os meninos corriam um atrás do outro, usando só cuequinhas. De repente, se deitaram no chão, depois de olhar ao redor e ver que ninguém os espiava (não viram que eu estava atrás da porta me preparando para sair de casa), arriaram as cuequinhas deitando-se um sobre o outro numa típica posição “papai-mamãe” simulando um coito! Foi aí que me viram, se espantaram e saíram correndo. Perplexo e sem ação retornei para dentro, pensando se deveria fazer alguma coisa. “Vai ver apenas imitaram algo que viram e com o susto não vão mais fazer”, pensei comigo.
Cinco minutos depois saí novamente e lá estavam eles, de novo, se preparando para repetir a cena, quando me viram e levantaram as cuequinhas já arriadas. Aí fiquei parado encarando os meninos com um olhar reprovador. Para minha surpresa um deles me encarou e disse na linguagem infantil: “Ei, homi, saí daí que a gente quer namorar...”
Fiquei atônito. Pensei em atravessar e falar com os seus pais, mas acabei contendo meu ímpeto. Como não os conhecia, imaginei que poderia provocar uma reação violenta contra as crianças ou mesmo contra mim.
Até hoje lembro da cena, que é tragicômica. E imagino que cenas eles ainda vão produzir um dia.
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