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terça-feira, 13 de setembro de 2005

Imaginação

(*) Ercio Bemerguy
O papel do ficcionista consiste em penetrar em instâncias nas quais a realidade e a imaginação se interpenetram. Imaginemos, então, o seguinte: o São Raimundo de Santarém disputando, não a classificação para a próxima fase, mas a partida decisiva do Campeonato Brasileiro da 3ª Divisão contra um clube qualquer, fora de casa, e, quem ganhasse, automaticamente subiria para a Segunda Divisão.
O Pantera venceu o jogo e conquistou o cobiçado título de campeão. O que aconteceria? Certamente a delegação alvinegra voltaria à Santarém, não mais de barco ou de ônibus, mas em avião fretado. Seria alvo de calorosa recepção no aeroporto da cidade e, em seguida, uma grande carreata percorreria as ruas da cidade com os atletas-heróis no alto de um carro dos Bombeiros e, ao lado deles, a prefeita, o vice-prefeito, vereadores, políticos e empresários, dançando, pulando, acenando e jogando beijos para o povo. Muitos fogos, aplausos e gritos de “É campeão, é campeão, é da segunda divisão!”
A Maria, na escadaria da Igreja Matriz faz um vibrante e emocionado discurso, diz que desde criancinha é ardorosa torcedora do Pantera e que é filha do saudoso doutor Everaldo Martins, o inesquecível político, homem público e desportista que sempre ajudou e defendeu o “Mundico”, como agora é chamado o clube do seu coração.
Naquele ambiente de intensa alegria, um detalhe foi observado pelos jornalistas que faziam a cobertura do evento: o povão, que assistia tudo, vaiava, zombava, indignado com tanta hipocrisia, pois sabia que nenhum dos festeiros que comandavam e participavam daquele “bundalêlê” havia contribuído com absolutamente nada para a superação das imensas dificuldades que o esquadrão mocorongo enfrentara para manter-se na competição, sem-dinheiro, sem-teto, dividindo irmamente o “decomê”.
Mas, diante do sucesso e da gloria, todos estavam alí, comemorando, pois o comércio, os bancos e repartições públicas estavam com suas portas fechadas em função do feriado municipal que havia sido decretado. Muitos empresários disputaram a preferência para patrocinar a grande festa e doaram aos jogadores alvinegros uma boa “ponta” para colocarem em suas cabeças um bonézinho contendo a marca de suas empresas.
E, as manchetes dos jornais diziam, no dia seguinte: “O Mundo Cão é assim!”...
Mas, voltemos à realidade: o São Raimundo disputará, domingo próximo, em Manaus, contra o Nacional, um jogo daqueles do “tudo ou nada”. Vamos todos torcer para que o esquadrão “mocorongo” se saia bem. Se isto não acontecer, ao voltar pra casa, sem recepções festivas, os seus dirigentes devem pensar mais e melhor, avaliando se vale a pena continuar participando de aventuras como esta, inclusive o “Parazão”, sem as mínimas condições financeiras e sem apoio do poder público ou de empresas privadas, para tornar-se um time competitivo de verdade.
Em momentos assim, é preciso que se tenha coragem para, como diz a moçada: cair na real; e até mesmo aceitar conselho como este que um amigo meu, apaixonado torcedor sãoraimundino, pediu que eu fizesse constar destas minhas mal traçadas linhas: “Fica longe disso, Pantera. Bate a tua bola aí mesmo, na tua terra, contribuindo para que o futebol santareno volte a ser a alegria e orgulho do seu povo, com campeonatos locais bem organizados”.
(*) Jornalista e assessor da Diretoria da Cosanpa

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