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segunda-feira, 18 de julho de 2005

Paralelos em Paris

Ontem à noite fiquei literalmente da sala para cozinha, dividindo-me numa hercúlea tarefa de acompanhar meus dois grandes ídolos desde o final dos anos 70, que davam depoimentos diferentes na TV tendo como cenário a mesma cidade: Paris.
Para não perder nenhum lance, liguei as duas televisões (da sala e da cozinha) e corria feito um louco acompanhando os dois depoimentos. Paralelos em Paris, Chico e Lula que são ídolos entre si, viviam paralelos diferentes.

Enquanto a Globo exibia a entrevista exclusiva de Luiz Inácio Lula da Silva, a Bandeirantes apresentava o segundo programa da série Chico Buarque, desta feita enfocando o “lado mulher” do maior compositor da MPB. Enquanto um passava a limpo sua carreira, o outro pedia que seus companheiros passassem a limpo o seu PT após o grande “Delúbio”.

Chico cantava suas mulheres, inclusive as de Atenas, discordando da tese de que é o maior conhecedor da alma feminina. “Na verdade é impossível decifrar a alma feminina”, argumentava. Lula por sua vez, falava de seu “filho querido” o PT, dizendo que “a nova direção vai ter que descobrir onde erramos”, mas fazia questão de separar o joio do trigo, o governo do PT.

O semblante de Chico era sereno, sentado em um café de Paris, com chapéu panamá e sobretudo, dizendo que “Paris me inspira”. Ao fundo a bela canção “Joana Francesa”, uma de suas pérolas que conta a história de uma prostituta francesa que canta seu amor metade em francês, metade em português. Já o semblante de Lula era carregado. De vez em quando um lenço saia do bolso, sôfrego, e limpava as gotas de suor que insistiam escorrer de sua testa, enquanto a repórter se aprofundava nas perguntas sobre o mar de lama em que o PT se meteu. A aparente serenidade era na verdade a imagem do cansaço de um líder político que, constrangido diante das câmeras, tinha que admitir os erros de seu partido. “O PT fez o que sempre se fez no Brasil”. Deprimente.

Paralelos em Paris. Para Lula. Para Chico. Paratodos (como diria Chico). Os programas terminam e fica a sensação de que Chico é único e Lula já não é o mesmo. Chico continua no pedestal, Lula parece no ocaso. Fica a torcida para os paralelos se encontrem, num lugar que tenha o charme de Paris e a diversidade do Brasil.
Apesar de tudo, Chico e Lula serão eternos.

2 comentários:

  1. Jota, acompanhei ontem também os dois programas, só que fui um pouco mais esperta, liguei as duas televisões no meu quarto, aí não tive que correr.
    Eu nunca gostei de siglas partidárias, os valores que eu respeito são os das pessoas e não os dos partidos, pois em todos os lugares existem os do bem e os do mal, aí não se sofre tanto!
    Quando o Lula falou que " o PT está fazendo o que sempre se fez no Brasil", achei também deprimente e me deu até náuseas, pois aí ele esqueceu que prometeu ao povo todo que votou nele:MUDANÇA!
    Parabéns pela comparação entre Chico e Lula quem assistiu os programas, deve ter notado que fostes muito feliz nos cometários.

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  2. Pessoas, partido é partido, governo é governo! Lula é PT e também é governo, mas isso não pode ser visto como a mesma coisa. É somente um inocente comentário.

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