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domingo, 23 de outubro de 2005

Peripatos - A um passo da indignidade

Texto divulgado em minha coluna Peripatos, sexta-feira, no tablóide regional do Diário do Pará, o Diário do Tapajós, editado pela jornalista Albanira Coêlho:

Segunda-feira, 24 de outubro, Santarém completa 157 anos na condição oficial de “cidade”. Esta é uma data que não se comemora há 24 anos, desde que foi oficializada como data de fundação de Santarém, o dia 22 de junho (de 1661). Talvez fosse interessante que nossa urbis pudesse refletir um pouco sobre essa condição, nestes tempos de desalento.
Bastaram 97 anos para que aquela aldeia tapajoara, transformada em missão jesuíta pelo padre Bettendorf, evoluísse a tal ponto que a Província do Grão-Pará a elevasse à categoria de “vila” (em 1758) e outros 90 anos depois, à categoria de cidade. Ou seja, dos 344 anos recém-comemorados por Santarém, evoluímos satisfatoriamente antes de completar o segundo século de existência, mas ao que parece estagnamos no sesquicentenário seguinte!
Vivemos o sonho secular de nos transformamos em um novo Estado, mas “a bola só tem batido na trave”, como se diz no futebol (vai ver, compraram o juiz do nosso jogo...). Aí nos confortamos com a idéia de um “inimigo externo”. Quando não é o governador de plantão, e o deputado paraquedista ou o presidente da vez. Falta olharmos pro nosso umbigo e ver que o inimigo mora do outro lado do espelho.
Passamos por ciclos históricos de extrativismo como o da borracha, da juta, do ouro, da madeira, e de repente nos preparamos para o ciclo da produção de grãos. Vemos a estrada querendo chegar, o terminal graneleiro ameaçando sair, o embate entre dezenas de ONG´s ambientalistas e as “classes produtivas” de Santarém, mas não conseguimos submergir da lama em que nós mesmos nos metemos. Literalmente temos jogado nossa querida “pérola” aos porcos e trilhado o caminho da indignidade.
Senão vejamos: de todos os ciclos que vivenciamos, creio que o mais nefasto seja o das “lideranças políticas”. Nossa história registra momentos históricos de disputas entre coróneis de barranco e populistas de ocasião ( ou vice-versa). Isso nos tem criado uma séria crise de identidade política, ao ponto de centenas de aventureiros quererem lançar mão em campanhas estapafúrdias a cada ano (só para 2006, já há pelo menos uns 30 candidatos a candidato para ser um novo líder...).
Nossa política é parecida com saco de farinha em feira: todo mundo mete a mão. É só ver as pessoas que compõem a linha de frente pela criação do Estado do Tapajós: tirando meia dúzia de abnegados, a grande maioria não passa de oportunistas de olho no voto fácil. Resultado: não elegemos ninguém ou elegemos os mais medíocres. Há algum, tempo afirmei que que nossos políticos quando não são medíocres, são hilários. Agora nem isso são...
Santarém, parabéns pelo seus 157 anos como cidade. Que teus filhos sejam um dia mais dignos de tua história.

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